Brasil Antigo

 

Simbologia Desconhecida:

Na ‘Arte’ Rupestre do Brasil – Parte I

A chamada “arte rupestre” que encanta curiosos e pesquisadores, não é algo fácil de interpretação, porque ela é excepcionalmente complexa em significativa quantidade de suas manifestações.

 

Por J. A. FONSECA*

De Itaúna/MG

Fevereiro/2020

jafonseca1@hotmail.com

   

 

Figura desconhecida insculpida em Poxoréo – MT.

 

A chamada “arte rupestre” que encanta curiosos e pesquisadores, não é algo fácil de interpretação, porque ela é excepcionalmente complexa em significativa quantidade de suas manifestações. Mesmo que queiramos reunir as suas mais variadas representações em todo o território nacional, para não falar de outras em diversas partes do nosso planeta, e tentar atribuir-lhes um entendimento mais lógico e compreensível, não o conseguimos fazer. Em cada região elas possuem muitas características próprias e alguma simbologia comum em outros locais, mas que em muitos casos, são constituídas de conteúdos bem diferenciados.

 

Estas características criam inúmeras dificuldades para a análise dos pesquisadores, apesar de que existe também uma predisposição para atribuir a sua feitura a um povo único, o homem primitivo que teria morado em cavernas e vivido na região. Este fator torna tal empreendimento praticamente impossível de ser consolidado nos estudos que são efetuados, porque uma simbologia desconhecida se mostra presente em muitos lugares e isto dificulta uma análise que venha enfocar somente a questão de um autor primitivo que, obviamente, não poderia ter produzido esta ‘obra de arte’ mais seleta destacada das demais.

 

Há também uma forte tendência de atribuir os achados ósseos, resquícios de alimentos e objetos de pedra, encontrados nas escavações, a estes grupos de artistas pintores primitivos, deixando de lado, muitas vezes, a qualidade do trabalho executado que varia de rabiscos mais simples e passiveis desta suposição, e os mais complexos (também em quantidade expressiva), os quais criam um elevado grau de questionamento em relação à capacidade destes mesmos homens primitivos das cavernas tê-los produzido.

 

Estes últimos possuem diferenças importantes em relação aos seus conteúdos e à sua elaboração, indicando a existência de autores bem diferenciados entre si, em termos de capacidade intelectual e habilidades para tal feito.

 

Neste propósito, estamos expondo alguns registros do Brasil, como estes de Poxoréo, no Mato Grosso, um primeiro que abre este trabalho, mostrando uma figura desconhecida insculpida na pedra, que apresenta traços firmes e bem determinados, com se tivessem sido traçados de uma só vez e outro caso, que julgamos poder incluir aqui e que mostra pés humanos moldados na rocha (ver abaixo) a uma altura de cerca de um metro do chão. Apesar de este não ser um conjunto de figuras enigmáticas é, no mínimo estranha a maneira como as marcas de pés foram gravadas na pedra. Se tiverem sido feitas por meio de picoteamento e polimento posterior, teremos de admitir que trata-se de uma obra de arte excepcional. Se optarmos para a ideia de que as marcas teriam sido moldadas no paredão (como parecem ter sido feitas), este teria de estar mole, o que é praticamente impossível, pois trata-se de um monumento pétreo de grandes proporções e paredes retilíneas e elevadas.

 

Pés ‘moldados’ numa parede de pedra em Poxoréo – MT.

Note-se o pé de criança com quatro dedos, à esquerda.

 

Há discussão em relação à existência de outros povos no passado do Brasil e temos pronunciamentos controversos e ainda não bem definidos sobre o assunto. Pedro Ignácio Schmitz, jesuíta e arqueólogo de grande importância no cenário brasileiro, ex-professor do Instituto Anchietano de Pesquisas – UNISINOS, disse que “o primeiro povoamento do território brasileiro, depois de anos de pesquisa e divulgação, continua assunto não esgotado.” Afirmou ainda que apesar de haver consenso sobre o povoamento do Brasil em cerca de 9000 anos a. C., permanece em discussão a questão dos tipos desta população. Disse o professor que “se a primeira migração vinda da Ásia tinha feições negroides, como a Luzia de Lagoa Santa, como explicar que os indígenas dos milênios posteriores e os atuais têm feições mongoloides, sem resquícios daquela que seria a primeira leva?”.

 

Sabemos todos que a fascinante e variada “arte rupestre”, desde as mais simples até as mais sofisticadas, tratam-se de coisas complexas e seu estudo não pode ser considerado como algo fácil de se empreender. Dizer-se que tratam-se de trabalhos executados pelo homem primitivo simplesmente, por causa das dificuldades de se identificar seus prováveis executores, não resolve o problema.  

 

Há muitos tipos de mistérios arqueológicos, mas os que se acham relacionados à questão das pinturas rupestres e dos variados trabalhos líticos mais sofisticados, vêm causando muitos embaraços para o observador e o pesquisador que, em geral, não conseguem ajustar esta questão com a possibilidade de elas terem sido produzidas pelos homens das cavernas ou outros grupos primitivos que habitaram as redondezas. 

 

Como estamos avaliando estas extravagâncias líticas, queremos mostrar também algumas figuras de tipo incomum que foram encontradas no estado do Pará e que, a nosso ver, não poderiam estar relacionadas a culturas mais simples. Os desenhos abaixo foram feitos pelo autor tendo como referência as fotografias publicadas no livro da arqueóloga Edithe Pereira, ‘Arte Rupestre na Amazônia – Pará’. As figuras foram gravadas em baixo relevo e também com elevado grau de precisão e de acabamento. O que estas estranhas figuras pretenderiam representar?

 

 

Esta outra figura (ver abaixo) encontra-se insculpida na Ilha dos Martírios, no baixo Araguaia, estado de Tocantins e foi reproduzida pelo autor, tendo como referência uma fotografia, também publicada no livro de Edithe Pereira, citado anteriormente. Trata-se de uma figura circular com características não muito comuns e, certamente, que ao vê-la, os ufólogos venham equipará-la a um Objeto Voador não Identificado, OVNI ou UFO que teria sido visto pelo seu autor.

 

 

Existem muitas figuras que estão relacionadas à natureza e aos animais, e que se mostram com evidente relevância em muitos lugares. Porém, havemos de considerar (e esta é a razão deste artigo) que muitas representações de ’arte’ não estão relacionadas a nada do que é conhecido e possuem conteúdos estranhos demais, alguns deles misturando elementos que nos parecem familiares com outros que não podemos identificar. Teríamos de dizer que este conteúdo de figuras enigmáticas, ao contrário do que poderíamos imaginar, não são raras e podem ser encontradas em praticamente todas as regiões de nosso país, estando, portanto, mais concentradas nas regiões centrais e norte do Brasil. 

 

Alguns argumentos são levantados a respeito de contendas sobre estas pinturas e inscrições, que tentam associá-las a um tipo de vida selvagem, suas necessidades e medos diante dos fenômenos da natureza e de sua própria subsistência.

 

Sabemos que muitos destes argumentos podem ser admitidos no que concerne às representações de ‘arte’ mais convencionais e elaboradas de forma mais simplória. Porém, não poderíamos estender este entendimento a determinados casos (encontrados também em grande quantidade) que exigem uma atenção mais cuidadosa, por causa de seu complexo contexto, simbologia e mesmo em relação à condição de sua própria feitura e cuidados na sua execução. 

 

O excepcional painel lítico do Ingá, na Paraíba, é um exemplo praticamente único de um registro rupestre de conotações inexplicáveis, por causa da sua extensão e das figuras insculpidas com exímia precisão, beleza, e cuidados especiais. Por mais que os estudiosos queiram dar interpretações aos seus signos eles sobrepõem a todos e às suas ideias com a sofisticação de seu conteúdo e de sua simbologia milenar, mantendo seu enigma. Na visão que contempla parte de seu painel lítico (ver abaixo e no destaque) de um de seus misteriosos conjuntos, podemos perceber quão difícil seria enquadrá-la no estudo regular que trata das inscrições rupestres encontradas em outras regiões do Brasil.

 

 

Parte do painel de insculturas da Pedra do Ingá e abaixo, detalhe de um dos conjuntos de suas enigmáticas figuras, gravado de forma precisa e inexplicável.

 

Poderia-se até mesmo dizer que a chamada ‘arte rupestre’ seria uma representação do mundo real ou transcendente de um povo, que foi percebido pela mente de seu autor, gravando elementos tangíveis daquilo que ele estava acostumado a ver e a tocar, e daquilo que ele temia ou acreditava existir no tocante aos aspectos fenomênicos da natureza. Os registros relacionados a estes últimos motivos, geralmente poderiam ter sido feitos na forma de símbolos ou mesmo por meio de figuras desconcertantes e intraduzíveis, para não citar as muitas outras, de caráter bem mais complexo e que poderiam estar relacionadas a ‘coisas’ que poderiam fazer parte de uma espécie de cultura desaparecida ou de sua religiosidade.

 

Os estudiosos propõem algumas hipóteses para justificar a ‘arte’ desses povos mais antigos e sugerem que ela pode ter sido somente arte, ou que poderia ser uma expressão de elementos de magia, ou mesmo uma forma de comunicação. Porém, existem ‘trabalhos’ rupestres que não podem ser equiparados uns com os outros, devido o seu alto grau de estranheza.

 

Se quiséssemos comparar, por exemplo, as inúmeras manifestações rupestres de Sete Cidades e de São Raimundo Nonato, ambas no Piauí, que, notadamente, em sua maioria, reportam-nos a inscrições de cunho mais corriqueiro, apesar de feitas em grande quantidade, com as enigmáticas figuras insculpidas na Pedra do Ingá, na Paraíba, diríamos que esta não seria uma ideia que poderíamos chamar de razoável. Ambas tratam-se de trabalhos rupestres milenares que, certamente, teriam sido produzidos por homens de um tempo remoto, porém, as características e o mistério que envolvem o monólito do Ingá coloca-o em uma posição de destaque por causa do trabalho que ali foi desenvolvido, além de que, suas figuras enigmáticas permanecem desafiando os estudiosos há muitas décadas, mesmo que algumas tentativas de explicá-las e aos seus prováveis autores tenham surgido.

 

Quando queremos equiparar as inscrições mais complexas do Brasil com as mais simples, e as atribuímos todas ao homem primitivo, acreditamos que estaremos levantando um notável obstáculo à explicação do elemento estudado e isto, acaba impedindo-nos de identificar seus verdadeiros autores e seu grau evolutivo, considerando-se que a percepção destas ’artes’ com a utilização de uma régua simples de avaliação para todas elas, mesmo estando elas localizadas em um contexto territorial de grandes proporções, não poderia explicá-las convenientemente.

 

Nas insculturas que abaixo apresentamos encontradas na região chamada de Paredão e Coronel Ponce, no Mato Grosso, vemos símbolos não muito comuns gravados pela mesma técnica de incisão profunda na pedra e, ao contrário de apresentarem figuras representativas de elementos conhecidos, elas se mostram mais identificadas com tipos de caracteres de uma escrita.

 

Seria um exagero sustentar uma ideia como esta, sabendo-se que estas incisões não poderiam estar ligadas aos povos que foram encontrados em passado mais recente nestas terras brasilienses? Diríamos que não, porque existem inúmeras outras em regiões diferentes de nosso país e muitas delas guardam estilos que não poderiam estar relacionadas ao ‘nosso povo’ e são carregadas de simbolismo e características muito complexas para estes grupos, que aqui ainda vivem nos tempos atuais.

  

Figuras não muito comuns gravadas com cortes precisos na pedra. À esquerda em Paredão-MT e à direita em Cel. Ponce-MT.

 

É importante atentar que o escritor Robert Charroux e outros autores, chamaram a atenção para as admiráveis pinturas das grutas de Lascaux, na França e apesar de os arqueólogos terem afirmado que elas teriam cerca de 12000 anos, tratam-se de verdadeiros murais no interior de uma caverna escura, que teriam sido elaborados com grande precisão e com muita arte. A beleza estética destes desenhos impressiona e isto levou o autor citado a alertar para o fato de que os autores destas maravilhas que foram “capazes de desenhar e pintar com tanta arte não eram primitivos nem estúpidos.” Os afrescos prodigiosos de Lascaux saltam aos olhos de quaisquer pessoas que deles tomem conhecimento, além de que, colocam-se numa situação que constrange os estudiosos que se sentem impotentes para explicar convenientemente a sua origem sem escorar-se em hipóteses que não os podem fazer compreender. 

 

Os murais de Lascaux são constituídos de animais gigantescos e não de símbolos, mas foram citados neste trabalho por causa de seu inigualável componente artístico e pela dificuldade que temos para compreendê-los pela via do autor primitivo de tempos remotos, sem que o mesmo pudesse estar dotado de possibilidades mínimas para executar tal empreendimento.

 

A questão do picoteamento que é citado em muitos registros rupestres do Brasil, como em Montalvânia, por exemplo, remete-nos à formação de sulcos por meio de quebra produzida por um instrumento contundente, que ocasionaria fissuras e descontinuidade do traço pretendido pelo autor. Estas insculturas deixam ver claramente que se tratam de picoteamento, por causa da sua irregularidade nos traços. Porém, em muitos outros casos em que sugere-se que este tipo de trabalho poderia ter sido aplicado, como em casos como estes que apresentamos, argumentando-se que foram feitos polimentos posteriores, por causa de seus traços bem delineados, tal possibilidade torna-se humanamente impraticável, a nosso ver.

 

Consideramos que esta posição não poderia ser atribuída a todos os casos de inscrições deste tipo, uma vez que em muitas destas, quase sempre, não existem marcas ou sinais deste picoteamento anterior. Tem-se a impressão de que algumas delas foram moldadas na pedra e outras se mostram como se tivessem sido riscadas de forma retilínea, num traço único, por um instrumento de corte preciso e feitos num único movimento, como mostramos anteriormente.

 

Se quisermos aceitar esta posição, em alguns casos em que se afirma que houve picoteamento com polimento posterior, o resultado torna-se surpreendente. O autor ou autores não deixaram nenhuma aresta, por menor que seja, nas figuras insculpidas. Algumas linhas foram traçadas de forma retilínea e sem arestas. Muito trabalho e tempo, certamente, mas para alcançar um resultado, pode-se dizer, milagroso.

 

Continuaremos o nosso trabalho abordando outros detalhes que envolvem características não muito comuns nas inscrições rupestres do Brasil, como as que vimos anteriormente, além de apresentarmos algumas figuras inusitadas que se acham gravadas junto de outras de cunho mais compreensível, como animais, aves ou símbolos místicos, mas que não nos permitem identificar com segurança o seu significado real. 

 

* J.A. Fonseca é economista, aposentado, espiritualista, conferencista, pesquisador e escritor, e tem-se aprofundado no estudo da arqueologia brasileira e realizado incursões em diversas regiões do Brasil com o intuito de melhor compreender seus mistérios milenares. É articulista do jornal eletrônico Via Fanzine e membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA. E-mail: jafonseca1@hotmail.com.

 

- Fotografias e ilustrações: J. A. Fonseca.

 

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