Arqueologia Mística:

As inexplicáveis 'construções' de Paraúna

A região de Paraúna, com suas monumentais formações rochosas é uma das mais misteriosas que já visitei. Lá, nos deparamos com belas estruturas em arenito, num complexo de monumentos, como ruínas de uma cidade abandonada; com uma gigantesca “muralha” de pedra, em blocos de basalto retilíneos e ainda, com inigualáveis “construções” em pedra e esfinges zoomorfas de origem desconhecida, além de outros mistérios.

Por J. A. FONSECA*

 

Serra dos Galés, Paraúna/GO.

 

GOIÁS - Paraúna está localizada no interior do Estado de Goiás, a sudoeste, numa região de planalto, onde podem ser encontradas grandes montanhas rochosas que lhe conferem uma característica bastante peculiar. Região de pecuária e de grande potencial turístico possui certos “monumentos pétreos” que parecem reportar a um tempo bem remoto, relacionado à história desconhecida do Brasil. A cidade é pequena e possui cerca de 12.000 habitantes. Está distante de Goiânia a cerca de 160 km, sendo que seus pontos referenciais turísticos são regularmente direcionados apenas em direção a Ponte de Pedra, a Serra das Galés, aos rios que cortam a região e suas diversas cachoeiras. No entanto, Paraúna esconde muitos outros mistérios. Existem alguns monumentos que podem ser vistos em outras localidades, que podem ser classificados, segundo nosso ver, como primitivas reminiscências artesanais de antigos povos que ali habitaram.  

 

Tratam-se de verdadeiras construções líticas desconhecidas que, sem exagero, só podem pertencer a um passado muito remoto e desconhecido de nossa terra. É possível que tenham sido construídas em uma época muito anterior, por um povo ignorado pelos historiadores, pois elas estão lá, vivas e desafiadoras pedindo uma explicação. A cidade de Paraúna é muito aconchegante e bem cuidada. Já na chegada, podem se ver rochas elevando-se do solo, formando pequenos montes escarpados. Pela saída oeste em estrada de terra, há muitas outras montanhas e formações rochosas que podem ser observadas, guardando caracteres excepcionalmente peculiares. Cada uma destas localidades possui aspectos distintos entre si, com exuberantes delineamentos e certas “construções” que não podem ser explicadas tão simplesmente como se se tratassem de formações naturais.

 

FORA DA HISTÓRIA - Acreditamos que Paraúna, juntamente com outras regiões especiais e características igualmente estranhas, podem oferecer subsídios para análise e pesquisa de uma nova e grande perspectiva para a história mais antiga destes rincões isolados do Brasil. Como verdadeiros “portais”, estas perspectivas se abrem nestas regiões e deixam à mostra imprevisíveis arquivos ocultos que velam um acontecimento especial em nosso passado. Paraúna é uma descoberta que revela o que realmente podem representar estas terras centrais brasileiras no contexto da pesquisa, que procura encontrar o verdadeiro elo que pode explicar um determinado período primitivo do povo brasileiro e seu afastamento dos princípios culturais que o nortearam.

 

'esta região no interior do Brasil é mais uma, dentre muitas outras, que também ocultam mistérios desta terra esplêndida,

aguardando silenciosamente o momento para serem decifrados'

 

Em Paraúna costumamos nos embrenhar num mundo desconhecido, constituído de muralhas em pedra perfeitamente ajustadas, com amarrações, encaixes e cinzelamentos bem definidos; deparamo-nos com conjuntos pétreos representando figuras zoomorfas, mais se assemelhando a ruínas de uma fortaleza; encontramo-nos também diante de esfinges que levam-nos imaginar que poderiam ter sido trabalhadas pelas mãos hábeis de uma raça construtora. Apesar das intempéries e do desgaste natural do tempo já terem-nas deformado significativamente, podem ainda ser observadas na sua imponência e silêncio milenar.

 

Ali podemos apreciar a grandeza de montanhas em arenito com suas janelas bloqueadas e silenciosas, como que levantando questionamentos sobre suas formas multivariadas e a dúvida de que em seu interior possa estar ocultando algo de transcendental importância para o mundo contemporâneo. De fato, esta região no interior do Brasil é mais uma, dentre muitas outras, que também ocultam mistérios desta terra esplêndida, aguardando silenciosamente o momento para serem decifrados. 

 

Enfim, a região onde se instalou o município de Paraúna guarda muitas semelhanças com a vasta região da Serra do Roncador e seus mitos, também muito se assemelham aos existentes naquela região matogrossense. Assim, por mais que o queiramos ignorar, estes aspectos inusitados em território brasileiro, acabam produzindo nas mentes dos mais perspicazes buscadores um quê de mistério milenar e uma incógnita a ser explicada pelos estudiosos sobre o passado destas terras, que desde há muito já haviam sido chamadas de Ilhas Brasilis. 

 

Parte da Grande Muralha.

 

GRANDE MURALHA – Está localizada a aproximadamente 35 km da cidade, numa região de muitas fazendas. Trata-se de um monumento colossal situado no vale da Serra da Portaria, que segundo o pesquisador Alódio Tovar possui cerca de 15 km de extensão.

 

Quando estivemos lá ela se encontrava tomada por intensa vegetação, mal podendo ser vista da pequena estrada que passa por ela em direção a fazendas próximas. É algo que impressiona e causa-nos estranheza, ao depararmos em pleno interior do Brasil com uma gigantesca construção megalítica como esta.

 

É toda constituída de blocos de basalto negro, tipo de rocha vulcânica muito resistente, também conhecida como pedra-ferro, com cerca de 1 metro de largura e chegando em alguns lugares, até onde pude chegar a alcançar mais de 2 metros de altura.

 

Segundo o pesquisador Tovar, ela possui uma altitude média de 4,0 metros e sua largura média é de 1,30 metros. Em alguns pontos a “muralha” desce até o solo, ficando praticamente rente ao mesmo, seguindo numa direção mais ou menos em linha reta.  Ela avança do paredão principal da Serra da Portaria e segue até uma pequena elevação do outro lado do vale. Observando-a do alto de suas pedras retilíneas, pode-se notar que ela possui algumas oscilações e em alguns lugares, suas pedras encontram-se espalhadas por toda a parte, levando-nos a acreditar que um terremoto de grandes proporções, num passado muito remoto, a teria deslocado e destruído em alguns lugares.

 

Em alguns pontos suas pedras também parecem terem sido removidas de sua posição original, por ação de uma força descomunal. O que chama a atenção é que suas pedras colossais foram assentadas sempre na posição horizontal e parecem ter sido assim colocadas por uma ação deliberada, além de que sugerem terem sido trabalhadas e transportadas de um outro local. De qualquer forma este é mais um dos mistérios que Paraúna guarda em suas terras, na região central do Brasil, que não deixa dúvidas de que ali teria-se desenvolvido uma espécie de cultura megalítica milenar. Diferentemente, a grande maioria dos historiadores e arqueólogos insistem em afirmar que muitas das chamadas construções líticas do Brasil e suas Itacoatiaras (pedras pintadas), apesar de sua estranheza, teriam sido apenas obras de silvícolas pré-cabralianos que viviam nestas terras.

 

'Estávamos diante de duas formações gigantescas, constituídas de grandes e pesados blocos maciços em pedra bruta, assemelhando-se a potentes muralhas ao lado de um grande portal destruído.'

 

A respeito destas construções pétreas de grandes proporções, quase nada se comenta, entretanto, apesar de que, elas podem ser encontradas em muitas outras regiões brasileiras. A excepcional Muralha de Paraúna deixa assim um rastro de mistério, que vem se tornar ainda mais denso, pelo fato de que bem próximo dela, vamos encontrar também a Serra da Portaria, um conjunto montanhoso que coleciona uma variedade de túneis e janelões que podem ser vistos à distância, como também a Serra da Arnica com suas formas exuberantes talhadas em pedra bruta.

 

Serra da Arnica.

 

SERRA DA ARNICA – Localiza-se a cerca de 20 km da cidade e encontra-se em propriedade particular, assim como a maior parte destes monumentos.

 

Depois de entrarmos em diversas fazendas perguntando sobre sua localidade, sem sucesso, por fim a encontramos. Andamos muitos quilômetros a mais e perdemos algumas horas nesta empreitada, mas valeu a pena. Chegando lá, conversamos com o caseiro e sua esposa, sobre o assunto e eles autorizaram-nos visitar o local, acompanhando-nos  até as proximidades de seus íngremes paredões pétreos. Eles ficaram um pouco arredios e assustados ao se aproximarem daquele lugar dizendo que destas “coisas de Deus eles não gostam nem de chegar perto”.

 

No entanto, o caseiro subiu conosco até um certo ponto, enquanto que sua esposa e filha se esconderam sob a sombra de uma árvore a uma certa distância. Depois ele se afastou do local e não o vimos mais pelas redondezas. Queríamos ficar por ali por algum tempo, pois o que acabávamos de encontrar era realmente espetacular.

 

Desde nossa aproximação do monumento da Serra da Arnica fomos tomados de espanto e um certo contentamento, talvez por estarmos naquele local ermo e diante de algo cuja existência era notoriamente milenar. Era como se estivéssemos sido projetados no passado e nos víssemos diante de uma grande fortaleza em ruínas, com sua entrada imponente, apesar de há muito destruída, guardando ainda resquícios de seu poderio.

 

'A grande parede que encontramos logo na entrada possui

amarrações nos seus encaixes e blocos tão bem ajustados'

 

Suas pedras em posição retilínea, elevavam-se como um contraforte. De um lado (à esquerda), podíamos ver uma espécie de esfinge com caracteres humanóides e, de outro, (à direita), uma espécie de touro deitado sobre um pedestal. Percebemos a existência de uma forma de rampa que conduzia ao seu interior e, mais à direita, havia um outro contraforte, um conjunto pétreo imenso, com formações também semelhantes a uma esfinge, de bem que zoomorfa. Estávamos diante de duas formações gigantescas, constituídas de grandes e pesados blocos maciços em pedra bruta, assemelhando-se a potentes muralhas ao lado de um grande portal destruído. Quando andávamos (eu e minha esposa) em torno daqueles grandes monumentos, não tínhamos dúvida de que nos encontrávamos diante de primitivas construções ciclópicas, provavelmente erguidas por um povo desconhecido, por meio de uma técnica não sabida. Estávamos perplexos com tudo aquilo e nos surpreendíamos a cada momento com aqueles monólitos cortados e encaixados com precisão e seus “paredões” extravagantes.

 

Muro de pedra

 

Logo na entrada havia uma grande parede de pedra construída de blocos linearmente cortados e encaixados, em perfeito aprumo. Algumas destas pedras eram de grandes proporções e ainda havia ao lado alguns blocos perfeitamente cinzeladas, como se tivessem sido deslocadas do conjunto, como que movidos por uma força poderosa.

 

Do alto dos contrafortes, podíamos ver toda a redondeza, tendo de um lado a figura gigantesca do touro deitado ou algo parecido e, de outro, a figura da esfinge. Ambos se mostravam imponentes, com sua estruturas trabalhadas, apesar de que já um pouco carcomidas pela intempéries e pelo desgaste natural das eras transcorridas.

 

'No teto havia uma espécie de clarabóia natural que iluminava regularmente o ambiente, deixando ver com certa nitidez todo aquele espetáculo'

 

De fato, a Serra da Arnica guarda um grande mistério a ser explicado pelos historiadores e arqueólogos brasileiros. Com sua presença desafiadora não está disposta a aceitar uma explicação inconsistente ou escorada em certas contemplações acadêmicas, que costumam desconsiderar, às vezes, aquilo que é mais óbvio. Devemos frisar que algumas das pedras que compõem tal monumento são tão retilíneas e tão bem trabalhadas, que se encaixam com toda a precisão, enquanto que outras parecem terem sido manuseadas de forma que pudessem acomodar-se sobre as que foram anteriormente assentadas. A grande parede que encontramos logo na entrada possui amarrações nos seus encaixes e blocos tão bem ajustados, que deixam ver, ao mais desatento visitante, que se trata de uma construção evidentemente artificial. Estas coisas não podem mais ser ignoradas sob nenhum título ou alegação.

 

Ponte de pedra.

 

A PONTE DE PEDRA – É um monumento de singular beleza e proporção. Distante do município cerca de 60 km. por estrada de terra, trata-se de um local romântico e agradável, apesar de se encontrar meio escondido no meio de abundante vegetação. Estacionarmos na clareira aberta para este fim, embrenhamos pela mata à direita e chegamos à margem do rio que tem o mesmo nome. Em divisa à esquerda, ele corre em direção a uma pequena queda d’água e desaparece em um túnel, sob a terra. De onde estávamos podíamos observar um quadro deslumbrante. O rio caudaloso, corre em meio a grandes rochedos e muita vegetação, desaguando numa passagem retangular, em queda livre, formando uma pequena cachoeira na entrada da caverna sob a montanha.

 

Ali ele penetra e desaparece momentaneamente, reaparecendo cerca de 100 metros à frente. Uma rocha maciça estende-se sobre o teto como uma viga providencialmente colocada ali.

 

Apesar da vegetação abundante em volta tudo é cativante, envolvente e muito harmônico. Retornamos pela trilha e caminhamos na direção da caverna, descendo pela mata circundante, encontrando, enfim, uma entrada para o interior da terra. Era fantástico. Parecia-se que estávamos diante de um portal. No alto, como uma moldura arqueada de uma ponte havia uma formação maciça de pedra, como se tivesse sido colocada ali por algum tipo de tecnologia. Ela, de fato, dava suporte ao teto da gruta e se assemelhava a uma viga de sustentação perfeitamente ajustada.

 

Entramos pela passagem e nos encontramos em seu interior. Era bem grande, alta, abobadada e de beleza incomparável. Por ali o rio passava lentamente, ocultando-se no interior da terra e aparecendo de novo, 100 metros adiante. De um lado podia se ver um portal retangular por onde a correnteza, numa pequena cascata, penetrava no interior da gruta, percorrendo-a em seu leito calmo e sombrio. Do outro lado, havia uma outra fenda, também retangular, por onde o rio saia suavemente e se tornava visível outra vez.

 

'Grandes conglomerados, deixam ver um emaranhado de figuras facilmente identificadas, algumas das quais,

se assemelham a animais, rostos humanos ou grandes muralhas'

 

No teto havia uma espécie de clarabóia natural que iluminava regularmente o ambiente, deixando ver com certa nitidez todo aquele espetáculo. Em seu interior podem ser encontradas algumas formações de estalactites e estalagmites de coloração levemente azulada, nascentes de água cristalina e um ambiente calmo e saudável. Mais adiante, onde a outra  abertura da gruta permite que o rio prossiga seu caminho, desce-se por uma encosta íngreme, segurando-se nos arbustos e árvores em volta e chega-se novamente até o leito do rio, que corre majestosamente entre as pedras.

 

Detalhe da Serra dos Galés.

 

SERRA DAS GALÉS – É uma pequena elevação multiforme que ao longe pode ser notada por suas formações de arenito, que se caracterizam por seus motivos zoomorfos e outras conformações igualmente deslumbrantes. Dista cerca de 27 km da cidade e possui uma área de 269,14 hectares. Hoje, se trata de Reserva Particular do Patrimônio Natural e é controlada pelo IBAMA.

 

Quando lá chegamos, já de imediato nos surpreendemos com suas formações belíssimas. Se a observarmos de uma certa elevação, podemos vê-la de uma forma mais ampla e então dar margem à nossa imaginação, pois, com facilidade, ela pode ser comparada com as ruínas de uma cidade abandonada.

 

Seus monumentos rochosos elevam-se numa grande extensão e apresentam caracteres variadas, além de passagens, “ruas”, e “praças” em meio a uma grande confusão. Este aspecto não tira a sua graciosidade e beleza, pois suas formações esparsas e grandes conglomerados, deixam ver um emaranhado de figuras facilmente identificadas, algumas das quais, se assemelham a animais, rostos humanos ou grandes muralhas, além de outros objetos de proporções consideráveis.

 

Apesar de suas dimensões serem inferiores aos monumentos de Sete Cidades, no Piauí e de Vila Velha, no Paraná, suas formações lembram fortemente às daquelas regiões no norte e no sul do país. Como já dissemos, percorrendo por entre seus blocos pétreos, podemos observar figuras interessantes, que se tornam mais nítidas quando observadas de ângulos específicos. Dentre estas podem ser notadas formações que lembram uma tartaruga, um lagarto, uma índia com seu filho às costas, taças gigantescas, etc., além de grandes contrafortes e muralhas colossais.

 

Porém, não queremos nos deter por muito tempo a estas figuras multiformes da Serra das Galés, procurando observar mais seu contexto inusitado, semelhante a um cidadela em ruínas. Este fator soa muito forte em nós, apesar de os estudiosos já terem afirmado que se tratam de formações naturais, que teriam sido elaboradas lentamente pela ação do vento, da chuva e do sol escaldante daquela região.

 

Outro fato que julgamos relevante é que ela se encontra bem próxima de outros misteriosos “achados” de Paraúna, como a Muralha e a Serra da Arnica, que não deixam dúvidas de que se tratam de restos de “construções” trabalhadas por “alguém” no passado longínquo de nossa terra. Sabemos que é uma ousadia arriscar a dizer que as formações da Serra das Galés possa ter sido um dia uma cidade, pois estaríamos na contramão do que já é usualmente aceito. Mas, nada nos impede de ousar, pois nossa consciência nos diz que certas estruturas pouco comuns que são encontradas em muitos outros lugares do Brasil, têm algo muito importante a revelar.

 

Por outro lado, suas presenças não foram ainda suficientemente esclarecidas e pouco se sabe a seu respeito. Apesar de não fazerem parte daquele grupo de análise, academicamente aceito, permanecem, entretanto, causando surpresas, admiração e inquietação nos meios que lhe deveriam dar maior atenção. Neste sentido, podemos citar a própria Muralha e os blocos cinzelados da Serra da Arnica, vizinhos da Serra das Galés, que não podem ser explicados como sendo fruto de ações contínuas da natureza, face à sua complexidade e nítidas demonstrações de que foram trabalhadas por mãos humanas.

 

'Ela disse-me ter 78 anos de idade e que morava sozinha

ali já há muito tempo. Seu marido a havia abandonado

e depois veio a falecer'

 

CURIOSIDADE - Na região próximo à Muralha conhecemos uma senhora que reside ali a cerca de 73 anos. Ela tem um pequeno pedaço de terra, onde cria algumas vacas e galinhas, tira o leite e faz queijos para vender na cidade. É conhecida como D. Virgilina e me foi indicada por um residente de Paraúna. Tivemos uma certa dificuldade em encontrá-la, pois ela reside, segundo o dizer do pessoal de lá, em um capão, numa pequena casa de madeira no meio das árvores. A trilha que tomamos até lá, em alguns lugares, era de difícil acesso para um veículo baixo como o nosso, um Corsa, mas conseguimos chegar até sua casa.

 

Era, de fato, uma pequena choça de madeira, sem energia elétrica e coberta de sapé, construída  no meio das árvores. Era surpreendente, mas ela residia só naquele ermo. Ao chegar parei o carro próximo a uma cancela, “colchete”, como dizem, e saí a pé até sua casa. Atravessei o primeiro “colchete” e mais outro, quando vi que ela vinha saindo com uma sacola pendente no ombro direito.

 

Uma antiga esfinge desgastada?

 

Cumprimentei-a dizendo que queria falar-lhe, mas ela disse-me, sem cerimônia, que ia sair. Entretanto, mandou que eu me assentasse num tronco de árvore que servia de banco na entrada da casa e ali ficamos conversando por cerca de 20 minutos.

 

DONA VIRGILINA - Ela disse-me ter 78 anos de idade e que morava sozinha ali já há muito tempo. Seu marido a havia abandonado e depois veio a falecer. Seus filhos (5 mulheres e 3 homens, sendo que um teria sido assassinado) não ligavam para ela. Nem sabia onde alguns deles moravam. No peso de sua experiência de tantos anos na roça, parecia já acostumada com a vida dura.

 

Disse-me que costumava ir à cidade à pé, distante uns 35 km dali. Quando encontrava carona, pegava, disse-me, quando não, ia caminhando mesmo. Era uma mulher estranha, vamos dizer diferente, entretanto, era possuidora de uma sabedoria incompreensível e uma experiência conquistada no duro labor diário. Falava de coisas avançadas para uma pessoa que não tinha acesso a nenhuma forma de cultura ou informação.

 

'Tem cobra e outros bichos também, mas não tenha medo.

Vocês estão protegidos. Podem ir sossegados'

 

Disse-me ela:

 

- “Eu não vejo televisão, não leio jornal e vivo aqui neste fim de mundo. Nem mesmo sei ler, mas vejo que tudo está muito errado. O homem está fazendo muitas coisas que não estão certas e isto não é bom”.

 

- “O sol é masculino e a lua é feminina. A lua vem passando com calma e o sol vem queimando tudo. Estamos vivendo agora a era do Espírito Santo. Quem não tiver com o espírito e o corpo limpos não vai ser salvo”.

 

- “Eu falo as coisas e às vezes falo errado. Mas eu presto muita atenção na natureza e fico observando”.

 

Perguntei-lhe se ela já tinha encontrado com alguma pessoa estranha ou se tinha visto alguma coisa diferente. Ela respondeu que não poderia mentir e por isto, disse que não tinha visto nada diferente. Então falei-lhe se ao menos ela não tinha observado alguma estrela se mexendo no céu.

 

Então, ela disse-me:

 

- “Isto a gente vê muito, né!”.

 

Falou do Cruzeiro do Sul e do “caminho de Santiago”, que fica bem à esquerda do Cruzeiro.

 

Perguntei-lhe sobre a muralha e ela disse-me:

 

- “Ela fica logo aqui em frente. Antes eu morava lá mais perto, mas com a morte de meu marido meu filho me tirou de lá e eu vim para cá, que é herança de minha mãe. Você pode entrar com o carro e ir andando. No segundo 'colchete' você vai ver ela passando por ali, no meio do mato”.

 

O que a senhora pensa que é essa muralha? - indaguei-lhe:

 

- “É uma coisa muito esquisita e só pode ser mistério de Deus.”

 

Disse-lhe: A senhora é guardiã da muralha, não é?

 

Ela respondeu:

 

- “Sou guardiona”.

 

Logo a seguir, indicou-nos o lugar para onde deveríamos seguir. Disse-lhe que não ia demorar muito e que ela poderia ir conosco para a cidade. Ela agradeceu e se negou a esperar. Abriu o primeiro “colchete” e logo depois o segundo, dando-nos a direção. Minha esposa perguntou-lhe se tinha cobra, onça ou outro bicho naquele lugar e ela disse-lhe:

 

- “Tem cobra e outros bichos também, mas não tenha medo. Vocês estão protegidos. Podem ir sossegados”.

 

Cheguei perto dela e ofereci-lhe algum dinheiro. Ela, a princípio, não quis aceitar, alegando que não tinha feito nada para recebê-lo. Insisti e ela aceitou com certa reserva. Então ela disse que iria buscar um queijo para nós comermos próximo da muralha. E saiu apressadamente voltando com um deles embrulhado num plástico. Entregou-o com alegria e disse:

 

- “Este está mais que pago”.

 

Então tirei mais algum dinheiro para entregar-lhe, dizendo que era para pagar o queijo. Ela não aceitou e disse que eu o guardasse para ajudar na gasolina do carro. Insisti e ela com muito custo acabou recebendo o dinheiro, agradeceu com muita alegria, dizendo que iria rezar para nós.

 

Falou ao final da conversa:

 

- “Vocês não vão na Serra da Portaria? Olha o seu janelão. Para chegar lá é só seguir por ali”.

 

Indicou com o dedo o caminho a seguir. Dissemos que depois passaríamos por lá. Entramos no carro e rumamos para a misteriosa muralha, com a mente voltada para a D. Virgilina e para a sua inusitada figura. Uma mulher simples, sofrida e muito pobre, mas que carregava uma sabedoria de vida e um conhecimento admirável, apesar de seu viver isolado naquele canto de mundo.

 

'O pesquisador Alódio Tovar encontrou numa outra fazenda

a cerca de 80 km de Paraúna, uma grande formação rochosa,

sob a qual havia uma gruta contendo estranhas e enigmáticas figuras'

 

SERRA DA PORTARIA – É um contraforte montanhoso que impressiona por sua imponência e, segundo Alódio Tovar, chega a alcançar até 120 metros de altura. Seu nome está ligado a existência de inúmeros portais “lacrados” em diversos pontos de toda a sua extensão. Não nos foi possível aproximar dela por vias comuns, pois deveríamos empreender uma longa caminhada até sua base. Por isto não tivemos oportunidade de observá-la nos seus detalhes e nos aproximar de seus janelões e grutas. Segundo o pesquisador Tovar, que lá residiu, ela possui um túnel aberto, logo abaixo do que é chamado de grande janela, bem no alto, que liga o topo da montanha a uma galeria escavada no interior da rocha viva na montanha. A menção desta Serra por D. Virgilina, já nos deixa pensativo sobre o que ela possa significar naquela região e o que ela possui em seu interior. 

 

Porém, nossa viagem não foi completa. O pesquisador Alódio Tovar encontrou numa outra fazenda a cerca de 80 km de Paraúna, uma grande formação rochosa, sob a qual havia uma gruta contendo estranhas e enigmáticas figuras. Infelizmente, não conseguimos encontrá-la para que pudéssemos analisar aquelas formações na rocha que, para ele, se tratavam de um grande enigma e de uma grande revelação sobre o passado de nossa terra.

Pretendemos voltar lá algum dia para continuarmos nossas buscas.

 

* J.A. Fonseca é economista, aposentado, escritor, conferencista, estudioso de filosofia esotérica e pesquisador arqueológico, já tendo visitado diversas regiões do Brasil. É presidente da associação Fraternidade Teúrgica do Sol em Barra do Garças–MT, articulista do jornal eletrônico Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br) e membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA.

 

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