Dúbia vocação:
Lula, um ditador virtual
Seus
correligionários reiteradamente têm confundido o público com o privado.
Por
Eugênio José Alati*
De
Campinas-SP
Para
Via
Fanzine
13/11/2012
O PT não subscreveu a
Constituição de 1988! Portanto, é da genética deste partido não
respeitar suas Instituições, vide com que falta de decoro vem tratando o
STF, exceto Ricardo Levandowisk e Dias Toffoli! Na verdade, se trata de
um partido com tendência ideológica totalitária que não prima pela ética
mas sabe se aproveitar das instituições democráticas desde que
favorecido, tanto que lhe facultaram exercer três mandatos da
Presidência!
Porém, esta dúbia
vocação acima de tudo é cínica, pois no momento em que seus líderes
foram condenados por formarem uma quadrilha de corruptos, uma bando de
reles canalhas que fraudaram a nação, os petistas se mostraram
grotescamente solidários com os criminosos como se aqueles infames
estivessem acima da lei ou como se o poder que detêm fosse uma condição
intrínseca do destino histórico do PT e um fato político impeditivo na
divulgação de suas mazelas, exatamente como acontece nas autocracias
genocidas cubana, norte coreana e chinesa! Talvez, nos seus sonhos de
uma República Popular alimentem uma alternativa para o STF, um tribunal
de sindicalistas da CUT!
O PT é um partido
marginal! "Vai usar, sempre que for conveniente, de meios democráticos
para denegrir a democracia", ou seja, jamais acatará as regras do
processo político democrático e será uma ameaça constante ao Estado de
Direito! As provas destas periculosidades são os radicalismos de sua
militância - sempre instalada em cargos públicos -, a obtusidade de seus
raciocínios maniqueístas e o culto ao ex-presidente!
Em termos mais
explícitos, seus correligionários reiteradamente têm confundido o
público com o privado, reduzido todo universo político a duas únicas
vertentes, PT ou do PSDB e pateticamente têm endeusado o Lula como se
aquele populista fosse o dono da verdade! Além do que toda vez que são
contestados, a maioria dos petistas não consegue superar seus rancores e
na ausência de argumentos racionais usa de palavras de baixo calão com
ofensas pessoais. Afinal é o que restou, principalmente quando não
reconhecem os fatos que envolvem o seu partido.
Provas desta soberba
própria dos arrogantes, têm sido as declarações do Presidente do PT,
senhor Rui Falcão, ao classificar o mensalão como uma farsa, o que
constitui numa ofensa das mais grosseiras ao STF, salvo Lewandowisk e
Toffoli, e de que aquele julgamento teria sido urdido por uma mídia
comprometida com uma "elite suja" (sic), interessada em desmoralizar o
PT. Ou seja, uma tentativa descarada de inverter os acontecimentos, pois
enquanto os próceres do PT são condenados por corrupção o presidente do
PT atribui a culpa a uma "elite suja"!
Ora, não foi a mídia
e muito menos uma "elite suja" que foram recebidos 17 vezes no Banco
Central para tratarem dos interesses do Banco Rural (o trem pagador dos
mensaleiros), mas Marcos Valério! O criminoso que desviou 53 milhões de
reais do Banco do Brasil via Fundo Visanet foi Henrique Pizzolato do PT!
Quem viajou a Portugal para negociar concessões de linhas de celulares
em troca de doações de 9 milhões de euros para o PT foi Marcos Valério!
E quem propiciou a
Marcos Valério esse trânsito tão criminoso e com tal desenvoltura pelos
meandros do poder foi o ex-ministro da Casa Civil e ex-presidente do PT!
Logo, quem desmoralizou o PT foram seus próprios líderes, a mídia tão
somente registrou os fatos! Mas há outra característica muito mais grave
envolvendo os sectários deste partido que está comprometendo
decisivamente a nação, a de que quaisquer decisões políticas devam
passar pelo crivo do Lula, desde a divulgação de um simples manifesto
até as deliberações da Dilma na condução do país! O que força concluir
que o Brasil está nas mãos incriminadas do PT, mais grave, muito mais
grave, permite deduzir que este partido subtraiu a nação dos brasileiros
e colocou-a no colo de um virtual ditador!
*
Eugênio José Alati é advogado.
* * *
STJ:
Contra a Injustiça
O judiciário paraense condena jornalista
a indenizar empresário por dano moral.
Por Lúcio Flávio Pinto*
De Belém-PA
Para
Via
Fanzine
17/02/2012
No dia 7 o presidente do Superior Tribunal de Justiça,
ministro Ari Pargendler, decidiu negar seguimento ao recurso especial
que interpus contra decisão da justiça do Pará. Nos dois graus de
jurisdição (no juízo singular e no tribunal), o judiciário paraense me
condenou a indenizar o empresário Cecílio do Rego Almeida por dano
moral.
O dono da Construtora C. R. Almeida, uma das maiores
empreiteiras do país, se disse ofendido porque o chamei de “pirata
fundiário”, embora ele tenha se apossado de uma área de quase cinco
milhões de hectares no vale do rio Xingu, no Pará. A justiça federal de
1ª instância anulou os registros imobiliários dessas terras, por
pertencerem ao patrimônio público.
O presidente do STJ não recebeu meu recurso “em razão da
deficiente formação do instrumento; falta cópia do inteiro teor do
acórdão recorrido, do inteiro teor do acórdão proferido nos embargos de
declaração e do comprovante de pagamento das custas do recurso especial
e do porte de remessa e retorno dos autos”. Ou seja: o agravo de
instrumento não foi recebido na instância superior por falhas formais na
juntada dos documentos que teriam que acompanhar o recurso especial.
O despacho foi publicado no Diário Oficial eletrônico do
STJ no dia 13. A partir daí eu teria prazo para entrar com um recurso
contra o ato do ministro. Ou então através de uma ação rescisória. O
artigo 458 do Código de Processo Civil a prevê nos seguintes casos:
“Se verificar que foi dada por prevaricação, concussão ou
corrupção do juiz; proferida por juiz impedido ou absolutamente
incompetente; resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte
vencida, ou de colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei; ofender
a coisa julgada; violar literal disposição de lei; se fundar em prova,
cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou seja provada
na própria ação rescisória; depois da sentença, o autor obtiver
documento novo, cuja existência ignorava, ou de que não pôde fazer uso,
capaz, por si só, de Ihe assegurar pronunciamento favorável; houver
fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação, em que se
baseou a sentença; fundada em erro de fato, resultante de atos ou de
documentos da causa”.
Como o ministro do STJ negou seguimento ao agravo, a corte
não pode apreciar o mérito do recurso especial. A única sentença de
mérito foi a anterior, do Tribunal de Justiça do Estado, que confirmou
minha condenação, imposta pelo juiz substituto (não o titular, portanto,
que exerceu a jurisdição por um único dia) de uma das varas cíveis do
fórum de Belém. Com a ação, o processo seria reapreciado.
Advogados que consultei me recomendaram esse caminho, muito
trilhado em tais circunstâncias. Mas eu teria que me submeter outra vez
a um tribunal no qual não tenho mais fé alguma. É certo que nele labutam
magistrados e funcionários honestos, sérios e competentes. Também é fato
que alguns dos magistrados que agiram de má fé contra mim já foram
aposentados, com direito a um fare niente bem remunerado – e ao
qual não fizeram jus.
Mas também é verdade que, na linha de frente e agindo
poderosamente nos bastidores, um grupo de personagens (para não
reduzi-lo a uma única figura fundamental) continua disposto a manter a
condenação, alcançada a tanto custo, depois de uma resistência extensa e
intensa da minha parte.
Esse grupo (e, sobretudo, esse líder) tem conseguido se
impor aos demais de várias maneiras, ora pela concessão de prêmios e
privilégios ora pela pressão e coação. Seu objetivo é me destruir. Tive
a audácia de contrariar seus propósitos e denunciar algumas de suas
manobras, como continuo a fazer, inclusive na edição do meu Jornal
Pessoal que irá amanhã às ruas.
A matéria de capa denuncia a promoção ao desembargo de uma
juíza, Vera Souza, que, com o concurso de uma já desembargadora,
Marneide Merabet, ia possibilitar que uma quadrilha de fraudadores
roubasse 2,3 bilhões de reais da agência central de Belém do Banco do
Brasil.
A mesma quadrilha tentou, sem sucesso, aplicar o golpe em
Maceió, Florianópolis e Brasília. Foi rechaçada pelas justiças locais.
Em Belém encontrou abrigo certo. Afinal, também não foi promovida ao
topo da carreira uma juíza, Maria Edwiges de Miranda Lobato, que mandou
soltar o maior traficante de drogas do Norte e Nordeste do país. O ato
foi revisto, mas a polícia não conseguiu mais colocar as mãos no bandido
e no seu guarda-costas. Punida com mera nota de censura reservada, a
magistrada logo em seguida subiu ao tribunal.
Foi esse o tribunal que teve todas as oportunidades de
reformar a iníqua, imoral e ilegal sentença dada contra mim por um juiz
que só atuou na vara por um dia, só mandou buscar um processo (o meu),
processo esse que não estava pronto para ser sentenciado (nem todo
numerado se achava), levou os autos por sua casa no fim de semana e só o
devolveu na terça-feira, sem se importar com o fato de que a titular da
vara (que ainda apreciava a questão) havia retornado na véspera,
deixando-o sem autoridade jurisdicional sobre o feito. Para camuflar a
fraude, datou sua sentença, de quatro laudas, em um processo com mais de
400 folhas, com data retroativa à sexta-feira, quatro dias antes. Mas
não pôde modificar o registro do computador, que comprovou a manobra.
De posse de todos os documentos atestando os fatos, pedi à
Corregedoria de Justiça a instauração de inquérito contra o juiz Amílcar
Bezerra. A relatora, desembargadora Carmencim Cavalcante, acolheu meu
pedido. Mas seus pares do Conselho da Magistratura o rejeitaram. Eis um
caso a fortalecer as razões da Corregedora Nacional de Justiça, Eliana
Calmon, contra o corporativismo, que protege os bandidos de toga.
Apelei para o tribunal, com farta documentação negando a
existência do ilícito, já que a grilagem de terras não só foi provada
como o próprio judiciário paraense demitira, por justa causa, os
serventuários de justiça que dela foram cúmplices no cartório de
Altamira. O escândalo se tornara internacional e, por serem federais
partes das terras usurpadas, o interesse da União deslocou o feito para
a justiça federal, que acolheu as razões do Ministério Público Federal e
anulou os registros fraudulentos no cartório de Altamira, decisão ainda
pendente de recurso.
O grileiro morreu em maio de 2008. Nesse momento, vários
dos meus recursos, que esgotavam os instrumentos de defesa do Código de
Processo Civil, estavam sendo sucessivamente rejeitados. Mas ninguém se
habilitou a substituir C. R. Almeida. Nem herdeiros nem sucessores. Sua
advogada continuou a funcionar no processo, embora a morte do cliente
cesse a vigência do contrato com o patrono. E assim se passaram dois
anos sem qualquer manifestação de interesse pela causa por parte
daqueles que podiam assumir o pólo ativo da ação, mas a desertaram.
A deserção foi reconhecida pelo juiz titular da 10ª vara
criminal de Belém, onde o mesmo empreiteiro propusera uma ação penal
contra mim, com base na extinta Lei de Imprensa. Passado o prazo
regulamentar de 60 dias (e muitos outros 60 dias, até se completarem
mais de dois anos), o juiz declarou minha inimputabilidade e extinguiu o
processo, mandando-o para o seu destino: o arquivo (e, no futuro, a lata
de lixo da história).
Na instância superior, os desembargadores se recusavam a
reconhecer o direito, a verdade e a lei. Quando a apelação estava sendo
apreciada e a votação estava empatada em um voto, a desembargadora Luzia
Nadja do Nascimento a desempatou contra mim, selando a sorte desse
recurso.
A magistrada não se considerou constrangida pelo fato de
que seu marido, o procurador de justiça Santino Nascimento, ex-chefe do
Ministério Público do Estado, quando secretário de segurança pública,
mandou tropa da Polícia Militar dar cobertura a uma manobra de afirmação
de posse do grileiro sobre a área cobiçada. A cobertura indevida foi
desfeita depois que a Polícia Federal interveio, obrigando a PM a sair
do local.
Pior foi a desembargadora Maria Rita Xavier. Seu
comportamento nos autos se revelou tão tendencioso que argüi sua
suspeição. Ao invés de decidir de imediato sobre a exceção, ela deu
sumiço à minha peça, que passei a procurar em vão. Não a despachou, não
suspendeu a instrução processual e não decidiu se era ou não suspeita.
Ou melhor: decidiu pelos fatos, pois continuou impávida à frente do
processo.
Meus recursos continuaram a ser indeferidos ou ignorados,
quando alertava a relatora e os desembargadores aos quais meus recursos
foram submetidos sobre a ausência do pólo ativo da ação e de poderes
para a atuação da ex-procuradora do morto, que, sem esses poderes,
contra-arrazoava os recursos.
Finalmente foi dado prazo para a habilitação, não cumprido.
E dado novo prazo, que, afinal, contra a letra da lei, permitiu aos
herdeiros de C. R. Almeida dar andamento ao processo (e manter o desejo
de ficar com as terras) para obter minha condenação. Nesse martírio não
lutei contra uma parte, mas contra duas, incluindo a que devia ser
arbitral.
Voltar a ela, de novo? Mas com que crença? Quando, quase 20
anos atrás, me apresentei voluntariamente em cartório, sem esperar pela
citação do oficial de justiça (gesto que causou perplexidade no fórum,
mas que repeti outras vezes) para me defender da primeira das 33 ações
sucessivamente propostas contra mim (19 delas pelos donos do maior
conglomerado de comunicação da Amazônia, afiliado à Rede Globo de
Televisão), eu acreditava na justiça do meu Estado.
Continuo a crer em muitos dos seus integrantes. Mas não na
estrutura de poder que nela funciona, conivente com a espoliação do
patrimônio público por particulares como o voraz pirata fundiário
Cecílio do Rego Almeida.
Por isso, decidi não mais recorrer. Se fui submetido a um
processo político, que visa me destruir, como personagem incômodo para
esses bandidos de toga e as quadrilhas de assalto ao bem coletivo do
Pará, vou reagir a partir de agora politicamente, nos corretos limites
da verdade e da prova dos fatos, que sempre nortearam meu jornalismo em
quase meio século de existência.
Declaro nesta nota suspeito o Tribunal de Justiça do Estado
do Pará, que não tem condições de me proporcionar o devido processo
legal, com o contraditório e a ampla defesa, que a Constituição do
Brasil me confere, e decide a revelia e contra os fatos.
Se o tribunal quer minha cabeça, ofereço-a não para que a
jogue fora, mas para que, a partir dela, as pessoas de bem reajam a esse
cancro que há muitos anos vem minando a confiabilidade, a eficácia e a
honorabilidade das instituições públicas no Pará e na Amazônia.
O efeito dessa decisão é que, finalmente, para regozijo dos
meus perseguidores, deixarei de ser réu primário. Num país em que fichas
de pessoas se tornam imundas pelo assalto aos cofres do erário, mas são
limpas a muito poder e dinheiro, serei ficha suja por defender o que
temos de mais valioso em nosso país e em nossa região.
Como já há outra ação cível – também de indenização – em
fase de execução, a perda da primariedade me causará imensos
transtornos. Mas, como no poema hindu, se alguém tem que queimar para
que se rompam as chamas, que eu me queime.
Não pretendo o papel de herói (pobre do país que precisa
dele, disse Bertolt Brecht pela boca de Galileu Galilei). Sou apenas um
jornalista. Por isso, preciso, mais do que nunca, do apoio das pessoas
de bem. Primeiro para divulgar essas iniqüidades, que cerceiam o livre
direito de informar e ser informado, facilitando o trabalho dos que
manipulam a opinião pública conforme seus interesses escusos.
Em segundo lugar, para arcar com o custo da indenização.
Infelizmente, no Pará, chamar o grileiro de grileiro é crime, passível
de punição. Se o guardião da lei é conivente, temos que apelar para o
samba no qual Chico Buarque grita: chame o ladrão, chame o ladrão.
Quem quiser me ajudar pode depositar qualquer quantia na
conta 22.108-2 da agência 3024-4 do Banco do Brasil, em nome do meu
querido irmão Pedro Carlos de Faria Pinto, que é administrador de
empresas e fiscal tributário, e assim administrará esse fundo. Essa
conta estava em vias de fechamento, mas agora servirá para que se arque
com esse constrangedor ônus de indenizar quem nos pilha e nos empobrece,
graças à justiça.
Farei outros comunicados conforme as necessidades da
campanha que ora se inicia. Espero contar com sugestões, opiniões e
avaliações de todos que a ela se incorporarem. Convido-os a esta tarefa
difícil e desgastante de não se acomodar na busca de um mundo melhor
para todos nós.
Belém (PA), 14 de fevereiro de 2012.
*
Lúcio Flávio Pinto é editor do Jornal Pessoal.
* * *
O povo nas ruas:
De bestializados a
cidadãos
O
fato é que brasileiros foram ao desfile de sete de setembro e assistiram
a parada militar não como bestializados, mas como
cidadãos.
Por Maria Lúcia Victor Barbosa*
De Londrina-PR
12/09/2011
O chamamento pela Internet que culminou no movimento
popular do sete de setembro, especialmente em Brasília, levou milhares
de pessoas a protestar durante o desfile oficial. Foi um evento que não
pode ser analisado superficialmente, mesmo porque, para entender o
presente é preciso recuar até ao passado. Num pequeno artigo seria
impossível historiar o que se passou no Brasil desde sua descoberta,
como fiz em um dos meus livros, “América Latina – em busca do paraíso
perdido”, mas, pelo menos, podemos recortar no tempo alguns
acontecimentos históricos e políticos importantes:
A vinda da corte portuguesa, em 1808, e o modo como se
realizou a independência em sete de setembro de 1822, trouxeram várias
consequências. Em primeiro lugar a presença da família real fortaleceu a
unidade política do colosso territorial, ao contrário do Império
Espanhol que se fragmentou em várias nações entre 1810 e 1838. Segundo,
apesar de alguns movimentos importantes, mas isolados, a independência
foi obra do príncipe regente e de minorias políticas enquistadas nos
bastidores do poder. Não houve, pois, o sentimento nacionalista que
marcou os episódios libertadores das colônias espanholas, sentimento que
no nosso caso foi substituído por meros interesses individualistas que
nada tinham a ver com percepção de pátria ou ideal de bem comum.
Foram também a partir de 1808, que se instalaram no Brasil
de uma vez por todas as características do velho Estado português, que
em terra nova não perderia sua essência patrimonialista magistralmente
explicada por Raymundo Faoro em sua obra, “Os donos do poder”: “Os reis
portugueses governaram o reino como a própria casa, não distinguindo o
tesouro pessoal do patrimônio público”.
Era um Estado também corrupto na medida em que para tudo se
dependia dele, do seu excessivo quadro de funcionários, da morosidade
típica da burocracia, correndo soltas as propinas para aligeirar
licenças, fornecimentos, processos, despachos, etc. Nas entranhas do
desajeitado e ineficiente Leviatã conduzido por D. João VI traficavam-se
influências, negociava-se a coisa pública em proveito próprio. Imagino
que os leitores devem estar notando que a realidade de hoje não difere
muito do nosso já distante passado.
Acrescente-se que os fatos mais marcantes da nossa história
não contaram com a participação popular. Por isso, a proclamação da
Republica não sensibilizou a massa, nem sequer no Rio de Janeiro, quanto
mais nas vastidões afora do país. José Murilo de Carvalho cita em seu
livro, “Os bestializados”, Aristides Lobo, adepto incondicional da nova
forma de governo e um dos mais desapontados. Segundo este, “o povo, que
pelo ideário republicano deveria ter sido o protagonista dos
acontecimentos, assistiu a tudo bestializado, sem compreender o que se
passava, julgando ver talvez uma parada militar”.
Muita coisa foi mudando como não poderia deixar de ser.
Vários movimentos aconteceram. Alguns, como as diretas já e o
impeachment do ex-presidente Fernando Collor levaram o povo às ruas. Mas
sempre houve lideranças partidárias, sindicais, apoios da Igreja e de
estudantes que conduziram multidões. Em showmícios a massa aplaudia
entusiasticamente tanto oradores políticos quanto artistas preferidos do
grande público.
Na era Lula/PT em que a decadência partidária avança, os
valores se extinguem, a corrupção sempre havida é exacerbada de modo
impressionante juntamente com a impunidade dos “colarinhos brancos” e a
propaganda transforma cidadãos em bestializados, aconteceram fatos que o
domínio petista não deve ter digerido bem.
Um deles foi o sonoro não ao desarmamento da população, em
plebiscito levado a cabo por ordem de Lula da Silva. Posteriormente, um
movimento via internet ajudou a pressionar parlamentares para que a
famigerada CPMF, que está prestes a ser ressuscitada pela presidente
Rousseff, fosse extinta. Outros abaixo assinados como aquele a favor da
“ficha limpa” ou centenas de artigos e de opiniões críticas ao governo
que se entrecruzam em e-mails mostram que, ao contrário dos muitos
satisfeitos, por enquanto, com sua situação financeira, uma minoria
consciente das classes médias que lê jornais e revistas começa a
perceber que a avassaladora corrupção que se espraia por todos os cantos
do poder é danosa aos interesses da nação.
Surgiram, porém, criticas entre os próprios internautas.
Muitos dizem que não basta escrever, seria preciso agir, ganhar as ruas,
expressar publicamente a indignação.
A Internet ficou pulsando até aglutinar um movimento
espontâneo que fez do virtual o real, materializando no sete de setembro
em vários Estados e, principalmente, em Brasília, milhares de pessoas,
sobretudo, jovens, que tiveram como foco o combate à corrupção. Pela
primeira vez um movimento não teve líderes, foi consciente, apartidário,
não expressava ideologia tanto de esquerda quanto de direita, não era
individualizado, mas em defesa de um objetivo comum.
Digam os críticos desse inédito acontecimento que ele é
efêmero e difuso, queiram alguns espertamente se apropriar dele, mas o
fato é que brasileiros foram ao desfile de sete de setembro e assistiram
a parada militar não como bestializados, mas como cidadãos. Tomara que
esses compatriotas sejam o fermento de uma progressiva transformação
rumo à consciência cívica que tanto nos falta.
* Maria Lucia
Victor Barbosa é socióloga.
mlucia@sercomtel.com.br
www.maluvibar.blogspot.com
- Leia outros
artigos de Maria
Lucia Victor Barbosa:
http://www.viafanzine.jor.br/site_vf/pag/1/artigos2.htm
http://www.viafanzine.jor.br/site_vf/pag/1/artigos.htm
* * *
O atual governo passado:
Quem governa?
A presidenta, como Rousseff gosta de ser
chamada sendo, portanto, uma governanta e não uma
governante, não pronunciou a famosa frase
petista quando a situação aperta: “assunto encerrado”.
Por Maria Lúcia Victor Barbosa*
De Londrina-PR
30/05/2011
A aparição do ex-presidente Luiz Inácio com objetivo de
socorrer sua afilhada política, Dilma Rousseff, por conta do escândalo
provocado pelo meteórico enriquecimento do ex-trotskista, ex-prefeito de
Ribeirão Preto, ex-ministro da fazenda, ex-deputado federal, atual chefe
da Casa Civil e braço direito da presidente, Antonio Palocci, merece
algumas reflexões.
Em fotos estampadas em jornais Luiz Inácio apareceu
eufórico entre senadores do PT quase genuflexos diante do chefe. De
calça branca ao ex-presidente só faltavam os sapatos bicolores e o
chapéu de panamá para completar o traje porque, como todos sabem, a
política é feita de malandragem, assumindo frequentemente aspectos de
capoeira.
Luiz Inácio, confortável em seu terceiro mandato, reuniu-se
com partidos satélites do PT, almoçou com sua afilhada e o reincidente
Palocci, deu muitos conselhos a Rousseff que prontamente obedeceu aos
ditames do tutor. Ela deixou por breves momentos seu silêncio sepulcral,
seu recolhimento misterioso e veio a público defender o risonho Palocci,
mudo como a ex-primeira-dama Marisa Letícia que parece ter feito escola.
Não se sabe, porém, se a aparição de Rousseff apaziguou os
ânimos das bases aliadas, que andam um tanto desalinhadas, se despistou
as incríveis fábulas ganhas por um de seus “três porquinhos” de
campanha.
A presidenta, como Rousseff gosta de ser chamada sendo,
portanto, uma governanta e não uma governante, não pronunciou a famosa
frase petista quando a situação aperta: “assunto encerrado”. Não
conseguiu acabar com a encrenca Palocci e, pior, lançou dúvidas sobre o
cargo presidencial sendo lícito perguntar: quem governa?
Como se sabe foi Luiz Inácio quem praticamente compôs o
atual ministério indicando, pelo menos, os ministros mais importantes. E
se chegou a dizer, segundo a imprensa, que sem Palocci o governo de
Rousseff se arrastaria até o fim, isto significa que não confia tanto
assim na eficiência de sua sucessora como apregoava na campanha. Por
que, então, a colocou lá?
Bem, em primeiro lugar, porque os possíveis quadros de seu
partido não tinham condição de disputar nenhum cargo eletivo, ainda mais
a presidência da República. Entre eles, José Dirceu, outro ministro da
Casa Civil que teve sérios problemas com algo chamado eufemisticamente
de “mensalão”, que na linguagem usual é denominado de suborno e punido
como crime nos países onde as leis funcionam. Dirceu voltou à Câmara de
deputados, foi cassado e chamado por uma autoridade do Judiciário de
“chefe da quadrilha” do “mensalão”, o que não o impediu de ser feliz em
suas consultorias e de ter continuado a exercer influência no PT. Dirceu
está certo de que será perdoado de todas suas culpas na Justiça, como
Palocci o foi e todos os “mensaleiros” serão. Então, quem sabe,
alcançará seus sonhos mais elevados.
Entre os muitos “quadrilheiros” do “mensalão” estava também
Delúbio Soares, tesoureiro do PT, que por ter seguido a lei omertá e
assumido todas as culpas dos companheiros durante muito tempo teve em
sua recente volta ao partido calorosa recepção. Impressionante contraste
com o PT de outrora que se dizia o único partido ético, aquele que viria
para mudar o que estava errado, inclusive, a corrupção.
Nos mandatos de Luiz Inácio a avalanche de escândalos nunca
antes havida neste país foi bem assimilada pela sociedade, enquanto o
presidente da República dizia nada saber a respeito dos fatos mesmo
quando as falcatruas eram praticadas por seus subordinados mais próximos
e mais íntimos.
Agora, no governo PT/Rousseff, o escândalo inicial atingiu
novamente a Casa Civil, que teve como inquilina anterior a ministra
chamada jocosamente de Erê 6%, conhecida por suas práticas nada
edificantes no exercício da função e que foi o braço direito da atual
governanta. Também Erê parece seguir seu caminho sem medo de ser feliz.
Em segundo lugar, Luiz Inácio, sem opção para indicar seu
sucessor entre companheiros de partido, parece ter pinçado Dilma
Rousseff não por suas qualidades de excelência gerencial, mas,
exatamente pela falta destas. Desse modo, se a herança maldita lulista
na economia e na política seguir pesada demais, em quem o povo porá a
culpa? Em Rousseff e não naquele que virá novamente para salvar pobres e
oprimidos em 2014. Afinal, o PT não pretende sair do poder pelo menos
nos próximos 20 anos e já traçou seus caminhos facilitados pela ausência
de oposições coerentes e firmes, pela falta de Poder Judiciário que puna
crimes e abusos e da eficácia da propaganda que mantém a bestificação
popular.
Palocci pode até ser beatificado junto com irmã Dulce,
contudo, as ciladas do poder não garantem que roteiros traçados de
antemão se realizem. Os aliados de hoje podem ser os adversários de
amanhã no jogo pesado das ambições. Diante dos acontecimentos é cedo
ainda para saber quem governa ou governará, se Luiz Inácio, Dilma
Rousseff ou Michel Temer.
* Maria Lucia
Victor Barbosa é socióloga.
mlucia@sercomtel.com.br
www.maluvibar.blogspot.com
- Leia outros
artigos de Maria
Lucia Victor Barbosa:
http://www.viafanzine.jor.br/site_vf/pag/1/artigos2.htm
http://www.viafanzine.jor.br/site_vf/pag/1/artigos.htm
* * *
Registro civil:
Nomes de crianças e o registro civil em
Itaúna
A
orientação que os bons cartórios adotam é a seguinte:
os
nomes próprios devem seguir as normas ortográficas vigentes.
Por Rosa Miriam Braz de Matos e Souza Leão*

Ao nascer, a criança recebe um nome que
será sua marca registrada para toda a vida.
Ter um bom nome depende exclusivamente
dos pais.
Poucos sabem, mas
existe uma lei no Brasil (a Lei nº 6.015, de 1973) que determina que os
oficiais de cartório estão proibidos de registrar crianças com nomes que
podem expô-las ao ridículo ou a situações humilhantes.
O
registro civil no Brasil é, digamos assim, bastante democrático. Os
cartórios só não registram nomes que possam causar constrangimento. No
mais, atendem ao gosto e escolha dos pais, razão pela qual se encontram
muitas variações de nomes, sobretudo naqueles de origem estrangeira,
como por exemplo: Wagner e Vágner; Louise, Luiza, Luísa; Jéferson,
Jefferson; Alexandra, Alessandra, Alexsandra; Mike, Maikon, Maicon,
Máicon, Maicom.
A orientação que
os bons cartórios adotam é a seguinte: os nomes próprios devem seguir as
normas ortográficas vigentes. Portanto, sendo palavra paroxítona
terminada em r, como Vítor, por exemplo, (com acento agudo) é a
grafia correta.
Na época da
criação da lei, alguns pais registraram seus filhos com nomes exóticos.
Entre eles temos em Itaúna: Adejupede, Lausdejulia, Mijosias,
Plecidonia, Floravanda, Prudentina, Pedro Pueiras, Artidoro, Mascotulio,
Mister Brack, Santinha, Delvemundo, Men, Genrique, Quintinho, Sextilha,
Nergipe, Juareztovam, Prosperino, Uviêta, Beata, Maria Naluta, Oriunda,
Maria Frutuosa, Filadelfia, Adelerma, Anta, Preciosa, Maria da Fé e
Maria da Caridade (irmãs), Metódio, Arimazil, Esperendeus, Gordonete,
Kim, Adenal (feminino) e muitos outros.
O parágrafo único
do art.55 da lei de Registros Públicos vigente retrata a hipótese na
qual a quebra do principio da liberdade de escolha do nome é necessária.
Em caso de nomes que possam expor a criança ao ridículo ou a situações
humilhantes, erros de grafia, o oficial chamará atenção dos pais para a
circunstância. Se os pais discordarem da recusa do oficial, deve este
exigir deles requerimento escrito e remeter o caso ao juiz. Tem-se uma
dúvida (art. 296) a parte deve requerer submissão do caso ao juiz
competente. Não é necessário que os pais fundamentem sua pretensão,
bastando requererem ao oficial que enviem a questão ao julgamento do
magistrado, ouvindo-se o Ministério Público. Este encaminhamento de
dúvida ao juiz é gratuito.
ALGUMAS
CURIOSIDADES
PRIMEIROS
REGISTROS DE NASCIMENTO FEITOS EM ITAÚNA:
1º) Olimpio -
19/01/1881; 2º) Maria; 3º) Joaquim; 4º) Joaquina; 5º) João.
ALGUNS NOMES DE
FAMOSOS REGISTRADOS EM ITAÚNA:
Michael Jackson,
Julio Iglesias, Diego Maradona, John Lenon, Diane ou Daiane (princesa),
Hitler, Ronnie Von;
Influência de
novelas: Luana, Priscila; Carolaine.
Nomes simples
voltam a ganhar força:
Maria,
Ana, João são ainda os preferidos e são muito utilizados ultimamente.
Nomes simples e
fáceis de serem pronunciados seguem na lista dos preferidos pelos pais
na hora de decidir como seus filhos vão se chamar.
Campeões de registros em Itaúna
Passou a onda dos
nomes complicados, cheios de estrangeirismos, e os registros mais
simples ganharam força. Os campeões em Itaúna nos anos de 2009 e 2010
são:
1º) MARIA (92
registros)
2º) ANA (88
registros)
3º) João (61
registros)
4º) Gabriel (46
registros)
5º) Gustavo (45
registros)
6º) Miguel (42
registros)
7º) Lucas (41
registros)
Bastante
requisitado ainda em 2009 e 2010: Júlia (29 registros) e ainda Vitória,
Giovana, Letícia, Artur e Vítor.
Os três primeiros
colocados - Ana, Maria e João - fazem parte de um grupo de nomes
tradicionais, que nunca somem dos registros dos cartórios, mas já caíram
de posição em outras décadas. Nos anos 90, Maria não estava entre os 10
mais. Agora, os campeões recuperam posições.
Há nomes que
saíram de uso. É o caso dos portugueses: Sebastião, Manoel, Geraldo,
Raimunda e Benedita, comuns em 1946.
Muitos pais
escolhem o nome dos filhos por causa de uma atriz famosa, de um
personagem de filme e até mesmo de um astro do rock. É o caso do cantor
americano Michael Jackson, por exemplo. Ídolo de muitos brasileiros, nos
cartórios ele é frequentemente homenageado. ‘Os pais fazem questão de
registrar o nome do jeito que se pronuncia para ninguém errar na hora de
falar’, isso quer dizer que hoje há muita criança registrada com o nome
Maikol, Maicon, Maiquel.
Em Portugal e na
França, isso não seria possível. Nesses países, os cartórios têm uma
relação de nomes permitidos. Não aceitam grafias erradas nem
substantivos comuns, como ‘lua’ e ’sol’. No Brasil, nos anos 70, muitos
bebês ganharam “nomes hippies” como Ceumar (céu + mar), lua e sol.
AOS PAIS
Ao nascer, a
criança recebe um nome que será sua marca registrada para toda a vida.
Ter um bom nome depende exclusivamente dos pais. E os pais devem ter em
mente que a criança é um ser individual, que vai ter vida própria,
independente deles, de suas paixões, seus caprichos e que ela ficará
mesmo após o seu passamento.
Então, nada de
colocar nomes que possam expor o filho ao ridículo, nomes de ídolos de
cinema ou televisão, homenagear jogadores de futebol de sucesso que vão
passar, nomes ridículos que deixariam a criança em situações incômodas
em seu grupo social. Prefiram nomes fáceis, sem complicações.
O nome é um
atributo que nos acompanha a vida toda. É uma maneira que possuímos de
conhecer ou não alguém. É uma marca que dura para a vida toda. É muito
importante que a pessoa tenha um nome de que possa sentir orgulho, quer
pelo seu significado, quer pelo som transmitido a quem ouve. Pensem bem
na escolha do nome de seu filho.
*
Rosa Miriam Braz de
Matos e Souza Leão é oficiala do Registro Civil em Itaúna-MG.
-
Imagem: tuiliopinto.com.br.
* * *
Fora de moda:
A moda da vergonha na cara
Essa moda cairia bem para alguns
ativistas, voluntários e levantadores de bandeiras em protestos.
Por
Rita Shimada Coelho*
De São Paulo-SP
Para Via
Fanzine
São Paulo Fashion Week e um monte de gente preocupada em
parecer bonita, descolada e na moda! Festival das futilidades quando as
pessoas precisavam é resgatar seus valores mais nobres, pois o mundo
agora é que irá mudar!
Ter vergonha na cara deveria ser moda! Principalmente nos
largos corredores do Congresso ou das Câmaras! Fazer discurso repleto de
vocábulos formais para dar a impressão de intelectualidade e rico de
boas intenções deveria causar muita vergonha a quem ocupa sua cadeira no
poder. Só ocupam as cadeiras, nada mais! E a vergonha que é boa nada!
A moda da vergonha na cara deveria atingir os criminosos!
Grande coisa ter dinheiro no bolso, pagar a roda de cerveja da galera,
usar roupa de marca, à custa do suor dos outros! Falam grosso e querem
impor medo com um pedaço de ferro na mão. Mas nunca dá a cara pra bater
por falta de vergonha! Claro! Homem que é homem não levanta o peso do
cano, trabalha e dá duro todo dia! É fácil ser valente com arma na mão,
mas valente mesmo é o trabalhador que pega ônibus, come na marmita,
ganha uma miséria e ainda faz milagre! Esse sim merece respeito e é
exemplo desta moda!
A moda da vergonha na cara cairia bem para alguns
ativistas, voluntários e levantadores de bandeiras em protestos. São
influenciados a lutar por causas que na verdade não acreditam! E se
acreditam, guerreiam contra outros grupos numa disputa de ego! Aliás, o
mundo está cheio de pessoas defendendo causas que favorecem elas mesmas,
já que o mundo vai ficando pior! É! Porque bêbado, drogado, ladrão,
maníacos por sexo, estelionatários possuem sempre uma história carregada
de tristeza e sofrimento para justificar seus feitos mal feitos! E
defendem com afinco suas posturas!
Torcida organizada deveria se organizar melhor usando
uniforme personalizado de acordo com a moda da vergonha na cara! A
maioria parece um bando de macacos contaminados pela raiva destruindo
tudo o que tem pela frente!
Os jovens deveriam esquecer essa onda atual e aderir a moda
da vergonha na cara! Esses, em sua maioria, não têm nenhuma! Educação
escolar até tem... Mas da outra! Se preferirem, podem criar uma nova
moda! A moda dos bem educados! Os jovens querem ser tão adultos e nem
sabem sentar...
Me diz se as religiões não ficariam o 'must' na moda da
vergonha na cara? Você não veria mais tantas pessoas iludidas, enganadas
e nem limitadas em pensamentos primitivos, pois religião é sim o ato
mais primitivo do ser humano!
Antiquada e fora dos padrões da moda estão aquelas pessoas
que arrumam desculpas para coisas mal feitas, feito alguns tipos de
advogados! A coisa está errada, mas querem a todo custo (depende o valor
para cada caso) provar que o errado está certo! Que o culpado é
inocente! Que o malvado tem motivos!
A roupa branca não fica bem em qualquer um. Muitos
profissionais da área da saúde deveriam ter permissão para trabalhar
trajado com a moda da vergonha na cara! Confundir silicone com soro é
analfabetismo puro! Cortar a ponta de um dedinho de bebê em vez de
cortar o curativo é um sério problema de visão! Dar um diagnóstico
errado ou enrolar o paciente e nem procurar um, mas apenas uma desculpa
acompanhada de receituário é muita falta de vergonha na cara!
Pessoas que olham para animais e árvores como se fossem
seres superiores de fato estão fora de moda! Acreditar que o simples
fato de andar sobre as duas pernas o faz humano é uma tremenda falta de
vergonha na cara! Maltratar qualquer ser vivo então? Prova onde de fato
existe um animal inferior!
Metidos à playboy que precisam muito de um carro para
provar sua masculinidade e nunca leram um livro, ou mal conseguem
escrever uma redação, poderiam reconhecer o tempo todo cada placa de
trânsito? E se são alcoólatras enrustidos, estarão eles na moda?
Calma... Não vou me estender nesta lista! Estou indo,
tentar entrar na moda da vergonha na cara, pois eu também preciso de
muita! Me falta muita vergonha na cara por sempre crer que dizer estas
coisas para as pessoas resolve alguma coisa! Pensando bem, creio que
precisarei de uma porção maior que os demais! Pois ainda insisto em ser
politicamente correta, ecologicamente correta, tentando ser boa cidadã,
honesta e trabalhadora, me expondo aos saqueadores de tudo que posso
produzir!
* Rita
Shimada Coelho é escritora e cronista. É colaboradora de Via
Fanzine.
* * *
O Estado e a violência:
Complexo do Alemão mostra a realidade
brasileira
O Brasil real é muito diferente da
euforia oficial que mostra apenas aquilo
que lhe interessa e que, em alguns casos,
ainda cerceiam o espaço para o debate.
Por
Flávio Riani*
Ao longo dos últimos
oito anos os governantes brasileiros, começando pelo Presidente da
República e passando por alguns governadores e também prefeitos, têm se
vangloriado por terem feito choques de gestões, quando a realidade
mostra um país com mínimos avanços, sobretudo na área social.
Nos últimos anos,
mais precisamente a partir de 2003, o Brasil beneficiou-se da retomada
do crescimento mundial e graças aos seus recursos naturais conseguiu
obter crescimento da produção nacional, resultante das elevações nos
patamares das exportações. Quanto a estas, nada mudou efetivamente na
nossa pauta, na qual os minérios e a soja são ainda bens de maiores
pesos relativos no total exportado.
As taxas de
crescimento do PIB alcançadas pelo país foram melhores, se comparadas
com nossa performance dos últimos 15 anos, porém inferiores às da
maioria dos países sul-americanos e muito inferior às dos países
“emergentes”.
Tal resultado teve
participação muito residual de políticas governamentais, tanto federais
quanto estaduais.
No campo das finanças
públicas pouco se avançou. Na realidade, a lógica dos governos, federal
e estaduais, foi as mesmas dos governos anteriores, cujo objetivo era e
continua sendo a geração de recursos para pagamento dos encargos da
dívida pública.
No governo federal e
nos governos estaduais a arrecadação tributária teve crescimento real
superior a 120% nos últimos oito anos. Porém, estes recursos foram
utilizados de forma inadequada, não contribuindo em nada para que
houvesse transformações estruturais no país.
O complexo do Alemão
revela esta cruel realidade espalhada para outras grandes cidades
brasileiras.
Na realidade, os
governos continuam atuando para atender interesses de grupos privados,
sobretudo na área da construção civil, e com obras totalmente
desnecessárias sob o ponto de vista social e administrativo. Como forma
de amenizar estas benesses, o governo utiliza a bolsa família como um
antídoto às transformações necessárias e como forma de controlar
manifestações populares. Enquanto se destina anualmente mais de R$ 100
bilhões para pagamento de parte dos juros da dívida, a bolsa família
alcança menos de R$ 14 bilhões, e mesmo assim suficiente para que a
sociedade acredite que ela tem transformado o país.
A verdade nua a crua
está mostrada no complexo do Alemão. Ele é reflexo do descaso do governo
com a população. Ela mostra a forma desumana em que vivem grandes
contingentes de famílias brasileiras. Além disso, ela mostra também que
na desesperança e na miséria, os jovens, na falta de perspectivas, se
envolvem na vida aparentemente fácil do bandidismo.
O Brasil real é muito
diferente da euforia oficial que mostra apenas aquilo que lhe interessa
e que, em alguns casos, ainda cerceiam o espaço para o debate.
*
Flávio Riani é economista e professor da Universidade de Itaúna.
* * *
Confrontos no Rio:
Operação espanta bandido
O enaltecimento do apoio da população
causa estranheza por vir do próprio Estado e da imprensa.
Por
Pedro C. da Costa*
De
São Paulo-SP
Para
Via Fanzine
De início uma constatação: como está a bandidagem no Rio de
Janeiro, só é possível realizar uma Copa do Mundo de futebol e uma
Olimpíada se os bandidos consentirem. É fato.
Já as autoridades repetem a cantilena de empáfia ao afirmar
de que agora vai! Quantas vezes e por quantos governadores essa frase já
foi repetida e ninguém reproduz, nem na mídia. E a guerra está
decretada, com algumas medidas diferenciadas nesse enfrentamento no Rio
de Janeiro. Embora com muitos erros e algumas ações de puro
faz-de-conta.
Começa pela citação de especialistas e de autoridades de
que o morro da Vila Cruzeiro é um dos preferidos do tráfico, seu QG,
para firmar suas atividades. Ora, se é o preferido, seria elementar que
as Unidades de Polícia Pacificadora deveriam ter começado por lá. Se
visam mesmo a pacificação, deve-se começar pelos locais mais complexos,
até para facilitar a instalações em locais mais fáceis. Já que a nossa
imprensa condescendente não pergunta, fica a pergunta ao secretário de
Segurança e ao governador do Rio de Janeiro por que não começaram e nem
sequer ainda tem a UPP naquele morro. Pergunta para apontar erro de
estratégia ou conivência também desse governo, já que está lá há 4 anos
e, não fosse reeleito, teria deixado a insegurança pior do que estava
quando assumiu.
Mas é alentador que as autoridades colocaram as Forças
Armadas nessa guerra. O argumento diversionista de que elas não são
preparadas para ações urbanas foi colocado de lado. Que, de fato, podem
até não estar, mas não se pode saber se estariam para ações externas, já
que estas simplesmente nunca existiram; nem sequer numa ameaça. Ainda
que acertada, não é razoável só agora descobrirem que os “caveirões” da
Marinha traspassam pregos que sempre impediram a subida da Polícia
Militar. Em razão do rabecão da Marinha surgiu a imagem de uma nuvem de
bandidos fortemente armados em disparada. Neste ponto a ingenuidade do
cidadão comum leva à indagação por que não havia helicópteros blindados,
com homens armados, em sentido inverso, para forçar a rendição. Ou...
No dia seguinte, a imprensa noticiava que em dez minutos
uma nova operação militar começaria na vazia Vila Cruzeiro. E, de novo,
não se entende se as autoridades queriam mesmo enfrentar esse problema
ou repetir mais uma encenação que já vem há décadas. Os bandidos teriam
fugido para outras favelas do Morro do Alemão. De novo, a palavra volta
ao secretário de Segurança e ao governador do Rio de Janeiro: por que
iam para a Vila Cruzeiro e não para o Morro do Alemão? A crítica do
secretário às imagens das Redes Globo e Record de Televisão responde a
uma pessoa menos ingênua.
A cobertura ufanista da imprensa nacional com a presença
das Forças Armadas deveria vir acompanhada, ao menos, de citação às
repetidas vezes que essas Forças já estiveram no Rio de Janeiro com a
violência trazendo o resultado que se constata. Quanto ao “tudo” que o
presidente da República prometeu de apoio, seria salutar ressaltar que
esse tudo de agora não passou do nada nos oito anos deste governo, que
só tem mais um mês de mandato. Aí caberia se questionar se tivesse sido
feito um pouco a cada ano, se esse caos poderia ter sido evitado ou
amenizado. O enaltecimento do apoio da população causa estranheza por
vir do próprio Estado e da imprensa. É só fazer o que deve e como deve
ser feito, que nunca faltará apoio. O apoio óbvio à bandidagem era única
condição de sobrevivência, e não deveria causar surpresa a quem nunca se
fez presente.
Importa, agora, verificar como fazer para evitar o retorno
e o crescimento do domínio da bandidagem. Não pode ter recuo. As Forças
do Estado devem retirar as armas e passar a régua. Também devem vigiar
seus quartéis de onde muitas armas vão parar nas mãos dos bandidos.
Cabe alertar que a quantidade de motos roubadas
apresentadas poderia ser conseguida em qualquer cidade que se faça um
pente-fino na fiscalização da documentação delas. Especialmente nas
pequenas cidades para onde são levadas e negociadas as motos roubadas
nos grandes centros.
Deve ter bandido carioca arrependido da ordem para queimar
ônibus. Não tivesse feito essa asneira, estariam todos tranqüilos,
mandando e desmando nas favelas da Vila Cruzeiro, do Complexo do Alemão,
como estão noutros morros. Agora, falta só a Rocinha, outros morros, os
condomínios de luxo e toda a cidade. E os outros estados deveriam seguir
o exemplo.
Mesmo que a intenção tenha sido fazer uma Operação Espanta
Bandido, as imagens de fuga com milhares de fuzis exibidos e as
circunstâncias levaram a uma Operação Efetiva que, por mais cômodo que
seja, não há mais possibilidade de recuo do Estado.
*
Pedro Cardoso da Costa é bacharel em direito e articulista.
* * *
Desafiando o
Rio-mar:
A Saga Continua
Que importa que
haja ondas revoltas, ameaçando um casco acorrentando.
Quero respirar, no
último momento, a esperança diluindo-se em espumas,
espumas
desmanchando-se em esperanças...”.
(Arita D. Pettená)
Por
Hiram Reis e Silva*
De
Porto Alegre-RS
Para
Via Fanzine
O Projeto Desafiando o Rio-mar continua de vento em popa.
Embora seu protagonista esteja entrando na “melhor idade”, a energia
irradiada pelos quase cem amigos investidores que colaboraram com
passagens, equipamentos e capital necessário para as despesas de viagem,
a amável acolhida por parte dos povos ribeirinhos e autoridades do
Estado do Amazonas em cada Acampamento, Comunidade, Vila ou Cidade
visitada me fazem crer que atingirei meu objetivo maior que é navegar,
de caiaque, pelos principais afluentes do Amazonas, colher as
informações “in loco” e reportá-las aos amantes da natureza e patriotas
em geral.
A iniciativa privada começa, também, a participar, o
General de Exército Luiz Gonzaga Shroeder Lessa conseguiu convencer
empresários, que preferem manter o anonimato, a patrocinar o 1° Livro –
Descendo o Solimões, a “Opium Fiberglass”, do amigo Fábio Paiva, ofertou
um caiaque para o Projeto, a “Fluel Wetsuits Garopaba SC” doou uma roupa
de neoprene para podermos enfrentar com mais conforto os rigores do
inverno sulino.
As experiências colhidas no Solimões e no Negro foram
cuidadosamente analisadas, processadas e determinaram que eu além de
dedicar a uma exaustiva preparação física me preocupasse, mais ainda, em
conhecer, antes da descida, a história, as lendas, a geografia, de cada
local ou trecho a ser percorrido através de uma metódica e sistemática
busca em bibliografia especializada presente e pretérita. Alguns artigos
reportados ultimamente sobre Santarém e Itacoatiara são frutos desse
labor.
- Lagoas
Litorâneas
Quando inicio minhas jornadas da Lagoa da Fortaleza,
Cidreira, rumo à Barra do Rio Tramandaí, uma jornada de aproximadamente
30 quilômetros, aponto a proa diretamente para o canal que a une à
Laguna Manoel Nunes (-30°06’53,2”S / 50°13’39,6” W) onde existe uma
represa construída pela Corsan, que impede o acesso dos peixes que
demandam do Rio Tramandaí - um verdadeiro crime ambiental.
No inverno chuvoso, o canal quase nivela com a Lagoa da
Fortaleza, com isso, a navegação se torna mais rápida e permite que se
observe melhor o campo, as inúmeras espécies de pássaros e as tímidas
capivaras e ratões do banhado que povoam a região. Na foz do canal da
Laguna Manoel Nunes (-30°06’28,9”S / 50°13’15,1” W), normalmente se
avista um grande bando de colhereiros cor-de-rosa que, com suas cores,
embelezam a paisagem. A pequena e bela Lagoa Manoel Nunes está quase
totalmente tomada pelas algas, fato que certamente impede ou pelo menos
dificulta o uso de barcos a motor, redes de pesca e espinhéis pelos
adeptos da pesca predatória.
Para não se perder muito tempo para achar o acesso à
entrada do canal do Gentil (-30°05’08,4”S / 50°12’53,5” W), totalmente
camuflado pelos juncos é interessante fazer uso do GPS. As águas, no
inverno, invadem as terras baixas e se torna difícil reconhecer o
traçado original do canal, é importante, então, se guiar pelos juncos
que, na época da seca definem as margens do pequeno braço. É sem dúvida
o mais belo canal de todo trajeto, o traçado sinuoso do canal, as
árvores moldadas pelo vento nordeste, as raízes retorcidas da vegetação
agreste, as plantas aquáticas e as areias brancas dão um toque especial
à idílica paisagem. Em uma dessas oportunidades fui acompanhado, durante
um bom tempo, do alto, por um “João Grande” (Ciconia Maguari), o enorme
pássaro voava em círculos e acompanhou-me durante exatos dez minutos,
mantendo uma distância razoável. Ao sair do canal (-30°04’04,4”S –
50°12’19,5” W) e entrar na Lagoa do Gentil, parcialmente tomada por
algas, a civilização se apresenta mostrando ao longe raras edificações,
na sua margem direita. Novamente é necessário fazer uso do GPS para se
achar a entrada exata do canal sinalizada, ao longe, por uma grande
antena.
A entrada do largo Canal (-30°03’03,5”S – 50°11’31,7” W) é,
igualmente, camuflada pelos juncos. Normalmente se encontram pescadores
em ambas as margens e a alta ponte de madeira, cuja figura, na seca,
lembrava uma grande ave pernalta, com a cheia, estava com o piso de uso
quase ao alcance de minha mão. Os cruéis vestígios da civilização se
fazem presentes, garrafas pet e plásticos, dão mostras que os pescadores
ali presentes não são amantes da natureza, mas vis predadores do
meio-ambiente. Na boca do canal (-30°02’27”S – 50°10’51” W) as águas
haviam coberto suas praias de areias brancas. A Lagoa da Custódia está
totalmente tomada de construções nas suas margens Este e Nordeste.
Novamente é necessário fazer uso do GPS para identificar o
Canal Tramandaí (-30°00’08”S – 50°11’11,6” W). As margens do canal estão
tomadas por construções, a visão, antes agradável e bucólica, é
substituída pela poluição, mau cheiro, e descaso com o meio ambiente
daqueles que moram às suas margens. Curiosas “garagens” de barcos dão um
toque bastante interessante à paisagem. Na foz (-29°59’24,2”S –
50°10’41,5” W), se avista, a cidade de Tramandaí.
Deve-se apontar a proa para uma antena de alta tensão
encravada no meio da Lagoa do Armazém, bem próxima à entrada do Rio
Tramandaí (-29°59’16,1”S – 50°09’08,7” W). A região é bastante
assoreada, desde a foz do canal até a Barra do Rio Tramandaí. A média de
um deslocamento desses é de quatro horas e 40 minutos de navegação,
considerando umas três ou quatro pequenas paradas para hidratação, e a
maior parte dela por belos e agradáveis recantos.
- O Amigo Guaíba
Voltei ao Guaíba depois de um mês de separação. Meu fiel
companheiro me recebeu carinhosamente e demonstrava isso envolvendo o
convés do caiaque com suas ternas águas e acariciando meus cabelos com
uma suave brisa. Resolvi arriscar uma jornada mais longa até a Ilha do
Chico Manuel, a vinte quilômetros da Raia 1, um percurso de 40
quilômetros de ida e volta, preciso aos poucos ir estendendo minhas
jornadas para enfrentar o novo desafio.
As ondas suavemente embalavam minhas lembranças e eu
rememorava minhas inúmeras experiências com aquele cúmplice caudal.
Dentre todas, uma em especial, a que exigira maior esforço e disciplina,
o “Desafio Rosa Mística” em homenagem à minha querida Rosângela Maria de
Vargas Schardosim, de Bagé.
Naquela oportunidade parti rumo à Lagoa dos Patos às
03h15min, numa noite clara, sem lua, acariciado pela brisa suave vinda
do quadrante Sul. Ultrapassei os umbrais da Lagoa dos Patos margeando a
Ponta da Formiga e aportei na Ilha do Veado. Uma pequena e bela ilha em
que as rochas dificultavam a aportagem e atraquei em uma pequena angra,
ao Sul, protegida das ondas. Retornei, à Raia 1, às 21h30min, cansado,
mas satisfeito. Remei 97 quilômetros durante 13h30min.
Foi um teste que pretendo repetir até dezembro deste ano
para verificar as reais condições de minha velha carcaça de Argonauta.
Aos amigos investidores afirmo que continuaremos a
percorrer os caudais amazônicos enquanto tivermos forças nos braços.
Depois do Solimões e Negro vou singrar as águas do Amazonas e Tapajós no
final deste ano e no ano que vem estamos estabelecendo contatos para
enfrentar o Rio Madeira de Porto Velho, Rondônia, até Itacoatiara às
margens do Amazonas. Ainda existem outros mananciais preciosos a serem
pesquisados, como o Rio Branco, o Purus, o Japurá, o Tocantins, que
dependem, apenas, de algum apoio local para que isso se torne realidade.
Continuem nos apoiando e ao final do Projeto Aventura teremos compilado
e, se o Grande Arquiteto do Universo permitir, editado uma verdadeira
enciclopédia amazônica.
*
Hiram Reis e Silva é coronel de Engenharia, professor do Colégio Militar
de Porto Alegre (CMPA), acadêmico da Academia de História Militar
Terrestre do Brasil (AHIMTB) e presidente da Sociedade de Amigos da
Amazônia Brasileira (SAMBRAS).
Seu
site é
www.amazoniaenossaselva.com.br.
-
Doações ao projeto e contatos:
hiramrs@terra.com.br
* * *
Memória curta:
Questões transcendentais e os
lambaris da minha infância
Por
Beto Canales*
De
Porto Alegre-RS
Para
Via Fanzine
Dia desses ouvi que alguns peixes possuem memória e ela
dura oito segundos. Magnífico. Seria como escrever uma frase sobre...
Sobre o que mesmo? Ah, lembrei. Seria como escrever uma frase sobre...
Ah, claro! Seria como escrever uma frase sobre... Pode parecer estranho,
mas seria mais ou menos assim.
Depois desse relevante e científico fato, vários pontos de
interrogação da minha infância estão esclarecidos. Por exemplo, os
lambaris que eu pescava e, num ato de extrema benevolência, digno de um
verdadeiro deus, colocava novamente na água para logo em seguida
voltarem em meu anzol. Mistério desfeito. Minha teoria que os peixes
eram suicidas foi por água abaixo, literalmente. Eles não tinham o
instinto de tirar a própria vida, eram esquecidos mesmo. Por isso
morriam pela boca. Sempre os achei alegres, faceiros demais, como se diz
por aqui, para serem suicidas. Sinto-me reconfortado. Não se tratava de
nenhum desvio psicológico mais agudo, era simplesmente falta de
capacidade. E mesmo que frito, com farinha de mandioca, torradinho,
pouca diferença faria.
Mas a questão não é essa. Minha infância está lá longe,
onde não posso voltar e, na verdade, ela não existe mais. Somente as
lembranças, as histórias que vivi, ou deixei de lado, é que estão aqui,
décadas depois. Portanto, o passado é mais ou menos como o futuro: só
existe nas palavras e na imaginação.
Afirmei outro dia que somente nossa vida pregressa permite
a mentira. O passado nos fornece a prerrogativa de faltar com a verdade.
Fabuloso. Algo para ser mentira tem que ter acontecido de forma distinta
a relatada. Ou seja, o fato já deve ter existido. E, se ele pertence ao
passado, é óbvio que não existe mais. Portanto, mentira é duas vezes
mentira. Isso é assustador. Sobre o futuro, não há como mentirmos,
afinal, se ele ainda não aconteceu, permite que o fato supostamente
mentiroso aconteça. Portanto, quanto ao futuro nos enganamos e não
mentimos.
Fui claro? Não, não fui. E não há como ser. De outra forma:
uma vez joguei uma partida de futebol e meu time ganhou de dez a zero.
Fiz todos os gols. Primeiro fato: esse jogaço de bola não existe mais.
Nada referente a ele existe, inclusive os gols de letra que marquei.
Segundo: talvez eu tenha me enganado quanto a autoria das finalizações.
Sendo mais exato, talvez o engano tenha sido quanto ao número que
possivelmente tenha sido zero no lugar do dez. Ou seja, naquela partida
que existiu (portanto não existe mais) eu criei situações que também não
existiram. Duplicidade de inexistências, portanto, requisito para
mentiras. Simples como o teorema da incompletude de Gödel.
Tenho um certo fascínio por esse tema. Seria, portanto, a
mentira o avesso da verdade? O vazio do vazio? O vácuo de qualquer
existência? Ou simplesmente a nossa memória? Interessante: mentiras são
aquilo que lembramos, afinal, tenham ou não acontecido tais recordações,
elas não existem mais.
Quer saber? Eu queria mesmo é a memória de oito segundos.
Certamente os lambaris não mentem.
* Beto Canales é editor do blog
Cinema e bobagens
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