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Oleg Dyakonov

 

Muros de pedras:

A necessidade de preservação aos muros de Itaúna

Não há que inventar nada novo; apenas é preciso o livre arbítrio,

o desejo de salvar um patrimônio histórico e uma atuação correspondente.

  

Por Oleg I. Dyakonov *

De Moscou/Rússia

Para Via Fanzine

24/02/2014

 

Detalhes do muro com acertadas pedras encontrado em terreno particular no Vale dos Pequis, em Itaúna.

Este é o menor de todo o conjunto itaunense, com seus 110 metros de extensão.

Foto: J.A. Fonseca

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Nesta nossa época, estamos sendo testemunhas de um crescente número de descobertas de sítios arqueológicos, cuja interpretação se faz uma tarefa difícil para a ciência oficial, ou que, por motivos inexplicáveis passam despercebidos, sem se tornar objeto de estudo.

 

Detalhes do muro de pedras no Bairro Cidade Nova, que se encontra em terreno particular, em Itaúna.

Este é o que emprega mais pedras disformes e mede aproximadamente 200 metros de extensão.

Foto: J.A. Fonseca

 

Em particular, uma série de antigas estruturas de pedra, desde pirâmides até altares, descobertas ou conhecidas do público apenas nas últimas décadas ou anos, muitas vezes contradizem radicalmente o quadro atual do antigo passado do nosso planeta.

 

Curiosamente, cada vez com maior frequência tais descobertas são feitas em localidades completamente distintas do globo, confirmando a existência no passado de uma cultura universal única, cujos representantes deixaram às gerações vindouras os seus monumentos ao redor do mundo.

 

Detalhe do muro de pedras nº 1 da Serra Mata da Onça, em Itaúna.

Possui cerca de 400 metros de extensão e divisa um terreno rural da Prefeitura de Itaúna.

Foto: J.A. Fonseca

 

Seriam os misteriosos muros na região de Itaúna, no Centro-oeste de Minas Gerais, Brasil, chamados comumente de “muros de escravos”, exemplos de certo fenômeno arqueológico muito antigo, desconhecido para a ciência e, provavelmente, transcendendo as fronteiras do Brasil? Tal possibilidade não parece inverossímil.

 

Detalhe do muro de pedras nº 2 da Serra Mata da Onça, em Itaúna. Este muro possui

cerca de mil metros de extensão e também divisa um terreno rural da Prefeitura de Itaúna.

Foto: J.A. Fonseca

 

Nesse sentido, gostaríamos apontar às estruturas semelhantes, encontradas em outras regiões do mundo; mesmo como no caso dos “muros de escravos”, permanecem desconhecidos o propósito exato, a origem, a idade e os construtores de tais estruturas.

 

Detalhe do muro de pedras em terreno particular nas proximidades do distrito de Lopes, em Itaúna.

Foto: J.A. Fonseca

 

No entanto, as principais características destes muros, que as fazem pelo menos em parte homólogos aos de Itaúna, estão presentes em todos os casos: pedras ou rochas toscas, alvenaria muito espessa, baixa altura e ausência de qualquer tipo de argamassa. Em todos estes casos, está presente, provavelmente, a principal característica de tais construções: a atmosfera de mistério e controvérsia, escondendo-nos a sua verdadeira história.

 

Detalhe do muro de pedras em terreno particular no Retiro dos Pinto, cidade de Itatiaiuçu-MG.

Foto: J.A. Fonseca

 

Outros muros pelo mundo

 

Dentre os vários existentes, vamos citar apenas três exemplos de antigos muros de mistério ao redor do mundo, que possivelmente podem ser ‘parentes’, próximos ou distantes, dos muros de Itaúna.  

 

EAST BAY/EUA - O conjunto de muros antigos existente nas colinas ao longo do East Bay, na área da baía de São Francisco, Califórnia, EUA, conhecido como Muros de East Bay, ou Muros de Mistério de Berkeley. Provavelmente, guardam a maior parecença com os muros de Itaúna.

 

Detalhe de uma seção dos Muros de East Bay, perto do Monument Peak.

Foto: Tom Mangan (www.tommangan.net).

 

São construídos de pedras de basalto com fino ajuste, a extensão total supera 30 quilômetros. Mesmo como no caso de Itaúna, não foi possível determinar o seu propósito, sendo possível constatar apenas que a baixa altura dos muros obviamente impediu a sua utilização como fortificações defensivas. Além disso, a falta de um ‘começo’ e um ‘fim’ indica claramente que não serviram de currais.

 

Outro detalhe de uma seção dos Muros de East Bay.

Foto: Internet/divulgação.

 

Segundo as múltiplas teorias existentes, os construtores desses muros teriam sido os toltecas, druidas, atlantes, índios, chineses, frades franciscanos ou agricultores do século XIX. Com o tempo, alguns destes muros foram destruídos, e certas seções das estruturas restantes hoje estão sendo ameaçadas pela expansão das fronteiras municipais e as atividades dos fazendeiros locais. Lamentavelmente, até o momento não foi adotada legislação alguma sobre estes objetos de grande valor arqueológico.

 

AÇORES/PORTUGAL - Na ilha do Pico, a segunda maior do arquipélago dos Açores, existe um assombroso conjunto de muros lineares de pedras negras (vulcânicas), assentadas muito de perto, sem intervalos. Os muros estão dispostos em forma de labirintos, e sua extensão total constitui cerca de 90 mil km, o que equivale a mais de duas voltas em torno da Terra e supera o volume total da Grande Muralha da China. Segundo a versão oficial, tais muros seriam antigas vinhas, remanescentes de uma vinicultura, cujas origens datam do século XV, época em que se iniciou o povoamento português da ilha.

 

Muros entrelaçados em Açores, Portugal. Esta é uma paisagem Protegida de Interesse Regional da Cultura da Vinha da

ilha do Pico, campos de vinha, Santa Luzia, Concelho de São Roque. Foto: José Luís Ávila Silveira/Pedro Noronha e Costa.

 

Mas é curioso constatar que os muros são encontrados até em penhascos íngremes e matas impenetráveis, para onde é praticamente impossível transportar grande quantidade de pedras, mesmo com a tecnologia moderna e, menos ainda, assentá-las em forma de muros de alvenaria tão espessa.

 

Açores, Portugal, paisagem Protegida de Interesse Regional da Cultura da Vinha da ilha do Pico, campos de vinha,

Santa Luzia, Concelho de São Roque. Foto: José Luís Ávila Silveira/Pedro Noronha e Costa.

 

Outro ponto interessante é que, de acordo com os testemunhos dos antigos colonos da ilha, há uns 300 anos os muros teriam sido muito maiores do que hoje, tendo um relevo bem diferente do atual.

 

Qualquer que seja a sua origem, este objeto arqueológico encontra-se entre os favorecidos, pois desde 2004 a Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico foi instituída como um sítio classificado pela UNESCO.

 

LAGO BAIKAL/RÚSSIA – Na ilha de Olkhon, a maior do grande lago Baikal, no sul da Sibéria, também existem conjuntos de muros de pedra natural, estendendo-se por centenas de metros e alcançando uma altura média de 1,5 metros. A antiguidade dos muros não gera dúvida, como ao momento da chegada dos primeiros pesquisadores científicos, os muros já eram parte das tradições locais.

 

Misteriosos Muros dos Kurikans na ilha de Olkhon, suposta herança pétrea de um

povo que habitou a região do Baikal entre os séculos VI e IX da nossa era.

Foto: internet.

 

Os cientistas atribuíram sua construção ao povo Kurikan, que habitou a região de Baikal entre os séculos VI e IX da nossa era, dali a sua denominação atual, os Muros dos Kurikans. Tais construções atravessam os promontórios da ilha ou circundam os picos de certas montanhas. Novamente, não há certeza sobre o propósito de sua edificação.

 

Segundo a versão mais aceita atualmente, os Muros dos Kurikans teriam

formado um sistema defensivo da antiga povoação da ilha. Foto: internet.

 

Segundo a versão mais aceita entre os cientistas, os Muros dos Kurikans teriam sido construídos como sistema defensivo contra os povos nômades. Mas os promontórios de Olkhon geralmente são despidos de vegetação e abertos a todos os ventos, ou seja, não eram um lugar apropriado para a habitação dos antigos. Para que, então, defender um lugar, que, mais provavelmente, não serviu de moradia?

 

Outras versões sugerem que tratar-se-ia de antigos currais de gado, ou lugares de culto.  

 

Interpretação e preservação

 

Cada um pode tirar suas próprias conclusões sobre as semelhanças das mencionadas estruturas antigas com os “muros de escravos” em Itaúna. No entanto, mesmo assumindo a posição cética, ou tradicional, isto é, supondo que a idade dos muros itaunenses não supere 200 ou 300 anos, mesmo assim, ninguém recebe a justificativa moral para a destruição do objeto. Evidentemente, uma ‘justificação moral’ para tal ação não pode existir a princípio. No entanto, todos nós, habitantes de qualquer país do planeta, somos bem conscientes de que a implementação de projetos econômicos quase sempre é alheia à moralidade e, simplesmente não precisa de qualquer tipo de justificativa, o que é para se lamentar muito.

 

Pertencendo o objeto arqueológico a um passado recente, neste caso, o período colonial brasileiro, de modo algum o torna menos importante. Neste caso, o papel do objeto em questão na história seria  diferente, mas isso não significa um valor histórico inferior, muito menos, a falta do valor como tal. O grau desse valor só pode ser avaliado pela ciência, e essa avaliação não apenas está entre as possibilidades da arqueologia oficial, mas entre as suas primeiras obrigações.

 

O mesmo pode ser dito sobre o aspecto exterior das antigas construções: ainda que os chamados ‘muros de escravos’ não possam ser colocados no mesmo patamar das pirâmides, templos bem elaborados, palácios e fortalezas antigas, isso significa apenas que o seu valor histórico e arqueológico é completamente diferente, mas  importante.

 

Afinal, a Carta de Lausanne Sobre a Proteção e a Gestão do Patrimônio Arqueológico (1990) afirma explicitamente que o requisito para a conservação do patrimônio arqueológico é definido por sua importância científica e não se limita apenas à sua “notabilidade ou atração visual”.

 

Outras disposições não menos relevantes constam da mesma Carta, eis aqui apenas alguns dos principais trechos, que não deixam de ter relação direta com o caso dos muros de Itaúna.  

   

“A proteção do patrimônio arqueológico deve ser considerada como uma obrigação moral para todos os seres humanos; é, também, uma responsabilidade pública coletiva.

 

[…] A legislação deve ser baseada no conceito de patrimônio arqueológico como patrimônio de toda a humanidade e de todos os grupos de pessoas, não sendo restrito a qualquer pessoa individual ou a qualquer nação.

 

[…] A legislação deve proibir a destruição, a degradação ou a alteração através de modificações, de todos os sítios arqueológicos e de todos os monumentos, ou das suas envolventes, sem o consentimento de uma autoridade arqueológica.

 

[…] As obras de desenvolvimento constituem uma das maiores ameaças físicas para o patrimônio arqueológico. Deve, portanto, ser incorporada em legislação apropriada, uma obrigação para os promotores garantirem que são feitos estudos de impacto sobre o patrimônio arqueológico antes de serem implementados os esquemas de desenvolvimento, estipulando que os custos de tais estudos devem ser incluídos nos custos da obra. Também deve ser estabelecido na legislação o princípio de que os esquemas de desenvolvimento devem ser projetados de forma tal que seja minimizado o seu impacto sobre o patrimônio arqueológico”.

 

A mesma Carta também frisa de forma especial a participação da população na preservação do patrimônio arqueológico: 

 

“A participação ativa pelo público geral deve fazer parte ativa das políticas para a proteção do patrimônio arqueológico. Isto é essencial onde estiver envolvido o patrimônio de povos indígenas. Esta participação deve ser baseada no acesso ao conhecimento necessário para a formação da decisão. A disponibilização de informação ao público geral é, por essa razão, um elemento importante na proteção integrada”.

 

Talvez, este último ponto seja no momento o mais importante para a preservação dos misteriosos muros de pedra na região de Itaúna, pois é da participação ativa da população local que depende a sua preservação. E esta participação, por sua vez, depende do acesso da população à informação sobre a importância do objeto para a região.

 

Apesar da publicação de várias denúncias, em Itaúna, nem o Conselho do Patrimônio

ou o Ministério Público se atentaram para a preservação destes monumentos.

Na cidade, dois muros com centenas de metros foram destruídos apenas na última década.

 

Não há que inventar nada novo; apenas é preciso o livre arbítrio, o desejo de salvar um patrimônio histórico e uma atuação correspondente. Caso contrário, um outro objeto arqueológico, possivelmente, vestígio do antigo passado desconhecido da nossa humanidade, poderá deixar de existir sem sequer ter sido devidamente pesquisado. Torna-se então, um objeto de valor, cujo estudo constitui não apenas uma emocionante aventura, mas uma necessidade vital para ampliar os horizontes do saber científico.

 

* Oleg I. Dyakonov é licenciado em Diplomacia e Relações Internacionais, pesquisador em história alternativa. É correspondente e consultor para Via Fanzine em Moscou e editor do blog 'Desconhecida Pré-História Brasileira". Participa como convidado da produção do DVD "Muros perdidos em Minas Gerais", produzido e dirigido por Pepe Chaves, com previsão de lançamento para o segundo semestre de 2014.

 

- Tradução ao português por Oleg Dyakonov, com revisão e adaptação de Pepe Chaves.

 

- Imagens: J.A. Fonseca, José Luís Ávila Silveira/Pedro Noronha e Costa, Tom Mangan e divulgação.

 

OLEG DYAKONOV

© Copyright 2014

 

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