Brasil Antigo

Simbologia Desconhecida

Na ‘Arte’ Rupestre do Brasil – Parte VIII

Há quem diga que esta ‘arte’ surgiu por causa do estado de ociosidade em que viviam esses povos do Brasil antigo. Mas, não podemos deixar de contestar esta tese. A nosso ver a ociosidade não costuma trazer o aprimoramento na arte e nem mesmo no cotidiano das pessoas, mas, ao contrário, o fortalecimento da preguiça ou da própria negligência. 

 

Por J. A. FONSECA*

De Itaúna/MG

Março-2021

jafonseca1@hotmail.com

 

Sinais estranhos no local chamado de Paredão – MT.

 

A nosso ver, não é possível atribuir à chamada ‘arte’ rupestre, em geral, uma forma de interpretação unificada, tendo-se em vista que a sua variedade, qualidade e sofisticação simbólica envolve uma grande quantidade de manifestações líticas e, sua localização, não é restrita a uma região específica. Não resta dúvida de que o estudo desta ‘arte’ se trata de algo muito envolvente e até mesmo perturbador, acabando por trazer encanto e surpresas ao observador atento, que pode encontrar em seu conteúdo um grau significativo de dificuldade na tentativa de sua interpretação e na análise de sua simbologia.

 

Isto porque, temos no Brasil, onde focamos nosso estudo, uma diversificação muito grande de manifestações deste tipo, quando seus componentes obrigam-nos a observá-las não somente de forma mais objetiva, mas, também enfocando-as sob o seu aspecto mais subjetivo, uma vez que identificam, não poucas vezes, elementos que se destacam com grande força e cunho enigmático, principalmente quando nestes se podem perceber figuras de caráter desconhecido e não compreensíveis, se levarmos em consideração a sua provável origem: o homem primitivo.   

 

Lógico seria esperar-se que, em se tratando de ‘arte’ produzida por homens simples, moradores de cavernas e de vida rústica, viéssemos encontrar figuras também mais simples e corriqueiras do seu dia-a-dia e não que possam conter elementos sofisticados ou que espelhem elevado grau de elaboração mental e produção artística. Entretanto, esta última impressão é que vem sendo identificada em elevada quantidade de registros desta natureza, exigindo assim mais do que espanto diante dos casos observados, mas um estudo objetivo no sentido de dar-lhes explicações mais convenientes ou melhor fundamentadas.

 

Há quem diga que esta ‘arte’ surgiu por causa do estado de ociosidade em que viviam esses povos do Brasil antigo. Mas, não podemos deixar de contestar esta tese. A nosso ver a ociosidade não costuma trazer o aprimoramento na arte e nem mesmo no cotidiano das pessoas, mas, ao contrário, o fortalecimento da preguiça ou da própria negligência. 

 

Deste modo, mesmo que insistamos em admitir tal fato, teremos de ver em muitos, muitíssimos destes meticulosos registros rupestres de povos antigos do Brasil a presença de ‘coisas’ que não podemos compreender nem explicar, o por que estas deveriam estar ali e, até mesmo, por que elas teriam sido produzidas por seus autores de forma tão incisiva e cuidadosa.

 

Se, mesmo assim, quisermos atribuí-las a sociedades selvagens que teriam vivido em passado remoto, nosso grau de dificuldade para compreendê-las tenderiam a elevar-se muito mais. O que vemos é que inúmeras destas figuras e até mesmo grandes painéis a céu aberto, que rasgaram o véu do tempo com o seu mistério até os nossos dias, desafiam-nos a encontrar coesão em nossa afirmativa que propõe que estas poderiam mesmo ter sido produzidas por entes dessas tais comunidades caçadoras e coletoras de alimentos, sem a necessidade de um mínimo de planejamento prévio e uma ideia definida para a sua criação e produção.

 

A Pedra da Esfinge, em região próxima a Barra do Garças - MT.

 

Em minhas inúmeras incursões pelo interior do estado de Mato Grosso descobri marcas de um tempo muito antigo que mostram uma atividade inteligente diferenciada numa região ainda desconhecida dos pesquisadores. Tratava-se de um sítio de nossa propriedade, onde estávamos desenvolvendo um projeto comunitário. Numa região mais elevada havia duas formações retilíneas que conduziam a uma espécie de platô e se postavam como se fossem uma espécie de muro de arrimo em uma parte mais alta, fazendo um elevado degrau para uma mais baixa. Mais abaixo havia outra grande formação de pedra que parecia dar sustentação a um extenso muro de contenção, percorrendo uma distância de aproximadamente 500 metros. Nesta parte, pedras colossais compunham as paredes íngremes desta construção colossal e sua direção em alinhamento, dava-lhe a ideia de uma fortificação.

 

A primeira contenção tinha o porte de uma parede longitudinal, construída com blocos de pedra bem menores.  Entretanto, a segunda, logo abaixo, que se estende pela encosta por uma grande extensão, era constituída de consideráveis maciços pétreos, podendo atingir até cerca de 4 metros de altura em alguns pontos.

 

A pedra do "Camelo", como uma parede, ao pé do muro de pedras.

 

Percorrendo pela encosta deste ‘muro’ de contenção maior pude notar que sua construção teria sido cuidadosa e que não poderia tratar-se de uma formação natural. Próximo a ela encontrei um local definido por um espaço, coberto de vegetação, que me chamou a atenção. Havia ali duas pedras de grandes proporções que pareciam ter sido colocadas no lugar onde se encontravam com finalidades bem específicas. Uma delas com cerca de 2,50 metros de altura e ajustada em posição vertical mostrava-se como se fosse uma esfinge humana ou uma escultura já bem desgastada pelo tempo (ver ilustração), mas preservando ainda uma forma esguia e bem proporcionada. A outra rocha colossal assemelhava-se a parte de uma parede de pedra parcialmente verticalizada, mostrando uma figura que se assemelhava a um camelo deitado sobre as pernas. Sua altura deveria ser também de aproximadamente 2,50 metros na sua parte mais alta, ou seja, nas suas cócoras um pouco encurvadas. Um fator que torna este segundo bloco pétreo excessivamente estranho é que ele se apresenta como um monólito isolado que parece estar demarcando um certo espaço, cuja finalidade não nos foi possível compreender.

 

Já vimos que há no Brasil uma grande incidência de fatores que não são facilmente explicáveis no estudo da arqueologia e mesmo que não queiramos dar-lhes o destaque merecido eles permanecem vivos através dos tempos, intocáveis e inexplicáveis.

 

Voltando aos registros rupestres vamos encontrar mais um conjunto destas enigmáticas figuras no Nordeste, onde estes elementos são afortunadamente abundantes. Seu registro foi feito pelo pesquisador piauiense Reinaldo Coutinho e consta do seu livro “Inscrições Pré-Históricas do Piripiri”, onde se podem ver duas figuras próximas, trajando uma roupagem pouco comum. Segundo Coutinho estas e outras figuras encontram-se gravadas no local chamado de Buriti dos Cavalos, no flanco de uma grande pedra, tipo casco de uma tartaruga gigante, numa face erodida da rocha, com parte delas já destruídas pelas fraturas e trilhas de cupinzeiros, também fortemente incidentes na região.

 

As figuras humanas portando chapéus em Piripiri – Piauí.

 

As inscrições e figuras desta rocha acham-se gravadas desde dois metros do chão até uma altura de cerca de dez metros, em cores vermelha e amarelo-laranja em menor quantidade, segundo Coutinho. Muitas figuras estranhas podem ser vistas, mas a que chamou mais a atenção foi esta que estamos destacando aqui e que mostra as duas figuras humanas que parecem estar interligadas uma com a outra e ambas portam chapéus cônicos com abas; seus braços estão entreabertos e parecem estar vestidos com túnicas, que não são comuns no meio desses povos antigos, aos quais se atribuem estes trabalhos rupestres no Brasil.

 

Por causa das erosões e destruição produzida pelo tempo estas figuras, pintadas a cerca de cinco metros de altura, deveriam compor um conjunto mais complexo, pois que o mesmo se encontra parcialmente destruído pela descamação do arenito, afirma Coutinho. Para ele poderiam tratar-se de representações muito antigas de sacerdotes atlantes do culto solar, que por causa da descamação da rocha perderam a parte inferior de seu corpo e outros detalhes que poderiam dizer mais sobre este conjunto de figuras.

 

Nesta mesma região de Buriti dos Cavalos o pesquisador Reinaldo Coutinho encontrou também muitos outros agrupamentos de figuras misteriosas e destacamos este outro conjunto (vide ilustração anexa) que mostra uma simbologia estranha em seu conjunto enigmático. Incluímos este registro em nossos estudos para mostrar que esta simbologia desconhecida e excessivamente abstrata se encontra espalhada por todo o território brasileiro, juntamente com inumeráveis outras inscrições e figuras mais simples, que também existem em grande quantidade. Não nos parece que os autores destas últimas tenham sido dos mesmos grupos que produziram aquelas outras.

 

O enigmático painel de símbolos em Piripiri – Piauí.

 

Seria importante mencionar ainda a inscrição encontrada em um abrigo na Serra Negra, em Sete Cidades, por Reinaldo Coutinho, considerando-se que ela mostra também elevado grau de estranheza e assemelha-se a uma antiga escrita. Ela é composta por sete caracteres de tamanho considerável e segundo Coutinho “o conjunto é ordenado e harmônico, obedece a uma sequência e a repetição intercalada de alguns signos leva-nos a crer que se trata de um tipo surpreendentemente moderno de escrita.”

 

O pesquisador francês Jacques de Mahieu também esteve no local e escreveu sobre estas ‘letras’ gravadas em vermelho vivo em seu livro “Os Vikings no Brasil”. Segundo ele trata-se de uma escrita com sinais rúnicos e que certamente povos vikings teriam estado ali e gravado estes signos na pedra. Outras inscrições também podem ser vistas próximo deste conjunto e existem muitos signos, tipo alfabéticos, gravados esparsamente em todo o complexo de Sete Cidades. Segundo Mahieu estas inscrições poderiam ter a seguinte tradução: “os inteligentes barbados próximo da sua residência na planície”, residência que seria, portanto, o próprio conjunto megalítico das Sete Cidades que se encontra nesta planície bem próximo dali.

 

As ‘letras’ gravadas na Serra Negra, em Sete Cidades – Piauí.

 

Neste estudo da simbologia na ‘arte’ rupestre do Brasil não poderíamos nos furtar de retornar à inigualável Pedra do Ingá, na Paraíba. Todo o seu conteúdo é misterioso demais e os símbolos que ela traz incrustado em seu dorso são um desafio para as mentes intelectualizadas de seus observadores, uma vez que não nos alcança compreendê-los pelas explicações que deles fazemos e nem à sua provável mensagem, ricamente gravada na pedra. Em verdade, eles carregam em sua potente realidade uma carga de expressivos caracteres demasiado complexos que nos obrigam, mesmo que não o queiramos, a dobrar-nos diante deles e admitir que não se pode, em sã consciência, explicá-los por meio de ideias convencionalmente definidas.

 

Por este motivo anexamos a este trabalho dois de seus símbolos que se acham gravados em grande destaque, em tamanho considerável, os quais, além da indiscutível estranheza das figuras expostas, demonstram uma reverente excepcionalidade no trabalho executado, com detalhes mínimos em sua elaboração. Não se pode negar que se trata de uma ‘arte’ excêntrica, aliás, excêntrica demais pelo seu especial conjunto de elementos não conhecidos, gravados primorosamente e carregados de uma beleza sem igual, sem falar das demais outras figuras que compõem todo o seu complexo megalítico, às dezenas.

 

Detalhe das figuras exuberantes da Pedra do Ingá e sua ‘arte’ inexplicável.

 

Destacamos, pois, alguns detalhes desta simbologia misteriosa e magnificamente executada, mostrando o seu ‘talhe’ preciso e retilíneo e perguntamos:

 

Se estas maravilhas foram mesmo feitas por meio da metodologia do picoteamento com polimento posterior, como explicar os detalhes mínimos de ausência de arestas e quebras involuntárias nos seus contornos, mesmo diante das situações de excessiva proximidade entre os limites de uma figura em relação à outra?

 

Se atribuirmos a sua feitura a indígenas que viveram na região ou a homens primitivos, como podemos compreender e explicar a execução de uma proeza como esta, de excepcional beleza, qualidade e mistério?

 

Diante de sua incontestável qualidade técnica e estética, não nos ocorre que elas poderiam ter sido moldadas na própria pedra? Se olharmos com cuidado os detalhes de seus contornos não nos parece que estas figuras teriam sido feitas por meio de moldes, por um processo desconhecido de nós e que nos escapa no momento presente, e não pelo método de picoteamento, com a utilização de instrumentos pouco adequados?

 

Se quisermos insistir que este trabalho teria mesmo sido feito por meio de picoteamento e polimento até a sua perfeição por povos antigos da região, não seria querer atribuir demasiada persistência, inteligência e habilidade a esses seus pretensos executores, sem conceder-lhes capacidades adicionais e especiais de trabalho, num tempo desconhecido e difícil de ser estimado no Brasil?

 

A cidade de Cordisburgo é muito conhecida por ser a terra natal do escritor e diplomata João Guimarães Rosa, que se destacou como ficcionista na linha do regionalismo brasileiro. Porém, nossa atenção se volta neste trabalho, para sua importância no cenário arqueológico, por acolher em seu solo, a 6 km. da cidade, a famosa gruta ou Lapa Nova do Maquiné, como a denominou o pesquisador dinamarquês Peter Wilheln Lund, naturalista, paleontólogo, botânico e zoólogo, que inaugurou a paleontologia brasileira naquela região em 1834.

 

O tipo estranho e único que teria sobrevivido ao tempo - Gruta do Maquiné – MG.

 

Ela é constituída de sete salões de tamanho e beleza excepcionais e que hoje são abertos para visitação pública. Logo no primeiro salão, na entrada da gruta, foram encontradas algumas inscrições rupestres e desenhos primitivos, elaborados por homens que certamente ali teriam vivido, mas hoje, eles se acham praticamente destruídos salvando-se somente alguns poucos destes registros milenares.

 

Havia pinturas de animais em pigmentos avermelhados no teto da gruta, mas estas, infelizmente, já não podem mais ser vistas com facilidade. Entretanto, um tipo estranho de ‘animal’ e apenas um, aparece ali e ainda pode ser visto com nitidez, e por este motivo anexei-o ao presente artigo, pois ele se enquadra no contexto daquilo que estamos abordando nesta simbologia desconhecida do Brasil. Trata-se de uma figura enigmática e incomum gravada no teto da gruta e é estranho que ela tenha sobrevivido às demais, isolada e com seu talhe fino e preciso naquele inóspito lugar. Mas, ela está lá e foi anexada para registro e questionamento de sua inusitada presença e características notadamente pouco comuns.

 

No encerramento desta série de artigos sobre a simbologia desconhecida do Brasil, diríamos que o que foi apresentado trata-se de apenas parte do que pode ser visto em toda a grande extensão do território brasileiro, às quais procuramos dar destaque e mostrar as suas incongruências em relação à chamada ‘arte’ rupestre do homem primitivo e que teria vivido por aqui.

 

Vimos que é verdadeiramente notável que certas manifestações líticas sejam dignas de destaque quando as observamos com um olhar mais minucioso e as comparamos com as demais outras, de caráter mais simples, as quais dão-nos demonstração de tratarem-se de trabalhos mais rudimentares e produzidos por pessoas de menor capacidade inteligente e impedida de pensar com um raciocínio mais lógico e de executar, de forma mais aprimorada, o seu ideal.

 

Por razões como estas é que nos propusemos chamar a atenção para estes variados e riquíssimos destaques que podem ser vistos na ‘arte’ rupestre do Brasil que, com seus símbolos enigmáticos, exprimem silenciosamente o seu mistério, apesar de que, muitas vezes, fazendo par com esta outra ‘arte’ primitiva (como dissemos acima) e que é convencionalmente aceita como sendo produto de antigos povos que viveram no passado mais remoto de nosso país.

 

* J. A. Fonseca é economista, aposentado, espiritualista, conferencista, pesquisador e escritor, e tem-se aprofundado no estudo da arqueologia brasileira e realizado incursões em diversas regiões do Brasil. É articulista do jornal eletrônico Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br) e membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA. E-mail jafonseca1@hotmail.com

  

- Ilustrações e fotografias: : J. A. Fonseca.

 

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