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Especial - Caso Dyátlov

 

Ural do Norte, Rússia: – 54 anos depois:

'Não vá lá': O misterioso perecimento do grupo de Ígor Dyátlov

Esta história misteriosa se passou em 1959, no Ural do Norte, na Rússia. O ocorrido impressionou

as mentes de milhões de pessoas e continua a atormentar pelo seu mistério insolúvel.

 

As Versões - Parte 4/4

 

Por Natália Dyakonova*

De Moscou/Rússia

Para Via Fanzine

03/03/2013

  

O Passo Dyátlov.

Leia também:

Nota do editor: 'Não vá lá: a aventura final'

'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de Ígor Dyátlov - Parte 1/4

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Duas navalhas

 

Considerar as numerosas versões que surgiram como resultado do conhecimento de milhões de pessoas sobre o mistério do Passo Dyátlov é uma tarefa complicada. O caráter fantástico de muitas delas vai tão longe que, simplesmente, causa perplexidade. Mas entre as enormes pilhas de especulações, conjecturas, ficções e adulterações, se escondem os fatos. São estes, precisamente, que nos são necessários. Portanto, eu convido os leitores a se armar para iniciar o processo das buscas pelos fatos e da sua formação em uma espécie da cadeia lógica. Sim, precisamente isso: armar-se. Com duas navalhas. A Navalha de Occam e a Navalha de Heinlein. Estes são dois princípios metodológicos que nos permitiram livrar-se de todo o desnecessário.

 

Lembremos sobre eles.

 

O método da “Navalha de Occam” foi nomeado assim, por conta de William de Ockham (Ockham, Ockam, Occam), filósofo nominalista e frade franciscano inglês da Idade Média. Em termos simples, este princípio diz: “A essência não deve ser multiplicada além da necessidade” (ou “Não devem ser multiplicadas novas entidades sem a necessidade absolutamente extrema”). Mas essa idéia como tal não pertence a Occam, ele apenas formulou o princípio conhecido desde o tempo de Aristóteles, denominado na lógica de “princípio da razão suficiente”.

 

Para nós, o princípio da Navalha de Occam será expresso no fato de nos basearmos exclusivamente nos fatos fixados no inquérito criminal do caso, e não vamos considerar as versões construídas sobre especulações e detalhes introduzidos pela imaginação dos participantes da discussão desta tragédia. Por que confiar nos dados do inquérito criminal? Temos visto como os funcionários regionais do governante Partido Comunista da União Soviética (PCUS) estavam ansiosos por obter dos investigadores criminais laudos de causas naturais para a explicação da tragédia do grupo de Dyátlov. No entanto, eles não conseguiram subjugar completamente a investigação: no inquérito, apareceram as laudas das perícias constatando traumas misteriosos, a análise radiológica, a constatação da ausência de pessoas estranhas no momento do incidente, os materiais de um fenômeno anômalo em forma de “bolas de fogo”. E Lev Ivanov, por mais que os chefes locais do Partido se esforçavam por “torcer-lhe o braço”, ainda qualificou a causa da morte como não sendo por um simples congelamento, ou uma avalanche, ou um furacão, mas alguma “Força Insuperável”. Outra coisa é que a investigação não foi autorizada para seguir em todas as direções possíveis. Isso é o que vamos tentar fazer agora, com base nas evidências do inquérito criminal.  

 

A “Navalha de Heinlein” (ou Hanlon) representa a afirmação sobre o provável papel de erros humanos nas causas de acontecimentos desagradáveis. Diz: “Nunca atribua à malícia o que pode ser adequadamente explicado pela estupidez”. O princípio é assim nomeado, após Robert A. Heinlein ter formulado essa ideia primeiramente no seu conto “Logic of Empire” (1941). A ideia de que o mundo seja regido por uma medida muito maior de estupidez e incompetência, do que pela malícia e dolo, repetidamente soou dos lábios de grandes, como Goethe e Napoleão. Mas, as pessoas são muito mais fáceis de se convencer com a ideia de uma conspiração do que fazê-las acreditar que o mundo está sendo regido puramente pela incompetência.

 

Armados com essas duas navalhas, nós prosseguiremos à análise.

 

Então, vejamos as principais versões.

 

Detalhe do Passo Dyátlov a partir da Montanha dos Mortos. À direita está o vale do rio Áuspiya, de onde veio o grupo de

Dyátlov, posteriormente, foi local de acampamento para os socorristas. À esquerda, o vale do rio Lozva, onde tudo aconteceu.

 

Avalanche

 

Uma das versões mais popularizadas é a hipótese de uma avalanche, que supostamente teria coberto a tenda do grupo de Dyátlov, ferindo fortemente alguns dos membros e forçando todos a saírem para fora da tenda em ação de emergência. Os turistas teriam fugido serra abaixo, buscando a salvação na floresta, e levando sobre os seus ombros os companheiros feridos: Thibeaux, Dubínina e Zolotaryov.

 

Objeções:

 

1) Esta não é em princípio uma área onde existe o perigo das avalanches; estas sucedem nos lugares, onde aconteceram anteriormente, mas naquele local nunca foram registradas.

 

2) O perigo da avalanche começa com uma inclinação de 23 graus, e a tenda dos dyátlovtsy estava instalada em uma inclinação de 15-18 graus. Do depoimento de Serguei Sógrin: “Em 4 de março, eu, Akselrod, Korolyov e três moscovitas [Bárdin, Báskin e Shuléshko, turistas mestres de Moscou] subimos para o lugar onde foi instalada a tenda de Dyátlov. Todos nós aqui chegamos à conclusão unânime de que a tenda foi instalada seguindo todas as regras turísticas e montanhistas. A encosta, sobre a qual estava instalada a tenda, não representava perigo algum, a sua inclinação é de 15-18 graus”.

 

Para ocorrer uma avalanche, é preciso que o ângulo de inclinação seja superior aos 23 graus.

 

3) A maior parte das avalanches ocorre na encosta sul de uma montanha, no tempo mais quente do dia, de 12 a 16 horas, enquanto, nesse caso, o “momento X” ocorreu no lado leste e durante as horas de escuridão.

 

4) Os turistas experientes (e os dyátlovtsy eram experientes) jamais fugiriam em busca de salvação para baixo de uma avalanche, pondo-se a si mesmos sob o golpe da massa de neve descendo violentamente; em vez disso, fugiriam para os lados, escapando assim da avalanche.

5) Sobre a tenda mesma, não havia nenhum sinal de avalanche; de acordo com Evgueni Máslennikov, um dos dirigentes das buscas, a “neve era pouca, apenas aquela que se juntou em fevereiro”.

 

6) Parte dos cordões de extensão da tenda, ajustados sobre as varetas de esqui, ficou intacta; consequentemente, se tivesse ocorrido, a tal avalanche teria sido extremamente “cuidadosa”.

 

7) Na foto tirada após a descoberta, a tenda não aparece puxada para um lado, na direção do movimento da suposta avalanche, como seria natural neste caso; em vez disso, a tenda simplesmente está dobrada no centro, por causa da quebra do cabo que suportava o meio do telhado.

 

A tenda do grupo de Dyátlov. Nota-se que não houve avalanche alguma, apenas os cordões de extensão que estavam

sustentando o telhado foram arrebentados, causa pela qual a tenda caiu. Os cordões laterais ficaram intactos.

 

8) No caso de uma avalanche, os turistas não teriam que fugir a 1,5 quilômetros de distância para certificar que a tenda ainda se encontrava no seu lugar.

 

9) As pegadas deixadas pelos turistas, não sugerem que algum deles foi arrastado pelos outros: todos os nove pares de pés mostraram passos firmes, nem sequer uma corrida. Mas com tais lesões como as que receberam Dubínina, Thibeaux e Zolotaryov, pelo menos três integrantes do grupo não poderiam se mover independentemente; a natureza das lesões de Dubínina não lhe dava mais do que apenas alguns minutos de vida.

 

10) Após a morte dos companheiros ao redor da fogueira e na área entre o cedro e a tenda, Dubínina, Zolotaryov e Thibeaux (que, de acordo com esta versão, já deveriam de estar fortemente lesados pela avalanche), obviamente, ainda sem lesões algumas, vestiram as roupas dos companheiros perecidos e se esconderam no barranco, mostravam-se ativos no arranjo do revestimento, o que não confere com a natureza dos seus ferimentos e fraturas.

 

11) Finalmente, o mais importante: por que os turistas não regressaram para a tenda, onde se encontrava a roupa quente, o calçado e o fogão, para se salvar de uma morte certa no frio, preferindo, em vez disso, construir um abrigo precário no barranco, acender uma fogueira e fazer observações estratégicas a partir do cedro?

 

Conclusão: essa versão da avalanche pode ser decepada.

 

Infrassom

 

O impacto de ondas de infrassom sobre os turistas poderia causar-lhes um estado de pânico e comportamento inadequado.

 

Objeções: a emissão natural do som de um impacto tão poderoso não foi encontrada naqueles territórios, e o interesse pelas fontes artificiais na União Soviética surgiu apenas no início da década de 1970, quando em alguns países foram criados os dispositivos de impacto próximo (para a dispersão de manifestações, por exemplo). No entanto, em 1959, no país não foi estudado, nem produzido nada semelhante.

 

Assim, decepamos essa teoria.

 

Teste de uma arma, queda de um foguete

 

Segundo alguns, os dyátlovtsy, naquela área poderiam ocorrer testes de uma nova arma ou eles poderiam testemunhar a queda de um foguete. Com o consequente pânico e a fuga da tenda.

 

Mas os testes jamais foram realizados em tais lugares, pois, para isso, existem polígonos especiais. Caso naquela área estivessem marcados quaisquer testes, o grupo de Dyátlov nunca teria conseguido, em Ivdel, a autorização para prosseguir a rota naquela direção; no entanto, eles (como também pelo menos dois outros grupos) receberam tais permissões.

 

Queda acidental de um foguete? Então, onde estaria a cratera e os efeitos da onda de explosão? Na área do acidente não há sinais, nem vestígio algum de tal queda, como crateras, árvores queimadas e caídas, vestígios de combustível derramado (como todos os foguetes soviéticos da época eram a combustível líquido). Caso caísse, por exemplo, um módulo de algum foguete com componentes nucleares, onde estaria este? A partir dos cosmódromos de Baikonur e Kapustin Yar, os foguetes soviéticos foram lançados exclusivamente na direção leste, sem atingir nem de longe o Ural. E o cosmódromo Plesetsk na época ainda estava em construção.

 

Na própria tenda, não há qualquer vestígio do impacto da hipotética explosão. Lembremo-nos que no grupo de Dyátlov, todos, exceto Zolotaryov, pertenciam à intelectualidade técnica e sabiam como se comportar em acidentes semelhantes. Deste modo, no caso de tal explosão, os turistas estariam deixando a tenda pela entrada, o que seria muito mais rápido do que tentar cortar uma lona grossa; no entanto, sobre a parede interior da tenda foram encontrados múltiplos arranhões e perfurações, o que sugere que os turistas se esforçaram para perfurar com a faca um material denso e fracamente esticado. Além disso, caso ocorresse uma explosão acidental de um foguete e os dyátlovtsy tivessem que fugir da tenda, logo teriam que voltar, obrigatoriamente, para apanhar os acessórios vitais, e não ficariam se escondendo na floresta para morrerem semi-nus.

 

Várias expedições para a área do Passo Dyátlov levaram à descoberta de muitos objetos deixados pelas equipes de resgate: sondas de metal, restos de cápsulas de cartuchos, ligações de esquis, latas de conservas, etc. Mas, quaisquer traços de “pessoas estranhas” ou “vestígios de testes” jamais foram encontrados. Os engenheiros Yuri Kuntsevitch e Aleksei Kóskin, grandes entusiastas por resolver o mistério do grupo de Dyátlov, efetuaram um exame da situação radiológica com aparelhos, recolheram amostras de solo e cortes de árvores, mas não chegaram a encontrar focos de radiação elevada na área do acidente, nem vestígios de propelentes.

 

Engenheiros Yuri Kuntsevitch e Aleksei Kóskin.

 

Portanto, decepamos essa versão.

 

Animais e ‘ieti’

 

A Navalha de Occam decepa tais versões devido ao fato de que, de acordo com numerosos relatos dos participantes das buscas, no local do incidente não foram encontradas pegadas de animais. Os corpos dos turistas não tinham mordidas, nem outros traços de garras e dentes. “Não vamos multiplicar as entidades”. Há que notar que anteriormente vários membros do grupo já tiveram a experiência do encontro com um urso aproximando-se perto da tenda, durante uma das suas caminhadas de verão: na ocasião, Yura Doroshenko agarrou um martelo geológico e lançou-se sobre o animal, gritando e pulando; o grupo logo uniu os seus esforços aos do companheiro, e o urso fugiu.

 

Com respeito à hipotética criatura denominada ‘ieti’: não há qualquer informação sobre as pegadas deste ser, ou sobre os encontros com algo parecido nesta área.

 

Consequentemente, também decepamos todas as versões desta categoria.

 

Grupos humanos hostis

 

Pela mesma razão – falta total das pegadas de pessoas estranhas na área, bem como de vestígios de golpes, brigas, facadas ou marcas de projéteis nos corpos dos perecidos – tais versões estão sujeitas ao decepamento pela Navalha de Occam. Mas vamos listá-las, todavia, para complementar o quadro.

 

Entre os principais candidatos a tal grupo humano hostil figuram:

 

1) Presos fugitivos dos presídios, localizados naquelas regiões;

 

2) Esquadrão de busca por tais presos, que teria matado aos turistas “por engano”;

 

3) Unidade de forças especiais, que teria assassinado os jovens por chegarem estes a testemunhar alguns ensaios secretos;

 

4) Espiões norte-americanos, com os quais estaria marcado um encontro com o fim da transferência de “dados secretos”;

 

5) Caçadores clandestinos, que teriam atacado os turistas por motivo de uma briga.

 

Como nos casos anteriores, todas essas versões são facilmente decepadas pela Navalha de Occam, mas, todavia, vamos nos deter brevemente nelas.

 

Presos fugitivos: no dado período de tempo, não houve fugas de presos, segundo é evidenciado pelo juiz de instrução Vladímir Korotáyev, o qual, na ocasião, tomou especialmente as informações do chefe do Ivdel’lag, ou Presídio de Ivdel. Os presos jamais empreenderiam uma fuga para a taiga e as montanhas, pois, desta forma iriam encontrar uma morte certa, sobretudo, no meio de um cruel inverno: como regra geral, os presos fogem para os povoados. Alem disso, os supostos presos fugitivos, aparentemente, teriam de ser verdadeiros “anjos”, porque não tocaram em qualquer objeto de valor, não tomaram os mantimentos, o álcool, nem o dinheiro, após, supostamente, terem “matado” os turistas.

 

Esquadrão de busca pelos fugitivos: é difícil imaginar militares que confundam presos com os turistas esquiadores, acampados em uma tenda, com os esquis ao lado dela.

 

Forças especiais: segundo testemunham os profissionais, na época, em 1957, foram criados apenas cinco batalhões de forças especiais, que estavam subordinados aos comandantes dos grupos de exército e distritos militares. Esses batalhões estavam localizados perto das fronteiras do país, e não no centro, onde encontra-se a Cordilheira dos Urais. As forças especiais do KGB, naquela época, contavam com apenas 82 homens (localizados em Moscou). Mas a objeção principal consiste em que as forças especiais tanto do exército, como do KGB, eram estritamente proibidas de integrar operações dentro do território da URSS.

 

Espiões norte-americanos: esta versão é bastante popularizada na internet e atrai muitos partidários pelo seu enredo “hollywoodiano”. Mas, por si só, tal operação seria tão complicada e ineficiente, tanto para os norte-americanos, como para os soviéticos, que simplesmente não vale a pena considerar essa hipótese de uma forma séria: esta é a opinião de experientes agentes profissionais, expressada por Mikhail Lyubímov, que era uma figura proeminente da inteligência soviética.

 

Caçadores clandestinos: os montes Kholat Syakhyl, Otortén e as suas imediações não são lugares de habitação para animais, sendo que até os profissionais caçadores mansi, moradores locais, não costumam caçar por lá. Como testemunhavam os socorristas, durante o tempo inteiro das buscas, apenas uma vez avistaram um lince; também conseguiam apanhar alguns lagópodes brancos, mas, obviamente, essa presa seria muito insignificante para que os caçadores clandestinos estivessem interessados em visitar aquelas paragens.

 

Imitação

 

Esta versão refere-se à categoria anterior (n. 3 de “Grupos humanos hostis”), mas dada a sua particular sofisticação, vamos discuti-la separadamente.

 

Por mais surpreendente que pareça, há um considerável número de fãs para discutir a versão da “conspiração do sangrento do KGB”, que teria matado os turistas inocentes, por quaisquer que sejam suas razões, e para encobri-lo, montou uma imitação da cena do suposto acidente. Assim, colocaram a tenda num lugar diferente do que ela estaria realmente, onde supostamente ocorreram tais eventos sangrentos, espalhando os corpos de uma forma pitoresca, chegando até a lançar alguns destes a partir de um helicóptero. Talvez, os autores desta ideia inspiraram-se na afirmação do perito Borís Vozrozhdiônny, na qual ele comparou a força de impacto sobre os corpos dos últimos quatro turistas com um “lançamento, ou queda a partir de uma altura”. Embora o próprio médico legista mantivesse em mente a possibilidade de uma queda dos turistas a partir da montanha, causada pela força do vento de um furacão (que, no entanto, não se fazia presente naquela noite). A versão de um furacão ou tempestade de neve, que teria lançado os turistas contra as rochas, era muito desejável para o obkom (comitê regional do Partido Comunista) de Sverdlovsk, que estava ansioso por promovê-la.

 

O caráter secreto do caso também chegou a ser uma fonte de inspiração para essa “teoria conspiratória”, ainda que, como já vimos, as pessoalidades que adotaram a decisão de classificar o caso foram guiadas pela tolice, incompetência e um franco cinismo.

 

Objeções:

 

1) Uma imitação deveria de dar uma imagem clara e compreensível do perecimento dos turistas, caso contrário, por que seria montada? No entanto, neste caso temos um enigma insolúvel. Por acaso seria por isso que foi montada a suposta imitação?

 

2) Seria ridículo organizar tal espetáculo, e depois não permitir vê-lo a nenhum jornalista ou mesmo outras “audiências” de fora. Então, por quem e com que propósito poderia ser montada a imitação da cena do acidente?

 

3) Que tipo de trabalho mais sofisticado e custos mais altos seriam necessários para tal empresa? No entanto, considerando a necessidade de eliminar a qualquer um (vamos admitir por um momento essa ideia bárbara), nota-se que em torno do lugar do incidente há centenas de pântanos. Ali seria perfeitamente possível fazer desaparecer para sempre os corpos de todos os turistas, bem como a sua tenda, sem chance de se produzir pistas ou qualquer traço do crime cometido. Mas aqui, ao contrário, foram necessários dois meses e meio de buscas complexas, que requereram, entre outras coisas, altos custos materiais, mas no final, nada foi explicado à sociedade.

 

4) Os imitadores, aparentemente, deveriam possuir asas, pois não deixaram suas próprias pegadas em nenhum lugar.

 

5) Caso algumas “estruturas malvadas”  tivessem montado tal imitação, toda a posterior investigação do caso estaria sob o seu controle; particularmente, nos laudos da perícia jamais apareceriam tais detalhes inexplicáveis, como os órgãos humanos retirados: os globos oculares e a língua.

 

Não vamos criar entidades e buscar gatos pretos onde eles não estão.

 

Deste modo, com a Navalha de Heinlein, decepamos também esta versão.

 

Resumindo estas versões, vamos dizer que, em qualquer caso, nenhuma delas oferece explicações para muitos fatos. Porque os turistas não voltaram para a tenda? Por que montaram um posto de observação em cima do cedro? Por que mudou a cor da pele deles? Por que não há lesões externas, na presença de graves traumas internos? O que se passou com os olhos e a língua de Dubínina, como também com os olhos de Zolotaryov? Além disso, muitas outras incógnitas ficam sem resposta à luz dessas teorias tratadas até aqui.

 

As buscas pelo grupo eram constantemente servidas por helicópteros civis e militares e aviões civis da aviação

de pequeno porte; durante dois meses e meio, centenas de pessoas foram abastecidas de combustível, alimentação,

meios de uso habitual e aparatos técnicos essenciais às expensas do Estado. Na foto: os pilotos de helicópteros,

no centro, o coronel Gueorgui Ortyukov, à sua esquerda, o jornalista Gennadi Grigoryev.

 

Bolas de fogo perto da Montanha dos Mortos

 

Esta versão tem muitos adeptos. Como o ocorrido com o grupo de Dyátlov não pode ser explicado com a lógica comum, por conseguinte, entra no caso a lógica de uma ordem diferente. Ela exige certa abertura de espírito e do reconhecimento de que este mundo é bastante complexo, e nem tudo nele pode ser entendido e identificado com os padrões mentais assimilados na infância, ou explicado pelas leis de Newton, descobertas ainda no início do século XVIII. Essa versão também exige atenção aos detalhes, os quais possam se perder facilmente, se o observador não olhar para o caso de uma forma não preconcebida.

 

Vamos examinar esta versão com mais detalhes. Por quê?

 

Porque, apesar do caráter muito vago da conclusão sobre a “força maior insuperável”, feita, como vimos, sob forte pressão dos chefes locais do Partido, os juízes de instrução Vladímir Korotáyev e Lev Ivanov acreditavam que na morte dos turistas estavam envolvidas precisamente as tais “bolas de fogo”. E eles eram pessoas que na época tinham informações mais amplas sobre o trágico episódio.

 

Vladímir Korotáyev (como sabemos, foi precisamente ele, que no mesmo início da investigação começou a reunir provas referentes às “bolas de fogo”, mas foi impedido pelas autoridades): “Minha conclusão sobre o perecimento do grupo de Dyátlov é única: foram mortos pela explosão de algum projétil, que caiu do céu (pode-se dizer, bola ou OVNI). Porque, julgando pela natureza dos seus traumas, eles foram elevados para o alto e jogados, golpeados contra o chão...”.

 

Lev Ivanov, que conduziu a investigação posterior e encerrou o caso, declarou, “Em maio, junto com E. P. Máslennikov, inspecionamos as imediações da cena do incidente (na área do barranco e o cedro), constatando que algumas das píceas novas na borda da floresta têm marcas de queimadura, mas tais traços não possuíam forma concêntrica ou outro qualquer sistema, nem tiveram um epicentro. Isso confirmava que teria sido dirigida alguma espécie de raio de calor ou de uma energia forte, mas completamente desconhecida (pelo menos, para nós), atuando seletivamente: a neve não foi fundida, as árvores não foram danificadas. Estava-se formando a impressão de que, quando os turistas, em seus pés, desceram para baixo da montanha, alguém acabou com alguns deles de uma forma intencional... (...) Foi-me proposto, no obkom [comitê partidário regional] para não desenvolver este tema. Tomou nas suas mãos a direção da investigação sobre o meu caso, o segundo secretário do obkom do partido, A. F. Yeshtokin”.

 

Lev Ivanov (à direita), realizando a investigação no local do incidente.

 

Também os parentes das vítimas estiveram preocupados com o assunto das tais “bolas de fogo”.

 

Rimma Kolevátova (irmã de Aleksandr Kolevátov) escreveu em um comunicado dirigido para o promotor da Óblast de Sverdlovsk: “Eu tive que participar do enterro de cada um dos turistas perecidos. Por que eles tinham as mãos e as faces tão marrons, com uma coloração escura? Como pode ser explicado o fato de que os quatro que estavam perto da fogueira e, segundo todas as versões, permaneceram vivos, não fizeram tentativa alguma de voltar para a tenda? Se eles estavam muito melhor vestidos, se esse foi um desastre natural, é claro que, após terem passado um tempo perto da fogueira, os jovens certamente teriam se arrastado para a tenda. O grupo não poderia perecer na sua totalidade pela tempestade de neve. Por que eles estavam correndo tão freneticamente para fora da tenda?

 

Um grupo de turistas da Faculdade de Geografia do Instituto Pedagógico, que se encontrava no monte Tchistóp, a sudeste, segundo suas palavras, avistou naqueles dias, no início de fevereiro, uma certa bola de fogo na área de Otortén. As mesmas bolas de fogo foram também registradas depois. Qual é a sua origem? Não poderiam ser a causa do perecimento dos jovens? Afinal, no grupo estavam reunidas pessoas resistentes e experientes.

 

Dyátlov já estava visitando esta área pela terceira vez. Lyuda Dubínina dirigiu por si mesma um grupo para o monte Tchistóp no inverno de 1958, vários dos jovens (Kolevátov, Dubínina, Doroshênko) participaram das caminhadas para os Montes Sayan. Eles não poderiam perecer apenas por causa de uma tempestade”.

 

Testemunhou o pai de Yuri Krivoníschenko (interrogatório de 14 de março de 1959, sublinhado nosso): “Após o enterro do meu filho, visitaram o meu apartamento (...) os estudantes, participantes das buscas (...) dos companheiros perecidos. Entre eles, também estavam aqueles estudantes que no final de janeiro e início de fevereiro encontravam-se na caminhada do Norte, na área do monte Otortén. Aparentemente, haveria não menos que dois tais grupos, pelo menos, os integrantes de dois grupos relatavam de que tinham observado na noite do 1º de fevereiro de 1959, um fenômeno luminoso, para o norte da localização desses grupos: era uma luminescência extremamente forte de um foguete ou projétil. O brilho foi tão forte, que um dos grupos, estando já na tenda e preparando-se para dormir, foi perturbado por ele e saiu da tenda, chegando a observar este fenômeno (...). Depois de um tempo (...) eles ouviram um efeito sonoro, como um grande trovão de longe (...). Os estudantes (...) observaram o tal fenômeno por duas vezes: no primeiro e no sétimo dia de fevereiro de 1959”.

 

A investigação estava recopilando ativamente os dados sobre as “bolas de fogo”. No inquérito criminal sobre o perecimento do grupo de Ígor Dyátlov, os relatórios sobre o fenômeno foram protocolizados e arquivados, ainda que posteriormente não foi levada a cabo a investigação nesta direção. Eis aqui, detalhes de alguns destes relatórios.

 

Gueorgui Atmanaki (jovem engenheiro, membro do grupo de Vladislav Karélin, que também estava em caminhada pelo Ural do Norte, participante das buscas pelo grupo de Dyátlov, citado por nós na Parte 2) prestou o seguinte relato:

 

"Em 17 de fevereiro, eu e Vladímir Shevkunov levantamo-nos às 6:00 da manhã para preparar o pequeno almoço para o grupo. Acendendo a fogueira e fazendo todo o necessário, começamos a esperar que comida estivesse pronta. O céu estava sombrio, não havia nuvens, mas uma leve névoa, que normalmente é dissipada ao nascer do sol. Sentado com o rosto para o norte e virando casualmente a cabeça para o leste, vi que no céu (...) derramou-se um borrão de cor branca leitosa, de aproximadamente 5 ou 6 diâmetros lunares e composta de uma série de círculos concêntricos. A sua forma lembrava a de um halo que forma-se ao redor da lua durante o tempo claro e gelado.

 

Fiz um comentário ao meu parceiro, no sentido de eis como a lua ficou decorada. Ele pensou por um momento e disse que, primeiro, não há lua e, além disso, ela deve estar no lado oposto. A partir do momento quando tínhamos observado este fenômeno, se passaram 1 ou 2 minutos; eu não sei quanto tempo teria durado anteriormente, nem como tinha aparentado originalmente. Neste momento, no centro deste borrão, brilhou uma estrelinha, que durante alguns segundos mantinha o mesmo tamanho, mas logo começou a aumentar drasticamente de tamanho e se mover rapidamente na direção oeste. Em poucos segundos, ela tinha crescido ao tamanho da lua, e em seguida, quebrando a cortina de fumaça, ou as nuvens, apareceu como um enorme disco flamejante de cor leitosa, de tamanho de 2 ou 2,5 diâmetros lunares, cercado pelos mesmos aneis de cor pálida. Depois, mantendo-se no mesmo tamanho, a bola começou a desbotar, até que se fundiu com o halo circundante, o qual, por sua vez, espalhou-se pelo céu e extinguiu-se.

 

Começava o romper do dia. O relógio mostrava 6:57, o fenômeno não durava mais do que um minuto e meio, e causou uma impressão nada leve. Inicialmente, não prestamos atenção nele, mas logo, quando apareceu o próprio disco brilhante, ficamos espantados. Pessoalmente, eu tive a impressão de que em nossa direção estava caindo um corpo celeste, e então, quando tinha crescido até tão enorme tamanho, atravessou-me o cérebro o pensamento de que um outro planeta estava entrando em contato com a Terra, que agora seguiria uma colisão e não ficaria nada do mundo terrestre. Já estávamos acordados por mais de uma hora, de modo que fomos capazes de afastar o sono e não dar crédito às alucinações, mas durante todo o ocorrido ficamos de pé, como que hipnotizados...

 

Eu não sei como Karélin, qual um raio, conseguiu pular para fora do saco de dormir e correu para fora, vestindo as meias e a roupa interior. Ele conseguiu avistar o disco, que estava perdendo os contornos, e o borrão claro espalhando-se pelo céu. Posteriormente, eu tive que falar muito com as testemunhas, e a maioria descreve este caso aproximadamente da mesma maneira, acrescentando que a luz era tão forte que as pessoas em casas acordavam do sono. (...). Protocolo escrito com a minha própria mão. G. Atmanaki”.

 

Nota do jornal “Тагильский рабочий” (“Operário do Taguíl”), de 18 de fevereiro de 1959. Naqueles dias, a palavra “OVNI” (“Objeto Voador Não Identificado”) ainda era desconhecida dos cidadãos soviéticos, de modo que a nota foi intitulada simplesmente: “Um fenômeno celestial incomum”.

 

Às 6 horas e 55 minutos de ontem, hora local, no leste-sudeste, a uma altura de 20 graus do horizonte apareceu uma brilhante bola do tamanho do diâmetro aparente da lua, — escreveu A. Kissel, vice-chefe de comunicações da mina Vysokogorsky. A bola estava se movendo na direção nordeste.

 

Cerca das 7 horas, dentro dela, ocorreu um flash, chegando a ser visível o núcleo muito brilhante da bola. Ela própria começou a brilhar mais intensamente, aparecendo perto dela uma nuvem luminosa, curvada na direção do sul. A nuvem estava se expandindo para toda a parte oriental do céu. Logo depois, houve um segundo flash, teve a forma da crescente. Gradualmente, a nuvem aumentava em tamanho; no centro, ficava o ponto luminoso (o brilho era de tamanho variável). A bola estava se movendo em direção leste-nordeste. A maior altura acima do horizonte, 30 graus, foi alcançada em cerca das 7:05. Continuando o movimento, este fenômeno incomum estava se enfraquecendo e desgastando.

 

Pensando que este estaria conectado de alguma forma com o satélite, troquei o receptor, mas não havia recepção dos sinais”.

 

Por esta publicação, o editor recebeu uma repreensão, e a nota foi arquivada entre a papelada de um dos processos criminais mais insólitos que já se passou na Rússia. Nele, foram cuidadosamente arquivados também outros relatórios sobre o referido “fenômeno”.

 

Tókareva, técnica em meteorologia, na sua declaração ao chefe da seção distrital da milícia em Ivdel, declarou: “Em 17 de fevereiro, às 6:50, hora local, apareceu no céu um fenômeno incomum: movimento de uma estrela com uma cauda que se assemelhava a cirros densos. Depois, essa estrela livrou-se da cauda, tornando-se mais brilhante que as estrelas e voou, como se começando a se inchar gradualmente, até se formar uma grande bola, envolta em uma névoa. Depois, no interior desta bola, acendeu-se uma estrela, a partir da qual se formou uma crescente, e logo, uma pequena bola, não tão brilhante. A bola grande começou gradualmente a se desvanecer, tornando-se como um borrão. Às 07:05 desapareceu por completo. A estrela estava se movendo do sul para o nordeste”.

 

Os soldados de Ivdel’lag, enquanto no serviço, avistaram a mesma coisa.

 

A. Savkin, militar:

 

Do lado sul apareceu uma bola de cor branca brilhante, às vezes encobrindo-se do nevoeiro; por dentro, havia um brilhante ponto-estrela. Ia para o norte, foi visível por uns 8-10 minutos”.

 

Outro militar, Anatoli Anísimov, foi interrogado dois meses depois pelo promotor da cidade de Ivdel:

 

Em 17 de fevereiro (...) eu estava no posto. Naquele momento, do lado sul apareceu uma bola de tamanho grande, envolta num grande círculo de nevoeiro branco. Ao se mover pelo céu, a bola ora aumentava, ora diminuía o seu brilho. Ao se reduzir, a bola desaparecia no nevoeiro branco, sendo que, através dessa neblina era visível apenas o seu ponto luminoso. Este ponto, luzindo periodicamente, aumentava o seu brilho, aumentando também de tamanho. Com o aumento no brilho do ponto luminoso, que tomava a forma de uma bola, ele parecia estar empurrando a névoa branca, aumentando, ao mesmo tempo, a densidade desta pelas bordas, e depois, ele mesmo escondia-se na névoa. Formava-se a impressão de que a própria bola estava emitindo essa neblina branca, que havia tomado a forma de um círculo. A bola estava se movendo muito lentamente e em grande altitude. Era visível por cerca de 10 minutos, e depois, desapareceu na direção norte, como se tivesse derretido ao longe”.

 

A dezenas de quilômetros de Ivdel, Gueorgui Skorykh, morador da aldeia Karaúl, do raión (distrito) de Novolyalinsk, foi despertado pelo grito de sua mulher: “Olha, uma bola está voando e dando voltas!”.

 

Skorykh saltou para a varanda e viu “um sol brilhante no nevoeiro”. A referida bola estava se movendo em linha reta, estritamente do sul para o norte, e sua cor mudava de vermelho para verde. A alternação das cores ocorria periodicamente, o objeto não identificado estava envolto em um invólucro branco. A bola estava se afastando rapidamente e em segundos desapareceu no horizonte. Na opinião de Skorykh, a bola estava voando ao longo da Cordilheira dos Urais, a uma distância muito grande.

 

Em 31 de março, o “fenômeno” se repetiu, este caso é descrito em detalhes na Parte 3 desse nosso presente trabalho.

 

Vamos recordar brevemente, citando aqui o radiograma que os socorristas enviaram para Sverdlovsk.

 

Á Prodanov, Vishnevsky.

 

31.03.59, 9:30, hora local.

 

Em 31.03, às 4:00, na direção sudeste, o plantonista Meshcheryakov notou um grande anel de fogo, que estava por durante 20 minutos se movendo para a nossa direção, escondendo-se depois por trás da elevação ‘880’. Antes de desaparecer no horizonte, a partir do centro do anel apareceu uma estrela, que foi gradualmente aumentando para o tamanho da lua e começou a cair para baixo, separando-se do anel. O fenômeno incomum foi observado por muitas pessoas, levantadas pelo alarme. Pedimos para explicar esse fenômeno e sobre a sua segurança, pois, nas nossas condições, está gerando uma impressão preocupante. Avenburg, Potápov, Sógrin”.

 

Oleg Shtrauch, membro efetivo da Sociedade Geográfica da URSS, morador da vila Polunótchnoye, do raión de Ivdel, anotou a sua observação no diário: “31.03.59. Às 4 horas 10 minutos foi observado o seguinte fenômeno: do sul-oeste para o nordeste, sobre a vila passou com bastante rapidez um luminoso corpo esférico. O disco luminoso, do tamanho de uma lua quase cheia, de cor branca azulada, estava cercado por um grande halo azulado. Às vezes, esse halo acendia-se com brilho, recordando os flashes distantes de um raio. Quando o corpo desapareceu no horizonte, o céu neste lugar ainda estava iluminado pela luz durante alguns minutos.

 

Um fenômeno similar foi observado pelos moradores de Polunótchnoye em 17.02.59, às 7 horas 10 minutos. Durante a manhã, atrás do rastro luminoso ficava um rastro em forma de fumaça...”.

 

Resumindo todo o exposto, podemos dizer que, no período de 1º de fevereiro de 1959 a 31 de março de 1959, na área do perecimento do grupo de Dyátlov, bem como nas áreas imediatamente adjacentes a esta — sobre as elevações “880” e “1079”, na Cordilheira dos Urais, o Ural Polar, o raión de Ivdel da Óblast de Sverdlovsk, — ocorreram fenômenos, acompanhados por efeitos luminosos e sonoros, que foram observados visualmente pelas testemunhas, em 1º e 17 de fevereiro e 31 de março de 1959.

 

Assim, podemos concluir que muitas pessoas tinham razões para conceber esse estranho fenômeno das “bolas de fogo”, como a principal causa do perecimento dos dyátlovtsy.

 

Mas, se a “Força Insuperável” seria uma das bolas de fogo, onde estariam as provas disso? Será que esta “Força” deixou alguns traços da sua presença e impacto sobre os turistas?

 

Acontece que, de fato, deixou-as. Tanto no local do incidente, como sobre os corpos dos perecidos.

                                                                                   

Traços no local do incidente

 

1) Presença de uma fonte de calor.

 

Boletim meteorológico para o raión de Ivdel:

 

“Na noite de 1º. de fevereiro de 1959, a temperatura do ar caiu quase duas vezes em comparação com a manhã, chegando aos -20, -21º C. Em comparação com os valores da manhã, a umidade do ar foi baixa, de 56%, a visibilidade foi de 8 pontos (em média). As precipitações caíram menos que 0,5 mm. Vento norte-noroeste 1,3 m/seg. Nevascas, furacões ou tempestades não foram observados”.

 

Nas encostas da Montanha dos Mortos, a temperatura, obviamente, foi muito menor, devido à altura e ao vento. Com alto grau de certeza podemos adicionar aqui de cinco a sete graus, o que significa que a temperatura na tenda dos dyátlovtsy aproximava-se de 30 graus negativos. Nas condições de um frio forte, a umidade é baixa (o valor indicado é de 56 por cento), e a neve, seca e em pó. Não deveria haver gelo de forma alguma.

 

Mas o que vemos?

 

- Perto da entrada para a tenda, havia uma nódoa de gelo em forma de “costelas” afiadas e paralelas (tais formações geladas são chamadas internacionalmente de sastrúgui, que é o termo de origem russa). Os socorristas imediatamente prestaram atenção para esta ilhota de gelo, com um diâmetro de aproximadamente quatro metros. O gelo era muito forte, com nervuras, como se estivesse congelando em forma de ondas; de modo que sobre estas “costelas” afiadas quebravam-se facilmente os blocos de neve lançados pelos socorristas, quando estavam à procura dos corpos perto da tenda.

 

Local do incidente. De costas, está o promotor Vassili Tempalov e Evgueni Máslennikov. O retângulo azul indica o lugar da

instalação da tenda; o oval rosa mostra os limites da nódoa gelada perto da entrada da tenda; a linha verde mostra a rota

da fuga a partir da tenda até o cedro; 1 - tenda dobrada; 2 - mochilas e esquis dos dyátlovtsy; 3 - nódoa gelada, 4 – cedro.

 

Detalhe da misteriosa nódoa gelada perto da entrada da tenda (imagem ampliada).

 

De onde foi que surgiu esta nódoa gelada? Qual foi a fonte de calor que a criou?

 

Além desta nódoa gelada, a algumas dezenas de metros em torno da tenda, a neve foi coberta com uma dura crosta de gelo. Os estudantes Slobtsov e Sharávin, que encontraram a tenda, não puderam se aproximar dela em esquis! Do vale do Áuspiya, sem dificuldade alguma, passaram com esquis por toda a encosta, mas perto da tenda dos dyátlovtsy tiveram que tirar os esquis e caminhar as últimas dezenas de metros a pé, servindo-se das varetas para se escorar. Para formar essa crosta de gelo, foi necessária também uma fonte de calor para derreter a neve, a qual se congelou posteriormente no forte frio. Mas os próprios dyátlovtsy, no dia 1º de fevereiro, aproximaram-se do lugar para instalação da tenda precisamente nos esquis, quando então, este lugar ainda não tinha sofrido qualquer impacto externo. Na foto da instalação da tenda, vemos uma neve bastante seca e em pó.

 

- As coisas pequenas, perdidas pelos turistas e encontradas ao longo de 20 metros da tenda, enquanto fugiam desta, não foram espalhadas pelos ventos durante as quatro semanas; no entanto, o monte Kholat Syakhyl é conhecido pelos seus ventos fortes. Perto da tenda, a uma distância de meio a um metro, foram atirados chinelos de diferentes pares, chapéus, e outras peças pequenas; a uma distância de 10 a 15 metros da tenda estavam a jaqueta, jaqueta impermeável, chinelos, meias e outras peças. Isto só pôde ter ocorrido porque essas coisas caíram primeiramente na neve molhada que, posteriormente, se congelou, prendendo as peças de roupas. Seria lógico se os turistas pegassem todas essas coisas, como eles estavam muito mal vestidos. Mas não o fizeram porque, num frio atroz, peças de roupas molhadas são inúteis.

 

- As pegadas do grupo, em forma de colunas, que se conservaram por um mês, poderiam se formar apenas a uma temperatura de zero grau ou superior, porque, na ausência de água na sua camada superficial, tais pegadas teriam desaparecido muito rapidamente sob a influência do vento. Como prova disso, pode servir o experimento do grupo de Sergei Semyáshkin, que empreendeu uma corrida pelo caminho dos dyátlovtsy a partir da tenda para o cedro (ainda que calçados) em fevereiro de 2010. Depois deles, não ficou sequer uma pegada.

 

As pegadas em forma de colunas dos dyátlovtsy, encontradas perto da tenda e indo para baixo. Estas não

aparecem em todo o trajeto, sendo que em outros lugares são substituídas pelas pegadas-depressões normais.

Isto significa que, no momento em que o grupo as imprimiu, a neve estava sendo aquecida localmente.

 

Detalhe das pegadas gravadas na neve.

  

A questão é: por quê? Resposta: não houve uma “fonte de calor”, e a neve não se comprimiu. Mesmo em fevereiro e março de 1959, os socorristas na montanha não deixaram uma só pegada de tal tipo. A razão disso é obvia: tanto durante as buscas pelo grupo de Dyátlov em 1959, como durante o experimento de Semyáshkin, em 2010, não houve um aquecimento local da neve, como o que estava claramente presente durante a fuga dos dyátlovtsy.

 

- O gelo nos cabelos dos mortos. Foi observado pelo jornalista Grigoryev, que se encontrava no aeroporto de Ivdel quando estavam descarregando os corpos dos primeiros turistas encontrados (veja na Parte 2 desse trabalho): “Descarregam os cadáveres. Todos cobertos de neve. Gelo no cabelo”.

 

- A enorme camada de neve congelada, debaixo da qual, no fundo do barranco, foram enterrados os últimos quatro turistas, era tão forte que teve que ser picada com picaretas e pás de sapadores. Nas condições naturais, uma camada de neve de quatro metros de espessura jamais poderia cobri-los: não houve tempo suficiente, nem nevadas tão fortes para produzir tanta neve.

 

O barranco, em foto tomada durante as buscas pelos últimos quatro turistas (maio de 1959).

As grandes massas de neve já estavam molhadas, mas, em 1º de fevereiro, a neve estava seca.

 

A massa de neve unicamente poderia se deslizar sobre eles a partir das encostas do barranco. E tal massa de neve poderia se deslizar para baixo somente se estivesse molhada, já que a neve molhada é muito pesada. Mas, nas condições meteorológicas em 1º de fevereiro, a neve não poderia ficar molhada em nenhum caso. A não ser, claro, que houve alguma potente fonte de calor. Depois, sob a influência de um frio intenso, essa enorme camada de neve sobre os corpos dos turistas tornou-se um monólito. E foi precisamente nesse lugar, perto do barranco e o cedro, que Lev Ivanov e Evgueni Máslennikov encontraram píceas com os cumes queimados.

 

2) Presença de uma fonte de luz.

 

- O lugar em que estalou o drama, aparentemente, estava brilhantemente iluminado. Perto da tenda, os turistas atiraram a lanterninha, usada por aqueles que estavam fora no “momento X”. Depois, durante a descida para a floresta, na área da terceira linha de pedras (cerca de 400 metros da tenda), eles deixaram cair ou atiraram a segunda lanterninha. Como foi observado na Parte 3 desse trabalho, àquela altura já estava completamente escuro e não havia lua. Apesar disso, nenhum deles caiu, pois não há sinais de quedas sobre a neve, nem lesões típicas de quedas nas montanhas; no entanto, a encosta pela qual estavam caminhando, não era nada plana, sendo que era toda cortada por “fluxos” de pedras, o chamado kurúmnik. Então, as pessoas estavam vendo onde colocar os seus pés. Consequentemente, a área foi brilhantemente iluminada.

 

Montes de kurúmnik na encosta de Kholat Syakhyl. Em 1º de fevereiro,

estavam cobertas de massas de neve de variadas espessuras.

 

- Eles foram para a floresta em fileira, apesar de que, nas condições de escuridão, seria mais fácil andar em cadeia, um após o outro. Em frente, caminhava aquele que estava calçado, seguido pelos outros, pegada em pegada. Mas, todavia, por que em fileira? Encontrando-se alinhados em fileira, eles eram capazes de ver uns aos outros! Então, o lugar estaria iluminado, apesar da ausência da lua. Inclusive, essa formação constatada demonstra um medo instintivo perante a espera de um ataque por trás. Normalmente, ao se encontrar com animais perigosos, as pessoas, instintivamente, retrocedem ou fogem mais precisamente em fileira ou em leque, mas, em qualquer caso, não em linha. Portanto, o “Algo” que expulsou os turistas da tenda, poderia também atacar por trás, mas ninguém sabia quais eram as suas intenções – o que novamente prova que esse “Algo” não era de natureza humana, pois as intenções de qualquer grupo humano hostil se tornariam imediatamente evidentes para os turistas. Além disso, esse “Algo” possuía velocidade e poder (o que já foi comprovado pelos turistas), ou seja, poderia atacar inesperadamente por trás.

 

Foto tirada em 1959 pelos socorristas durante a lua cheia. A lua está atrás do fotógrafo. Da mesma forma,

poderia estar assim iluminado o local do incidente naquela noite sem lua que, em vez do astro, havia um objeto. A faixa

branca no lado direito da encosta é uma ampla escavação, feita pelos socorristas na sequência das pegadas dos turistas.

 

- Os três que estavam se arrastando até a tenda, estavam vendo-a a uma distância de 1,5 quilômetros, dirigindo-se a ela exatamente em linha reta. Apesar de não ser possível avistar a tenda a tal distância numa noite sem lua.

 

- Os dois Yúras (Yúra Doroshenko e Yúra Krivoníshenko), que encontrando-se em cima do cedro, seriam capazes de observar a tenda unicamente sob a condição da iluminação da área. Aliás, esta “janela” aberta entre os ramos do cedro, que eles montaram para a vigilância, ainda existe até hoje.

 

O cedro utilizado por Doroshenko e Krivoníshenko em 1959 e o mesmo cedro, em 2011.

 

3) Aves mortas.

 

Os socorristas notaram um grande número de aves mortas, principalmente, os lagópodes brancos, na área da floresta, onde estavam se escondendo os turistas: nas cercanias do cedro e do barranco. Consequentemente teria ocorrido o impacto de uma força mortal aos organismos vivos.

 

Os socorristas, 1959. O homem no centro leva dois lagópodes brancos.

 

4) Cumes queimados das píceas: segundo afirmava Lev Ivanov, tratava-se de “ação dirigida” por parte de alguma fonte de energia desconhecida.

 

5) Presença de poeira radioativa, proveniente de uma fonte desconhecida, sobre algumas peças de roupas. Infelizmente, o juiz de instrução não pensou em enviar para o exame radiológico a roupa dos primeiros cinco turistas encontrados. Como foi dito pelo perito que fez a análise radiológica, a contaminação por poeira radioativa poderia ter ocorrido em três oportunidades: a partir da sua queda da atmosfera; como resultado do trabalho com esse tipo de substâncias; ou “a partir do contato”.

 

6) Comportamento dos turistas como evidência indireta.

 

O comportamento dos turistas mostra que a Força Insuperável, que expulsou às pessoas para fora da tenda, além do fato de que ela teria de ser mortal, também deveria ser de longa duração. Não houve quaisquer fenômenos passageiros (explosão, avalanche, meteorito, foguete...), por mais perigosos que estes pudessem ter sido. Seria uma tolice fugir no frio atroz para fora da tenda, despidos e descalços, se a circunstância da qual você tenta se salvar, não existe mais.

 

Depoimento de Serguei Sógrin (estudante do UPI em 1959, turista, liderou uma das equipes de busca; sublinhado nosso):

 

“As pessoas deixaram a tenda rapidamente, através das incisões feitas nela, sob a influência de algum espanto muito forte e um medo que estava os perseguindo durante um tempo relativamente longo, uma vez que não conseguiram ‘voltar a si’ nos primeiros minutos da fuga e acabaram indo muito longe pela encosta abaixo”.

 

Portanto, quaisquer circunstâncias, por mais terríveis que fossem, desde que não tivessem uma longa duração, dificilmente algo poderiam ser a causa da fuga da tenda. Unicamente, o pânico, surgido repentinamente perante algum fenômeno, junto com a consciência de uma real ameaça mortal, obrigou às pessoas a abandonarem não apenas a tenda, mas toda a área onde este “Algo” se encontrava, movendo-se a uma distância considerável.

 

A lógica exigiu que os turistas tomassem a direção à direita da tenda, rumo ao labáz, onde se encontrava estocada uma parte das roupas e mantimentos, como também um par de esquis reservas. Mas, contrariamente a isto, eles seguiram mais para a esquerda e para baixo. Podendo supor que o caminho para o labáz teria sido bloqueado pela Força Insuperável.

 

O tempo da duração do fator perigoso pode ser calculado como o que é necessário para um grupo de pessoas semi-vestidas e descalças descerem caminhando pela neve a partir da tenda até a borda da floresta, percorrendo aproximadamente 1,5 km, acrescido do tempo para aquilo o que foram capazes de fazer antes de serem mortos: acender a fogueira e construir o revestimento para se protegerem no barranco. Depois, a Força Insuperável alcançou-os por baixo, para então, acabar com eles.

 

Traços sobre os corpos

 

1) Faltou a “posição de congelamento”.

 

Sobre as posições reais das vítimas, podemos julgar apenas pelos três primeiros corpos: os de Dyátlov, Kolmogórova e Slobodín. Os corpos dos dois rapazes do cedro, Krivoníschenko e Doroshenko, foram removidos posteriormente pelos últimos quatro do grupo, que retiraram-lhes algumas peças de roupas para usá-las e colocaram os seus corpos perto da fogueira. Os últimos quatro foram revolvidos, certamente, pelo peso da grossa camada de neve da beira do barranco que escorregou sobre eles.

 

Mas os três primeiros ficaram exatamente nas mesmas posições, em que foram atingidos pela Força Insuperável. Essas posições sugerem que, ao se congelar até a morte, eles já não sentiam o frio. Nos casos da morte por congelamento, a chamada “posição de congelamento” não está presente apenas nos bêbados caídos, ou nos inconscientes. A perícia não encontrou álcool no sangue dos dyátlovtsy, portanto, a falta de “posição de congelamento” nos corpos significa que estavam inconscientes quando faleceram. Como observamos na Parte 2 desse trabalho, quatro turistas (Dyátlov, Kolmogórova, Slobodín e Doroshenko) tinham sangramento do nariz ou da garganta e, além disso, Slobodín tinha no crânio uma fenda de origem inexplicável. Tudo isto, obviamente, encontra-se ligado a perda de consciência e a um agressivo impacto externo.

 

É especialmente típica a “posição de pugilista” a que se encontrava o corpo de Dyátlov: encolhendo as costas e com ambas as mãos na frente do peito, apertadas em punhos (veja foto mostrada na Parte 2). De acordo com o manual da medicina forense, tal posição surge no morto “como resultado da coagulação térmica de proteínas musculares pela ação das temperaturas extremamente altas” (sublinhado nosso).

 

O corpo de Ígor Dyátlov na “posição de pugilista”. Chama a atenção a roupa aberta no peito, como se Dyátlov

estivesse sentindo muito calor, num drástico contraste com a temperatura ambiente de 25 a 30 graus abaixo de zero.

Algumas das outras vítimas também tiveram as roupas desabotoadas.

                                                                                                            

2) Afecção da pele com irradiação.

 

- Em todos os laudos da perícia foi anotada a mudança de cor da pele, que tornou-se “vermelha azulada”. O pai de Lyuda Dubínina observou “(...) uma nítida diferença de cor entre as áreas dos corpos dos perecidos: as áreas expostas, de cor preta azul roxa, e as cobertas com roupa, de cor branca...”, enquanto Karélin menciona uma cor “escura roxa bronze”; outros falavam de uma cor “laranja”; Rimma Kolevátova, de uma cor “vermelha tijolo”; e o irmão de Slobodín comparou a cor da pele dos perecidos com a dos “negros”.

 

- Em todos os laudos da perícia também foram anotadas as múltiplas escoriações, cobertas por uma crosta da “densidade de pergaminho”. Tais escoriações estiveram presentes em todas as áreas expostas: nariz, bochechas, pálpebras, mãos. Particularmente, a ponta do nariz de todas as vítimas tinha uma cor marrom escura.

 

Os turistas e montanhistas experientes prestaram atenção a esses detalhes, observando que tais traumas são totalmente atípicos para o seu esporte.

 

Mas, em contrapartida, esses traumas, como também a mudança de cor da pele, são alterações típicas de efeitos radioativos.

 

Vladímir Púdov, companheiro universitário de Dyátlov, agora um cientista respeitado e autor de muitos livros,  escreveu em 2010, em suas memórias:

 

“Estava parado durante 10 minutos perante o ataúde de Ígor, olhando para o seu rosto. Mesmo na máscara de morte da sua face congelada era visível um perfeito bronzeado. Um bronzeado que pode ser obtido ora no sul ensolarado, ora perto de um reator atômico mal protegido”.

  

Queimaduras sobre a face do cadáver de Zina Kolmogórova e sobre a face e as mãos do cadáver de Ígor Dyátlov.

As fotos foram tiradas antes da autópsia.

 

Voltemo-nos ao prontuário médico:

 

“As afecções cutâneas agudas por radiação são o resultado da exposição dos tecidos à irradiação durante um curto período de tempo.

 

Existem quatro graus de queimaduras por irradiação. As afecções do quarto grau são extremamente raras.

 

O primeiro grau é caracterizado por vermelhidão e secagem da epiderme, descamação da camada superior da pele.

 

Segundo grau: aos dos sintomas expostos acima, adiciona-se a edemacia, e a superfície da afecção, em vez de seca, torna-se molhada, (durante vinte e quatro horas, cobre-se de crostas, sendo que no cadáver isso ocorre devido à secura).

 

No terceiro grau, a pele é coberta de chagas, áreas de necrose. São afetadas também as camadas mais profundas do tecido.

 

O quarto grau é caracterizado pela carbonização dos tecidos, a destruição das glândulas sebáceas e sudoríparas e dos folículos pilosos. Em alguns lugares, a pele cobre-se de bolhas”.

 

Aparentemente, os primeiros cinco turistas receberam queimaduras, pelo menos, de segundo grau, e Krivoníschenko, de quarto, como a perícia observou nele, queimaduras na perna esquerda e braço esquerdo até a carbonização; Doroshenko tinha o cabelo queimado na região da têmpora direita, região temporo-parietal e occipital. Como poderia Krivoníschenko receber tais queimaduras nestes lugares: pernas, pés e mão? Evidentemente, ele não meteu a mão e o pé na fogueira. Mas sabemos que ele e Doroshenko tinham que escalar o tronco bastante grosso do cedro. Imagine um homem segurando um grosso tronco com braços e pernas: precisamente o braço esquerdo e a perna esquerda estariam de um mesmo lado do tronco, sobre o qual, provavelmente, teria sido alvo de uma forte irradiação.

 

Mão carbonizada do cadáver de Gueorgui Krivoníshenko,

queimadura sobre a orelha esquerda do cadáver de Yuri Doroshenko.

 

Queimaduras no nariz e na orelha de Doroshenko; espuma ressequida na bochecha.

 

- Como evidência de algum impacto por irradiação pode servir a roupa dos quatro últimos dyátlovtsy, que traziam uma estranha coloração regular roxa clara. Para ocorrer tal descoramento das roupas de maneira uniforme, é preciso haver uma fonte muito forte de irradiação.

 

Lamentavelmente, todos esses detalhes foram negligenciados pela investigação. Alguns fatos foram observados no exame, mas sem qualquer explicação. O exame radiológico não foi feito para as primeiras vítimas. Dos quatro últimos que tinham permanecido durante três meses no riacho, foram tomados para análise os tecidos de órgãos internos, mas nada foi encontrado. Isto é natural, desde que a radiação beta, que foi detectada sobre as roupas desses turistas, afeta apenas os tecidos superficiais, e a capacidade de penetração das partículas beta não é mais do que de alguns milímetros. Além disso, a água corrente lavou a maior parte dessas partículas.

 

3) Sintomas do impacto de compressão.

 

Que tipo de lesões são comumente recebidas pelos turistas nas montanhas, durante a descida das encostas?

 

Na maioria dos casos, são observadas a partir das quedas, lesões das extremidades superiores e inferiores (65%), seguidas pelas lesões na cabeça (22%), lesões no peito, abdômen e pélvis (3%), como também uma combinação de lesões (10%).

 

No nosso caso, Thibeaux-Brignoles e Slobodín receberam graves traumas cranianos, Dubínina e Zolotaryov, complexos traumas peitorais. Em comparação com as estatísticas, temos 50% das lesões na cabeça (em vez de 22%) e 50% das lesões do peito (em vez de 3%). Ninguém teve lesões na parte inferior do corpo ou teve as extremidades fraturadas.

 

Lembremo-nos dos terríveis traumas internos de Thibeaux, Zolotaryov e Dubínina; a este grupo, une-se também Slobodín, com a sua misteriosa fenda no crânio, decorrente do impacto de uma força desconhecida. Não devemos nos esquecer que ninguém tinha traços de lesões externas.

 

Lembremo-nos também das palavras do perito Vozrozhdiônny, de que esses traumas ocorreram como resultado do “impacto de uma grande força”, comparável com o golpe de um veículo a uma alta velocidade (o que em si, já exclui o fator humano como causa dos traumas). Outra comparação que usou o perito: “parece uma onda de explosão”.

 

Qual é o efeito produzido por uma onda de explosão sobre o ser humano?

 

Um dos seus principais fatores constatados foi o golpe do ar comprimido, um aumento súbito e, em seguida, uma drástica queda na pressão atmosférica (barotrauma). 

 

A sintomatologia das afecções pode ser muito variada e depende principalmente da intensidade do impacto da onda de explosão. Com uma pressão redundante desenvolvem-se formas muito graves de afecção fatal. Nestes casos, trata-se geralmente das afecções dos centros vitais do cérebro com a fratura da base do crânio e o sangramento do nariz, os ouvidos e a boca. As formas graves de afecção (contusão) são acompanhadas da perda prolongada de consciência, convulsões, danificações dos pulmões e órgãos do abdômen, sangramento do nariz e os ouvidos, defecação e urinação involuntárias. Com o impacto da onda de explosão, são afetados mais frequentemente os pulmões, o coração, o estômago, o intestino e o fígado. A afecção dos pulmões é o resultado da traumatização externa e através das vias respiratórias”.

 

Muitos dos sintomas de barotrauma são evidentes nos turistas:

 

- perda de consciência (contusão) nos congelados (razão pela qual não está presente a “posição fetal”);

 

- possíveis convulsões em Kolmogórova e Slobodín (o perito considerou que alguns dos arranhões e escoriações foram recebidos por eles em estado de agonia);

 

- sangramento bucal em Dyátlov, epistaxe em Slobodín e Kolmogórova, sanque coagulado na região do dorso nasal, na ponta do nariz e o lábio superior de Doroshenko;

 

- edemacia de lábios e bochechas nos primeiros cinco turistas;

 

- fenda no crânio de Slobodín, fratura profundamente deprimida no crânio de Thibeaux;

 

- múltiplas fraturas de costelas em Dubínina e Zolotaryov;

 

- em todas as vítimas, foi observado o enchimento de órgãos internos, especialmente os pulmões, com sangue, sendo que este sangue tinha a cor escura (isto é, sem presença de oxigênio). Ambos os sinais estão sempre presentes na asfixia por compressão (sufocação);

 

- traços de defecação em Zolotaryov;

 

- estranho líquido espumoso nos pulmões das cinco primeiras vítimas; no caso de Doroshenko, tal líquido até escorreu da boca para a bochecha. Nos últimos quatro, por razões óbvias, este líquido já não foi encontrado. O perito não fez comentários sobre a sua origem, mas na medicina existe tal noção como o ebulismo, ou síndrome de ebulismo, isto é, formação de bolhas nos fluidos corporais nas condições de uma forte queda de pressão externa. O que nos leva novamente ao barotrauma.

 

Acrescentemos que, com a asfixia por compressão, a pele mesmo adquire uma cor rubra cianótica.

 

Uma vez que nas imediações não foram encontrados quaisquer vestígios da onda de explosão — não há cratera alguma, não foi quebrado nenhum arbusto, para não mencionar as árvores, — resta-nos apenas supor que contra os turistas foi empregado algum tipo de impacto de compressão desconhecido para nós, mas, obviamente, de ação dirigida. Foi a isso que se referiu Lev Ivanov. O resultado foi que todos os turistas sofreram barotraumas de diferentes graus, com o posterior congelamento. Zolotaryov, Thibeaux e Dubínina morreram por causas diretas dos traumas recebidos.

 

O poder traumático de grande potência foi direcionado para a parte superior dos seus corpos, e mesmo Aleksandr Kolevátov, que não recebeu graves traumas aparentes, tinha o nariz quebrado e o pescoço deformado na região da cartilagem tireoide — obviamente, ele sofreu o mesmo impacto de compressão. A gravidade dos traumas dos últimos quatro turistas, mais provavelmente, dependeria da posição do corpo de cada um deles em relação ao poder impactante: da face, do lado, meio virado, deitado na neve.

 

Aceitando esta versão, podemos explicar o fato da falta de qualquer lesão externa, enquanto há presença de graves traumas internos. Mesmo o misterioso fato do desaparecimento dos globos oculares (em Dubínina e Zolotaryov) e da língua com o diafragma bucal (somente em Dubínina), pode ser explicado pelo impacto de compressão: em primeiro lugar, um aumento drástico da pressão atmosférica, e depois, uma queda drástica até o vácuo, criando-se o efeito de “esgotamento” — aqueles que aplicaram alguma vez as ventosas, conhecem de tal efeito; também na obstetrícia moderna, é utilizada frequentemente a extração, ou "esgotamento" do feto, por meio de vácuo.

 

Aliás, algumas pessoas, observando essas peculiaridades dos traumas nos turistas, fizeram a pergunta: seria possível que naquele lugar estivesse sendo testada alguma “arma a vácuo”? Resposta: não, tais testes não foram feitos, pois os chamados “explosivos ar-combustível” na União Soviética começaram a ser desenvolvidos apenas 10 anos depois, a partir de 1969. Naquele mesmo ano, os Estados Unidos empregaram pela primeira vez uma determinada bomba no Vietnã para limpar o jângal, porque faz as árvores caírem muito eficazmente e em um grande espaço. Mas, onde estão as árvores caídas na Montanha dos Mortos? Segundo observou Vladislav Karélin (estudante do UPI e participante das buscas): “Na borda da floresta não foram danificados mesmo arbustos pequenos, onde cada raminho, cada agulha estavam no seu lugar”.

 

Por que somente em dois membros do grupo faltavam órgãos vitais? Encontrar-se-iam, provavelmente, em uma posição adequada, ou isso teria sido feito apontadamente, sendo dirigido especificamente contra eles? Neste caso, Zolotaryov e Dubínina seriam os primeiros na lista de vítimas da infame “mutilação humana”, na qual desaparecem de um modo misterioso nas vítimas, precisamente, os olhos, os lábios, a língua e outros órgãos.

 

O lugar do incidente, 1º de fevereiro de 1959, perto da Montanha dos Mortos: 1 – tenda; 2 – cedro;

3 - riacho no barranco; 4 - corpos de Kolmogórova, Slobodín e Dyátlov; 5 – corpos de Doroshenko e Krivoníschenko;

6 - corpos de Dubínina, Zolotaryov, Kolevátov e Thibeaux-Brignoles; 7 (linha amarela) – Passo Dyátlov.

 

Em suma, a causa do perecimento dos dyátlovtsy chegou a ter vários fatores em conjunto:

 

- barotraumas de gravidade variável;

 

- impacto da energia radiante;

 

- efeitos de temperaturas extremas.

 

O fator humano neste processo não é notado.

 

Retrato do Assassino

 

Então, prezados leitores, que retrato do assassino emerge a partir de todas as nossas observações?

 

É evidente supor que se trata de um Objeto que emite luz e calor, sendo capaz de se mover rapidamente, mas também permanecer em um mesmo ponto por algum tempo e, provavelmente, utiliza o impacto de irradiação (calor) e o de compressão contra as pessoas.

 

Mesmo naquele tempo, em fevereiro de 1959, os socorristas suspeitaram de algo semelhante. Eis aqui, alguns trechos dos seus depoimentos no inquérito criminal.

 

K. Bardin e E. Shuleshko (Moscou), membros da comissão de rota e qualificação do presidium da seção de turismo da URSS, declararam: “A saída da tenda foi extremamente apressada, de modo que não permitia atraso de um só minuto. Turistas com tal experiência como os membros do grupo de Dyátlov, entendiam claramente que a saída para fora da tenda em estado seminu, nas condições da ausência de visibilidade, vento às lufadas e baixa temperatura, significava a morte. Consequentemente, a causa que obrigou os turistas a abandonar a tenda, poderia ser apenas o medo de uma morte iminente”.

 

Moisei Akselrod (graduado pelo UPI em 1959, engenheiro, turista, liderou uma das equipes de busca), declarou: “É minha firme convicção que, nada e ninguém por dentro não poderia incutir o pânico nos jovens. Por dentro quer dizer, de dentro da tenda mesmo. Então, eles foram obrigados a fugir por uma manifestação de alguma força externa. Se a tenda está fechada e todos dormindo, então, seria ora uma luz muito brilhante, ora um som muito forte, ou ambos juntos”.

 

Mikhail Sharávin (estudante do UPI, juntamente com Borís Slobtsov, encontrou a tenda dos dyátlovtsy): “Eu tenho uma opinião sobre a questão do por que eles terem abandonado a tenda tão urgentemente: foram fatores que os afetaram, provavelmente, um envenenamento. Eles não conseguiriam respirar. Caso houvesse um deslocamento da neve, eles não correriam em tal situação. Eu acho que foram os fatores associados com o desconhecido e com a incapacidade de continuar permanecendo lá. Não podiam respirar! (...) Foi por isso que eles correram”.

 

Para os turistas, o primeiro fator que os afetou com relação ao Objeto foi a comoção psicológica. Tal objeto de nenhuma maneira era familiar para os dyátlovtsy, sendo para eles algo inexplicável e imprevisível e, portanto, isso gerou pavor e pânico. Caso representasse qualquer dispositivo técnico compreensível, por mais perigo que representasse, o comportamento dos jovens engenheiros e estudantes teria sido diferente.

 

Vadim Brusnitsyn (estudante do UPI em 1959, participante das buscas pelo grupo), declarou: “(...) algo incomum, ainda não visto por ninguém, fez com que os turistas deixassem a tenda em pânico. Correr descalços, num tempo mau, durante a noite, para fora do único canto quente, seria possível apenas por medo de morte. Esse estranho fenômeno (luz que vem através da tenda, som, e, possivelmente, gases) estava atuando durante um longo período de tempo, apressando os turistas...".

 

O Objeto, ao se aproximar, não causou danos significativos, bloqueando apenas a entrada da tenda. Além do tumulto psicológico, ele fez com que os dyátlovtsy sofressem também outras formas de impacto sobre os órgãos dos sentidos, porque, como descobrimos, era uma luz muito brilhante e emitia calor, a partir do qual a neve se derretia. O mais provável é que foi precisamente naquele momento quando a cor da sua pele mudou, recebendo aquele estranho “bronzeado”, reparamos que a irradiação do Objeto parecia-se de certa forma com a de um forno microondas. Com isso, os filmes deixados na tenda não se estragaram na sua maior parte, ainda que algumas das fotos ficaram cobertas com manchas pretas de variados tamanhos.

 

Provavelmente, o Objeto estava criando também alguma espécie de redemoinho, porque a neve derretida na entrada congelou-se depois em forma de “costelas” afiadas (indicando presença de vento forte), e da tenda foram arrancados alguns cordões de extensão.

 

Por isso, os turistas não fizeram nenhuma tentativa de sair fora da tenda da forma habitual, já que a entrada teria sido bloqueada. Pelo contrário, o lençol que protegia a entrada da tenda como uma cortina, segundo relatado pelos socorristas, foi pressionado do interior por um balde puxado para ele, havendo também um machado dentro deste balde. Proteção contra uma luz penetrante e o calor?

 

A parede esquerda da tenda (vista do lado de fora e a partir da entrada) tinha um buraco, fechado com uma jaqueta. Tal buraco poderia ter sido feito para obter visualização, ou para encontrar direção da fuga – sendo que o buraco indicava precisamente a direção para o labáz! No entanto, os dyátlovtsy optaram por não sair daquele lado e cortaram a parede oposta.

 

Uma debandada em pânico pode explicar também a presença na tenda de uma vareta de esqui cortada com a faca. A tenda dos dyátlovtsy foi instalada nas varetas de esqui, o que significa que o seu teto era baixo, com cerca de um metro, o que é bastante apenas para se sentar ou se deitar. Entrando em pânico, eles mesmos romperam acidentalmente a montagem do telhado, que caiu sobre eles, de modo que ficaram presos como pássaros sob a rede. As varetas de esqui são longas, atingindo a axila ou ombro do esquiador, o que significa que, até a vara mais curta (a de  Zina) deveria ter cerca de 140 centímetros de comprimento. Obviamente, uma vareta cortada até um metro deveria sustentar o telhado a partir do interior, permitindo-lhes esticar o tecido e cortar a parede da tenda e assim, fugir para fora.

 

A julgar pelas pegadas, os turistas, saindo através dos cortes, imediatamente dirigiam-se abruptamente para a esquerda, para mais longe da entrada. Eles não tinham ideia de onde iriam por ora, o que é indicado pelo fato de eles não terem pegado na tenda o machado ou a serra, que poderiam lhes ser tão úteis na floresta. A tarefa principal era abandonar o mais rapidamente possível aquele lugar. Ninguém tentou voltar para pegar alguma coisa de precisão na tenda, após deixar a zona do perigo. Pelo contrário, deixando rapidamente a tenda, já a uma distância de 20 metros, eles passaram por alguns minutos de indecisão, pisando ora num pé, ora noutro, como se estivessem tentando decidir que tipo de morte preferir: aqui mesmo, ou tentar se esconder mais em baixo, sob o risco de se congelar até a morte. Neste momento crítico, eles deixaram cair mais outras peças de roupas, sem tentar pegá-las, como já vimos, porque se molharam.

 

Todo o raciocínio acima exposto é uma tentativa de construir uma hipótese consistente sobre o episódio do abandono da tenda, sem presença de outras forças de ordem humana.

 

Mas, o leitor pode dizer que tudo isto é apenas uma especulação, como dizem, “sem o corpo, não há caso”, mostre-nos o Objeto em si!

 

Com prazer.

 

Lembremo-nos, de que os turistas estavam ocupados nos últimos minutos de sua caminhada trágica: estavam fotografando.

 

Em 2009, os pesquisadores Aleksei Kóskin e Yuri Kuntsévitch obtiveram acesso ao arquivo pessoal do promotor criminal Lev Ivanov, que morreu na década de 1990. Neste arquivo, entre outras coisas, foram guardados os filmes fotográficos da caminhada dos dyátlovtsy, cujas fotos foram utilizados também por nós para ilustrar o presente trabalho. Lembramos que, ao juiz de instrução foi dito para retirar do caso “todo o desnecessário”, mas ele ficou tão impressionado com o caso, que conservou os filmes consigo até o final da sua vida.

 

E, como de fato resultou, o célebre quadro mostrando a instalação da tenda é seguido por outro: o último, 34º quadro daquela mesma câmera de Krivoníschenko, que foi instalada em um tripé e cujo filtro de luz acabou quebrado.

 

Aqui está ele, o retrato do assassino.

 

Este é o 34º quadro, o último batido, do filme fotográfico de Krivoníschenko. O filme fotográfico tem

mais de 50 anos e na imagem são notáveis as danificações em forma de cortes e arranhões.

 

Na imagem negativa, com as cores invertidas.

 

Na foto, pode ser visto um objeto brilhante voando rapidamente para o rumo da tenda. Esse objeto não é de tamanho pequeno e possui uma forma geométrica bem definida. A julgar pela nódoa de gelo com cerca de quatro metros, o seu diâmetro poderia não ser inferior aos cinco metros. Atrás dele, estende-se um rasto luminoso, que é normalmente fixado nas fotos de objetos em movimento tomadas com uma grande exposição.

 

A foto a seguir vem a confirmar ainda mais o fato de que a última ação dos turistas antes de fugirem para fora da tenda era a fotografia do objeto. Esta é a última fotografia do filme pertencente, presumivelmente, a Rustem Slobodín. O Objeto é tomado de um ângulo diferente. Pode ser visto que não houve tempo para focalizar a imagem ou pode ser também que o fotógrafo estava em uma posição instável ao fotografar o objeto que se movia rapidamente.

 

A última fotografia do filme pertencente, presumivelmente, a Rustem Slobodín.

 

Eu também creio que poderíamos ver muitas coisas interessantes no filme da câmera, a qual não foi deixada por Semyon Zolotaryov até o seu último momento. Ele morreu de terríveis lesões e de frio se agarrando a uma câmera na floresta noturna, mas, quem agiria assim se nessa câmera não houvesse algo extremamente importante? Mas, infelizmente, não existem tais imagens e, no inquérito, há menção de um filme fotográfico de 12 quadros, “muito danificado”. Talvez, seja o mesmo que permaneceu três meses no riacho, sobre o cadáver de Zolotaryov.

 

Mas é provável que o Objeto tenha surgido casualmente em uma das fotos de turistas e, por alguma razão, nenhum dos pesquisadores prestou atenção. Mesmo os próprios dyátlovtsy parecem não notar a presença de tal objeto, como se vê a seguir.

 

 

Breve descanso no prado.

 

 

Algo apareceu no céu. Mancha na imagem? Usando um editor de fotos comum, vamos realizar esses simples passos:

selecionemos o fragmento, ampliemos, transformemos em negativo...

 

Isto não é uma mancha, porque os ramos das árvores são vistos em cima dela. Removamos o contraste até o zero e obtemos...

 

Algo tão material como os ramos das árvores. Cada leitor pode fazer isso por conta própria. A forma do objeto

se assemelha suspeitosamente à forma da mancha escura no centro do objeto no negativo do 34º quadro.

 

O que aconteceu depois e como atuou o grupo após deixar a tenda, foi descrito em termos gerais na Parte 3 desse trabalho. Mas apenas em termos gerais, com base nos dados disponíveis.

 

A versão da “bola de fogo” explica tudo: uma debandada em pânico para fora da tenda, a falta de pegadas estranhas, a falta de lesões externas na presença de graves lesões internas, mudança de cor da pele, queimaduras, etc.

 

Em julho de 1990, na entrevista concedida a S. Bogomólov, jornalista de Sverdlovsk, o juiz de instrução Lev Ivanov, disse:

 

Eu tenho a minha própria explicação para o ocorrido. Você pode até mesmo colocar como manchete no jornal: ‘Promotor criminal opina que os turistas foram mortos por um OVNI!’ Aliás, eu supus isso ainda na época. Eu não pretendo afirmar de forma inequívoca, se essas bolas foram armas ou não, mas estou certo de que elas estão ligadas diretamente ao perecimento dos jovens”.

 

Em novembro de 1990, no seu artigo “O mistério das bolas de fogo”, Ivanov reiterou a sua versão sobre esse fenômeno como causa do perecimento dos dyátlovtsy, acrescentando:

 

"E, mais uma vez sobre as bolas de fogo. Elas existiam e existem. Mas é preciso não esconder o seu aparecimento, e compreender profundamente a sua natureza. A grande maioria dos informantes que se encontraram com elas, falam sobre a natureza pacífica do seu comportamento, mas, como você pode ver, também há casos trágicos. Era preciso para alguém intimidar ou punir as pessoas, ou mostrar a sua força, e eles fizeram isso... Eu conheço todos os detalhes deste incidente, e posso dizer que apenas aqueles que estavam dentro dessas bolas sabem mais que eu sobre essas circunstâncias. Mas, se havia ‘gente’ dentro das bolas e se eles estão lá sempre, até o momento, ninguém o sabe”.

 

Em 2008, com base nessas declarações do ex-promotor criminal, o “Centro da Investigação Civil da Tragédia dos Dyátlovtsy” escreveu uma queixa para a Promotoria regional. Nela, dizia-se que, dado o número de graves violações, como a pressão exercida sobre a investigação, a falsificação de suas conclusões, onde com as palavras “força maior insuperável” foram codificadas como sendo as tais “bolas de fogo”, era preciso reiniciar a investigação e descobrir o papel dessas “bolas de fogo” no perecimento do grupo de Dyátlov.

 

A resposta foi uma recusa, alegando que “os argumentos não contêm quaisquer novos fatos e circunstâncias que requerem verificação adicional, ou investigação”.

 

Como prova indireta das declarações de Lev Ivanov, pode servir o fato de que Andrei Kirilênko, primeiro secretário do comitê regional do Partido, que classificou o caso, estava literalmente obsesso pelo tema dos OVNIs. Depois de se mudar para Moscou no início da década de 1960, ele solicitou ao KGB registros de ocorrências semelhantes. No entanto, para os cidadãos soviéticos comuns, o tema dos OVNIs permaneceu reservado até a segunda metade da década de 1980. Como cantava na época Vladímir Vysotsky, o nosso famoso bardo, adorado por todos, “O assombroso está perto, mas é proibido”.

 

* * *

 

De acordo com a velha boa tradição de Sherlock Holmes, acredita-se que, uma vez rejeitado todo o impossível, o que resta, é a verdade, não importa quão improvável possa parecer.

 

Usando das nossas “navalhas”, nós tínhamos decepado as outras versões, e chegamos à conclusão de que a esfera luminosa, avistada naquela noite sobre os montes, mais provavelmente, esteja ligada da forma mais direta ao perecimento do grupo.

 

Não podemos dizer com certeza qual era a natureza dessa esfera. Até agora, ainda é um mistério para nós. Mas o que é um mistério? É tudo o que ora está temporariamente oculto da mente humana, ou não está disponível a ela de modo algum. No primeiro caso, trata-se de uma incompreensibilidade objetiva, por definição de Gabriel Marcel. É um problema que pode ser analisado e resolvido com o passar do tempo. No segundo caso, é uma incompreensibilidade que tem caráter “universal”, sendo inexplicável. O problema é definido, e o mistério, pressentido. Este é um confronto do não explicado e o inexplicável. Eu creio que o mistério do grupo de Dyátlov, todavia, pertence à primeira categoria.

 

Este mundo não está limitado pelas nossas noções sobre ele. As tentativas das pessoas céticas em explicar todos os casos incomuns com o jogo da imaginação, as ilusões de ótica e as alucinações vêm de apenas duas razões simples, mas fundamentais: a soberbia e o medo. Na União Soviética, fomos ensinados desde a infância que “o homem é o rei da Natureza”. O antropocentrismo, em sua essência, é uma das manifestações da soberbia: “unicamente existimos nós, e o mundo está em nossas mãos!”. Na qualidade de um instrumento de conhecimento do mundo ao nosso redor, tal abordagem não presta para nada: faz limitar demasiadamente os nossos horizontes e nos faz perceber os acontecimentos de modo preconcebido, empurrando-nos dentro dos limites de matrizes e raciocínios banais. No caso do grupo de Dyátlov, as hipóteses geralmente limitam-se aos esquemas habituais de criminosos, serviços secretos malvados, explosões de projetéis, ataques de animais, etc.

 

Mas na maioria dos casos, as pessoas que rejeitam todo o incomum, simplesmente têm medo, porque se nós assumirmos que existe algo além do nosso controle ou compreensão, então a vida se torna muito instável, difícil e desconfortável. Muito mais fácil é pensar que neste mundo existem apenas as coisas familiares. Tal ceticismo é uma reação protetora da psique, que declara falsa qualquer informação desconfortável e perturbadora, para depois se esquecer disso e se acalmar.

 

Qualquer que fosse a natureza da bola de fogo, que deixou os seus rastos em fevereiro de 1959, uma coisa é certa: naquela noite, o grupo de Ígor Dyátlov aceitou corajosamente um combate desigual com o Desconhecido na encosta leste do monte Kholat Syakhyl. E nesta batalha, os jovens mostraram suas melhores qualidades humanas: firmeza, senso de camaradagem e perseverança.

 

Solução ou um novo mistério?

 

Elas existiam e existem”. Assim se referiu às bolas de fogo Lev Ivanov. De fato, a Cordilheira dos Urais parece ser um dos habitats destas estranhas “bolas”: elas foram avistadas desde há muito e continuam sendo avistadas até hoje.

 

No folclore mansi, existem lendas sobre uma terrível deusa chamada de Sorni Nai, que significa “Sol de Ouro” ou “Luz Dourada” (Sorni – “ouro”, Nai – “fogo” no sentido sagrado, como uma divindade), que às vezes sai para uma terrível caça, acompanhada de uns ajudantes menores, mas também luminosos... Ela semeia morte e destruição.

 

Como aparenta essa cruel deusa? Sorni Nai segue por cima dos cedros, sem deixar pegadas. Um estrondo da morte acompanha a sua caça, uma luz impiedosa cega à sua vítima. Mas a deusa não está interessada nos corpos das vítimas, senão apenas na sua “força vital”. Tal conclusão foi tirada pelos caçadores mansi ao encontrarem corpos de pessoas e animais sem sinais de violência e, tampouco sem sinais de vida. Os mansi tinham muito medo dessa deusa feroz, ofertando-lhe em sacrifício, o sangue de animais, como um acumulador da “força vital”. Agora, a “deusa” tem que buscar os sacrifícios por ela mesma.

 

Representação artística do pintor Vladislav Ivanov para a deusa Sorni Nai, da cultura mansi.

 

Os incidentes com Yuri Yakímov, mestre mineiro da cidade de Severouralsk, localizada perto do Passo Dyátlov, e com Valentín Rudkovsky, inspetor da guarda da reserva Dênezshkin Kâmen, localizada na mesma área, obrigam-nos a jogar novos olhares sobre as lendas e fazermos uma pergunta a nós mesmos: realmente há muito de ficção nessas velhas histórias?

 

O mestre mineiro Yuri Yakímov trabalhou em 2002 na área de Ivdel, já familiar para nós, na pedreira para extração de bauxita.

 

Yuri Yakímov, na conferência anual em memória do grupo de Dyátlov,

realizada nos dias 1º e 02 de fevereiro de 2013 (imagem de frame do vídeo).

 

Em 11 de setembro de 2002 ele estava de plantão à noite. Além dele, não havia ninguém na pedreira no momento.

 

Às 23 horas ele teve que acender as poderosas lâmpadas elétricas que iluminavam a parte sul da pedreira, para inspecionar os equipamentos. Na escuridão, ele viu que a 200 metros dele, o declive da camada de minério estava iluminado com alguma espécie de luz branca oscilante. Como se um carro com os faróis de halogênio acesos estivesse oscilando verticalmente e com rapidez, iluminando o declive com essa luz. Tal luz vinha da floresta, de leste para oeste. Não se ouvia nenhum som vindo daquela direção.

 

De repente, a partir da fonte desconhecida, a luz começou a virar através da floresta na direção de Yakímov, iluminando-o. Ele correu para o transformador e rapidamente acendeu a iluminação da pedreira. Mas, ainda estava se dirigindo para o seu lado uma ampla faixa de luz néon lívida e proveniente de uma fonte desconhecida. Toda a floresta ao redor estava iluminada com uma brilhante luz branca. Estava mais claro do que no dia, mas não havia sombras das árvores.

 

Yakímov ficou por trás da cabina transformadora por cerca de três minutos; a luz, como que a contragosto, começou a girar em outra direção. Mas bastava dar apenas uma olhada para a fonte da estranha luz para ver como estava e ela voltava imediatamente na direção de Yakímov. Além disso, começaram a se separar da fonte algumas espécies de “lanternas oscilantes”, que começaram a se mover na direção do homem. Quanto mais tempo Yakímov estava olhando para elas, maior tornava-se o número dessas “lanternas”. Mas, bastava-lhe virar para outro lado, as luzes paravam. Apenas depois de algum tempo, o mestre mineiro percebeu que estavam reagindo à sua vista. Isso foi inexplicável, causando ansiedade e medo.

 

Escondendo-se atrás da cabina de transformação, Yakímov começou a gritar, “Quem causa esse alvoroço?”, e até mesmo a ralhar em voz alta. O objeto não reagiu aos seus sons. Logo veio o barulho de um caminhão de muitas toneladas de peso, que estava se aproximando; o objeto nem mesmo reagiu a esse som, mas Yakímov sentiu um alívio. Ele olhou novamente para o objeto, e em seguida, o raio se virou em sua direção. “Decidi não olhar mais o destino e fui-me embora”, lembra Yakímov. Á 01:00, quando os operários do turno noturno se reuniram no refeitório, ele contou aos companheiros sobre o que viu, mas ninguém acreditou nele.

 

De manhã, ele visitou a pedreira, mas não encontrou qualquer rastro do objeto.

 

Duas semanas mais tarde, quando o episódio começou a ser esquecido aos poucos, Yakímov leu em um pequeno jornal local, na seção de ecologia, que um dos inspetores da reserva Dênezshkin Kâmen, chamado Valentín Rudkovsky, encontrou-se com um semelhante fenômeno inexplicável no território daquela reserva. Tratava-se do mesmo “aparelho luminoso” (termo dado por Yakímov) e as mesmas “lanternas” multiplicáveis.

 

Ficando pasmado com aquilo, Yakímov decidiu se encontrar com Rudkovsky. No mapa, determinou a distância da pedreira de bauxita até a reserva, onde trabalhou o inspetor e calculou que seriam 40 quilômetros.

 

A cidade de Ivdel, a reserva Dênezshkin Kâmen e o Passo Dyátlov estão localizados

na mesma área em que foram registrados avistamentos luminosos.

 

Era preciso entrar em contato com Rudkovsky, especificando a data do incidente. Infelizmente, várias tentativas para se encontrar com o inspetor não tinham levado a nada; depois, o interesse de Yakímov pelo assunto começou a se desvanecer, estourando novamente apenas três anos depois.

 

Serviu-lhe como impulso para isso, a história do trágico perecimento do grupo de Dyátlov, conhecida por Yakímov através de um programa da tevê russa.

 

E, desta vez, o mestre mineiro finalmente encontrou-se com o inspetor Rudkovsky. O inspetor contou a Yakímov o episódio inteiro do seu encontro com o misterioso “aparelho luminoso”, ocorrido em 29 de agosto de 2002. Yakímov anotou o seu relato, após ter verificado todos os dados pelos diários de trabalho de Rudkovsky.

 

Normalmente, os inspetores de uma reserva trabalham juntos, mas naquela noite Valentín Rudkovsky estava sozinho. Às 22 horas armou uma fogueira, fez o chá, mas não teve tempo para comer, pois viu um facho de alguma luz forte. A luz era como a de néon ou de halogênio, brilhava como um holofote e iluminava a floresta a aproximadamente um quilômetro de distância. A fonte de luz estava a uma altura incerta a partir do solo, encontrando-se a distância de 150 a 200 metros de Rudkovsky. A luz estava vindo do oeste para o leste.

 

Interessado no fenômeno, o inspetor começou a olhar fixamente para o raio de luz e, em seguida, do outro lado, apareceram duas “lanternas”, oscilando.

 

“(...) Sempre que eu olhava para essas lanternas, era como se as pessoas que estavam com elas viessem em minha direção, aproximando-se extremamente rápido. Pensei que alguém queria pregar uma peça ou assustar-me, acercando-se daquela maneira da minha fogueira. Vestindo-me rapidamente, decidi assustá-los. Pus-me as botas, peguei a espingarda e sai para encontrá-los. Passei uns 20 metros, escondi-me atrás de uma kolódina [tronco de árvore caído] e comecei a olhar na direção das lanternas. Estas começaram a se aproximar de mim demasiadamente rápido e mais precisamente quando eu estava olhando para elas”.

 

Estava quieto ao redor, não havia nenhum som estranho. Rudkovsky solevantou-se de trás do tronco caído e as “lanternas” estavam a aproximadamente uns 50 a 70 metros dele. Entretanto, já não era só duas, mas umas sete ou oito.

 

Elas estavam me cegando. Imediatamente deitei-me sobre o chão, atrás da kolódina, virando-me ao contrário das lanternas. Mas, bastava-me levantar a cabeça e olhar para elas que, novamente, elas se aproximavam, voltando a me iluminar e a cegar”.

 

O inspetor passou uma hora e meia deitado atrás da árvore caída. Não estava olhando para a fonte de luz. Depois, viu que as “lanternas” oscilantes deslocaram-se, brilhando já não mais a partir do leste, mas a partir do norte, já a uma distância de 50 a 70 metros dele.

 

Durante esse tempo, eu percebi que me deparei com algo incomum, pois não eram humanos, mas alguma outra coisa, algo inexplicável... Percebi que essas lanternas reagem unicamente ao meu olhar e decidi verificá-lo. Acendi um fósforo, comecei a fumar - nenhuma reação”.

 

As “lanternas” situavam-se perifericamente a cerca de 100 metros de distância da fonte de luz principal. O inspetor aproximou-se da fogueira, tentando não olhar para o “aparelho”, nem para as “lanternas”. A fogueira já estava consumida, assim que ele abasteceu-a novamente, aqueceu a comida e jantou.

 

E então, eu vi que a partir da fonte principal, o raio estava brilhando não apenas do oeste para o leste, mas também do norte para o sul, ou seja, a partir da mesma fonte estava irradiando uma forte luminescência, tipo holofotes, em duas direções.

 

Sob essa luz, podia ser vista cada folha de grama, mas as árvores não emitiam sombras. Eu não olhei para a luz, comecei a fumar e sentei-me para descansar perto de um cedro. Durante todo o tempo que permaneceu essa luz, eu não emiti qualquer som da minha voz, nem atirei.

 

Às 2:30 ouvi uma crepitação muito alta, como a de uma forte descarga elétrica, e toda a luz desapareceu. Depois disso, surgiu um forte vento, que durou de dois a três minutos. Então, novamente houve silêncio. Após isso, eu descansei perto da fogueira pelo resto da noite.

 

Na manhã, revistei a área onde se encontrava a fonte dessa luz e as lanternas, mas não descobri nada suspeitoso ou incomum”.

 

Há de se acrescentar que, após esse episódio, Rudkovsky adoeceu por um longo período.

 

Quão semelhantes são essas descrições com a lendária e deslumbrante Sorni Nai, com os seus ajudantes “brilhantes”, buscando a próxima presa!

 

O que aconteceria com o mestre mineiro e o inspetor de guarda da reserva, caso eles continuassem a olhar para as “lanternas”? Quiçá, teriam sido encontrados mais dois corpos privados de “força vital”, e dois enigmas mais para a gente procurar entender?

 

Yuri Yakímov fez as seguintes conclusões sobre o “aparelho luminoso”:

 

- aparece na noite com o escurecer, sem um som, irradia durante 4 a 4,5 horas e deixa o lugar após romper um som parecido ao de uma forte descarga elétrica (crepitação), logo que a luz se “desliga”, um vento forte estala por dois a três minutos;

 

- a fonte de luz pode se encontrar tanto no solo, como por cima dele;

 

- a luz é emitida pelo “aparelho” da mesma forma como o faz um holofote, sendo parecida com a luz das lâmpadas alógenas ou de néon;

 

- não reage às lâmpadas elétricas, ao fogo ou cigarro aceso, à voz da pessoa, à energia térmica da pessoa, aos sons dos carros;

 

- reage unicamente ao olhar da pessoa (e, talvez, ao de um animal). A partir da fonte principal de luz, rapidamente aproximam-se na direção do homem, as “lanternas” oscilantes, como se estivessem procurando o olhar humano;

 

- as luzes (“lanternas”) podem percorrer através da floresta, multiplicando-se e oscilando. O seu número aumenta de dois a oito;

 

- a luz da lanterna cega o homem, assim como a luz dos farois ou de uma forte lanterna elétrica e não produz sombras das árvores.

 

Se assumirmos que naquela trágica noite, o grupo de Dyátlov encontrou-se com este fenômeno, seria possível tirar conclusões adicionais: o “aparelho” é agressivo para com os humanos. Um longo olhar para este fenômeno produz a sua reação de resposta em forma de um raio de luz e o aparecimento das “lanternas” que se multiplicam, sobre cujo objetivo podemos fazer meras suposições, mas, sem dúvida, sempre no sentido mais desfavorável para os seres vivos.

 

Devemos supor que, o grupo de Dyátlov, ao observar o “aparelho”, decidiu tirar-lhe uma foto, deste modo, os olhares de nove pessoas chamaram a sua malvada atenção. No último quadro tomado por Krivoníschenko, ao lado do grande objeto, é visível também o segundo, menor...

 

Agora, Yuri Yakímov está firmemente convencido de que os turistas do grupo de Dyátlov depararam-se precisamente com o “aparelho luminoso”, e que este os destruiu. Ele relata que muitas vezes tem um mesmo sonho:

 

Na noite, em uma nevasca, um grupo de pessoas está caminhando pela profunda neve para baixo da montanha... Uma intermitente luz branca está perseguindo-os. Estou tentando alcançá-los, mas os meus pés estão fracos. Eu caio na neve e grito para eles, que estão se afastando: ‘Ígor, leve os companheiros mais longe na floresta, para onde há mais ramagem seca! Acendam uma grande fogueira, aqueçam-se! Não tenham medo de fazer uma fogueira, esta luz não reage ao fogo, responde apenas ao olhar humano! Há que sobreviver essa noite, vão voltar para a tenda na manhã!’. Mas eles não me ouvem e caminham cada vez mais longe na noite. E ficam apenas as pegadas deles, que a nevasca está cobrindo”.

 

O fato de o Objeto permitir aos dyátlovtsy percorrerem a uma distância de 1,5 quilômetros da floresta, virados de costas para a tenda, onde se encontrava o perigo, nos faz perguntar: talvez, Yuri Yakímov tivesse razão, e a bola de fogo era precisamente daquele jeito?

 

Ainda ocorrem encontros com o desconhecido no Passo Dyátlov? Às vezes acontecem. Esta imagem, por exemplo,

foi feita por uma expedição no local do perecimento do grupo, em agosto de 2012 (por Aleksandr Kóshkin).

 

 

Fragmento ampliado da mesma foto.

 

Justo acrescentar que, no nosso país, também outros grupos e indivíduos encontraram-se de perto com as tais “bolas” e “bolinhas” de fogo, e nem todos esses encontros tiveram final feliz.

 

Mas essas já são outras histórias...

 

Conclusão

 

Após o perecimento dos turistas do grupo de Dyátlov, aquela área permaneceu fechada por três anos para as atividades dos grupos turísticos: simplesmente não era concedida a permissão para seguir por essa rota. Nada de conspirações: na URSS, a proibição era a maneira favorita e mais fácil para resolver um caso complexo, reação normal dos órgãos partidários e administrativos soviéticos para as situações fora de seu controle; era assim imposto perante o medo dos novos estados de emergência, aos quais ninguém queria assumir a responsabilidade.

 

Yuri Yúdin, o único sobrevivente dos dyátlovtsy, que deixou o grupo no início da caminhada, chegou a ser engenheiro, trabalhou toda a sua vida na fábrica da cidade de Solikamsk, onde na década de 1990 foi vice-prefeito para a economia e a previsão. Agora está aposentado. Ele não abandonou o turismo, foi presidente do clube turístico Pólo (“Полюс”), em Solikamsk, inclinando muitos jovens para o caminho de turismo.

 

Engenheiro Yuri Yúdin, na atualidade.

 

Em 1963, Yúdin, junto com os turistas do UPI, instalou uma placa memorial com inscrição em um dos ostântsy (termo russo para formações rochosas isoladas e íngremes, mais comumente conhecidas como buttes), perto do qual estava instalada a tenda dos seus companheiros falecidos:

 

ELES ERAM NOVE. Sob este passo, numa noite de nevasca, em 2 de fevereiro de 1959 faleceram os turistas do UPI: Dyátlov Í., Kolmogórova Z., Doroshênko Yu., Slobodín R. Krivoníschenko G., Kolevátov A., Dubínina L., Thibeaux-Brignoles N., Zolotaryov S. Em memória dos que se foram e não voltaram, temos chamado este passo com o nome do grupo de Dyátlov”.

 

Memorial instalado próximo ao local de perecimento do grupo.

 

Durante as tempestades, o vento assobia tristemente do monte Otortén, cinzentas nuvens desgrenhadas deitam-se em cima da Montanha dos Mortos, um corvo solitário às vezes se senta sobre o ostânets, como um zeloso guardião dos mistérios locais.

 

Hoje, ninguém no mundo inteiro pode imaginar com certeza absoluta os detalhes de tudo o que tiveram que experimentar os turistas do grupo Dyátlov naquela fatídica noite. Kholat Syakhyl é um monte escalvado, e isso nos produz a associação com o Calvário, pois realmente tornou-se um calvário para os dyátlovtsy.

 

Eles levaram consigo os detalhes das últimas horas das suas vidas para lá, de onde não há retorno.

E aqui, eles ficaram eternamente jovens...

 

Lembra Valentina Tókareva, amiga de Zina Kolmogórova, em 1959, estudante do UPI e turista:

 

Recebi a última carta de Zina Kolmogorova de Serov, e depois, apenas em fevereiro soube sobre o perecimento do grupo.

 

Por 45 anos tenho guardadas as cartas dos meninos. Você não tem ideia de como eram nobres, inteligentes e honestos. Sim, não levam aos maus para as árduas caminhadas: apenas uma caminhada - e a pessoa é vista distintamente, não vão levá-la para a outra”.

 

Eis o que Zina escreveu para Valentina, estando sentada no trem com todos os dyátlovtsy, saindo para a última caminhada:

 

“E o trem está indo, em três horas estaremos em Serov. Doutro lado das janelas, levanta-se a taiga do Ural. Apesar de tudo, minha querida, é bom viver neste mundo. Sabes, tenho certo ânimo, triste e alegre ao mesmo tempo.

 

(...) Vive, Valyushka, alegra-te com as coisas boas. O que há de fazer se às vezes houver tristeza? Depois de tudo, há que viver! Verdade? Temos de ver apenas as coisas boas da vida, então, viver será mais alegre. Dou-te a minha palavra, que tudo vai ficar bem”.

 

Aos poucos, a trágica história desta caminhada está se tornando uma lenda. Sobre os dyátlovtsy, a gente está compondo poemas e canções, escrevendo novelas, produzindo artigos e filmes. Cada vez com maior frequência, as pessoas vêm para o Passo Dyátlov, encantadas com esse mistério.

 

Agora, uma nova geração de turistas deposita flores no memorial, no local do perecimento desses rapazes e moças, que um dia tiveram a mesma idade deles; e, sentados ao redor das suas fogueiras, tendem a imaginar, o que aconteceu realmente naquele lugar há mais de meio século.

 

P.S.: Após publicação do presente trabalho, chegou a triste notícia, em 27 de abril de 2013, na cidade de Solikamsk, Yuri Yudin morreu após uma longa e grave doença. Ele vinha sofrendo de varizes; a Fundação Dyátlov ofereceu pagar-lhe uma operação, mas Yudin rejeitou. Em 4 de maio a urna com suas cinzas foi enterrada em Yekaterimburgo, no cemitério Mikháylovskoye, ao lado dos túmulos dos outros membros do grupo. Após 54 anos, ele alcançou os seus companheiros. 
 

   

* Natália P. Dyakonova é licenciada em Filologia, diplomada em Pintura, autora de uma serie de artigos sobre a Literatura, Arte e História. Pesquisadora e historiadora por inclinação. É consultora e correspondente em Moscou para o diário digital Via Fanzine e da Rede VF (Brasil). É editora do blog Protocivilización.

 

- Tradução: Oleg I. Dyakonov.

 

- Revisão final e adaptação: Pepe Chaves.

 

- Imagens:

- As fotos do grupo tomadas pelos próprios turistas estão na internet em livre acesso, receberam a divulgação após o dossiê do caso ter sido acessado pelos pesquisadores.

- O mapa de rota foi confeccionado pela autora a partir de imagem do Google Earth.

 

Leia também:

Nota do editor: 'Não vá lá: a aventura final'

'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de Ígor Dyátlov - Parte 1/4

'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de Ígor Dyátlov - Parte 2/4

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Akakor: Uma fraude chamada Tatunca Nara

 

- Leia outras matérias exclusivas de Natália Dyakonova em português:

   Tradições do Natal e Ano Novo na Rússia: história e atualidade

   Mistérios em torno do geoglifo no Ural

 

- Produção: Pepe Chaves

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