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Arqueologia Brasileira:
Coronel Ponce - Estado do Mato Grosso
As antigas e pouco conhecidas inscrições
do Morro da Rapadura.
Por J.A. FONSECA*

Inscrições no morro da Rapadura em baixo relevo – Coronel Ponce – MT
Vimos uma única vez, referências sobre as inscrições
rupestres de Coronel Ponce no livro Arqueologia Brasileira, do
arqueólogo André Prous, editado pela Editora Universidade de Brasília,
em 1992, quando o adquirimos. Depois disto não vimos mais nenhuma
citação sobre este esplêndido painel de insculturas no interior do
estado do Mato Grosso.
Segundo o ilustre pesquisador do livro acima mencionado,
estas inscrições se classificam na “tradição geométrica” e formam
conjuntos heterogêneos de grande extensão, pois podem ser encontrados
desde o planalto catarinense, na região sul, até a região nordeste,
passando pelos estados do Paraná, São Paulo, Goiás e Mato Grosso, onde,
neste último, estes são muito mais ricos. Segundo André Prous “o tema
dominante passa a ser o ‘tridáctilo’, triângulos (com incisão ou ponto
de tipo ‘vulvar’) morfologicamente aparentados aos ‘tridáctilos’ como
mostra a publicação do sítio Coronel Ponce por M. Beltrão. As outras
figuras incluem ainda cupuliformes e por vezes curvilíneas”.
Mais recentemente, em face de nosso estudo sobre o signário
oculto do Brasil, nosso interesse em conhecer este sítio cresceu
incontrolavelmente, principalmente depois de termos revisto as
reproduções das inscrições publicadas no livro de André Prous.
Planejamos então visitar o local. Em 29 de agosto de 2008 nos decidimos,
eu e minha esposa, ir até a região, aproveitando que estávamos em Barra
do Garças, onde também temos residência. Saímos pela manhã e por volta
das 12h30 chegamos no local, depois de termos percorrido cerca de 6 km
de estrada de terra, passando por Primavera do Leste (a cerca de 280 km
de Barra do Garças) e pelo município de Campo Verde (mais 110 km),
distante do qual, a 26 km fica a vila de Coronel Ponce, hoje chamada de
Capim Branco.
Segundo formos informados a vila é antiga e tem sua origem
na época da investida para o oeste brasileiro no início do século
passado, que tinha à frente o grande pioneiro Marechal Rondon, o qual
teria construído ali um posto telegráfico. Conforme nos foi dito o nome
de Coronel Ponce foi dado em homenagem ao Coronel Ponce Arruda que teria
trabalhado nesta frente com o Marechal Rondon, desbravando as terras
matogrosenses.
Ao chegarmos à vila pedimos informações sobre o morro da
Rapadura e suas inscrições rupestres em um restaurante no local. A
senhora que nos atendeu disse que estes se localizavam numa fazenda
próxima dali de nome Fazenda Vitória e que seu proprietário, Sr. João da
Hora, não gostava que ninguém fosse até lá. Pedimos informação de como
chegar até o local e nos dirigimos para lá. Era bem próxima da vila.
Já na chegada à vila, na estrada, havia visto um morro de
forma retangular, com o formato de uma rapadura e comentei com minha
esposa que aquele deveria ser o tal morro das inscrições. E, de fato,
era.
Figuras humanóides e geométricas se intercalam
no
painel milenar do morro da Rapadura Coronel Ponce-MT
Chegando à fazenda nos dirigimos à casa do caseiro logo na
entrada, próximo à porteira e conversamos com sua esposa. Ela disse que
o Sr. João estava lá na sede e subimos uma pequena elevação onde, no
alto, estava a casa do proprietário Sr. João da Hora Almeida. Lá
chegando, nos apresentamos a ele e fomos muito bem recebidos.
Conversamos sobre o nosso interesse de conhecer o local e mostrei-lhe o
meu trabalho de pesquisas e fotografias de algumas regiões que já havia
visitado.
Coloquei a ele sobre nossa pretensão de conhecer o morro da
Rapadura e suas inscrições rupestres. O Sr. João ouviu-nos atentamente e
disse-nos que poderíamos ir ao morro da Rapadura fazer os nossos
registros. Antes, porém, insistiu para que almoçássemos com ele e, para
que à tarde fóssemos até o tal morro, depois que o sol “esfriasse” um
pouco. Conversamos sobre diversos assuntos e falei-lhe sobre os lugares
que tinha pesquisado em diversas partes do Brasil, aguçando-lhe a
curiosidade. Também ficamos conhecendo a Dona Selma dos Santos que
ajudava a cuidar da fazenda e seus dois filhos Renato Fabrício e Ana
Nayara, todos muito simpáticos e prestativos. A menina Ana
acompanhou-nos até o morro da Rapadura, juntamente com o Sr. João da
Hora e ficou muito entusiasmada com o que havia lá.
De fato, o conjunto de inscrições rupestres ali reunido é
muito significativo. Conforme escreveu André Prous, as representações
humanóides apresentam morfologicamente três dedos (tridáctilos), além de
figuras triangulares com incisões profundas, figuras cupuliformes (em
forma de cúpulas) e curvilineares (em forma de curvas). O que nos
impressionou foi a forma como estas incisões foram feitas na parede
pétrea, pois os riscos foram traçados, em sua maioria, de forma
retilínea e precisa, como se o painel (de pedra), no momento em que fora
trabalhado pelos seus autores, tivesse sido amolecido, como se
cortássemos com um objeto contundente (uma faca, por exemplo) num pedaço
de argila ainda mole.
Inscrições em baixo relevo no Morro da Rapadura
(Coronel Ponce – MT) em reproduções do autor
Outro elemento que nos chamou a atenção é que parece haver
certos conjuntos específicos de insculturas que pretendem transmitir uma
idéia, como, por exemplo, os que mostramos a seguir.
O proprietário disse-nos que do outro lado do morro existem
outras inscrições semelhantes e que há também uma caverna de difícil
acesso daquele lado.

Incrível painel de figuras antropomorfas e cruciformes, em baixo relevo
no
Morro da Rapadura (Coronel Ponce – MT) em reproduções do autor
Ao chegarmos ao painel do moro da Rapadura não pudemos
deixar de fazer comparações com aquelas que havíamos encontrado na
Bocaina da Lagoinha, em Chapada dos Guimarães, face as muitas
semelhanças entre elas, especialmente em relação à metodologia, às
figuras similares que ali se acham insculpidas e à forma com que foram
manipuladas na pedra bruta.
Muitas formas geométricas com cruzes semelhantes às de
malta, chamou-nos a atenção em ambos os casos. Tínhamos a impressão que
aquela forma quadriforme, com as cruzes impressas em seu centro, tinham
um peso significativo na “mensagem” que seus autores queriam transmitir,
sendo esta complementada pelos riscos, aparentemente desconexos, à sua
volta.

Figuras cruciformes em baixo relevo, em Bocaina da Lagoinha,
Chapada dos Guimarães-MT - compare as semelhanças
Outra coisa que nos chamou a atenção já na chegada foi a
grandeza do conjunto de inscrições. Como em alguns outros lugares, são
abundantes e formam painéis gigantescos, alcançando alguns metros de
altura e de extensão. Há variações nos parâmetros utilizados, podendo-se
observar que, em dado momento, vemos diante de nós um painel de formas
bem semelhantes umas às outras, enquanto que logo a seguir, abaixo ou ao
lado, ou acima, outro conjunto marca a pedra bruta com outro tipo de
traços e caracteres.
Diante de tudo isto, sentimo-nos meio confusos por causa da
grande quantidade de elementos disponíveis, porém, imaginamos que possa
tratar-se de uma espécie de variação daquilo que se pretendia
transmitir. Parecem abordar “assuntos” específicos que preocupavam seus
autores e, pela sua abundância e variedade de formas, supomos que
poderiam ter sido obra de homens de épocas distintas, ou seja, poderiam
ter sido executadas por autores diferentes em momentos também
diferentes.
Esta foi, sem dúvida, uma visita gratificante que fizemos
ao morro da Rapadura, que passa a fazer parte do grande arsenal de
mistérios que temos registrado em terras brasileiras, relatando, com sua
mudez pétrea, algum acontecimento de grande relevância que seus autores
quiseram tanto preservar para a posteridade.
Queremos deixar expresso o nosso agradecimento ao Sr. João
da Hora Almeida por sua cortesia em nos receber em sua fazenda e nos
acompanhar até o morro da Rapadura, onde pudemos fazer nossos registros
fotográficos e nossas reproduções manuais, ampliando nossos estudos
sobre os mistérios milenares do Brasil.
*
J.A.Fonseca
é economista, aposentado, escritor, conferencista, estudioso de
filosofia esotérica e pesquisador arqueológico, já tendo visitado
diversas regiões do Brasil. É presidente da associação Fraternidade
Teúrgica do Sol em Barra do Garças–MT. É
articulista do jornal
eletrônico Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br)
e
membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA.
- Fotografias e ilustrações: J.A. Fonseca/Arquivo Via Fanzine.
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