Ural do Norte, Rússia: – 54 anos depois:
'Não
vá lá': O
misterioso perecimento do grupo de Ígor Dyátlov
Esta história misteriosa se passou em 1959, no Ural do Norte, na
Rússia. O ocorrido impressionou
as
mentes de milhões de pessoas e continua a atormentar pelo seu mistério
insolúvel.
As Versões -
Parte 4/4
Por
Natália Dyakonova*
De
Moscou/Rússia
Para
Via
Fanzine
03/03/2013
O
Passo Dyátlov.
Leia também:
Nota do editor:
'Não vá lá: a aventura final'
'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de
Ígor Dyátlov - Parte 1/4
'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de
Ígor Dyátlov - Parte 2/4
'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de
Ígor Dyátlov - Parte 3/4
'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de
Ígor Dyátlov - Parte 4/4
O misterioso caso de Ettore Majorana
O estranho sumiço de Valentich
Caso Rivalino: homem desaparece em Minas Gerais
Triângulo das Bermudas: o mistério tem três lados
Os mistérios milenares do Roncador
A Misteriosa 'Z' e o coronel Fawcet
Akakor: Uma fraude chamada Tatunca Nara
Duas navalhas
Considerar as numerosas versões que surgiram
como resultado do conhecimento de milhões de pessoas sobre o mistério do
Passo Dyátlov é uma tarefa complicada. O caráter fantástico de muitas
delas vai tão longe que, simplesmente, causa perplexidade. Mas entre as
enormes pilhas de especulações, conjecturas, ficções e adulterações, se
escondem os fatos. São estes, precisamente, que nos são necessários.
Portanto, eu convido os leitores a se armar para iniciar o
processo das buscas pelos fatos e da sua formação em uma espécie da
cadeia lógica. Sim, precisamente isso: armar-se. Com duas navalhas. A
Navalha de Occam e a Navalha de Heinlein. Estes são dois princípios
metodológicos que nos permitiram livrar-se de todo o desnecessário.
Lembremos sobre eles.
O método da “Navalha de Occam” foi nomeado
assim, por conta de William de Ockham (Ockham, Ockam, Occam), filósofo
nominalista e frade franciscano inglês da Idade Média. Em termos
simples, este princípio diz: “A essência não deve ser multiplicada
além da necessidade” (ou “Não devem ser multiplicadas novas
entidades sem a necessidade absolutamente extrema”). Mas essa idéia
como tal não pertence a Occam, ele apenas formulou o princípio conhecido
desde o tempo de Aristóteles, denominado na lógica de “princípio da
razão suficiente”.
Para nós, o princípio da Navalha de Occam será
expresso no fato de nos basearmos exclusivamente nos fatos fixados no
inquérito criminal do caso, e não vamos considerar as versões
construídas sobre especulações e detalhes introduzidos pela imaginação
dos participantes da discussão desta tragédia. Por que confiar nos dados
do inquérito criminal? Temos visto como os funcionários regionais do
governante Partido Comunista da União Soviética (PCUS) estavam ansiosos
por obter dos investigadores criminais laudos de causas naturais para a
explicação da tragédia do grupo de Dyátlov. No entanto, eles não
conseguiram subjugar completamente a investigação: no inquérito,
apareceram as laudas das perícias constatando traumas misteriosos, a
análise radiológica, a constatação da ausência de pessoas estranhas no
momento do incidente, os materiais de um fenômeno anômalo em forma de
“bolas de fogo”. E Lev Ivanov, por mais que os chefes locais do Partido
se esforçavam por “torcer-lhe o braço”, ainda qualificou a causa da
morte como não sendo por um simples congelamento, ou uma avalanche, ou
um furacão, mas alguma “Força Insuperável”. Outra coisa é que a
investigação não foi autorizada para seguir em todas as direções
possíveis. Isso é o que vamos tentar fazer agora, com base nas
evidências do inquérito criminal.
A “Navalha de Heinlein” (ou Hanlon) representa
a afirmação sobre o provável papel de erros humanos nas causas de
acontecimentos desagradáveis. Diz: “Nunca atribua à malícia o que
pode ser adequadamente explicado pela estupidez”. O princípio é
assim nomeado, após Robert A. Heinlein ter formulado essa ideia
primeiramente no seu conto “Logic of Empire” (1941). A ideia de que o
mundo seja regido por uma medida muito maior de estupidez e
incompetência, do que pela malícia e dolo, repetidamente soou dos lábios
de grandes, como Goethe e Napoleão. Mas, as pessoas são muito mais
fáceis de se convencer com a ideia de uma conspiração do que fazê-las
acreditar que o mundo está sendo regido puramente pela incompetência.
Armados com essas duas navalhas, nós
prosseguiremos à análise.
Então, vejamos as principais versões.
Detalhe do Passo Dyátlov a partir da Montanha dos Mortos. À direita está
o vale do rio Áuspiya, de onde veio o grupo de
Dyátlov, posteriormente, foi local de acampamento para os socorristas. À
esquerda, o vale do rio Lozva, onde tudo aconteceu.
Avalanche
Uma das versões mais popularizadas é a hipótese
de uma avalanche, que supostamente teria coberto a tenda do grupo de
Dyátlov, ferindo fortemente alguns dos membros e forçando todos a saírem
para fora da tenda em ação de emergência. Os turistas teriam fugido
serra abaixo, buscando a salvação na floresta, e levando sobre os seus
ombros os companheiros feridos: Thibeaux, Dubínina e Zolotaryov.
Objeções:
1) Esta não é em princípio uma área onde existe
o perigo das avalanches; estas sucedem nos lugares, onde aconteceram
anteriormente, mas naquele local nunca foram registradas.
2) O perigo da avalanche começa com uma
inclinação de 23 graus, e a tenda dos dyátlovtsy estava instalada
em uma inclinação de 15-18 graus. Do depoimento de Serguei Sógrin: “Em
4 de março, eu, Akselrod, Korolyov e três moscovitas [Bárdin, Báskin
e Shuléshko, turistas mestres de Moscou] subimos para o lugar onde
foi instalada a tenda de Dyátlov. Todos nós aqui chegamos à conclusão
unânime de que a tenda foi instalada seguindo todas as regras turísticas
e montanhistas. A encosta, sobre a qual estava instalada a tenda, não
representava perigo algum, a sua inclinação é de 15-18 graus”.
Para ocorrer uma avalanche, é preciso que o ângulo de inclinação seja
superior aos 23 graus.
3) A maior parte das avalanches ocorre na
encosta sul de uma montanha, no tempo mais quente do dia, de 12 a 16
horas, enquanto, nesse caso, o “momento X” ocorreu no lado leste e
durante as horas de escuridão.
4) Os turistas experientes (e os dyátlovtsy
eram experientes) jamais fugiriam em busca de salvação para baixo de uma
avalanche, pondo-se a si mesmos sob o golpe da massa de neve descendo
violentamente; em vez disso, fugiriam para os lados, escapando assim da
avalanche.
5) Sobre a tenda mesma, não havia nenhum sinal
de avalanche; de acordo com Evgueni Máslennikov, um dos dirigentes das
buscas, a “neve era pouca, apenas aquela que se juntou em fevereiro”.
6) Parte dos cordões de extensão da tenda,
ajustados sobre as varetas de esqui, ficou intacta; consequentemente, se
tivesse ocorrido, a tal avalanche teria sido extremamente “cuidadosa”.
7) Na foto tirada após a descoberta, a tenda
não aparece puxada para um lado, na direção do movimento da suposta
avalanche, como seria natural neste caso; em vez disso, a tenda
simplesmente está dobrada no centro, por causa da quebra do cabo que
suportava o meio do telhado.
A
tenda do grupo de Dyátlov.
Nota-se que não houve avalanche alguma, apenas os cordões de extensão
que estavam
sustentando o telhado
foram arrebentados, causa pela qual a tenda caiu.
Os cordões laterais ficaram intactos.
8) No caso de uma avalanche, os turistas não
teriam que fugir a 1,5 quilômetros de distância para certificar que a
tenda ainda se encontrava no seu lugar.
9) As pegadas deixadas pelos turistas, não
sugerem que algum deles foi arrastado pelos outros: todos os nove pares
de pés mostraram passos firmes, nem sequer uma corrida. Mas com tais
lesões como as que receberam Dubínina, Thibeaux e Zolotaryov, pelo menos
três integrantes do grupo não poderiam se mover independentemente; a
natureza das lesões de Dubínina não lhe dava mais do que apenas alguns
minutos de vida.
10) Após a morte dos companheiros ao redor da
fogueira e na área entre o cedro e a tenda, Dubínina, Zolotaryov e
Thibeaux (que, de acordo com esta versão, já deveriam de estar
fortemente lesados pela avalanche), obviamente, ainda sem lesões
algumas, vestiram as roupas dos companheiros perecidos e se esconderam
no barranco, mostravam-se ativos no arranjo do revestimento, o que não
confere com a natureza dos seus ferimentos e fraturas.
11) Finalmente, o mais importante: por que os
turistas não regressaram para a tenda, onde se encontrava a roupa
quente, o calçado e o fogão, para se salvar de uma morte certa no frio,
preferindo, em vez disso, construir um abrigo precário no barranco,
acender uma fogueira e fazer observações estratégicas a partir do cedro?
Conclusão: essa versão da avalanche pode ser
decepada.
Infrassom
O impacto de ondas de infrassom sobre os
turistas poderia causar-lhes um estado de pânico e comportamento
inadequado.
Objeções: a emissão natural do som de um
impacto tão poderoso não foi encontrada naqueles territórios, e o
interesse pelas fontes artificiais na União Soviética surgiu apenas no
início da década de 1970, quando em alguns países foram criados os
dispositivos de impacto próximo (para a dispersão de manifestações, por
exemplo). No entanto, em 1959, no país não foi estudado, nem produzido
nada semelhante.
Assim, decepamos essa teoria.
Teste
de uma arma, queda de um foguete
Segundo alguns, os dyátlovtsy, naquela
área poderiam ocorrer testes de uma nova arma ou eles poderiam
testemunhar a queda de um foguete. Com o consequente pânico e a fuga da
tenda.
Mas os testes jamais foram realizados em tais
lugares, pois, para isso, existem polígonos especiais. Caso naquela área
estivessem marcados quaisquer testes, o grupo de Dyátlov nunca teria
conseguido, em Ivdel, a autorização para prosseguir a rota naquela
direção; no entanto, eles (como também pelo menos dois outros grupos)
receberam tais permissões.
Queda acidental de um foguete? Então, onde
estaria a cratera e os efeitos da onda de explosão? Na área do acidente
não há sinais, nem vestígio algum de tal queda, como crateras, árvores
queimadas e caídas, vestígios de combustível derramado (como todos os
foguetes soviéticos da época eram a combustível líquido). Caso caísse,
por exemplo, um módulo de algum foguete com componentes nucleares, onde
estaria este? A partir dos cosmódromos de Baikonur e Kapustin Yar, os
foguetes soviéticos foram lançados exclusivamente na direção leste, sem
atingir nem de longe o Ural. E o cosmódromo Plesetsk na época ainda
estava em construção.
Na própria tenda, não há qualquer vestígio do
impacto da hipotética explosão. Lembremo-nos que no grupo de Dyátlov,
todos, exceto Zolotaryov, pertenciam à intelectualidade técnica e sabiam
como se comportar em acidentes semelhantes. Deste modo, no caso de tal
explosão, os turistas estariam deixando a tenda pela entrada, o que
seria muito mais rápido do que tentar cortar uma lona grossa; no
entanto, sobre a parede interior da tenda foram encontrados múltiplos
arranhões e perfurações, o que sugere que os turistas se esforçaram para
perfurar com a faca um material denso e fracamente esticado. Além disso,
caso ocorresse uma explosão acidental de um foguete e os dyátlovtsy
tivessem que fugir da tenda, logo teriam que voltar, obrigatoriamente,
para apanhar os acessórios vitais, e não ficariam se escondendo na
floresta para morrerem semi-nus.
Várias expedições para a área do Passo Dyátlov
levaram à descoberta de muitos objetos deixados pelas equipes de
resgate: sondas de metal, restos de cápsulas de cartuchos, ligações de
esquis, latas de conservas, etc. Mas, quaisquer traços de “pessoas
estranhas” ou “vestígios de testes” jamais foram encontrados. Os
engenheiros Yuri Kuntsevitch e Aleksei Kóskin, grandes entusiastas por
resolver o mistério do grupo de Dyátlov, efetuaram um exame da situação
radiológica com aparelhos, recolheram amostras de solo e cortes de
árvores, mas não chegaram a encontrar focos de radiação elevada na área
do acidente, nem vestígios de propelentes.
Engenheiros
Yuri Kuntsevitch
e
Aleksei Kóskin.
Portanto, decepamos essa versão.
Animais e ‘ieti’
A Navalha de Occam decepa tais versões devido
ao fato de que, de acordo com numerosos relatos dos participantes das
buscas, no local do incidente não foram encontradas pegadas de
animais. Os corpos dos turistas não tinham mordidas, nem outros
traços de garras e dentes. “Não vamos multiplicar as entidades”.
Há que notar que anteriormente vários membros do grupo já tiveram a
experiência do encontro com um urso aproximando-se perto da tenda,
durante uma das suas caminhadas de verão: na ocasião, Yura Doroshenko
agarrou um martelo geológico e lançou-se sobre o animal, gritando e
pulando; o grupo logo uniu os seus esforços aos do companheiro, e o urso
fugiu.
Com respeito à hipotética criatura denominada ‘ieti’:
não há qualquer informação sobre as pegadas deste ser, ou sobre os
encontros com algo parecido nesta área.
Consequentemente, também decepamos todas as
versões desta categoria.
Grupos
humanos hostis
Pela mesma razão – falta total das pegadas
de pessoas estranhas na área, bem como de vestígios de golpes, brigas,
facadas ou marcas de projéteis nos corpos dos perecidos – tais
versões estão sujeitas ao decepamento pela Navalha de Occam. Mas vamos
listá-las, todavia, para complementar o quadro.
Entre os principais candidatos a tal grupo
humano hostil figuram:
1) Presos fugitivos dos presídios, localizados
naquelas regiões;
2) Esquadrão de busca por tais presos, que
teria matado aos turistas “por engano”;
3) Unidade de forças especiais, que teria
assassinado os jovens por chegarem estes a testemunhar alguns ensaios
secretos;
4) Espiões norte-americanos, com os quais
estaria marcado um encontro com o fim da transferência de “dados
secretos”;
5) Caçadores clandestinos, que teriam atacado
os turistas por motivo de uma briga.
Como nos casos anteriores, todas essas versões
são facilmente decepadas pela Navalha de Occam, mas, todavia, vamos nos
deter brevemente nelas.
Presos fugitivos: no dado período de tempo, não
houve fugas de presos, segundo é evidenciado pelo juiz de instrução
Vladímir Korotáyev, o qual, na ocasião, tomou especialmente as
informações do chefe do Ivdel’lag, ou Presídio de Ivdel. Os presos
jamais empreenderiam uma fuga para a taiga e as montanhas, pois, desta
forma iriam encontrar uma morte certa, sobretudo, no meio de um cruel
inverno: como regra geral, os presos fogem para os povoados. Alem disso,
os supostos presos fugitivos, aparentemente, teriam de ser verdadeiros
“anjos”, porque não tocaram em qualquer objeto de valor, não tomaram os
mantimentos, o álcool, nem o dinheiro, após, supostamente, terem
“matado” os turistas.
Esquadrão de busca pelos fugitivos: é difícil
imaginar militares que confundam presos com os turistas esquiadores,
acampados em uma tenda, com os esquis ao lado dela.
Forças especiais: segundo testemunham os
profissionais, na época, em 1957, foram criados apenas cinco batalhões
de forças especiais, que estavam subordinados aos comandantes dos grupos
de exército e distritos militares.
Esses batalhões estavam localizados perto das fronteiras do país, e não
no centro, onde encontra-se a Cordilheira dos Urais. As forças especiais
do KGB,
naquela época, contavam com apenas 82 homens
(localizados em Moscou). Mas a objeção principal consiste em que as
forças especiais tanto do exército, como do KGB, eram estritamente
proibidas de integrar operações dentro do território da URSS.
Espiões norte-americanos: esta versão é
bastante popularizada na internet e atrai muitos partidários pelo seu
enredo “hollywoodiano”. Mas, por si só, tal operação seria tão
complicada e ineficiente, tanto para os norte-americanos, como para os
soviéticos, que simplesmente não vale a pena considerar essa hipótese de
uma forma séria: esta é a opinião de experientes agentes profissionais,
expressada por Mikhail Lyubímov, que era uma figura proeminente da
inteligência soviética.
Caçadores clandestinos: os montes Kholat
Syakhyl, Otortén e as suas imediações não são lugares de habitação para
animais, sendo que até os profissionais caçadores mansi, moradores
locais, não costumam caçar por lá. Como testemunhavam os socorristas,
durante o tempo inteiro das buscas, apenas uma vez avistaram um lince;
também conseguiam apanhar alguns lagópodes brancos, mas, obviamente,
essa presa seria muito insignificante para que os caçadores clandestinos
estivessem interessados em visitar aquelas paragens.
Imitação
Esta versão refere-se à categoria anterior (n.
3 de “Grupos humanos hostis”), mas dada a sua particular sofisticação,
vamos discuti-la separadamente.
Por mais surpreendente que pareça, há um
considerável número de fãs para discutir a versão da “conspiração do
sangrento do KGB”, que teria matado os turistas inocentes, por quaisquer
que sejam suas razões, e para encobri-lo, montou uma imitação da cena do
suposto acidente. Assim, colocaram a tenda num lugar diferente do que
ela estaria realmente, onde supostamente ocorreram tais eventos
sangrentos, espalhando os corpos de uma forma pitoresca, chegando até a
lançar alguns destes a partir de um helicóptero. Talvez, os autores
desta ideia inspiraram-se na afirmação do perito Borís Vozrozhdiônny, na
qual ele comparou a força de impacto sobre os corpos dos últimos quatro
turistas com um “lançamento, ou queda a partir de uma altura”.
Embora o próprio médico legista mantivesse em mente a possibilidade de
uma queda dos turistas a partir da montanha, causada pela força do vento
de um furacão (que, no entanto, não se fazia presente naquela noite). A
versão de um furacão ou tempestade de neve, que teria lançado os
turistas contra as rochas, era muito desejável para o obkom
(comitê regional do Partido Comunista) de Sverdlovsk, que estava ansioso
por promovê-la.
O caráter secreto do caso também chegou a ser
uma fonte de inspiração para essa “teoria conspiratória”, ainda que,
como já vimos, as pessoalidades que adotaram a decisão de classificar o
caso foram guiadas pela tolice, incompetência e um franco cinismo.
Objeções:
1) Uma imitação deveria de dar uma imagem clara
e compreensível do perecimento dos turistas, caso contrário, por que
seria montada? No entanto, neste caso temos um enigma insolúvel. Por
acaso seria por isso que foi montada a suposta imitação?
2) Seria ridículo organizar tal espetáculo, e
depois não permitir vê-lo a nenhum jornalista ou mesmo outras
“audiências” de fora. Então, por quem e com que propósito poderia ser
montada a imitação da cena do acidente?
3) Que tipo de trabalho mais sofisticado e
custos mais altos seriam necessários para tal empresa? No entanto,
considerando a necessidade de eliminar a qualquer um (vamos admitir por
um momento essa ideia bárbara), nota-se que em torno do lugar do
incidente há centenas de pântanos. Ali seria perfeitamente possível
fazer desaparecer para sempre os corpos de todos os turistas, bem como a
sua tenda, sem chance de se produzir pistas ou qualquer traço do crime
cometido. Mas aqui, ao contrário, foram necessários dois meses e meio de
buscas complexas, que requereram, entre outras coisas, altos custos
materiais, mas no final, nada foi explicado à sociedade.
4) Os imitadores, aparentemente, deveriam
possuir asas, pois não deixaram suas próprias pegadas em nenhum lugar.
5) Caso algumas “estruturas malvadas” tivessem
montado tal imitação, toda a posterior investigação do caso estaria sob
o seu controle; particularmente, nos laudos da perícia jamais
apareceriam tais detalhes inexplicáveis, como os órgãos humanos
retirados: os globos oculares e a língua.
Não vamos criar entidades e buscar gatos pretos
onde eles não estão.
Deste modo, com a Navalha de Heinlein,
decepamos também esta versão.
Resumindo estas versões, vamos dizer que, em
qualquer caso, nenhuma delas oferece explicações para muitos fatos.
Porque os turistas não voltaram para a tenda? Por que montaram um posto
de observação em cima do cedro? Por que mudou a cor da pele deles? Por
que não há lesões externas, na presença de graves traumas internos? O
que se passou com os olhos e a língua de Dubínina, como também com os
olhos de Zolotaryov? Além disso, muitas outras incógnitas ficam sem
resposta à luz dessas teorias tratadas até aqui.
As buscas pelo grupo
eram constantemente servidas por helicópteros civis e militares e aviões
civis da aviação
de pequeno porte;
durante dois meses e meio, centenas de pessoas foram abastecidas de
combustível, alimentação,
meios de uso habitual e
aparatos técnicos essenciais às expensas do Estado. Na foto: os pilotos
de helicópteros,
no centro, o coronel
Gueorgui Ortyukov, à sua esquerda, o jornalista Gennadi Grigoryev.
Bolas
de fogo perto da Montanha dos Mortos
Esta versão tem muitos adeptos. Como o ocorrido
com o grupo de Dyátlov não pode ser explicado com a lógica comum, por
conseguinte, entra no caso a lógica de uma ordem diferente. Ela exige
certa abertura de espírito e do reconhecimento de que este mundo é
bastante complexo, e nem tudo nele pode ser entendido e identificado com
os padrões mentais assimilados na infância, ou explicado pelas leis de
Newton, descobertas ainda no início do século XVIII. Essa versão também
exige atenção aos detalhes, os quais possam se perder facilmente, se o
observador não olhar para o caso de uma forma não preconcebida.
Vamos examinar esta versão com mais detalhes.
Por quê?
Porque, apesar do caráter muito vago da
conclusão sobre a “força maior insuperável”, feita, como vimos, sob
forte pressão dos chefes locais do Partido, os juízes de instrução
Vladímir Korotáyev e Lev Ivanov acreditavam que na morte dos turistas
estavam envolvidas precisamente as tais “bolas de fogo”. E eles eram
pessoas que na época tinham informações mais amplas sobre o trágico
episódio.
Vladímir Korotáyev (como sabemos, foi
precisamente ele, que no mesmo início da investigação começou a reunir
provas referentes às “bolas de fogo”, mas foi impedido pelas
autoridades): “Minha conclusão sobre o perecimento do grupo de
Dyátlov é única: foram mortos pela explosão de algum projétil, que caiu
do céu (pode-se dizer, bola ou OVNI). Porque, julgando pela natureza dos
seus traumas, eles foram elevados para o alto e jogados, golpeados
contra o chão...”.
Lev Ivanov, que conduziu a investigação
posterior e encerrou o caso, declarou, “Em maio, junto com E. P.
Máslennikov, inspecionamos as imediações da cena do incidente (na área
do barranco e o cedro), constatando que algumas das píceas novas na
borda da floresta têm marcas de queimadura, mas tais traços não possuíam
forma concêntrica ou outro qualquer sistema, nem tiveram um epicentro.
Isso confirmava que teria sido dirigida alguma espécie de raio de calor
ou de uma energia forte, mas completamente desconhecida (pelo menos,
para nós), atuando seletivamente: a neve não foi fundida, as árvores não
foram danificadas. Estava-se formando a impressão de que, quando os
turistas, em seus pés, desceram para baixo da montanha, alguém acabou
com alguns deles de uma forma intencional... (...) Foi-me
proposto, no obkom [comitê partidário regional] para não
desenvolver este tema. Tomou nas suas mãos a direção da investigação
sobre o meu caso, o segundo secretário do obkom do partido, A. F.
Yeshtokin”.
Lev
Ivanov (à direita), realizando a investigação no local do incidente.
Também os parentes das vítimas estiveram
preocupados com o assunto das tais “bolas de fogo”.
Rimma Kolevátova (irmã de Aleksandr Kolevátov)
escreveu em um comunicado dirigido para o promotor da Óblast de
Sverdlovsk: “Eu tive que participar do enterro de cada um dos
turistas perecidos. Por que eles tinham as mãos e as faces tão marrons,
com uma coloração escura? Como pode ser explicado o fato de que os
quatro que estavam perto da fogueira e, segundo todas as versões,
permaneceram vivos, não fizeram tentativa alguma de voltar para a tenda?
Se eles estavam muito melhor vestidos, se esse foi um desastre natural,
é claro que, após terem passado um tempo perto da fogueira, os jovens
certamente teriam se arrastado para a tenda. O grupo não poderia perecer
na sua totalidade pela tempestade de neve. Por que eles estavam correndo
tão freneticamente para fora da tenda?
Um
grupo de turistas da Faculdade de Geografia do Instituto Pedagógico, que
se encontrava no monte Tchistóp, a sudeste, segundo suas palavras,
avistou naqueles dias, no início de fevereiro, uma certa bola de fogo na
área de Otortén. As mesmas bolas de fogo foram também registradas
depois. Qual é a sua origem? Não poderiam ser a causa do perecimento dos
jovens? Afinal, no grupo estavam reunidas pessoas resistentes e
experientes.
Dyátlov já estava visitando esta área pela terceira vez. Lyuda Dubínina
dirigiu por si mesma um grupo para o monte Tchistóp no inverno de 1958,
vários dos jovens (Kolevátov, Dubínina, Doroshênko) participaram das
caminhadas para os Montes Sayan. Eles não poderiam perecer apenas por
causa de uma tempestade”.
Testemunhou o pai de Yuri Krivoníschenko
(interrogatório de 14 de março de 1959, sublinhado nosso): “Após o
enterro do meu filho, visitaram o meu apartamento (...) os
estudantes, participantes das buscas (...) dos companheiros
perecidos. Entre eles, também estavam aqueles estudantes que no final de
janeiro e início de fevereiro encontravam-se na caminhada do Norte, na
área do monte Otortén. Aparentemente, haveria não menos que dois tais
grupos, pelo menos, os integrantes de dois grupos relatavam de que
tinham observado na noite do 1º de fevereiro de 1959, um fenômeno
luminoso, para o norte da localização desses grupos: era uma
luminescência extremamente forte de um foguete ou projétil. O brilho foi
tão forte, que um dos grupos, estando já na tenda e preparando-se para
dormir, foi perturbado por ele e saiu da tenda, chegando a observar este
fenômeno (...). Depois de um tempo (...) eles ouviram um
efeito sonoro, como um grande trovão de longe (...). Os
estudantes (...) observaram o tal fenômeno por duas vezes: no
primeiro e no sétimo dia de fevereiro de 1959”.
A investigação estava recopilando ativamente os
dados sobre as “bolas de fogo”. No inquérito criminal sobre o
perecimento do grupo de Ígor Dyátlov, os relatórios sobre o fenômeno
foram protocolizados e arquivados, ainda que posteriormente não foi
levada a cabo a investigação nesta direção. Eis aqui, detalhes de alguns
destes relatórios.
Gueorgui Atmanaki (jovem engenheiro, membro do
grupo de Vladislav Karélin, que também estava em caminhada pelo Ural do
Norte, participante das buscas pelo grupo de Dyátlov, citado por nós na
Parte 2) prestou o seguinte relato:
"Em 17
de fevereiro, eu e Vladímir Shevkunov levantamo-nos às 6:00 da manhã
para preparar o pequeno almoço para o grupo. Acendendo a fogueira e
fazendo todo o necessário, começamos a esperar que comida estivesse
pronta. O céu estava sombrio, não havia nuvens, mas uma leve névoa, que
normalmente é dissipada ao nascer do sol. Sentado com o rosto para o
norte e virando casualmente a cabeça para o leste, vi que no céu (...)
derramou-se um borrão de cor branca leitosa, de aproximadamente 5 ou 6
diâmetros lunares e composta de uma série de círculos concêntricos. A
sua forma lembrava a de um halo que forma-se ao redor da lua durante o
tempo claro e gelado.
Fiz um
comentário ao meu parceiro, no sentido de eis como a lua ficou decorada.
Ele pensou por um momento e disse que, primeiro, não há lua e, além
disso, ela deve estar no lado oposto. A partir do momento quando
tínhamos observado este fenômeno, se passaram 1 ou 2 minutos; eu não sei
quanto tempo teria durado anteriormente, nem como tinha aparentado
originalmente. Neste momento, no centro deste borrão, brilhou uma
estrelinha, que durante alguns segundos mantinha o mesmo tamanho, mas
logo começou a aumentar drasticamente de tamanho e se mover rapidamente
na direção oeste. Em poucos segundos, ela tinha crescido ao tamanho da
lua, e em seguida, quebrando a cortina de fumaça, ou as nuvens, apareceu
como um enorme disco flamejante de cor leitosa, de tamanho de 2 ou 2,5
diâmetros lunares, cercado pelos mesmos aneis de cor pálida. Depois,
mantendo-se no mesmo tamanho, a bola começou a desbotar, até que se
fundiu com o halo circundante, o qual, por sua vez, espalhou-se pelo céu
e extinguiu-se.
Começava o romper do dia. O relógio mostrava 6:57, o fenômeno não durava
mais do que um minuto e meio, e causou uma impressão nada leve.
Inicialmente, não prestamos atenção nele, mas logo, quando apareceu o
próprio disco brilhante, ficamos espantados. Pessoalmente, eu tive a
impressão de que em nossa direção estava caindo um corpo celeste, e
então, quando tinha crescido até tão enorme tamanho, atravessou-me o
cérebro o pensamento de que um outro planeta estava entrando em contato
com a Terra, que agora seguiria uma colisão e não ficaria nada do mundo
terrestre. Já estávamos acordados por mais de uma hora, de modo que
fomos capazes de afastar o sono e não dar crédito às alucinações, mas
durante todo o ocorrido ficamos de pé, como que hipnotizados...
Eu não
sei como Karélin, qual um raio, conseguiu pular para fora do saco de
dormir e correu para fora, vestindo as meias e a roupa interior. Ele
conseguiu avistar o disco, que estava perdendo os contornos, e o borrão
claro espalhando-se pelo céu. Posteriormente, eu tive que falar muito
com as testemunhas, e a maioria descreve este caso aproximadamente da
mesma maneira, acrescentando que a luz era tão forte que as pessoas em
casas acordavam do sono. (...). Protocolo escrito com a minha própria
mão. G. Atmanaki”.
Nota do jornal “Тагильский рабочий” (“Operário
do Taguíl”), de 18 de fevereiro de 1959. Naqueles dias, a palavra “OVNI”
(“Objeto Voador Não Identificado”) ainda era desconhecida dos cidadãos
soviéticos, de modo que a nota foi intitulada simplesmente: “Um fenômeno
celestial incomum”.
“Às 6 horas e 55 minutos de ontem, hora
local, no leste-sudeste, a uma altura de 20 graus do horizonte apareceu
uma brilhante bola do tamanho do diâmetro aparente da lua, — escreveu A.
Kissel, vice-chefe de comunicações da mina Vysokogorsky. A bola estava
se movendo na direção nordeste.
Cerca
das 7 horas, dentro dela, ocorreu um flash, chegando a ser visível o
núcleo muito brilhante da bola. Ela própria começou a brilhar mais
intensamente, aparecendo perto dela uma nuvem luminosa, curvada na
direção do sul. A nuvem estava se expandindo para toda a parte oriental
do céu. Logo depois, houve um segundo flash, teve a forma da crescente.
Gradualmente, a nuvem aumentava em tamanho; no centro, ficava o ponto
luminoso (o brilho era de tamanho variável). A bola estava se movendo em
direção leste-nordeste. A maior altura acima do horizonte, 30 graus, foi
alcançada em cerca das 7:05. Continuando o movimento, este fenômeno
incomum estava se enfraquecendo e desgastando.
Pensando que este estaria conectado de alguma forma com o satélite,
troquei o receptor, mas não havia recepção dos sinais”.
Por esta publicação, o editor recebeu uma
repreensão, e a nota foi arquivada entre a papelada de um dos processos
criminais mais insólitos que já se passou na Rússia. Nele, foram
cuidadosamente arquivados também outros relatórios sobre o referido
“fenômeno”.
Tókareva, técnica em meteorologia, na sua
declaração ao chefe da seção distrital da milícia em Ivdel, declarou: “Em
17 de fevereiro, às 6:50, hora local, apareceu no céu um fenômeno
incomum: movimento de uma estrela com uma cauda que se assemelhava a
cirros densos. Depois, essa estrela livrou-se da cauda, tornando-se mais
brilhante que as estrelas e voou, como se começando a se inchar
gradualmente, até se formar uma grande bola, envolta em uma névoa.
Depois, no interior desta bola, acendeu-se uma estrela, a partir da qual
se formou uma crescente, e logo, uma pequena bola, não tão brilhante. A
bola grande começou gradualmente a se desvanecer, tornando-se como um
borrão. Às 07:05 desapareceu por completo. A estrela estava se movendo
do sul para o nordeste”.
Os soldados de Ivdel’lag, enquanto no serviço,
avistaram a mesma coisa.
A. Savkin, militar:
“Do lado sul apareceu uma bola de cor branca
brilhante, às vezes encobrindo-se do nevoeiro; por dentro, havia um
brilhante ponto-estrela. Ia para o norte, foi visível por uns 8-10
minutos”.
Outro militar, Anatoli Anísimov, foi
interrogado dois meses depois pelo promotor da cidade de Ivdel:
“Em 17 de fevereiro (...) eu estava
no posto. Naquele momento, do lado sul apareceu uma bola de tamanho
grande, envolta num grande círculo de nevoeiro branco. Ao se mover pelo
céu, a bola ora aumentava, ora diminuía o seu brilho. Ao se reduzir, a
bola desaparecia no nevoeiro branco, sendo que, através dessa neblina
era visível apenas o seu ponto luminoso. Este ponto, luzindo
periodicamente, aumentava o seu brilho, aumentando também de tamanho.
Com o aumento no brilho do ponto luminoso, que tomava a forma de uma
bola, ele parecia estar empurrando a névoa branca, aumentando, ao mesmo
tempo, a densidade desta pelas bordas, e depois, ele mesmo escondia-se
na névoa. Formava-se a impressão de que a própria bola estava emitindo
essa neblina branca, que havia tomado a forma de um círculo. A bola
estava se movendo muito lentamente e em grande altitude. Era visível por
cerca de 10 minutos, e depois, desapareceu na direção norte, como se
tivesse derretido ao longe”.
A dezenas de quilômetros de Ivdel, Gueorgui
Skorykh, morador da aldeia Karaúl, do raión (distrito) de Novolyalinsk,
foi despertado pelo grito de sua mulher: “Olha, uma bola está voando
e dando voltas!”.
Skorykh saltou para a varanda e viu “um sol
brilhante no nevoeiro”. A referida bola estava se movendo em linha
reta, estritamente do sul para o norte, e sua cor mudava de vermelho
para verde. A alternação das cores ocorria periodicamente, o objeto não
identificado estava envolto em um invólucro branco. A bola estava se
afastando rapidamente e em segundos desapareceu no horizonte. Na opinião
de Skorykh, a bola estava voando ao longo da Cordilheira dos Urais, a
uma distância muito grande.
Em 31 de março, o “fenômeno” se repetiu, este
caso é descrito em detalhes na Parte 3 desse nosso presente trabalho.
Vamos recordar brevemente, citando aqui o
radiograma que os socorristas enviaram para Sverdlovsk.
“Á Prodanov, Vishnevsky.
31.03.59, 9:30, hora local.
Em
31.03, às 4:00, na direção sudeste, o plantonista Meshcheryakov notou um
grande anel de fogo, que estava por durante 20 minutos se movendo para a
nossa direção, escondendo-se depois por trás da elevação ‘880’. Antes de
desaparecer no horizonte, a partir do centro do anel apareceu uma
estrela, que foi gradualmente aumentando para o tamanho da lua e começou
a cair para baixo, separando-se do anel. O fenômeno incomum foi
observado por muitas pessoas, levantadas pelo alarme. Pedimos para
explicar esse fenômeno e sobre a sua segurança, pois, nas nossas
condições, está gerando uma impressão preocupante. Avenburg, Potápov,
Sógrin”.
Oleg Shtrauch, membro efetivo da Sociedade
Geográfica da URSS, morador da vila Polunótchnoye, do raión de Ivdel,
anotou a sua observação no diário: “31.03.59. Às 4 horas 10 minutos
foi observado o seguinte fenômeno: do sul-oeste para o nordeste, sobre a
vila passou com bastante rapidez um luminoso corpo esférico. O disco
luminoso, do tamanho de uma lua quase cheia, de cor branca azulada,
estava cercado por um grande halo azulado. Às vezes, esse halo
acendia-se com brilho, recordando os flashes distantes de um raio.
Quando o corpo desapareceu no horizonte, o céu neste lugar ainda estava
iluminado pela luz durante alguns minutos.
Um
fenômeno similar foi observado pelos moradores de Polunótchnoye em
17.02.59, às 7 horas 10 minutos. Durante a manhã, atrás do rastro
luminoso ficava um rastro em forma de fumaça...”.
Resumindo todo o exposto, podemos dizer que, no
período de 1º de fevereiro de 1959 a 31 de março de 1959, na área do
perecimento do grupo de Dyátlov, bem como nas áreas imediatamente
adjacentes a esta — sobre as elevações “880” e “1079”, na Cordilheira
dos Urais, o Ural Polar, o raión de Ivdel da Óblast de Sverdlovsk, —
ocorreram fenômenos, acompanhados por efeitos luminosos e sonoros, que
foram observados visualmente pelas testemunhas, em 1º e 17 de fevereiro
e 31 de março de 1959.
Assim, podemos concluir que muitas pessoas
tinham razões para conceber esse estranho fenômeno das “bolas de fogo”,
como a principal causa do perecimento dos dyátlovtsy.
Mas, se a “Força Insuperável” seria uma das
bolas de fogo, onde estariam as provas disso? Será que esta “Força”
deixou alguns traços da sua presença e impacto sobre os turistas?
Acontece que, de fato, deixou-as. Tanto no
local do incidente, como sobre os corpos dos perecidos.
Traços
no local do incidente
1) Presença de uma fonte de calor.
Boletim meteorológico para o raión de Ivdel:
“Na
noite de 1º. de fevereiro de 1959, a temperatura do ar caiu quase duas
vezes em comparação com a manhã, chegando aos -20, -21º C. Em comparação
com os valores da manhã, a umidade do ar foi baixa, de 56%, a
visibilidade foi de 8 pontos (em média). As precipitações caíram menos
que 0,5 mm. Vento norte-noroeste 1,3 m/seg. Nevascas, furacões ou
tempestades não foram observados”.
Nas encostas da Montanha dos Mortos, a
temperatura, obviamente, foi muito menor, devido à altura e ao vento.
Com alto grau de certeza podemos adicionar aqui de cinco a sete graus, o
que significa que a temperatura na tenda dos dyátlovtsy
aproximava-se de 30 graus negativos. Nas condições de um frio forte, a
umidade é baixa (o valor indicado é de 56 por cento), e a neve, seca e
em pó. Não deveria haver gelo de forma alguma.
Mas o que vemos?
- Perto da entrada para a tenda, havia uma
nódoa de gelo em forma de “costelas” afiadas e paralelas (tais formações
geladas são chamadas internacionalmente de sastrúgui, que é o
termo de origem russa). Os socorristas imediatamente prestaram atenção
para esta ilhota de gelo, com um diâmetro de aproximadamente quatro
metros. O gelo era muito forte, com nervuras, como se estivesse
congelando em forma de ondas; de modo que sobre estas “costelas” afiadas
quebravam-se facilmente os blocos de neve lançados pelos socorristas,
quando estavam à procura dos corpos perto da tenda.
Local do incidente. De costas, está o promotor Vassili Tempalov e
Evgueni Máslennikov. O retângulo azul indica o lugar da
instalação da tenda; o oval rosa mostra os limites da nódoa gelada perto
da entrada da tenda; a linha verde mostra a rota
da
fuga a partir da tenda até o cedro; 1 - tenda dobrada; 2 - mochilas e
esquis dos dyátlovtsy; 3 - nódoa gelada, 4 – cedro.
Detalhe da misteriosa
nódoa gelada perto da entrada da tenda (imagem ampliada).
De onde foi que surgiu esta nódoa gelada? Qual
foi a fonte de calor que a criou?
Além desta nódoa gelada, a algumas dezenas de
metros em torno da tenda, a neve foi coberta com uma dura crosta de
gelo. Os estudantes Slobtsov e Sharávin, que encontraram a tenda, não
puderam se aproximar dela em esquis! Do vale do Áuspiya, sem dificuldade
alguma, passaram com esquis por toda a encosta, mas perto da tenda dos
dyátlovtsy tiveram que tirar os esquis e caminhar as últimas dezenas
de metros a pé, servindo-se das varetas para se escorar. Para formar
essa crosta de gelo, foi necessária também uma fonte de calor para
derreter a neve, a qual se congelou posteriormente no forte frio. Mas os
próprios dyátlovtsy, no dia 1º de fevereiro, aproximaram-se do
lugar para instalação da tenda precisamente nos esquis, quando então,
este lugar ainda não tinha sofrido qualquer impacto externo. Na foto da
instalação da tenda, vemos uma neve bastante seca e em pó.
- As coisas pequenas, perdidas pelos turistas e
encontradas ao longo de 20 metros da tenda, enquanto fugiam desta, não
foram espalhadas pelos ventos durante as quatro semanas; no entanto, o
monte Kholat Syakhyl é conhecido pelos seus ventos fortes. Perto da
tenda, a uma distância de meio a um metro, foram atirados chinelos de
diferentes pares, chapéus, e outras peças pequenas; a uma distância de
10 a 15 metros da tenda estavam a jaqueta, jaqueta impermeável,
chinelos, meias e outras peças. Isto só pôde ter ocorrido porque essas
coisas caíram primeiramente na neve molhada que, posteriormente,
se congelou, prendendo as peças de roupas. Seria lógico se os turistas
pegassem todas essas coisas, como eles estavam muito mal vestidos. Mas
não o fizeram porque, num frio atroz, peças de roupas molhadas são
inúteis.
- As pegadas do grupo, em forma de colunas, que
se conservaram por um mês, poderiam se formar apenas a uma
temperatura de zero grau ou superior, porque, na ausência de água na
sua camada superficial, tais pegadas teriam desaparecido muito
rapidamente sob a influência do vento. Como prova disso, pode servir o
experimento do grupo de Sergei Semyáshkin, que empreendeu uma corrida
pelo caminho dos dyátlovtsy a partir da tenda para o cedro (ainda
que calçados) em fevereiro de 2010. Depois deles, não ficou sequer uma
pegada.
As
pegadas em forma de colunas dos dyátlovtsy, encontradas perto da
tenda e indo para baixo. Estas não
aparecem em todo o trajeto, sendo que em outros lugares são substituídas
pelas pegadas-depressões normais.
Isto significa que, no momento em que o grupo as imprimiu, a neve estava
sendo aquecida localmente.
Detalhe das pegadas gravadas na neve.
A questão é: por quê? Resposta: não houve uma
“fonte de calor”, e a neve não se comprimiu. Mesmo em fevereiro e março
de 1959, os socorristas na montanha não deixaram uma só pegada de tal
tipo. A razão disso é obvia: tanto durante as buscas pelo grupo de
Dyátlov em 1959, como durante o experimento de Semyáshkin, em 2010, não
houve um aquecimento local da neve, como o que estava claramente
presente durante a fuga dos dyátlovtsy.
- O gelo nos cabelos dos mortos. Foi observado
pelo jornalista Grigoryev, que se encontrava no aeroporto de Ivdel
quando estavam descarregando os corpos dos primeiros turistas
encontrados (veja na Parte 2 desse trabalho): “Descarregam os
cadáveres. Todos cobertos de neve. Gelo no cabelo”.
- A enorme camada de neve congelada, debaixo da
qual, no fundo do barranco, foram enterrados os últimos quatro turistas,
era tão forte que teve que ser picada com picaretas e pás de sapadores.
Nas condições naturais, uma camada de neve de quatro metros de espessura
jamais poderia cobri-los: não houve tempo suficiente, nem nevadas tão
fortes para produzir tanta neve.
O
barranco, em foto tomada durante as buscas pelos últimos quatro turistas
(maio de 1959).
As
grandes massas de neve já estavam molhadas, mas, em 1º de fevereiro, a
neve estava seca.
A massa de neve unicamente poderia se deslizar
sobre eles a partir das encostas do barranco. E tal massa de neve
poderia se deslizar para baixo somente se estivesse molhada, já
que a neve molhada é muito pesada. Mas, nas condições meteorológicas em
1º de fevereiro, a neve não poderia ficar molhada em nenhum caso. A não
ser, claro, que houve alguma potente fonte de calor. Depois, sob a
influência de um frio intenso, essa enorme camada de neve sobre os
corpos dos turistas tornou-se um monólito. E foi precisamente nesse
lugar, perto do barranco e o cedro, que Lev Ivanov e Evgueni Máslennikov
encontraram píceas com os cumes queimados.
2) Presença de uma fonte de luz.
- O lugar em que estalou o drama,
aparentemente, estava brilhantemente iluminado. Perto da tenda,
os turistas atiraram a lanterninha, usada por aqueles que estavam fora
no “momento X”. Depois, durante a descida para a floresta, na área da
terceira linha de pedras (cerca de 400 metros da tenda), eles deixaram
cair ou atiraram a segunda lanterninha. Como foi observado na Parte 3
desse trabalho, àquela altura já estava completamente escuro e não havia
lua. Apesar disso, nenhum deles caiu, pois não há sinais de quedas sobre
a neve, nem lesões típicas de quedas nas montanhas; no entanto, a
encosta pela qual estavam caminhando, não era nada plana, sendo que era
toda cortada por “fluxos” de pedras, o chamado kurúmnik. Então,
as pessoas estavam vendo onde colocar os seus pés.
Consequentemente, a área foi brilhantemente iluminada.
Montes de kurúmnik na encosta de Kholat Syakhyl. Em 1º de
fevereiro,
estavam cobertas de massas de neve de variadas espessuras.
- Eles foram para a floresta em fileira,
apesar de que, nas condições de escuridão, seria mais fácil andar em
cadeia, um após o outro. Em frente, caminhava aquele que estava calçado,
seguido pelos outros, pegada em pegada. Mas, todavia, por que em
fileira? Encontrando-se alinhados em fileira, eles eram capazes de
ver uns aos outros! Então, o lugar estaria iluminado, apesar da
ausência da lua. Inclusive, essa formação constatada demonstra um medo
instintivo perante a espera de um ataque por trás. Normalmente, ao se
encontrar com animais perigosos, as pessoas, instintivamente, retrocedem
ou fogem mais precisamente em fileira ou em leque, mas, em qualquer
caso, não em linha. Portanto, o “Algo” que expulsou os turistas da
tenda, poderia também atacar por trás, mas ninguém sabia quais eram as
suas intenções – o que novamente prova que esse “Algo” não era de
natureza humana, pois as intenções de qualquer grupo humano hostil se
tornariam imediatamente evidentes para os turistas. Além disso, esse
“Algo” possuía velocidade e poder (o que já foi comprovado pelos
turistas), ou seja, poderia atacar inesperadamente por trás.
Foto tirada em 1959 pelos socorristas durante a lua cheia. A lua está
atrás do fotógrafo. Da mesma forma,
poderia estar assim iluminado o local do incidente naquela noite sem lua
que, em vez do astro, havia um objeto. A faixa
branca no lado direito da encosta é uma ampla escavação, feita pelos
socorristas na sequência das pegadas dos turistas.
- Os três que estavam se arrastando até a
tenda, estavam vendo-a a uma distância de 1,5 quilômetros,
dirigindo-se a ela exatamente em linha reta. Apesar de não ser possível
avistar a tenda a tal distância numa noite sem lua.
- Os dois Yúras (Yúra Doroshenko e Yúra
Krivoníshenko), que encontrando-se em cima do cedro, seriam capazes de
observar a tenda unicamente sob a condição da iluminação da área.
Aliás, esta “janela” aberta entre os ramos do cedro, que eles montaram
para a vigilância, ainda existe até hoje.
O
cedro utilizado por Doroshenko e Krivoníshenko em 1959 e o mesmo cedro,
em 2011.
3) Aves mortas.
Os socorristas notaram um grande número de aves
mortas, principalmente, os lagópodes brancos, na área da floresta, onde
estavam se escondendo os turistas: nas cercanias do cedro e do barranco.
Consequentemente teria ocorrido o impacto de uma força mortal aos
organismos vivos.
Os
socorristas, 1959. O homem no centro leva dois lagópodes brancos.
4) Cumes queimados das píceas: segundo afirmava
Lev Ivanov, tratava-se de “ação dirigida” por parte de alguma fonte de
energia desconhecida.
5) Presença de poeira radioativa, proveniente
de uma fonte desconhecida, sobre algumas peças de roupas. Infelizmente,
o juiz de instrução não pensou em enviar para o exame radiológico a
roupa dos primeiros cinco turistas encontrados. Como foi dito pelo
perito que fez a análise radiológica, a contaminação por poeira
radioativa poderia ter ocorrido em três oportunidades: a partir da sua
queda da atmosfera; como resultado do trabalho com esse tipo de
substâncias; ou “a partir do contato”.
6) Comportamento dos turistas como evidência
indireta.
O comportamento dos turistas mostra que a Força
Insuperável, que expulsou às pessoas para fora da tenda, além do fato de
que ela teria de ser mortal, também deveria ser de longa
duração. Não houve quaisquer fenômenos passageiros (explosão,
avalanche, meteorito, foguete...), por mais perigosos que estes pudessem
ter sido. Seria uma tolice fugir no frio atroz para fora da tenda,
despidos e descalços, se a circunstância da qual você tenta se salvar,
não existe mais.
Depoimento de Serguei Sógrin (estudante do UPI
em 1959, turista, liderou uma das equipes de busca; sublinhado nosso):
“As
pessoas deixaram a tenda rapidamente, através das incisões feitas nela,
sob a influência de algum espanto muito forte e um medo que estava os
perseguindo durante um tempo relativamente longo, uma vez que não
conseguiram ‘voltar a si’ nos primeiros minutos da fuga e acabaram indo
muito longe pela encosta abaixo”.
Portanto, quaisquer circunstâncias, por mais
terríveis que fossem, desde que não tivessem uma longa duração,
dificilmente algo poderiam ser a causa da fuga da tenda. Unicamente, o
pânico, surgido repentinamente perante algum fenômeno, junto com a
consciência de uma real ameaça mortal, obrigou às pessoas a abandonarem
não apenas a tenda, mas toda a área onde este “Algo” se encontrava,
movendo-se a uma distância considerável.
A lógica exigiu que os turistas tomassem a
direção à direita da tenda, rumo ao labáz, onde se encontrava
estocada uma parte das roupas e mantimentos, como também um par de
esquis reservas. Mas, contrariamente a isto, eles seguiram mais para a
esquerda e para baixo. Podendo supor que o caminho para o labáz
teria sido bloqueado pela Força Insuperável.
O tempo da duração do fator perigoso pode ser
calculado como o que é necessário para um grupo de pessoas semi-vestidas
e descalças descerem caminhando pela neve a partir da tenda até a borda
da floresta, percorrendo aproximadamente 1,5 km, acrescido do tempo para
aquilo o que foram capazes de fazer antes de serem mortos: acender a
fogueira e construir o revestimento para se protegerem no barranco.
Depois, a Força Insuperável alcançou-os por baixo, para então, acabar
com eles.
Traços
sobre os corpos
1) Faltou a “posição de congelamento”.
Sobre as posições reais das vítimas, podemos
julgar apenas pelos três primeiros corpos: os de Dyátlov, Kolmogórova e
Slobodín. Os corpos dos dois rapazes do cedro, Krivoníschenko e
Doroshenko, foram removidos posteriormente pelos últimos quatro do
grupo, que retiraram-lhes algumas peças de roupas para usá-las e
colocaram os seus corpos perto da fogueira. Os últimos quatro foram
revolvidos, certamente, pelo peso da grossa camada de neve da beira do
barranco que escorregou sobre eles.
Mas os três primeiros ficaram exatamente nas
mesmas posições, em que foram atingidos pela Força Insuperável. Essas
posições sugerem que, ao se congelar até a morte, eles já não sentiam o
frio. Nos casos da morte por congelamento, a chamada “posição de
congelamento” não está presente apenas nos bêbados caídos, ou nos
inconscientes. A perícia não encontrou álcool no sangue dos
dyátlovtsy, portanto, a falta de “posição de congelamento” nos
corpos significa que estavam inconscientes quando faleceram. Como
observamos na Parte 2 desse trabalho, quatro turistas (Dyátlov,
Kolmogórova, Slobodín e Doroshenko) tinham sangramento do nariz ou da
garganta e, além disso, Slobodín tinha no crânio uma fenda de origem
inexplicável. Tudo isto, obviamente, encontra-se ligado a perda de
consciência e a um agressivo impacto externo.
É especialmente típica a “posição de pugilista”
a que se encontrava o corpo de Dyátlov: encolhendo as costas e com ambas
as mãos na frente do peito, apertadas em punhos (veja foto mostrada na
Parte 2). De acordo com o manual da medicina forense, tal posição surge
no morto “como resultado da coagulação térmica de proteínas
musculares pela ação das temperaturas extremamente altas”
(sublinhado nosso).
O
corpo de Ígor Dyátlov na “posição de pugilista”. Chama a atenção a roupa
aberta no peito, como se Dyátlov
estivesse sentindo muito calor, num drástico contraste com a temperatura
ambiente de 25 a 30 graus abaixo de zero.
Algumas das outras vítimas também tiveram as roupas desabotoadas.
2) Afecção da pele com irradiação.
- Em todos os laudos da perícia foi anotada a
mudança de cor da pele, que tornou-se “vermelha azulada”. O pai de Lyuda
Dubínina observou “(...) uma nítida diferença de cor entre as áreas
dos corpos dos perecidos: as áreas expostas, de cor preta azul roxa, e
as cobertas com roupa, de cor branca...”, enquanto Karélin menciona
uma cor “escura roxa bronze”; outros falavam de uma cor
“laranja”; Rimma Kolevátova, de uma cor “vermelha tijolo”; e
o irmão de Slobodín comparou a cor da pele dos perecidos com a dos
“negros”.
- Em todos os laudos da perícia também foram
anotadas as múltiplas escoriações, cobertas por uma crosta da
“densidade de pergaminho”. Tais escoriações estiveram presentes em
todas as áreas expostas: nariz, bochechas, pálpebras, mãos.
Particularmente, a ponta do nariz de todas as vítimas tinha uma cor
marrom escura.
Os turistas e montanhistas experientes
prestaram atenção a esses detalhes, observando que tais traumas são
totalmente atípicos para o seu esporte.
Mas, em contrapartida, esses traumas, como
também a mudança de cor da pele, são alterações típicas de efeitos
radioativos.
Vladímir Púdov, companheiro universitário de Dyátlov,
agora um cientista
respeitado e autor de muitos livros,
escreveu
em 2010, em suas memórias:
“Estava parado durante 10 minutos perante o ataúde de Ígor, olhando para
o seu rosto. Mesmo na máscara de morte da sua face congelada era visível
um perfeito bronzeado. Um bronzeado que pode ser obtido ora no sul
ensolarado, ora perto de um reator atômico mal protegido”.
Queimaduras sobre a face do cadáver de Zina Kolmogórova e sobre a face e
as mãos do cadáver de Ígor Dyátlov.
As
fotos
foram tiradas antes da autópsia.
Voltemo-nos ao prontuário médico:
“As
afecções cutâneas agudas por radiação são o resultado da exposição dos
tecidos à irradiação durante um curto período de tempo.
Existem quatro graus de queimaduras por irradiação. As afecções do
quarto grau são extremamente raras.
O
primeiro grau é caracterizado por vermelhidão e secagem da epiderme,
descamação da camada superior da pele.
Segundo grau: aos dos sintomas expostos acima, adiciona-se a edemacia, e
a superfície da afecção, em vez de seca, torna-se molhada, (durante
vinte e quatro horas, cobre-se de crostas, sendo que no cadáver isso
ocorre devido à secura).
No
terceiro grau, a pele é coberta de chagas, áreas de necrose. São
afetadas também as camadas mais profundas do tecido.
O
quarto grau é caracterizado pela carbonização dos tecidos, a destruição
das glândulas sebáceas e sudoríparas e dos folículos pilosos. Em alguns
lugares, a pele cobre-se de bolhas”.
Aparentemente, os primeiros cinco turistas
receberam queimaduras, pelo menos, de segundo grau, e Krivoníschenko, de
quarto, como a perícia observou nele, queimaduras na perna esquerda e
braço esquerdo até a carbonização; Doroshenko tinha o cabelo
queimado na região da têmpora direita,
região temporo-parietal e occipital.
Como poderia Krivoníschenko receber tais queimaduras nestes lugares:
pernas, pés e mão? Evidentemente, ele não meteu a mão e o pé na
fogueira. Mas sabemos que ele e Doroshenko tinham que escalar o tronco
bastante grosso do cedro. Imagine um homem segurando um grosso tronco
com braços e pernas: precisamente o braço esquerdo e a perna esquerda
estariam de um mesmo lado do tronco, sobre o qual, provavelmente, teria
sido alvo de uma forte irradiação.
Mão
carbonizada do cadáver de Gueorgui Krivoníshenko,
queimadura sobre a orelha esquerda do cadáver de Yuri Doroshenko.
Queimaduras no nariz e na orelha
de
Doroshenko; espuma ressequida na bochecha.
- Como evidência de algum impacto por
irradiação pode servir a roupa dos quatro últimos dyátlovtsy, que
traziam uma estranha coloração regular roxa clara. Para ocorrer tal
descoramento das roupas de maneira uniforme, é preciso haver uma fonte
muito forte de irradiação.
Lamentavelmente, todos esses detalhes foram
negligenciados pela investigação. Alguns fatos foram observados no
exame, mas sem qualquer explicação. O exame radiológico não foi feito
para as primeiras vítimas. Dos quatro últimos que tinham permanecido
durante três meses no riacho, foram tomados para análise os tecidos de
órgãos internos, mas nada foi encontrado. Isto é natural, desde que a
radiação beta, que foi detectada sobre as roupas desses turistas, afeta
apenas os tecidos superficiais, e a capacidade de penetração das
partículas beta não é mais do que de alguns milímetros. Além disso, a
água corrente lavou a maior parte dessas partículas.
3) Sintomas do impacto de compressão.
Que tipo de lesões são comumente recebidas
pelos turistas nas montanhas, durante a descida das encostas?
Na maioria dos casos, são observadas a partir
das quedas, lesões das extremidades superiores e inferiores (65%),
seguidas pelas lesões na cabeça (22%), lesões no peito, abdômen e pélvis
(3%), como também uma combinação de lesões (10%).
No nosso caso, Thibeaux-Brignoles e Slobodín
receberam graves traumas cranianos, Dubínina e Zolotaryov, complexos
traumas peitorais. Em comparação com as estatísticas, temos 50% das
lesões na cabeça (em vez de 22%) e 50% das lesões do peito (em vez de
3%). Ninguém teve lesões na parte inferior do corpo ou teve as
extremidades fraturadas.
Lembremo-nos dos terríveis traumas internos de
Thibeaux, Zolotaryov e Dubínina; a este grupo, une-se também Slobodín,
com a sua misteriosa fenda no crânio, decorrente do impacto de uma força
desconhecida. Não devemos nos esquecer que ninguém tinha traços de
lesões externas.
Lembremo-nos também das palavras do perito
Vozrozhdiônny, de que esses traumas ocorreram como resultado do “impacto
de uma grande força”, comparável com o golpe de um veículo a uma
alta velocidade (o que em si, já exclui o fator humano como causa dos
traumas). Outra comparação que usou o perito: “parece uma onda de
explosão”.
Qual é o efeito produzido por uma onda de
explosão sobre o ser humano?
Um dos seus principais fatores constatados foi
o golpe do ar comprimido, um aumento súbito e, em seguida, uma
drástica queda na pressão atmosférica (barotrauma).
“A sintomatologia das afecções pode ser
muito variada e depende principalmente da intensidade do impacto da onda
de explosão. Com uma pressão redundante desenvolvem-se formas muito
graves de afecção fatal. Nestes casos, trata-se geralmente das afecções
dos centros vitais do cérebro com a fratura da base do crânio e o
sangramento do nariz, os ouvidos e a boca. As formas graves de afecção
(contusão) são acompanhadas da perda prolongada de consciência,
convulsões, danificações dos pulmões e órgãos do abdômen, sangramento do
nariz e os ouvidos, defecação e urinação involuntárias. Com o impacto da
onda de explosão, são afetados mais frequentemente os pulmões, o
coração, o estômago, o intestino e o fígado. A afecção dos pulmões é o
resultado da traumatização externa e através das vias respiratórias”.
Muitos dos sintomas de barotrauma são evidentes
nos turistas:
- perda de consciência (contusão) nos
congelados (razão pela qual não está presente a “posição fetal”);
- possíveis convulsões em Kolmogórova e
Slobodín (o perito considerou que alguns dos arranhões e escoriações
foram recebidos por eles em estado de agonia);
- sangramento bucal em Dyátlov,
epistaxe em Slobodín e Kolmogórova, sanque coagulado na
região do dorso nasal, na ponta do nariz e o lábio superior de
Doroshenko;
- edemacia de lábios e bochechas nos primeiros cinco turistas;
- fenda no crânio de Slobodín,
fratura profundamente deprimida no crânio de Thibeaux;
- múltiplas fraturas de costelas em
Dubínina e Zolotaryov;
- em todas as vítimas, foi observado o
enchimento de órgãos internos, especialmente os pulmões, com sangue,
sendo que este sangue tinha a cor escura (isto é, sem presença de
oxigênio). Ambos os sinais estão sempre presentes na asfixia por
compressão (sufocação);
- traços de defecação em Zolotaryov;
- estranho líquido espumoso nos pulmões das
cinco primeiras vítimas; no caso de Doroshenko, tal líquido até
escorreu da boca para a bochecha. Nos últimos quatro, por razões óbvias,
este líquido já não foi encontrado. O perito não fez comentários sobre a
sua origem, mas na medicina existe tal noção como o ebulismo, ou
síndrome de ebulismo, isto é, formação de bolhas nos fluidos corporais
nas condições de uma forte queda de pressão externa. O que nos
leva novamente ao barotrauma.
Acrescentemos que, com a asfixia por
compressão, a pele mesmo adquire uma cor rubra cianótica.
Uma vez que nas imediações não foram
encontrados quaisquer vestígios da onda de explosão — não há cratera
alguma, não foi quebrado nenhum arbusto, para não mencionar as árvores,
— resta-nos apenas supor que contra os turistas foi empregado algum
tipo de impacto de compressão desconhecido para nós, mas, obviamente, de
ação dirigida. Foi a isso que se referiu Lev Ivanov. O resultado foi
que todos os turistas sofreram barotraumas de diferentes graus, com o
posterior congelamento. Zolotaryov, Thibeaux e Dubínina morreram por
causas diretas dos traumas recebidos.
O poder traumático de grande potência foi
direcionado para a parte superior dos seus corpos, e mesmo Aleksandr
Kolevátov, que não recebeu graves traumas aparentes, tinha o nariz
quebrado e o pescoço deformado na região da cartilagem tireoide —
obviamente, ele sofreu o mesmo impacto de compressão. A gravidade dos
traumas dos últimos quatro turistas, mais provavelmente, dependeria da
posição do corpo de cada um deles em relação ao poder impactante: da
face, do lado, meio virado, deitado na neve.
Aceitando esta versão, podemos explicar o fato
da falta de qualquer lesão externa, enquanto há presença de graves
traumas internos. Mesmo o misterioso fato do desaparecimento dos globos
oculares (em Dubínina e Zolotaryov) e da língua com o diafragma bucal
(somente em Dubínina), pode ser explicado pelo impacto de compressão: em
primeiro lugar, um aumento drástico da pressão atmosférica, e depois,
uma queda drástica até o vácuo, criando-se o efeito de “esgotamento” —
aqueles que aplicaram alguma vez as ventosas, conhecem de tal efeito;
também na obstetrícia moderna, é utilizada frequentemente a extração, ou
"esgotamento" do feto, por meio de vácuo.
Aliás, algumas pessoas, observando essas
peculiaridades dos traumas nos turistas, fizeram a pergunta: seria
possível que naquele lugar estivesse sendo testada alguma “arma a
vácuo”? Resposta: não, tais testes não foram feitos, pois os
chamados “explosivos ar-combustível” na União Soviética começaram a ser
desenvolvidos apenas 10 anos depois, a partir de 1969. Naquele mesmo
ano, os Estados Unidos empregaram pela primeira vez uma determinada
bomba no Vietnã para limpar o jângal, porque faz as árvores caírem muito
eficazmente e em um grande espaço. Mas, onde estão as árvores caídas na
Montanha dos Mortos? Segundo observou Vladislav Karélin (estudante do
UPI e participante das buscas): “Na borda da floresta não foram
danificados mesmo arbustos pequenos, onde cada raminho, cada agulha
estavam no seu lugar”.
Por que somente em dois membros do grupo
faltavam órgãos vitais? Encontrar-se-iam, provavelmente, em uma posição
adequada, ou isso teria sido feito apontadamente, sendo dirigido
especificamente contra eles? Neste caso, Zolotaryov e Dubínina seriam os
primeiros na lista de vítimas da infame “mutilação humana”, na qual
desaparecem de um modo misterioso nas vítimas, precisamente, os olhos,
os lábios, a língua e outros órgãos.
O
lugar
do
incidente, 1º
de fevereiro de 1959,
perto
da Montanha dos Mortos:
1 – tenda; 2 –
cedro;
3 - riacho no
barranco;
4 - corpos
de Kolmogórova, Slobodín e Dyátlov;
5 – corpos
de
Doroshenko
e
Krivoníschenko;
6 - corpos
de Dubínina,
Zolotaryov, Kolevátov e Thibeaux-Brignoles;
7 (linha amarela) – Passo
Dyátlov.
Em suma, a causa do perecimento dos
dyátlovtsy chegou a ter vários fatores em conjunto:
- barotraumas de gravidade variável;
- impacto da energia radiante;
- efeitos de temperaturas extremas.
O fator humano neste processo não é notado.
Retrato do Assassino
Então, prezados leitores, que retrato do
assassino emerge a partir de todas as nossas observações?
É evidente supor que se trata de um Objeto que
emite luz e calor, sendo capaz de se mover rapidamente, mas também
permanecer em um mesmo ponto por algum tempo e, provavelmente, utiliza o
impacto de irradiação (calor) e o de compressão contra as pessoas.
Mesmo naquele tempo, em fevereiro de 1959, os
socorristas suspeitaram de algo semelhante. Eis aqui, alguns trechos dos
seus depoimentos no inquérito criminal.
K. Bardin e E. Shuleshko (Moscou), membros da
comissão de rota e qualificação do presidium da seção de turismo
da URSS, declararam: “A saída da tenda foi extremamente apressada, de
modo que não permitia atraso de um só minuto. Turistas com tal
experiência como os membros do grupo de Dyátlov, entendiam claramente
que a saída para fora da tenda em estado seminu, nas condições da
ausência de visibilidade, vento às lufadas e baixa temperatura,
significava a morte. Consequentemente, a causa que obrigou os turistas a
abandonar a tenda, poderia ser apenas o medo de uma morte iminente”.
Moisei Akselrod (graduado pelo UPI em 1959,
engenheiro, turista, liderou uma das equipes de busca), declarou: “É
minha firme convicção que, nada e ninguém por dentro não poderia incutir
o pânico nos jovens. Por dentro quer dizer, de dentro da tenda mesmo.
Então, eles foram obrigados a fugir por uma manifestação de alguma força
externa. Se a tenda está fechada e todos dormindo, então, seria ora uma
luz muito brilhante, ora um som muito forte, ou ambos juntos”.
Mikhail Sharávin (estudante do UPI, juntamente
com Borís Slobtsov, encontrou a tenda dos dyátlovtsy): “Eu
tenho uma opinião sobre a questão do por que eles terem abandonado a
tenda tão urgentemente: foram fatores que os afetaram, provavelmente, um
envenenamento. Eles não conseguiriam respirar. Caso houvesse um
deslocamento da neve, eles não correriam em tal situação. Eu acho que
foram os fatores associados com o desconhecido e com a incapacidade de
continuar permanecendo lá. Não podiam respirar! (...) Foi por
isso que eles correram”.
Para os turistas, o primeiro fator que os
afetou com relação ao Objeto foi a comoção psicológica. Tal objeto de
nenhuma maneira era familiar para os dyátlovtsy, sendo para eles
algo inexplicável e imprevisível e, portanto, isso gerou pavor e pânico.
Caso representasse qualquer dispositivo técnico compreensível, por mais
perigo que representasse, o comportamento dos jovens engenheiros e
estudantes teria sido diferente.
Vadim Brusnitsyn (estudante do UPI em 1959,
participante das buscas pelo grupo), declarou: “(...) algo incomum,
ainda não visto por ninguém, fez com que os turistas deixassem a tenda
em pânico. Correr descalços, num tempo mau, durante a noite, para fora
do único canto quente, seria possível apenas por medo de morte. Esse
estranho fenômeno (luz que vem através da tenda, som, e, possivelmente,
gases) estava atuando durante um longo período de tempo, apressando os
turistas...".
O Objeto, ao se aproximar, não causou danos
significativos, bloqueando apenas a entrada da tenda. Além do tumulto
psicológico, ele fez com que os dyátlovtsy sofressem também
outras formas de impacto sobre os órgãos dos sentidos, porque, como
descobrimos, era uma luz muito brilhante e emitia calor, a partir do
qual a neve se derretia. O mais provável é que foi precisamente naquele
momento quando a cor da sua pele mudou, recebendo aquele estranho
“bronzeado”, reparamos que a irradiação do Objeto parecia-se de certa
forma com a de um forno microondas.
Com isso, os filmes deixados na tenda não
se estragaram na sua maior parte, ainda que algumas das fotos ficaram
cobertas com manchas pretas de variados tamanhos.
Provavelmente, o Objeto estava criando também
alguma espécie de redemoinho, porque a neve derretida na entrada
congelou-se depois em forma de “costelas” afiadas (indicando presença de
vento forte), e da tenda foram arrancados alguns cordões de
extensão.
Por isso, os turistas não fizeram nenhuma
tentativa de sair fora da tenda da forma habitual, já que a entrada
teria sido bloqueada. Pelo contrário, o lençol que protegia a entrada da
tenda como uma cortina, segundo relatado pelos socorristas, foi
pressionado do interior por um balde puxado para ele, havendo também um
machado dentro deste balde. Proteção contra uma luz penetrante e o
calor?
A parede esquerda da tenda (vista do lado de
fora e a partir da entrada) tinha um buraco, fechado com uma jaqueta.
Tal buraco poderia ter sido feito para obter visualização, ou para
encontrar direção da fuga – sendo que o buraco indicava precisamente a
direção para o labáz! No entanto, os dyátlovtsy optaram
por não sair daquele lado e cortaram a parede oposta.
Uma debandada em pânico pode explicar também a
presença na tenda de uma vareta de esqui cortada com a faca. A tenda dos
dyátlovtsy foi instalada nas varetas de esqui, o que significa
que o seu teto
era baixo, com cerca de um metro, o que é bastante apenas para se sentar
ou se deitar. Entrando em pânico, eles mesmos romperam acidentalmente a
montagem do telhado, que caiu sobre eles, de modo que ficaram presos
como pássaros sob a rede. As varetas de esqui são longas, atingindo a
axila ou ombro do esquiador, o que significa que, até a vara mais curta
(a de Zina) deveria ter cerca de 140 centímetros de comprimento.
Obviamente, uma vareta cortada até um metro deveria sustentar o telhado
a partir do interior, permitindo-lhes esticar o tecido e cortar a parede
da tenda e assim, fugir para fora.
A julgar pelas pegadas, os turistas, saindo
através dos cortes, imediatamente dirigiam-se abruptamente para a
esquerda, para mais longe da entrada. Eles não tinham ideia de onde
iriam por ora, o que é indicado pelo fato de eles não terem pegado na
tenda o machado ou a serra, que poderiam lhes ser tão úteis na floresta.
A tarefa principal era abandonar o mais rapidamente possível aquele
lugar. Ninguém tentou voltar para pegar alguma coisa de precisão na
tenda, após deixar a zona do perigo. Pelo contrário, deixando
rapidamente a tenda, já a uma distância de 20 metros, eles passaram por
alguns minutos de indecisão, pisando ora num pé, ora noutro, como se
estivessem tentando decidir que tipo de morte preferir: aqui mesmo, ou
tentar se esconder mais em baixo, sob o risco de se congelar até a
morte. Neste momento crítico, eles deixaram cair mais outras peças de
roupas, sem tentar pegá-las, como já vimos, porque se molharam.
Todo o raciocínio acima exposto é uma tentativa
de construir uma hipótese consistente sobre o episódio do abandono da
tenda, sem presença de outras forças de ordem humana.
Mas, o leitor pode dizer que tudo isto é apenas
uma especulação, como dizem, “sem o corpo, não há caso”, mostre-nos o
Objeto em si!
Com prazer.
Lembremo-nos, de que os turistas estavam
ocupados nos últimos minutos de sua caminhada trágica: estavam
fotografando.
Em 2009, os pesquisadores Aleksei Kóskin e Yuri
Kuntsévitch obtiveram acesso ao arquivo pessoal do promotor criminal Lev
Ivanov, que morreu na década de 1990. Neste arquivo, entre outras
coisas, foram guardados os filmes fotográficos da caminhada dos
dyátlovtsy, cujas fotos foram utilizados também por nós para
ilustrar o presente trabalho. Lembramos que, ao juiz de instrução foi
dito para retirar do caso “todo o desnecessário”, mas ele ficou tão
impressionado com o caso, que conservou os filmes consigo até o final da
sua vida.
E, como de fato resultou, o célebre quadro
mostrando a instalação da tenda é seguido por outro: o último, 34º
quadro daquela mesma câmera de Krivoníschenko, que foi instalada em um
tripé e cujo filtro de luz acabou quebrado.
Aqui está ele, o retrato do assassino.
Este é o 34º quadro, o último batido, do filme fotográfico de
Krivoníschenko. O filme fotográfico tem
mais de 50 anos e na imagem são notáveis as danificações em forma de
cortes e arranhões.
Na
imagem negativa, com as cores invertidas.
Na foto, pode ser visto um objeto brilhante
voando rapidamente para o rumo da tenda. Esse objeto não é de tamanho
pequeno e possui uma forma geométrica bem definida. A julgar pela nódoa
de gelo com cerca de quatro metros, o seu diâmetro poderia não ser
inferior aos cinco metros. Atrás dele, estende-se um rasto luminoso, que
é normalmente fixado nas fotos de objetos em movimento tomadas com uma
grande exposição.
A foto a seguir vem a confirmar ainda mais
o fato de que a última ação dos turistas antes de fugirem para fora da
tenda era a fotografia do objeto. Esta é a última fotografia do filme
pertencente, presumivelmente, a Rustem Slobodín. O Objeto é tomado de um
ângulo diferente. Pode ser visto que não houve tempo para focalizar a
imagem ou pode ser também que o fotógrafo estava em uma posição instável
ao fotografar o objeto que se movia rapidamente.
A última fotografia do
filme pertencente, presumivelmente, a Rustem Slobodín.
Eu também creio que poderíamos ver muitas
coisas interessantes no filme da câmera, a qual não foi deixada por
Semyon Zolotaryov até o seu último momento. Ele morreu de terríveis
lesões e de frio se agarrando a uma câmera na floresta noturna, mas,
quem agiria assim se nessa câmera não houvesse algo extremamente
importante? Mas, infelizmente, não existem tais imagens e, no inquérito,
há menção de um filme fotográfico de 12 quadros, “muito danificado”.
Talvez, seja o mesmo que permaneceu três meses no riacho, sobre o
cadáver de Zolotaryov.
Mas é provável que o Objeto tenha surgido
casualmente em uma das fotos de turistas e, por alguma razão, nenhum dos
pesquisadores prestou atenção. Mesmo os próprios dyátlovtsy
parecem não notar a presença de tal objeto, como se vê a seguir.
Breve descanso no prado.
Algo apareceu no céu. Mancha na imagem? Usando um editor de fotos comum,
vamos realizar esses simples passos:
selecionemos o fragmento, ampliemos, transformemos em negativo...
Isto não é uma mancha, porque os ramos das árvores são vistos em cima
dela. Removamos o contraste até o zero e obtemos...
Algo tão material como os ramos das árvores. Cada leitor pode fazer isso
por conta própria. A forma do objeto
se
assemelha suspeitosamente à forma da mancha escura no centro do objeto
no negativo do 34º quadro.
O que aconteceu depois e como atuou o grupo
após deixar a tenda, foi descrito em termos gerais na Parte 3 desse
trabalho. Mas apenas em termos gerais, com base nos dados disponíveis.
A versão da “bola de fogo” explica tudo: uma
debandada em pânico para fora da tenda, a falta de pegadas estranhas, a
falta de lesões externas na presença de graves lesões internas, mudança
de cor da pele, queimaduras, etc.
Em julho de 1990, na entrevista concedida a S.
Bogomólov, jornalista de Sverdlovsk, o juiz de instrução Lev Ivanov,
disse:
“Eu tenho a minha própria explicação para o
ocorrido. Você pode até mesmo colocar como manchete no jornal: ‘Promotor
criminal opina que os turistas foram mortos por um OVNI!’ Aliás, eu
supus isso ainda na época. Eu não pretendo afirmar de forma inequívoca,
se essas bolas foram armas ou não, mas estou certo de que elas estão
ligadas diretamente ao perecimento dos jovens”.
Em novembro de 1990, no seu artigo “O mistério
das bolas de fogo”, Ivanov reiterou a sua versão sobre esse fenômeno
como causa do perecimento dos dyátlovtsy, acrescentando:
"E, mais uma vez sobre as bolas de fogo.
Elas existiam e existem. Mas é preciso não esconder o seu aparecimento,
e compreender profundamente a sua natureza. A grande maioria dos
informantes que se encontraram com elas, falam sobre a natureza pacífica
do seu comportamento, mas, como você pode ver, também há casos trágicos.
Era preciso para alguém intimidar ou punir as pessoas, ou mostrar a sua
força, e eles fizeram isso... Eu conheço todos os detalhes deste
incidente, e posso dizer que apenas aqueles que estavam dentro dessas
bolas sabem mais que eu sobre essas circunstâncias. Mas, se havia
‘gente’ dentro das bolas e se eles estão lá sempre, até o momento,
ninguém o sabe”.
Em 2008, com base nessas declarações do
ex-promotor criminal, o “Centro da Investigação Civil da Tragédia dos
Dyátlovtsy” escreveu uma queixa para a Promotoria regional. Nela,
dizia-se que, dado o número de graves violações, como a pressão exercida
sobre a investigação, a falsificação de suas conclusões, onde com as
palavras “força maior insuperável” foram codificadas como sendo
as tais “bolas de fogo”, era preciso reiniciar a investigação e
descobrir o papel dessas “bolas de fogo” no perecimento do grupo de
Dyátlov.
A resposta foi uma recusa, alegando que “os
argumentos não contêm quaisquer novos fatos e circunstâncias que
requerem verificação adicional, ou investigação”.
Como prova indireta das declarações de Lev
Ivanov, pode servir o fato de que Andrei Kirilênko, primeiro secretário
do comitê regional do Partido, que classificou o caso, estava
literalmente obsesso pelo tema dos OVNIs. Depois de se mudar para Moscou
no início da década de 1960, ele solicitou ao KGB registros de
ocorrências semelhantes. No entanto, para os cidadãos soviéticos comuns,
o tema dos OVNIs permaneceu reservado até a segunda metade da década de
1980. Como cantava na época Vladímir Vysotsky, o nosso famoso bardo,
adorado por todos, “O assombroso está perto, mas é proibido”.
* * *
De acordo com a velha boa tradição de Sherlock
Holmes, acredita-se que, uma vez rejeitado todo o impossível, o que
resta, é a verdade, não importa quão improvável possa parecer.
Usando das nossas “navalhas”, nós tínhamos
decepado as outras versões, e chegamos à conclusão de que a esfera
luminosa, avistada naquela noite sobre os montes, mais provavelmente,
esteja ligada da forma mais direta ao perecimento do grupo.
Não podemos dizer com certeza qual era a
natureza dessa esfera. Até agora, ainda é um mistério para nós. Mas o
que é um mistério? É tudo o que ora está temporariamente oculto da mente
humana, ou não está disponível a ela de modo algum. No primeiro caso,
trata-se de uma incompreensibilidade objetiva, por definição de Gabriel
Marcel. É um problema que pode ser analisado e resolvido com o passar do
tempo. No segundo caso, é uma incompreensibilidade que tem caráter
“universal”, sendo inexplicável. O problema é definido, e o mistério,
pressentido. Este é um confronto do não explicado e o inexplicável. Eu
creio que o mistério do grupo de Dyátlov, todavia, pertence à primeira
categoria.
Este mundo não está limitado pelas nossas
noções sobre ele. As tentativas das pessoas céticas em explicar todos os
casos incomuns com o jogo da imaginação, as ilusões de ótica e as
alucinações vêm de apenas duas razões simples, mas fundamentais: a
soberbia e o medo. Na União Soviética, fomos ensinados desde a infância
que “o homem é o rei da Natureza”. O antropocentrismo, em sua essência,
é uma das manifestações da soberbia: “unicamente existimos nós, e o
mundo está em nossas mãos!”. Na qualidade de um instrumento de
conhecimento do mundo ao nosso redor, tal abordagem não presta para
nada: faz limitar demasiadamente os nossos horizontes e nos faz perceber
os acontecimentos de modo preconcebido, empurrando-nos dentro dos
limites de matrizes e raciocínios banais. No caso do grupo de Dyátlov,
as hipóteses geralmente limitam-se aos esquemas habituais de criminosos,
serviços secretos malvados, explosões de projetéis, ataques de animais,
etc.
Mas na maioria dos casos, as pessoas que
rejeitam todo o incomum, simplesmente têm medo, porque se nós assumirmos
que existe algo além do nosso controle ou compreensão, então a vida se
torna muito instável, difícil e desconfortável. Muito mais fácil é
pensar que neste mundo existem apenas as coisas familiares. Tal
ceticismo é uma reação protetora da psique, que declara falsa qualquer
informação desconfortável e perturbadora, para depois se esquecer disso
e se acalmar.
Qualquer que fosse a natureza da bola de fogo,
que deixou os seus rastos em fevereiro de 1959, uma coisa é certa:
naquela noite, o grupo de Ígor Dyátlov aceitou corajosamente um combate
desigual com o Desconhecido na encosta leste do monte Kholat Syakhyl. E
nesta batalha, os jovens mostraram suas melhores qualidades humanas:
firmeza, senso de camaradagem e perseverança.
Solução ou um novo mistério?
“Elas existiam e existem”. Assim se
referiu às bolas de fogo Lev Ivanov. De fato, a Cordilheira dos Urais
parece ser um dos habitats destas estranhas “bolas”: elas foram
avistadas desde há muito e continuam sendo avistadas até hoje.
No folclore mansi, existem lendas sobre uma
terrível deusa chamada de Sorni Nai, que significa “Sol de Ouro” ou “Luz
Dourada” (Sorni – “ouro”, Nai – “fogo” no sentido sagrado, como uma
divindade), que às vezes sai para uma terrível caça, acompanhada de uns
ajudantes menores, mas também luminosos... Ela semeia morte e
destruição.
Como aparenta essa cruel deusa? Sorni Nai segue
por cima dos cedros, sem deixar pegadas. Um estrondo da morte acompanha
a sua caça, uma luz impiedosa cega à sua vítima. Mas a deusa não está
interessada nos corpos das vítimas, senão apenas na sua “força vital”.
Tal conclusão foi tirada pelos caçadores mansi ao encontrarem corpos de
pessoas e animais sem sinais de violência e, tampouco sem sinais de
vida. Os mansi tinham muito medo dessa deusa feroz, ofertando-lhe em
sacrifício, o sangue de animais, como um acumulador da “força vital”.
Agora, a “deusa” tem que buscar os sacrifícios por ela mesma.
Representação artística do pintor Vladislav Ivanov para a deusa Sorni
Nai, da cultura mansi.
Os incidentes com Yuri Yakímov, mestre mineiro
da cidade de Severouralsk, localizada perto do Passo Dyátlov, e com
Valentín Rudkovsky, inspetor da guarda da reserva Dênezshkin Kâmen,
localizada na mesma área, obrigam-nos a jogar novos olhares sobre as
lendas e fazermos uma pergunta a nós mesmos: realmente há muito de
ficção nessas velhas histórias?
O mestre mineiro Yuri Yakímov trabalhou em 2002
na área de Ivdel, já familiar para nós, na pedreira para extração de
bauxita.
Yuri Yakímov, na conferência anual em memória do grupo de Dyátlov,
realizada nos dias
1º e
02 de fevereiro de 2013 (imagem de frame do vídeo).
Em 11 de setembro de 2002 ele estava de plantão
à noite. Além dele, não havia ninguém na pedreira no momento.
Às 23 horas ele teve que acender as poderosas
lâmpadas elétricas que iluminavam a parte sul da pedreira, para
inspecionar os equipamentos. Na escuridão, ele viu que a 200 metros
dele, o declive da camada de minério estava iluminado com alguma espécie
de luz branca oscilante. Como se um carro com os faróis de halogênio
acesos estivesse oscilando verticalmente e com rapidez, iluminando o
declive com essa luz. Tal luz vinha da floresta, de leste para oeste.
Não se ouvia nenhum som vindo daquela direção.
De repente, a partir da fonte desconhecida, a
luz começou a virar através da floresta na direção de Yakímov,
iluminando-o. Ele correu para o transformador e rapidamente acendeu a
iluminação da pedreira. Mas, ainda estava se dirigindo para o seu lado
uma ampla faixa de luz néon lívida e proveniente de uma fonte
desconhecida. Toda a floresta ao redor estava iluminada com uma
brilhante luz branca. Estava mais claro do que no dia, mas não havia
sombras das árvores.
Yakímov ficou por trás da cabina transformadora
por cerca de três minutos; a luz, como que a contragosto, começou a
girar em outra direção. Mas bastava dar apenas uma olhada para a fonte
da estranha luz para ver como estava e ela voltava imediatamente na
direção de Yakímov. Além disso, começaram a se separar da fonte algumas
espécies de “lanternas oscilantes”, que começaram a se mover na direção
do homem. Quanto mais tempo Yakímov estava olhando para elas, maior
tornava-se o número dessas “lanternas”. Mas, bastava-lhe virar para
outro lado, as luzes paravam. Apenas depois de algum tempo, o mestre
mineiro percebeu que estavam reagindo à sua vista. Isso foi
inexplicável, causando ansiedade e medo.
Escondendo-se atrás da cabina de transformação,
Yakímov começou a gritar, “Quem causa esse alvoroço?”, e até mesmo a
ralhar em voz alta. O objeto não reagiu aos seus sons. Logo veio o
barulho de um caminhão de muitas toneladas de peso, que estava se
aproximando; o objeto nem mesmo reagiu a esse som, mas Yakímov sentiu um
alívio. Ele olhou novamente para o objeto, e em seguida, o raio se virou
em sua direção. “Decidi não olhar mais o destino e fui-me embora”,
lembra Yakímov. Á 01:00, quando os operários do turno noturno se
reuniram no refeitório, ele contou aos companheiros sobre o que viu, mas
ninguém acreditou nele.
De manhã, ele visitou a pedreira, mas não
encontrou qualquer rastro do objeto.
Duas semanas mais tarde, quando o episódio
começou a ser esquecido aos poucos, Yakímov leu em um pequeno jornal
local, na seção de ecologia, que um dos inspetores da reserva Dênezshkin
Kâmen, chamado Valentín Rudkovsky, encontrou-se com um semelhante
fenômeno inexplicável no território daquela reserva. Tratava-se do mesmo
“aparelho luminoso” (termo dado por Yakímov) e as mesmas “lanternas”
multiplicáveis.
Ficando pasmado com aquilo, Yakímov decidiu se
encontrar com Rudkovsky. No mapa, determinou a distância da pedreira de
bauxita até a reserva, onde trabalhou o inspetor e calculou que seriam
40 quilômetros.
A
cidade de Ivdel, a reserva Dênezshkin Kâmen e o Passo Dyátlov estão
localizados
na
mesma área em que foram registrados avistamentos luminosos.
Era preciso entrar em contato com Rudkovsky,
especificando a data do incidente. Infelizmente, várias tentativas para
se encontrar com o inspetor não tinham levado a nada; depois, o
interesse de Yakímov pelo assunto começou a se desvanecer, estourando
novamente apenas três anos depois.
Serviu-lhe como impulso para isso, a história
do trágico perecimento do grupo de Dyátlov, conhecida por Yakímov
através de um programa da tevê russa.
E, desta vez, o mestre mineiro finalmente
encontrou-se com o inspetor Rudkovsky. O inspetor contou a Yakímov o
episódio inteiro do seu encontro com o misterioso “aparelho luminoso”,
ocorrido em 29 de agosto de 2002. Yakímov anotou o seu relato, após ter
verificado todos os dados pelos diários de trabalho de Rudkovsky.
Normalmente, os inspetores de uma reserva
trabalham juntos, mas naquela noite Valentín Rudkovsky estava sozinho.
Às 22 horas armou uma fogueira, fez o chá, mas não teve tempo para
comer, pois viu um facho de alguma luz forte. A luz era como a de néon
ou de halogênio, brilhava como um holofote e iluminava a floresta a
aproximadamente um quilômetro de distância. A fonte de luz estava a uma
altura incerta a partir do solo, encontrando-se a distância de 150 a 200
metros de Rudkovsky. A luz estava vindo do oeste para o leste.
Interessado no fenômeno, o inspetor começou a
olhar fixamente para o raio de luz e, em seguida, do outro lado,
apareceram duas “lanternas”, oscilando.
“(...) Sempre que eu olhava para essas
lanternas, era como se as pessoas que estavam com elas viessem em minha
direção, aproximando-se extremamente rápido. Pensei que alguém queria
pregar uma peça ou assustar-me, acercando-se daquela maneira da minha
fogueira. Vestindo-me rapidamente, decidi assustá-los. Pus-me as botas,
peguei a espingarda e sai para encontrá-los. Passei uns 20 metros,
escondi-me atrás de uma kolódina [tronco de árvore caído] e
comecei a olhar na direção das lanternas. Estas começaram a se aproximar
de mim demasiadamente rápido e mais precisamente quando eu estava
olhando para elas”.
Estava quieto ao redor, não havia nenhum som
estranho. Rudkovsky solevantou-se de trás do tronco caído e as
“lanternas” estavam a aproximadamente uns 50 a 70 metros dele.
Entretanto, já não era só duas, mas umas sete ou oito.
“Elas estavam me cegando. Imediatamente
deitei-me sobre o chão, atrás da kolódina, virando-me ao contrário das
lanternas. Mas, bastava-me levantar a cabeça e olhar para elas que,
novamente, elas se aproximavam, voltando a me iluminar e a cegar”.
O inspetor passou uma hora e meia deitado atrás
da árvore caída. Não estava olhando para a fonte de luz. Depois, viu que
as “lanternas” oscilantes deslocaram-se, brilhando já não mais a partir
do leste, mas a partir do norte, já a uma distância de 50 a 70 metros
dele.
“Durante esse tempo, eu percebi que me
deparei com algo incomum, pois não eram humanos, mas alguma outra coisa,
algo inexplicável... Percebi que essas lanternas reagem unicamente ao
meu olhar e decidi verificá-lo. Acendi um fósforo, comecei a fumar -
nenhuma reação”.
As “lanternas” situavam-se perifericamente a
cerca de 100 metros de distância da fonte de luz principal. O inspetor
aproximou-se da fogueira, tentando não olhar para o “aparelho”, nem para
as “lanternas”. A fogueira já estava consumida, assim que ele
abasteceu-a novamente, aqueceu a comida e jantou.
“E então, eu vi que a partir da fonte
principal, o raio estava brilhando não apenas do oeste para o leste, mas
também do norte para o sul, ou seja, a partir da mesma fonte estava
irradiando uma forte luminescência, tipo holofotes, em duas direções.
Sob
essa luz, podia ser vista cada folha de grama, mas as árvores não
emitiam sombras. Eu não olhei para a luz, comecei a fumar e sentei-me
para descansar perto de um cedro. Durante todo o tempo que permaneceu
essa luz, eu não emiti qualquer som da minha voz, nem atirei.
Às
2:30 ouvi uma crepitação muito alta, como a de uma forte descarga
elétrica, e toda a luz desapareceu. Depois disso, surgiu um forte vento,
que durou de dois a três minutos. Então, novamente houve silêncio. Após
isso, eu descansei perto da fogueira pelo resto da noite.
Na
manhã, revistei a área onde se encontrava a fonte dessa luz e as
lanternas, mas não descobri nada suspeitoso ou incomum”.
Há de se acrescentar que, após esse episódio,
Rudkovsky adoeceu por um longo período.
Quão semelhantes são essas descrições com a
lendária e deslumbrante Sorni Nai, com os seus ajudantes “brilhantes”,
buscando a próxima presa!
O que aconteceria com o mestre mineiro e o
inspetor de guarda da reserva, caso eles continuassem a olhar para as
“lanternas”? Quiçá, teriam sido encontrados mais dois corpos privados de
“força vital”, e dois enigmas mais para a gente procurar entender?
Yuri Yakímov fez as seguintes conclusões sobre
o “aparelho luminoso”:
- aparece na noite com o escurecer, sem um som,
irradia durante 4 a 4,5 horas e deixa o lugar após romper um som
parecido ao de uma forte descarga elétrica (crepitação), logo que a luz
se “desliga”, um vento forte estala por dois a três minutos;
- a fonte de luz pode se encontrar tanto no
solo, como por cima dele;
- a luz é emitida pelo “aparelho” da mesma
forma como o faz um holofote, sendo parecida com a luz das lâmpadas
alógenas ou de néon;
- não reage às lâmpadas elétricas, ao fogo ou
cigarro aceso, à voz da pessoa, à energia térmica da pessoa, aos sons
dos carros;
- reage unicamente ao olhar da pessoa (e,
talvez, ao de um animal). A partir da fonte principal de luz,
rapidamente aproximam-se na direção do homem, as “lanternas” oscilantes,
como se estivessem procurando o olhar humano;
- as luzes (“lanternas”) podem percorrer
através da floresta, multiplicando-se e oscilando. O seu número aumenta
de dois a oito;
- a luz da lanterna cega o homem, assim como a
luz dos farois ou de uma forte lanterna elétrica e não produz sombras
das árvores.
Se assumirmos que naquela trágica noite, o
grupo de Dyátlov encontrou-se com este fenômeno, seria possível tirar
conclusões adicionais: o “aparelho” é agressivo para com os humanos. Um
longo olhar para este fenômeno produz a sua reação de resposta em forma
de um raio de luz e o aparecimento das “lanternas” que se multiplicam,
sobre cujo objetivo podemos fazer meras suposições, mas, sem dúvida,
sempre no sentido mais desfavorável para os seres vivos.
Devemos supor que, o grupo de Dyátlov, ao
observar o “aparelho”, decidiu tirar-lhe uma foto, deste modo, os
olhares de nove pessoas chamaram a sua malvada atenção. No último quadro
tomado por Krivoníschenko, ao lado do grande objeto, é visível também o
segundo, menor...
Agora, Yuri Yakímov está firmemente convencido
de que os turistas do grupo de Dyátlov depararam-se precisamente com o
“aparelho luminoso”, e que este os destruiu. Ele relata que muitas vezes
tem um mesmo sonho:
“Na noite, em uma nevasca, um grupo de
pessoas está caminhando pela profunda neve para baixo da montanha... Uma
intermitente luz branca está perseguindo-os. Estou tentando alcançá-los,
mas os meus pés estão fracos. Eu caio na neve e grito para eles, que
estão se afastando: ‘Ígor, leve os companheiros mais longe na floresta,
para onde há mais ramagem seca! Acendam uma grande fogueira, aqueçam-se!
Não tenham medo de fazer uma fogueira, esta luz não reage ao fogo,
responde apenas ao olhar humano! Há que sobreviver essa noite, vão
voltar para a tenda na manhã!’. Mas eles não me ouvem e caminham cada
vez mais longe na noite. E ficam apenas as pegadas deles, que a nevasca
está cobrindo”.
O fato de o Objeto permitir aos dyátlovtsy
percorrerem a uma distância de 1,5 quilômetros da floresta, virados de
costas para a tenda, onde se encontrava o perigo, nos faz perguntar:
talvez, Yuri Yakímov tivesse razão, e a bola de fogo era precisamente
daquele jeito?
Ainda ocorrem encontros com o desconhecido no Passo Dyátlov? Às vezes
acontecem. Esta imagem, por exemplo,
foi
feita por uma expedição no local do perecimento do grupo, em agosto de
2012 (por Aleksandr Kóshkin).
Fragmento ampliado da mesma foto.
Justo acrescentar que, no nosso país, também
outros grupos e indivíduos encontraram-se de perto com as tais “bolas” e
“bolinhas” de fogo, e nem todos esses encontros tiveram final feliz.
Mas essas já são outras histórias...
Conclusão
Após o perecimento dos turistas do grupo de
Dyátlov, aquela área permaneceu fechada por três anos para as atividades
dos grupos turísticos: simplesmente não era concedida a permissão para
seguir por essa rota. Nada de conspirações: na URSS, a proibição era a
maneira favorita e mais fácil para resolver um caso complexo, reação
normal dos órgãos partidários e administrativos soviéticos para as
situações fora de seu controle; era assim imposto perante o medo dos
novos estados de emergência, aos quais ninguém queria assumir a
responsabilidade.
Yuri Yúdin, o único sobrevivente dos
dyátlovtsy, que deixou o grupo no início da caminhada, chegou a ser
engenheiro, trabalhou toda a sua vida na fábrica da cidade de Solikamsk,
onde na década de 1990 foi vice-prefeito para a economia e a previsão.
Agora está aposentado. Ele não abandonou o turismo, foi presidente do
clube turístico Pólo (“Полюс”), em Solikamsk, inclinando muitos jovens
para o caminho de turismo.
Engenheiro Yuri Yúdin, na atualidade.
Em 1963, Yúdin, junto com os turistas do UPI,
instalou uma placa memorial com inscrição em um dos ostântsy
(termo russo para formações rochosas isoladas e íngremes, mais comumente
conhecidas como buttes), perto do qual estava instalada a tenda
dos seus companheiros falecidos:
“ELES ERAM NOVE. Sob este passo, numa noite
de nevasca, em 2 de fevereiro de 1959 faleceram os turistas do UPI:
Dyátlov Í., Kolmogórova Z., Doroshênko Yu., Slobodín R. Krivoníschenko
G., Kolevátov A., Dubínina L., Thibeaux-Brignoles N., Zolotaryov S. Em
memória dos que se foram e não voltaram, temos chamado este passo com o
nome do grupo de Dyátlov”.
Memorial instalado próximo ao local de perecimento do grupo.
Durante as tempestades, o vento assobia
tristemente do monte Otortén, cinzentas nuvens desgrenhadas deitam-se em
cima da Montanha dos Mortos, um corvo solitário às vezes se senta sobre
o ostânets, como um zeloso guardião dos mistérios locais.
Hoje, ninguém no mundo inteiro pode imaginar
com certeza absoluta os detalhes de tudo o que tiveram que experimentar
os turistas do grupo Dyátlov naquela fatídica noite. Kholat Syakhyl é um
monte escalvado, e isso nos produz a associação com o Calvário, pois
realmente tornou-se um calvário para os dyátlovtsy.
Eles levaram consigo os detalhes das últimas horas das suas vidas para
lá, de onde não há retorno.
E
aqui, eles ficaram eternamente jovens...
Lembra Valentina Tókareva, amiga de Zina
Kolmogórova, em 1959, estudante do UPI e turista:
“Recebi a última carta de Zina Kolmogorova
de Serov, e depois, apenas em fevereiro soube sobre o perecimento do
grupo.
Por 45
anos tenho guardadas as cartas dos meninos. Você não tem ideia de como
eram nobres, inteligentes e honestos. Sim, não levam aos maus para as
árduas caminhadas: apenas uma caminhada - e a pessoa é vista
distintamente, não vão levá-la para a outra”.
Eis o que Zina escreveu para Valentina, estando
sentada no trem com todos os dyátlovtsy, saindo para a última
caminhada:
“E o
trem está indo, em três horas estaremos em Serov. Doutro lado das
janelas, levanta-se a taiga do Ural. Apesar de tudo, minha querida, é
bom viver neste mundo. Sabes, tenho certo ânimo, triste e alegre ao
mesmo tempo.
(...) Vive, Valyushka, alegra-te com as
coisas boas. O que há de fazer se às vezes houver tristeza? Depois de
tudo, há que viver! Verdade? Temos de ver apenas as coisas boas da vida,
então, viver será mais alegre. Dou-te a minha palavra, que tudo vai
ficar bem”.
Aos poucos, a trágica história desta caminhada
está se tornando uma lenda. Sobre os dyátlovtsy, a gente está
compondo poemas e canções, escrevendo novelas, produzindo artigos e
filmes. Cada vez com maior frequência, as pessoas vêm para o Passo
Dyátlov, encantadas com esse mistério.
Agora, uma nova geração de turistas deposita
flores no memorial, no local do perecimento desses rapazes e moças, que
um dia tiveram a mesma idade deles; e, sentados ao redor das suas
fogueiras, tendem a imaginar, o que aconteceu realmente naquele lugar há
mais de meio século.
P.S.:
Após
publicação do presente trabalho, chegou a triste notícia, em 27 de
abril de 2013, na cidade de Solikamsk, Yuri Yudin morreu após uma
longa e grave doença. Ele vinha sofrendo de varizes; a Fundação
Dyátlov ofereceu pagar-lhe uma operação, mas Yudin rejeitou. Em 4
de maio a urna com suas cinzas foi enterrada em Yekaterimburgo, no
cemitério Mikháylovskoye,
ao lado dos túmulos dos outros membros do grupo. Após 54 anos, ele
alcançou os seus companheiros.
* Natália P. Dyakonova
é licenciada em Filologia, diplomada em Pintura, autora de uma serie de
artigos sobre a Literatura, Arte e História. Pesquisadora e historiadora
por inclinação.
É consultora e correspondente em Moscou para o diário digital
Via
Fanzine e da
Rede VF (Brasil). É editora do blog
Protocivilización.
- Tradução: Oleg I. Dyakonov.
- Revisão final e
adaptação: Pepe Chaves.
- Imagens:
- As fotos do grupo
tomadas pelos próprios turistas estão na internet em livre acesso,
receberam a divulgação após o dossiê do caso ter sido acessado pelos
pesquisadores.
- O mapa de rota
foi confeccionado pela autora a partir de imagem do Google Earth.
Leia também:
Nota do editor:
'Não vá lá: a aventura final'
'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de
Ígor Dyátlov - Parte 1/4
'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de
Ígor Dyátlov - Parte 2/4
'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de
Ígor Dyátlov - Parte 3/4
'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de
Ígor Dyátlov - Parte 4/4
O misterioso caso de Ettore Majorana
O estranho sumiço de Valentich
Caso Rivalino: homem desaparece em Minas Gerais
Triângulo das Bermudas: o mistério tem três lados
Os mistérios milenares do Roncador
A Misteriosa 'Z' e o coronel Fawcet
Akakor: Uma fraude chamada Tatunca Nara
- Leia outras matérias exclusivas de
Natália Dyakonova em português:
Tradições do Natal e Ano Novo na Rússia: história e atualidade
Mistérios em torno do geoglifo no Ural
|