Novas reflexões

Mistérios Arqueológicos - Parte 2

Vestígios de uma escrita cosmogônica no Brasil

Muitas das figuras que se acham isoladas nos painéis e que são repetitivas, comportam-se como se fossem componentes de uma escrita antiga e simbólica, pois mostram algum tipo de coerência e um comportamento lógico na sua composição, apesar de que incompreensível para nós neste momento.

 

Por J. A. FONSECA*

De Itaúna/MG

jan/fev/mar - 2025

jafonseca1@hotmail.com

 

Parte da enigmática ‘escrita’ do Lajedo JK.

Clique aqui para ler a parte 1 desse artigo

 

Na segunda parte deste artigo iremos abordar especialmente as enigmáticas insculturas do Pantanal do Mato Grosso do Sul, onde veremos a sua semelhança gritante com as do Lajedo JK anteriormente demonstradas. Acrescentaremos também a presença desta perturbadora simbologia cosmogônica em diversas outras localidades do Brasil que, mesmo que sejam encontradas de forma mais esparsa e com menor agrupamento de símbolos, mostram a sua grande relevância para esses antigos povos desconhecidos do Brasil. 

 

Os estudos que foram feitos nos grafismos do Pantanal e comentados pela arqueóloga Maribel Girelli reuniram a diversidade de figuras que fazem parte dos sítios pesquisados, fazendo-se a separação dos grafismos encontrados em cada um deles e efetuando-se cópias dos painéis onde as figuras foram gravadas. Viu-se assim que haviam diversos tipos de figuras insculpidas, sendo que muitas delas se repetiam e outras estavam ligadas entre si por linhas particulares e profundas, indicando uma espécie de ligação entre elas.

 

Foram elaborados, além dos mapas dos sítios e de seus grafismos completos, diversos quadros tipológicos que mostram todos os tipos de figuras encontradas e as diversas variações que eles apresentam, deixando ver uma rica simbologia inscrita em pedra e a existência de um passado desconhecido do Brasil e de um povo desconhecido, que não se sabe ao certo qual teria sido e em que momento este poderia ter vivido por estas regiões.

 

Muitas das figuras que se acham isoladas nos painéis e que são repetitivas, comportam-se como se fossem componentes de uma escrita antiga e simbólica, pois mostram algum tipo de coerência e um comportamento lógico na sua composição, apesar de que incompreensível para nós neste momento.

 

Dos quadros ilustrativos que foram apresentados nos estudos arqueológicos feitos por esta arqueóloga extraímos alguns símbolos que podem ser vistos em outras regiões e que já haviam sido alvo de menção nossa em diversos outros artigos publicados neste site, onde havíamos mostrado o seu caráter universal e simbólico e até mesmo ligado a um passado desconhecido de nossa humanidade.

 

Viu-se, portanto, que é notória a presença de grande quantidade de figuras com formatos circulares e diferentes características em sua contextura, mostrando representarem significados diferentes nos conjuntos dos quais elas tomam parte. E, curiosamente, percebe-se que a grande maioria dos grafismos é composta por círculos e depressões circulares, que mantêm as seguintes variações: figuras circulares simples, com dois círculos concêntricos ou três, alguns ligados por sulcos profundos e outros não, conjuntos circulares compostos de quatro círculos ou mais, ligados por sulcos e, também, círculos acrescidos por raios em projeção, determinando tratarem-se de figuras estelares ou sois, além de muitas outras representações.

 

Pode-se ver também uma grande quantidade de figuras diversas como cruzes, linhas curvas e retas, muitas delas assemelhando-se a letras.de uma espécie de alfabeto primitivo.

 

As pesquisas que foram feitas identificaram que de um total de 2467 figuras registradas nos quatro sítios pesquisados nesta região do Pantanal, 72% delas são constituídas de figuras circulares com identificações diversas e depressões circulares. Muitas outras figuras foram identificadas como retângulos, elipses, pisadas, sulcos sinuosos, espirais e uma quantidade pequena de figuras mais complexas.

 

É comum observar-se que há uma certa uniformidade e frequência nas figuras dos sítios que foram pesquisados, apesar de que em alguns deles a execução das figuras inscritas são mais bem elaboradas do que em outros, mantendo sulcos mais profundos e uma composição de elementos mais complexos.  

 

Quanto aos símbolos circulares que foram encontrados com maior frequência nestes quatro sítios estudados fizemos destaque de alguns deles e que são encontrados com maior frequência. Curiosamente, estas figuras fazem parte do intrincado simbolismo transcendental do oriente e que já foram estudados em outros artigos neste site por este autor. É, pois, nosso pensamento que estas representações gravadas em pedra por povos ainda desconhecidos do Brasil, não poderiam ter sido idealizados e executados de forma casual e sem planejamento prévio, além de que vamos encontrar muitas destas figuras ligadas entre si por sulcos profundos, indicando a sua provável interligação.

 

Parte das insculturas que foram pesquisadas no sítio da Fazenda Moutinho.

 

Os sítios pesquisador no Pantanal foram os seguintes: o primeiro, localizado na Fazenda Moutinho a cerca de 24 km de Corumbá que já teria sido visitado desde o ano de 1959 pelo padre dr Afonso de Moraes Passos e também registrado em 1971 por Lehel Silimon. Neste lajedo é que foram encontradas as inscrições mais bem elaboradas, apesar de que muitas delas se acham bem deterioradas por causa do trânsito de gado no local. Possui cerca de 1700 m2 de inscrições gravadas em baixo relevo, sendo que algumas delas foram traçadas com sulcos bem profundos e um melhor acabamento. É também o sítio com maior quantidade de figuras insculpidas.

 

Os painéis que aqui foram pesquisados foram divididos em três grupos e mostram no primeiro painel 790 figuras, das quais, 69% tratam-se de inscrições circulares, perfazendo estes 547 baixos relevos. No segundo painel existem 196 figuras onde as que se tratam de círculos e depressões circulares somam 55% delas, ou seja, 107 figuras. No terceiro painel cerca de 60% das figuras também possuem formas circulares.

 

Parte das insculturas que foram pesquisadas no sítio da Fazenda Salesianos.

 

O segundo sítio, na Fazenda Salesianos possui também gravações em baixo relevo muito complexas constituídas de sulcos sinuosos e figuras diversas, geométricas e outras, apesar de que é constituído de conjuntos de inscrições mais simples. Foram classificados dois painéis para fins de estudo: o primeiro painel possui 96 figuras e cerca de 42% delas são de formas e depressões circulares e o segundo é constituído de 129 figuras diversas, entre as quais 89% são também circulares.

 

Parte das estranhas insculturas do sítio da Fazenda Figueirinha.

 

O terceiro sítio localizado na Fazenda Figueirinha possui petroglifos semelhantes aos dos sítios anteriores, correspondendo a cerca de 820 m2 de gravações onde se podem ver painéis complexos com figuras diversas interligadas por sulcos profundos.  Foram encontrados neste sítio algumas figuras de maiores dimensões interligadas a outras e algumas destas não foram achadas nos demais sítios, apesar de estarem estes bem próximos uns do outro. O primeiro painel classificado e estudado possui 592 figuras, sendo que 68% delas possuem variações circulares. O segundo painel tem 117 figuras insculpidas e 58% são circulares e o terceiro tem 231 figuras e 91% delas são compostas de figuras também circulares. 

 

Existem também outros painéis menores onde as figuras circulares predominam.

 

Os outros muitos locais que mostram a presença desta misteriosa linguagem simbólica e que já foram, de alguma forma pesquisados, comprovam que estes símbolos místicos faziam parte do conhecimento dos povos antigos que viveram em terras brasileiras, de norte a sul do país. Pode-se ver que estes se acham sempre presentes em formatos diversos em muitos lugares, como uma lembrança sagrada do desconhecido ou por causa do profundo mistério que esses signos representavam para essa gente e que, em geral, envolvem os fenômenos produzidos pela natureza e pela própria vida presente em todos os reinos.

 

Seria, pois, importante que neste momento fizéssemos alguns destaques desta rica simbologia mística do Brasil, sabendo-se que elas representam grande expressividade na cultura antiga de nosso país, iniciando-se pela região norte e caminhássemos até o sul, mostrando em todos os lugares a inexplicável presença desta simbologia enigmática que esses povos antigos que aqui viveram tiveram a preocupação de deixar perenemente registrado nas pedras em toda a parte. 

 

Região Norte

 

 

Cerâmica Marajó (PA) – figuras complexas gravadas em cerâmica encontrada na ilha de Marajó e produzida pela enigmática cultura dos povos marajoaras que viveram na região.

 

Serra do Ererê – Monte Alegre (PA) – conjunto de figuras geométricas e outras de difícil compreensão pintadas na Serra do Sol e também na Serra da Lua neste sítio arqueológico com grande variedade de pinturas.

 

Pedra Escrita (TO) – pedra localizada às margens do rio Araguaia em São Geraldo do Araguaia com inscrições gravadas em baixo relevo com uma profundidade de 3 cm.

 

Pedra do Cruzeiro (TO) – parte de uma inscrição na chamada Pedra do Cruzeiro localizada na cidade do Peixe, em região hoje inundada pela Usina Hidrelétrica Peixe Angical.

  

Região Nordeste

 

 

Pedra do Ingá (PB) – parte central deste antigo monumento, mostrando a sua enigmática ‘escrita’ que continua indecifrável e cercada de inúmeras especulações. 

 

Petrolândia (PE) – inscrições de caráter simbólico e desconhecido que encontra-se hoje sob as águas da represa de Itaparica no Rio São Francisco. 

 

Pedra de Picuí (PB) – a pedra de Picuí ou Retumba, apesar de desaparecida, ficou famosa por causa de suas inscrições semelhantes a uma escrita desconhecida no Brasil.

 

Carnaúba dos Dantas (RN) – inscrições rupestres copiadas pelo autodidata José de Azevedo Dantas em suas pesquisas no interior do Rio Grande do Norte na década de 1920/30.

 

Região Centro Oeste

 

 

Paranaíta (MT) – a Pedra Preta do norte do Mato Grosso é um mistério não decifrado do Brasil, porque se trata de uma grande estrutura pétrea gravada com figuras diversas em baixo relevo, mostrando animais, pontos, linhas tracejadas, círculos e figuras simbólicas interligadas entre si.

 

Itapirapuã (GO) – agrupamento de figuras geométricas altamente estilizadas gravadas por meio de sulcos na pedra com cerca de 0,2 a 1,5 cm de profundidade.

 

Lajedo JK (GO) – conjunto de figuras geométricas de elevado grau de complexidade gravadas em baixo relevo em um grande painel de insculturas.  

 

Caiapônia (GO) – figuras pintadas em vermelho de formas geométricas que se assemelham às figuras circulares encontradas em muitas outras regiões no Brasil.

 

Barra do Garças (MT) – pedra encontrada às margens do rio Araguaia contendo inúmeras figuras circulares insculpidas retratando os variados símbolos que estamos tratando neste artigo.

 

Mara Rosa (GO) – pedra misteriosa descoberta em uma fazenda próxima da cidade contendo um conjunto de figuras desconhecidas insculpidas na pedra composta de símbolos de elevado teor simbólico e de difícil compreensão.

 

Pedra Riscada (GO) – conjunto de figuras circulares gravadas em baixo relevo encontradas em uma pedra localizada às margens do rio Tocantins e de caráter também desconhecido.

 

Região Sudeste

 

 

Carmópolis de Minas (MG) – misteriosa pedra encontrada em um pasto próximo a um barranco, contendo inscrições desconhecidas e também semelhantes a uma escrita primitiva.

 

Montalvânia (MG) – inscrições em baixo relevo gravadas na pedra em uma gruta com inúmeras outras figuras insculpidas como parte de um enigmático livro simbólico e de origem desconhecida.

 

Itapeva (SP) – enigmáticas inscrições encontradas em um paredão de pedra no interior de São Paulo e hoje parcialmente destruído.

 

Região Sul

 

 

Ilha do Coral (SC) – conjunto de figuras circulares em uma complexa representação e também de difícil compreensão.

 

Ilha do Coral (SC) – inscrições que restaram do letreiro do sul, segundo pesquisadores, mostrando parte do enigmático complexo de inscrições no litoral de Santa Catarina.

 

Ilha do Arvoredo (SC) – inscrições igualmente complexas gravadas em um rochedo nesta região litorânea de Santa Catarina.

 

Todas as figuras que se acham incluídas neste artigo foram extraídas de estudos feitos pelo autor junto de diversos autores e estudiosos de arqueologia, inclusive de pesquisas feitas por ele próprio em diversas regiões do Brasil, conforme constam do seu site. Elas têm o objetivo de demonstrar que existe algo a ser explicado em relação ao passado destas regiões que fazem parte de nosso país e que a sua pungente e misteriosa presença na chamada ‘arte’ rupestre do Brasil tratam-se de uma realidade incontestável e de difícil compreensão.

 

Claras evidências mostram que as insculturas do Pantanal (MS) e as do Lajedo JK em Goiás, podem ser chamadas de irmãs, pois que elas identificam semelhanças marcantes e um mesmo conteúdo simbólico, fortalecendo assim o mistério que as envolve e que mostram que algo de grande relevância teria acontecido em passado remoto de nosso país, mesmo que não quiséssemos considerar os demais outros simbolismos semelhantes que podem ser vistos registrados em todas as demais regiões do Brasil.

 

Nos casos dos lajedos do Pantanal e JK arriscaríamos dizer que seu significado velado mostra sinais de uma escrita muito antiga não unicamente por se assemelharem fortemente entre si, mas por estarem carregadas de símbolos diversos de caráter universal como já demonstramos neste e em outros artigos. A presente exposição de imagens e o próprio artigo mostram que existe algo não muito comum gravado em forma de petrogravuras em terras brasileiras e tem a pretensão de conduzir-nos a pensar sobre elas de forma a rebuscar ideias e elementos novos que possam ajudar-nos a esclarecer os verdadeiros significados destas notáveis manifestações de ‘arte’ que esses povos antigos de nossa terra pretenderam, em verdade, representar.   

 

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* J. A. Fonseca é economista, aposentado, espiritualista, conferencista, pesquisador e escritor, e tem-se aprofundado no estudo da arqueologia brasileira e realizado incursões em diversas regiões do Brasil. É articulista do jornal eletrônico Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br) e membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA. E-mail jafonseca1@hotmail.com.

 

- Fotografias e ilustrações: J. A. Fonseca.

 

- Itaúna (MG), jan/fev/mar/25.

 

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