
Matérias de J.A. Fonseca disponíveis nesse
site
- Itaúna no Circuito
Arqueológico do Brasil (MG)
- A Lendária Vila
Velha (PR)
- Mistério e Beleza em
São Tomé das Letras (MG)
- A Esfinge da Gávea e
outros mistérios (RJ)
- A Misteriosa “Z” e o
Coronel Fawcett (MT)
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Muralhas perdidas:
De
volta aos muros de pedra da serra Mata da Onça
Ao retornar à serra, tudo parecia estar
mais ou menos igual
ao tempo em que lá estivemos, faz quase
uma década.
Por
J.A. FONSECA*
De Itaúna-MG
14/12/2011

Parte de um dos muros
visitados na Mata da Onça (nº 2), no alto da serra.
Muros de mistérios na Mata da Onça - com J.A. Fonseca
VÍDEO
Minha primeira investida à serra Mata da Onça em Itaúna,
para ver de perto seus muros de pedra se deu em agosto de 2002, em
companhia de Pepe Chaves e de meu filho Adriano, com apenas 12 anos, na
época. O Pepe já havia me falado sobre estas construções e outras
pessoas da região também as mencionaram e numa manhã de sábado, lá
estávamos nós, subindo a serra em busca dos afamados muros de pedra.
É de fato, surpreendente vê-los subindo a serra em forma
retilínea até o seu topo, em meio às árvores e vegetação abundante.
Nesta primeira investida registramos apenas este muro em fotografias e
subimos ao lado do mesmo por cerca de 300 a 400 metros, até que ele
terminou num outro muro que seguia em linha mais o menos diagonal, em
direção ao alto das serra. Este segundo muro faz um percurso no sentido
mais ou menos horizontal no alto da serra e segue de um lado a outro por
uma grande distância que ainda não identificamos precisamente.
As pedras que compõem esta estrutura são, em sua maioria,
de tamanho médio. Mas existem alguns blocos bem avantajados e de
consideráveis tamanho e peso, que viriam não somente dificultar o
trabalho de assentamento e ajustamento dos blocos, sem argamassa, de
forma cuidadosa e bem feita, como também a sua extração e transporte na
região.
É curioso notar que em muitos trechos o muro de pedra chega
a alcançar mais de um metro de altura, enquanto que em outros está bem
próximo do chão com apenas duas ou três fileiras de pedra assentadas. Ao
lado do mesmo acompanha-o uma espécie de vala, não se sabe se construída
propositalmente ou por razão de erosões sucessivas através dos tempos.
Recentemente nosso amigo Pepe emitiu o desejo de voltar à
serra e ver também os outros muros. Depois de ter feito lá uma incursão
pessoal, escreveu-me por e-mail convidando-me para esta nova investida.
Combinamos a ida e novamente em um sábado, 24/09/2011, estávamos subindo
a serra, eu, ele e seu filho Ícaro, levando conosco material para
acampamento, pois havíamos decidido pernoitar por lá para ganharmos
tempo e melhores condições às nossas investigações.
E então, nove anos após a primeira subida à serra,
retornava com novo fôlego, pois sempre pensei que estes muros tinham uma
história bem mais antiga que aquela difundida pelos moradores da região.
Ao retornar à serra, tudo parecia estar mais ou menos igual
ao tempo em que lá estivemos, faz quase uma década. A pequena trilha em
alguns trechos subindo a serra, a mata fechada e a subida íngreme.
Chegamos, enfim, ao muro perpendicular que havíamos visto na primeira
investida e o seguimos à sua direita, em meio às árvores e vegetação
bastante densa, fotografando e filmando vários de seus pontos mais
interessantes.
O trabalho de filmagens e comentários ficou a cargo do Pepe
e de seu filho Ícaro, cujo material foi editado para a produção do
documentário em vídeo “Muros
de mistérios na Mata da Onça”, que contou com a minha modesta
participação.

Mais detalhes da mesma
construção acima, que alterna constantemente a sua estatura e contornos.
Entrevista: J.A. Fonseca - Pesquisador arqueológico
VÍDEO
Chegamos, por fim, a uma laje de pedra negra e seguimos por
ela acompanhando o muro, que neste ponto tinha sua altura reduzida para
cerca de uns 40 cm, até um ponto onde ele estava se desmanchado por
cerca de 4 ou 5 metros. As pedras que faziam parte desta parte
desmontada estavam escorridas bem abaixo, na própria laje, indicando que
poderiam ter sido retiradas por ação humana ou por torrentes de água que
desceram do alto da serra em temporais ocorridos outrora.
Seguindo adiante, à direita, vimos que o muro continuava
sobre a laje e saía em direção a elevações de terra logo a seguir em
meio à mata. Neste ponto parecia que o mesmo estava soterrado por
grandes quantidades de terra, em determinados trechos, chegando até
desaparecer sob o barranco.
Ficou então uma suspeita de que o mesmo seguia bem mais à
frente e isto nós não verificamos naquela oportunidade. Pepe havia me
mostrado uma pesquisa que ele fez no aplicativo Google Earth, onde
aparece deste lado da serra (o qual ainda não visitamos) uma formação
retilínea e bem delineada. A suposta estrutura na imagem por ele
pesquisada muito se assemelha a um muro, ou à continuação do mesmo.
Assim, supomos que esse mesmo muro segue adiante, após sair
do trecho de soterramento e ser novamente encontrado daquele lado da
serra, onde a imagem demonstra haver uma formação regular e algumas
centenas de metros adiante do ponto máximo que chegamos naquela ocasião.
Para confirmarmos ou não essa nossa suposição, teremos ainda de
averiguar o local pessoalmente e já estamos planejando um retorno em
breve àquela porção da montanha.

Detalhe do outro muro
na Mata da Onça (nº 1), que difere do anterior e desce a serra.
Itaúna na arqueologia brasileira - por J.A. Fonseca
Ao deixarmos aquela região, nós retornamos seguindo o muro
que se dirigia à esquerda, pelo mesmo caminho que havíamos chegado.
Notamos que em alguns pontos ele promove curvas estranhas sem uma razão
aparente, em vez de seguir reto no trecho sem obstáculos. Mais adiante
encontramo-lo, uma vez mais, quase submerso pela terra que se escorreu
do alto da serra, dando indicações de que este processo de soterramento
pode ter levado muitas décadas ou até mesmo séculos para se consolidar.
É estranho que tenhamos encontrado um muro como este no
alto da serra da Mata da Onça, sem uma razão específica de ele estar lá.
Sabemos que ainda existem muitos desses muros nessa região, sendo que
alguns deles já foram totalmente destruídos, pois achavam-se em locais
mais próximos do Arraial de Santana de São João Acima, vila que deu
origem ao município de Itaúna.
Muitos outros locais próximos às serras que ainda abrigam o
que restaram de alguns desses muros, atualmente se transformaram em
bairros da cidade, urbanizados e repletos de residências. E assim, os
muros que lá resistiam a intempéries durante décadas, não deixaram a
mais leve marca de sua existência, foram totalmente destruídos.
Nossa pergunta continua sendo incisiva e não queremos que
tal posicionamento seja visto como algo que pretenda forçar teorias
mirabolantes sobre a existência destes muros que percorrem localidades
em condições nem sempre razoáveis. Apesar de que lhes sejam atribuídas
explicações simples, como obras produzidas pelos escravos que viveram
nas fazendas da região, com que finalidade não se sabe. Quem, de fato,
os teria feito e com que objetivo?

Outra parte do muro
mostrado acima, que difere da anterior.
Dois muros e uma
denúncia - documentário em Itaúna
VÍDEO
Nossa insistência se firma em alguns pontos os quais
julgamos importantes e, geralmente, deixam de ser considerados por
pessoas que afirmam tais coisas, sem se atinarem para estes aspectos que
iremos adiante comentar para dar apoio aos nossos questionamentos.
Um primeiro ponto relevante é o que se refere à localização
dos mesmos e isto já tocamos de passagem anteriormente. Se estes
tivessem sido feitos logo abaixo, mais próximo das fazendas, seria mais
fácil aceitar a idéia de que teriam sido construídos por escravos.
Porém, ficam no alto da serra, em local íngreme e com seguimentos
estranhos. Seguem em direção ao lado mais acidentado e pedregoso do
terreno, onde nada de interesse, pelo menos aparentemente, pudesse
explicar sua construção e permanência ali.
Já abordamos na
reportagem anterior, quando de nossa primeira visita à
Mata da Onça, que um trabalho desta magnitude, além de ser destituído de
“lógica” e bom senso, seria ainda difícil de ser compreendido com
naturalidade. Basta ver que no Arraial existente à época, havia poucos
habitantes e uma quantidade não muito grande de escravos homens nas
fazendas locais. Estes estavam sempre assoberbados com os diversos
afazeres da terra e de interesse de seus amos, para se ocuparem ainda
com um trabalho estafante e demorado como este de construir muros no
alto das serras. Isto, sem considerar que para o proprietário do escravo
o seu serviço na fazenda era mais importante, pois o mesmo custava-lhe
muito caro e sua manutenção com saúde era também muito onerosa, não
devendo estes, portanto, querer deslocá-lo para serviços desta natureza.

Ainda o muro número 1,
já se aproximando do sopé da serra.
Itaúna: Mais duas muralhas antigas são
registradas
Outro ponto que pudemos observar é que, por tratar-se de
muitas centenas de metros de muros subindo a serra e atravessando-a de
um lado a outro e em locais íngremes, a quantidade de pedras retiradas
dali teria de ser muito grande. Isso levaria a um trabalho de grande
proporção e uma necessidade de acompanhamento constante.
No alto da serra há grandes pedreiras e é provável que seja
de lá que as pedras dos muros tenham sido extraídas. Porém, teriam de
ser retiradas de lá, quebradas e transportadas serra abaixo, ajustadas
uma a uma em seus encaixes naturais, de maneira a ir formando um muro
homogêneo e resistente às intempéries e ao tempo, como o demonstram a
sua presença imponente naquele local, há já muitas décadas ou séculos.
Trata-se, portanto, do trabalho de uma grande equipe,
demorado, criterioso e que exige certos cuidados técnicos, tanto no
processo da quebra de pedras de maciços resistentes, sua condução até os
locais da construção e ajustamento das peças. Considerando-se ainda que
grandes blocos se ajustam à base de certas partes do muro, sustentando
as pedras de menores dimensões.
Outro ponto interessante é que em alguns trechos de sua
extensão, a construção se parece mais a um arrimo ou o mesmo teria sido
soterrado por grandes massas de terra que desceram do alto da serra
durante muitas chuvas ao longo dos anos, encobrindo-o em alguns pontos
quase que completamente. A grande quantidade de árvores e vegetação em
torno desses trechos, além destes supostos aterros mostram que tal
processo deve ter ocorrido há muito tempo.

Detalhe do muro número
1, caracterizado por lascas de pedra na parte mais baixa da serra.
Tivemos notícia de que foram encontrados muros como estes
em locais bem distantes da parte central do município de Itaúna e isto
também leva-nos a pensar mais profundamente sobre a possibilidade de os
mesmos se tratarem simplesmente de trabalhos feitos por escravos. Por
que estas construções estariam em locais tão distantes e também no alto
de serras e regiões que não poderiam justificar a sua presença?
Também temos informações de que muros de pedra semelhantes
a estes foram encontrados em outras partes do Brasil, em regiões onde o
serviço escravo não chegou a estender seus tentáculos. Um destes lugares
é uma região misteriosa do Mato Grosso, a cerca de 70 km da cidade de
Vila Bela da Santíssima Trindade, quase na divisa com a Bolívia. O
pesquisador Aurélio M. G. de Abreu conta que em 1983 organizou uma
expedição para desenvolver estudos naquela região que denominou ruínas
de Vale do Guaporé.
Apesar de fracassada a expedição dois de seus componentes,
Fábio Daró e Luis Caldas Tibiriçá, conseguiram chegar até lá com grandes
dificuldades e encontraram, de fato, ruínas de construções muito antigas
e curiosas características como colunas de pedra e plataformas
estranhamente localizadas. Foram localizados também antigos muros de
pedra que poderiam ter sido construídos numa época provável de mineração
de ouro na região. Mas, ninguém tem certeza disto.
Outro local que também foram descobertas ruínas de
construções em pedra e muros muito antigos foi em Rondônia, próximo a
cerca de 35 km da cidade de Abunã, divisa com a Bolívia e cerca de 250
km da capital Porto Velho. O muro aí localizado fica sobre um platô
rochoso, o qual é contornado pelo mesmo num perímetro de cerca de 300
metros e perfazendo uma altura de um metro. O local passou a ser chamado
de Serra Murada. Nas florestas que contornam a região foram encontradas
também pinturas rupestres, constituídas de símbolos estranhos, segundo
Montezuma Cruz, que escreveu sobre aquela região até então desconhecida
dos pesquisadores. É provável que existam muitas outras construções
semelhantes a muros de pedra como estes referenciados em muitas outras
localidades do Brasil e, certamente, terão de ter uma explicação e
serventia para aqueles que o executaram nas condições e nos locais em
que se acham construídos.
No caso dos muros de Itaúna, é nosso pensamento que seria
necessário um estudo bem mais aprofundado sobre os mesmos, para que
pudéssemos atribuir um perfil mais bem delineado sobre a sua origem, a
sua construção e localização, e ao tempo em que teriam sido realmente
edificados.

Neste trecho o mesmo
muro apresenta pedras mais arredondadas.
Resta-nos compreender quem foram os seus reais
construtores, considerando-se que os nativos que viveram nesta região,
os cataguases, não tinham habilidades como estas e nem isto fazia parte
de sua cultura, ficando então um lapso histórico para a provável época
de sua construção.
Fica ainda, a necessidade de buscar compreender porque os
mesmos foram construídos no alto de montanhas e da forma como foram
delineados, pois sob as condições em que se encontram assentados não
fazem jus ao papel de um muro que tem a finalidade precípua de delimitar
fronteiras entre propriedades que, certamente, não estariam no meio de
uma serra ou à beira de penhascos e em regiões com grande incidência
rochosa e de nenhuma serventia aos fazendeiros da região ou comunidades
próximas.
Nosso trabalho neste sentido não tem somente o escopo de
questionar a presença destes muros em Itaúna e se foram ou não
construídos por escravos que habitaram a região, mas também de levantar
uma “bandeira” de defesa para a preservação dos mesmos e da importância
de sua presença em nosso município. Para o aprofundamento no estudo dos
mesmos e a cessação definitiva de sua destruição inescrupulosa se faz
necessário o apoio das autoridades e da sociedade, pois os muros são um
bem comum do município.
Desta maneira, tememos que estas construções restantes, as
quais ainda resistem ao tempo e ao crescimento da cidade, venham ter o
mesmo destino de outras que, por puro descaso e ganância, deixaram de
existir, como àquelas recentemente destruídas nas serras próximas aos
bairros Belvedere e Veredas. A extinção dessas antigas construções
representa um incalculável empobrecimento cultural e histórico para o
nosso município. Isso o coloca ao lado de muitos outros em nosso país,
onde valores desta natureza são covardemente dilapidados sem nenhuma
proteção e, antes de qualquer registro, morrem historicamente pela ação
da simples vontade e prepotência de seus algozes.

Detalhe de uma curva do
muro número 2, ainda no alto da serra.
O que nos resta dizer é que foi muito produtiva esta nossa
nova estada por aqueles lados da serra da Mata da Onça. Sobretudo, ao
lado dos ilustres amigos Pepe Chaves e seu filho Ícaro que também dão
grande importância a registros históricos como estes, enriquecendo
muitíssimo o trabalho de divulgação dos mesmos e fazendo-os repercutir
com muito mais força nos meios de comunicação.
Assim, não poderia então encerrar este comentário sobre
nossa pequena expedição sem deixar registrados os meus agradecimentos
aos ilustres amigos pesquisadores. Estreitamos ainda mais os nossos
relacionamentos e fortalecemos os nossos laços de amizade, além de
promovermos a troca de conhecimentos, o aprendizado e a união para a
divulgação destas reminiscências históricas de nossa terra.
Portanto, necessário se faz levantar esta “bandeira” em
defesa desse patrimônio histórico e em prol do interesse local, para que
venha despertar mentes corajosas e responsáveis que promovam a sua
preservação e o seu devido estudo.
*
J. A.
Fonseca é economista, aposentado, espiritualista, conferencista,
pesquisador e escritor, e tem-se aprofundado no estudo da arqueologia
brasileira e realizado incursões em diversas regiões do Brasil com o
intuito de melhor compreender seus mistérios milenares. É articulista do
jornal eletrônico
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Fanzine e membro do Conselho Editorial dos portais
UFOVIA
e
ARQUEOLOvia.
- Fotografias: J.A. Fonseca/2011.
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