Teogonia

 

Brasil Antigo:

Teogonia Rupestre do Brasil – Parte 1

Nesta primeira parte deste trabalho estamos abordando o tema sobre esta realidade rupestre no Brasil e mostrando a sua manifestação incisiva em todas as regiões de nosso país. Neste propósito, queremos chamar a atenção sobre a real importância que envolve a presença destes signos rupestres em nosso passado.

 

Por J. A. FONSECA*

De Itaúna/MG

dezembro - 2021

jafonseca1@hotmail.com

 

Signo teogônico no Lajedo JK - Goiás.

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Seria lícito afirmar que existe uma “arte” rupestre simbólica e teogônica no Brasil e que permanece inexplicável a sua presença marcante nestas milenares terras brasilienses? Diríamos que sim e queremos demonstrar neste trabalho a sua real incidência em todo o território brasileiro e a sua relação com outros povos do planeta e sua real significância na tradição destas raças mais antigas.

 

Nesta primeira parte deste trabalho estamos abordando o tema sobre esta realidade rupestre no Brasil e mostrando a sua manifestação incisiva em todas as regiões de nosso país. Neste propósito, queremos chamar a atenção sobre a real importância que envolve a presença destes signos rupestres em nosso passado, pois que estes acham-se diretamente ligados a uma doutrina mística que tratado surgimento dos deuses e da formação dos mundos no começo de tudo na tradição de muitos povos. Queremos mostrar também que esta rica simbologia não é rara no Brasil e é encontrada com especial destaque em muitas das mais antigas culturas de nosso planeta sendo, portanto, dotadas de grande significação para os povos dessas tradições milenares e desaparecidas.

 

Por este motivo, a ideia de que estes registros encontrados com grande incidência também nestas terras sul-americanas venham ter relação com aquelas outras foi adotada por este autor e teve a sua suspeita fortalecida através de suas andanças por diversas regiões e também por estudos efetuados sobre o assunto. Há também a hipótese que propõe a existência de uma linguagem primitiva no Brasil (tema já enfocado por outros pesquisadores e estudiosos, especialmente na primeira metade do século XX) e que é também acolhida por este autor, vindo fortalecer a questão dos signos teogônicos gravados em pedra por considerar que a sua complexidade, em muitos casos, tem relação estreita com estes dois estudos e quanto aos povos que os teriam produzido. 

 

Assuntos como estes já foram tratados em nossos artigos anteriores, mas é nosso pensamento que é sempre útil retornarmos a temas assim mais complexos e que deixaram marcado com indelével mistério a história antiga de nossa terra,com suas figuras enigmáticas e carregadas com rica simbologia. Veremos que elas desvelam ainda um caráter de cunho universal, pois que se acham representadas em muitas das variadas culturas de nosso pretérito e na sua própria manifestação fonética e como escrita.

 

Exemplos de antigos alfabetos que se utilizaram de signos teogônicos.

 

Não ignoraríamos, pois, em nossos estudos a possibilidade de que muitos destes signos pré-históricos viessem dar origem a uma antiga escrita universal, mãe, por assim dizer, de todos os alfabetos que surgiram entre os povos da Terra, desde que estes se organizaram e passaram a reproduzir os sons da natureza e a concatenar uma forma inteligente de comunicação. Assim, poderíamos também arguir se os primeiros signos alfabéticos teriam se derivado destas próprias figuras enigmáticas que teriam precedido as primeiras tentativas de grafia e as mantido em sua estrutura também milenar até em períodos mais recentes de nossa história. Muitos destes encontravam-se presentes na grafia de muitos alfabetos mais antigos, conforme pode-se ver no quando acima.

 

A antiguidade destas terras sul-americanas já vem sendo afirmada como possibilidade por notáveis estudiosos que as viram como uma das mais antigas e estáveis de nosso planeta, o que dá apoio à nossa pretensão em aceitar a antiguidade desses símbolos que viriam representar uma espécie de teogonia primitiva no Brasil. Neste sentido, encontramos referências valiosas nos estudos feitos pelo respeitado pesquisador dinamarquês, dr. Peter Wilhelm Lund, que desenvolveu estudos em Cordisburgo, Curvelo e Lagoa Santa, tendo ele afirmado que esta região do globo terrestre teria sido a primeira a emergir do pélago (abismo) universal e que o homem americano é tão antigo quanto o europeu. Eis algumas de suas palavras a este respeito em uma carta endereçada ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no ano de 1844:

 

“Vemos, pois, que a América já era habitada em tempos em que os primeiros raios da história não tinham ainda apontado no horizonte do velho mundo, e que os povos que nesta remotíssima época habitavam nela eram da mesma raça que os que no tempo do descobrimento aí habitavam. Estes dois resultados na verdade pouco se harmonizam com as ideias geralmente adotadas sobre a origem dos habitantes desta parte do mundo, pois que, quanto mais se vai afastando a época do seu primeiro povoamento, conservando no mesmo tempo os seus antigos habitantes, os seus caracteres nacionais, tanto mais vai desvanecendo a ideia de uma origem secundária ou derivada.”

 

E ainda:

 

“E, contudo, inegáveis são os fatos, que parecem indigitar vários pontos de contato entre os antiquíssimos habitantes, das duas partes do mundo. Os crânios antigos, que se tem desenterrado em várias partes da Europa mostram em parte a mesma depressão da testa, como a que caracteriza os crânios deste país; as cunhas ou machados de pedra, chamados vulgarmente coriscos, que se acham em abundância em todo o interior do Brasil, oferecem a mais perfeita semelhança, não só na forma, como também no material, de que são lavrados com os que se acham nos países boreais da Europa, a ponto de, sendo postos juntos, não se poder distinguir uns dos outros: conhecidas são as variadas analogias que apresentam dos monumentos antigos do México com as do Indostão e do Egito; mas, dificilmente se havia de adivinhar que também o Brasil oferecia um ponto de contato com este último país nos tempos antigos, e contudo, os restos fósseis, de que me ocupo aqui, fornecem a prova de uma tal coincidência.”

 

O certo é que, apesar de persistir o dogma da imigração de povos do “Velho Mundo” para o “Novo Mundo” continua pendente e carente de uma cronologia específica a questão da origem da pré-história das populações americanas, dando destaque especial à brasileira (onde fazemos nossa pesquisa), pela sua longevidade e diante da profusão de símbolos emblemáticos de caráter universal aqui existentes e dos caracteres alfabéticos que são encontrados em toda a parte.

 

Alguns espécimes de signos teogônicos encontrados na cerâmica Amazonense.

 

Neste propósito, estamos destacando diversas manifestações rupestres que mostram estes símbolos de caráter universal em todas as regiões do Brasil (ver ilustrações), confirmando a sua origem antiquíssima.  Seria, pois, obrigatório citar também o pesquisador brasileiro Domingos Magarinos, Epiága, que firmado nos sábios conceitos de Lund, Bramm, Gerber, Hartt, Morton, Simonin, Weis, Selow, Rath e muitos outros, acentua a tese sobre a constituição geológica do Brasil e da América, dizendo: “o planalto central brasileiro é constituído por uma vastíssima camada de transição – rochas cristalinas, primitivas ou arcaicas – isenta de depósitos ou camadas mais recentes em posição horizontal, prova de que não foi sublevada por forças internas e, portanto, corresponde, na escala geológica, às primeiras seções de crosta terrestre emersas do seio do oceano primitivo.”

Disse ainda que “as tribos encontradas em 1500 nos aldeamentos ou tabas, cujas habitações – ocas – rústicas palhoças, como tem sido apregoado, constituíam um enorme império; eram descendentes de uma grande raça troncal ameríndia, e não provindos de povos ádvenas (estrangeiros), asiáticos ou melanesianos, emigrados dos confins das terras distantes em que se originaram.”

 

Não se pode negar, portanto, que existe um sem número de antigas itacoatiaras (pedras pintadas) em inúmeras regiões de nosso país, cujos caracteres ali grafados remontam a resquícios de um conhecimento muito antigo, de uma crença ou origem não perfeitamente identificada, no lugar de se tratarem apenas de figuras sem nexo, produzidas aleatoriamente. Incluímos aí as misteriosas cerâmicas das culturas Amazônicas, especialmente a Marajó e a Tapajós, com sua complexa simbologia decorativa e das quais já tratamos em outros artigos.

 

No quadro retro apresentado exemplificamos com algumas figuras destacadas da volumosa ‘arte’ desses povos alguns símbolos por eles utilizados também em larga escala, como a cruz, signos de caráter universal e a letra T do Tao (o Princípio, a Unidade) ou de Tupan Tenondé (o Pai Primeiro). Por meio deste quadro ilustrativo pode-se perceber que não se poderia conceber que viessem tratar-se de sinais casuais ou meramente decorativos, mas sim, inspirados em uma tradição milenar e em um simbolismo predefinido e de perfeito conhecimento dessas comunidades.

 

É fato histórico e pode ser observado que muitos dos povos mais antigos destas terras milenares deixaram gravado um rico acervo de símbolos sofisticados que procuraram expressar seus pensamentos ou marcar de forma expressiva a sua ‘arte’ com esta rica simbologia teogônica e que provavelmente estariam também relacionadas às suas crenças. Surpreende-nos, pois quando percebemos que muitos desses signos grafados nas itacoatiaras brasileiras venham teras mesmas configurações de muitos daqueles que já teriam sido consagrados por outras grandes civilizações do passado, ou seja, que teriam sido, historicamente,consolidados como pertencentes a conhecimentos de povos bem mais antigos que já habitaram o nosso planeta.

 

 

Para mostrar com maior ênfase a perspectiva desta tese que analisamos, destacamos também no quadro acima alguns exemplares desta simbologia que chamamos de teogônica em locais onde eles aparecem com grande concentração de elementos. Vemos que estes signos se apresentam numa estrutura combinada e formando conjuntos harmônicos, onde muitos destes elementos se acham agrupados, indicando uma inter-relação e coerência marcante aos seus prováveis significados diante da tradição milenar do conhecimento oculto da raça humana, como veremos adiante. Assim, não ficaríamos comodamente satisfeitos se viéssemos atribuir esta rica demonstração de sofisticada ‘arte’ brasiliense ao mero acaso ou a uma simples atitude criativa de seus autores, ou mesmo que ela venha tratar-se apenas de uma extravagante coincidência com aqueles outros, de caráter universal.

 

Simbologia teogônica no Lajedo JK – Goiás.

 

Não podemos aceitar,portanto,que também a rica simbologia decorativa de alguns povos amazônicos, já citados acima, seria apenas casual ou repetitiva, considerando-se que ela é constituída de uma farta coleção de caracteres, incluindo os de estilo teogônico como círculos, triângulos e cruzes, além de muitos outros signos desconhecidos, os quais não são encontrados de forma tão incisiva em outras regiões do Brasil.

 

Entretanto, é preciso destacar que a cruz, a curussá sagrada dos tupis e guaranis, foi, de forma excepcional, representada em toda a parte,indicando uma forte relação com a personagem mítica que os silvícolas chamavam de Sumé, o qual teria deixado pegadas nas pedras em muitos lugares, conforme acreditavam. A chegada dos jesuítas com sua cruz Cristã não causou nenhuma estranheza entre estes povos do Brasil e os próprios estrangeiros chegantes se surpreenderam com isto e com os relatos sobre o misterioso Sumé. Posteriormente, e por causa disto, os jesuítas passaram a relacionar este personagem com o apostolo Tomé, dizendo que este teria vindo semear os ensinamentos de Jesus também por estas paragens americanas.

 

 

É possível acreditar que esta rica simbologia encontrada em larga escala no Brasil venha mesmo representar uma ideia teogônica e ao mesmo tempo cosmogônica entre esta gente,uma vez que estes termos falam de Mundos Criados e dos Criadores desses Mundos, e tem como testemunho os próprios Payés ou Karahybas indígenas destes rincões da América, que os teriam adotado em seu rico arsenal simbólico, sob a inspiração dos astros da esfera celeste, das energias por estes projetadas e também pelos fenômenos que estes produziam. Assim, o sol, a lua, as estrelas, as constelações, a luz, o calor, o raio, o vento, o trovão, a nuvem, a água, foram todos simbolizados por pontos, linhas, círculos e outros signos, os quais são encontrados em nossa extensa “arte” rupestre pré-histórica e marcados em muitos lugares, nas pedras e nos lajedos, em montanhas, vales e cavernas, às margens dos rios e em rochas, no interior das florestas e serrados de todo o Brasil.

 

Para os povos tupis e guaranis o círculo sempre simbolizou o Infinito, o Eterno, Tupan em sua manifestação nos mundos da criação; o “T” figurava como o símbolo falo mórfico do Eterno Masculino. Era representado pelo Tembetá, o amuleto de nefrita que os guerreiros usavam pendente no lábio inferior. Evocava o símbolo de Guaracy, o Sol, o Fogo-Mãe, o Mantenedor da Vida, podendo ser encontrado também insculpido em muitos rochedos, de norte a sul do país. O círculo representava o Eterno Feminino e era simbolizado pelo Muyrakytan, um pequeno disco de nefrita perfurado no meio, que as mulheres traziam embutido no lábio inferior ou no lóbulo da orelha. Lembra Yacy, a Deusa Lua, que pode ser também relacionada à Deusa Maia dos hindus, a Natureza. Este símbolo encontra-se também grafado em muitos lugares na forma de um círculo menor contornado por um círculo maior, como vimos acima.

 

Acreditamos, portanto, que uma boa parte das itacoatiaras brasileiras têm muito a dizer sobre o passado destes rincões da América e que seus demais signos, efusivamente representados em muitas regiões, ao contrário de se tratarem de “arte” produzida pela ociosidade do homem primitivo guardam um conhecimento secreto, uma linguagem velada, ainda não devidamente interpretada ou compreendida pelos modernos estudiosos.

 

Por isto não podemos aceitar que teria sido por simples capricho, paixão ou inconsequente avaliação que o insigne pesquisador Dr. Lund teria concluído em suas pesquisas que “o planalto central brasileiro foi a região do globo que primeiro emergiu do pélago universal”, confirmando assim que grande parte do Brasil se encontra assentado sobre a mais antiga placa litosférica rígida que sustenta os continentes da Terra, desde a sua mais remota antiguidade. Isto nos leva de volta ao grande pesquisador brasileiro que foi Alfredo Brandão, que desenvolveu em seus estudos sobre os signos lapidares de nosso país a tese de que estes se tratam mesmo de restos de uma escrita antiquíssima e universal, mãe de todos os sistemas de escrita desde os tempos mais antigos da Terra. Segundo ele, a origem desses signos se perde nas sombras de um passado distante, que muito antecede aos grandes cataclismos que destruíram as grandes civilizações do passado e seu mundo mítico e lendário de deuses e heróis.

 

Simbologia inexplicável no Lajedo JK - Goiás.

 

Pode-se considerar também que seja provável que muitos outros povos possam ter chegado às Américas antes de Colombo, como os fenícios, os árabes, os gregos, os egípcios, os chineses, os hebreus, etc., uma vez que podem ser encontrados caracteres semelhantes às suas escritas em diversas regiões destes vastos continentes americanos. Por outro lado, é preciso considerar também que existem entre estes signos desconhecidos uma grande quantidade de componentes inexplicáveis, que acabam remetendo-nos a épocas bem mais antigas,permitindo-nos suspeitar que, há milênios, poderia ter havido algum tipo de grande povoamento, responsável por estes registros, vivendo nestas plagas pouco exploradas das Américas.

 

È notório que quanto mais penetramos no estudo das itacoatiaras brasileiras e da cultura tupi e guarani e voltamos nossa atenção para o seu conteúdo simbólico e misterioso, mais difícil vai-se tornando ignorar a ideia de que estas terras teriam acolhido um tipo de civilização avançada em tempos remotos. Mesmo que a descrença e o descaso de muitos pesquisadores não queiram notar a presença destes volumosos e inegáveis “documentos” históricos no Brasil, muitos inexplicáveis, eles se multiplicam a cada nova descoberta, desnudando em muitos casos um novo enigma a ser decifrado, desafiando a perspicácia e a capacidade de compreensão destes ilustres estudiosos, diante de sua inegável realidade.

 

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* J. A. Fonseca é economista, aposentado, espiritualista, conferencista, pesquisador e escritor, e tem-se aprofundado no estudo da arqueologia brasileira e realizado incursões em diversas regiões do Brasil. É articulista do jornal eletrônico Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br) e membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA. E-mail jafonseca1@hotmail.com

 

 

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