Energia nuclear:
Por que tanta insistência?
Além do Japão, anteriormente à Alemanha,
Itália, Bélgica, Áustria entre outros países, já haviam
decidido abandonarem a construção de
novas usinas nucleares, e fecharem as existentes.
Por Heitor Scalambrini Costa*
De
Recife-PE
Para Via
Fanzine
18/102012
Após o desastre nuclear de Fukushima ocorrido em 11 de
março de 2011 no Japão, o mundo é surpreendido por revelações que
mostram o quanto à questão nuclear é um tema que a indústria do setor e
governantes omitem e escondem informações da população.
A ultima revelação em relação ao desastre na central
nuclear japonesa operada pela empresas Tokyo Eletric Power Company
(Tepco) foi o relatório tornado público recentemente (depois de um ano e
meio do ocorrido) intitulado “Politica fundamental para a reforma da
organização da energia nuclear da Tepco” (tradução livre). É relatado
nas 32 paginas deste documento, que mesmo antes do terremoto seguido do
tsunami ter provocado à inundação dos reatores nucleares com a liberação
para o meio ambiente de produtos radioativos, a empresa já sabia que os
sistemas de proteção dos reatores existentes eram insuficientes para um
evento da magnitude do ocorrido. Como declarado pelos dirigentes da
empresa, eles negaram fechar a central para implantar as medidas de
segurança apontadas como necessárias para garantir a segurança,
meramente por razões econômicas. Houve uma clara omissão dos dirigentes
da Tepco, numa tentativa de minimizar o risco da ocorrência de um
tsunami na região e suas consequências. Demonstrando assim, o quanto
amam o dinheiro e odeiam a vida. O que nos parece ser uma visão
predominante no setor nuclear mundial.
Depois da descoberta das inúmeras “trapaças” realizadas
pela Tepco, a população japonesa tem pressionado o governo, realizando
inúmeras manifestações públicas demonstrando ser contrária a
continuidade e a expansão desta fonte de energia no país. Toda a pressão
popular acabou surtindo efeito, e em setembro último foi anunciada pelo
governo, a decisão do país em afastar progressivamente do modelo
nuclear, substituindo-o pelas fontes renováveis de energia.
Além do Japão, anteriormente à Alemanha, Itália, Bélgica,
Áustria entre outros países, já haviam decidido abandonarem a construção
de novas usinas nucleares, e fecharem as existentes. Até mesmo a França,
ícone do uso da nucleoeletricade no mundo, também decidiu iniciar um
processo de redução da participação do nuclear em sua matriz energética.
O que surpreende é que no Brasil, autoridades do Ministério
de Minas e Energia, “lobistas” da área nuclear e membros da academia
continuam insistindo no Programa Nuclear, que prevê a construção de
Angra III e mais quatro usinas nucleares até 2030. Sendo duas delas no
Nordeste brasileiro.
Mesmo com ampla maioria da população 79 % se posicionando
contra o uso da energia nuclear no país, segundo uma pesquisa de opinião
realizada pela BBC, não foi suficiente para convencer o governo federal
de rever sua decisão autoritária. No caso da instalação de usinas no
Nordeste, um dos locais pré-selecionados foi o município de Itacuruba
(481 km de Recife), que teve amplo apoio do governo de Pernambuco que se
posicionou publicamente favorável a instalação em seu território desta
central, mas após a catástrofe de Fukushima tergiversa sobre o assunto.
Os movimentos antinucleares (http://www.brasilcontrausinanuclear.com.br/,
http://www.greenpeace.org/brasil/pt/ e
http://antinuclearbr.blogspot.com.br/) têm realizado inúmeras
atividades e campanhas de esclarecimento e de informações junto à
população sobre os riscos intrínsecos da energia nuclear e os perigos de
um acidente. A receptividade desta mensagem demonstra o quanto é
rejeitada a decisão governamental de incluir na expansão da oferta de
energia elétrica as usinas nucleares em nosso país. Na Rio+20, houve um
espaço, a “Tenda Antinuclear”, local onde ocorreram várias atividades,
desde palestras, depoimentos e relatos de atingidos por desastres
nucleares, debates, filmes, mostrando os riscos da tecnologia nuclear,
desde a mineração do urânio. Foi enfatizado e demonstrado que pela
riqueza da biodiversidade e da disponibilidade das fontes renováveis, o
Brasil não precisa da eletricidade nuclear para atender suas
necessidades de energia, nem no presente e nem para o futuro.
Em razão de todos os argumentos e das ações contrárias ao
uso da energia nuclear em todo o mundo, alertamos a população brasileira
que mesmo este assunto não estar na pauta da mídia empresarial de nosso
país, o governo federal continua com o firme intento de construir novas
usinas nucleares, e investe hoje mais de 10 bilhões de reais na
construção de Angra 3. Daí, não devemos esmorecer esta luta e exigir das
autoridades que interrompam imediatamente o programa nuclear em
andamento, e que seja afastada definitivamente a ameaça que ronda o povo
brasileiro.
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