Nordeste:
Semiárido:
Nove anos perdidos
A história da irrigação no Semiárido tem
sido marcada pela descontinuidade das ações.
Por
Osvaldo Coelho*
De
Petrolina-PE
Para
Via Fanzine
29/12/2011

A
primeira tentativa para desenvolver a região semiárida coube a Epitácio
Pessoa,
em
1920, com a construção das primeiras grandes barragens, estratégicas no
combate à seca.
A importância da irrigação no mundo foi muito bem definida
pelo indiano N. Gulhati: “a irrigação em muitos países é uma velha arte,
tanto quanto a civilização, mas para o mundo é uma ciência moderna – a
ciência da sobrevivência”. Não é por outra razão que os dois países mais
populosos do mundo, a Índia e a China utilizam-na maciçamente pela sua
capacidade inigualável de criar empregos.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura – FAO, a área irrigada da Índia passou de 33,8
milhões de hectares em 1975, para 59 milhões em 1999. Foram implantados
25,2 milhões de hectares em 24 anos, o que significa mais de 1 milhão de
hectares por ano. Na China, o ritmo não deixa de ser, também, notável:
passou de 42 milhões de hectares em 1975 para 53 milhões em 1999, ou
seja, foram implantados 11 milhões em 24 anos ou 458 mil por ano.
Quando visitei a famosa barragem Hoover no Rio Colorado, no
Oeste dos EUA, emocionei-me ao ler a frase que registrava o
agradecimento do povo ao presidente Roosevelt: “por seus esforços
incansáveis e empenho público inigualável”, por realizar aquela grande
obra em plena grande depressão, que ampliou e consolidou a irrigação nos
estados do Arizona, Califórnia e Novo México. Emocionei-me porque tenho
a exata noção do que significa a irrigação como instrumento gerador da
prosperidade e o desenvolvimento de uma nação, principalmente, nas
regiões áridas e semiáridas do planeta.
Lá nos EUA, houve continuidade. Em 1902, foi criado o
Bureau of Reclamation, que construiu os projetos públicos de irrigação
nos 17 estados do Oeste americano, que tornaram produtivas áreas
estéreis dos deserto Mohave, Sonora e Colorado e fez da Califórnia o
mais rico estado da união americana. Aqui, no nosso Semiárido, também
começamos cedo. A Inspetoria de Obras Contra as Secas – IOCS foi criada
em 1909 e a Comissão do Vale do São Francisco em 1948, contudo em muitos
governos esses dois órgãos, e seus sucessores Departamento Nacional de
Obras Contras as Secas – DNOCS e Companhia de Desenvolvimento dos Vales
do São Francisco e do Parnaíba – Codevasf não dispunham de recursos para
desenvolver seus planos de trabalho. O governo passado deu as costas
para a irrigação. O projeto de irrigação Pontal, em Petrolina, com área
irrigável de 7.800 hectares, iniciado no governo Fernando Henrique, em
1995, foi paralisado.
A história da irrigação no Semiárido tem sido marcada pela
descontinuidade das ações. A preocupação com a irrigação na região tem
sido propagada em vários governos, entretanto, os gastos com obras não
têm demonstrado que esta prioridade tenha sido cumprida.
A primeira tentativa para desenvolver a região coube a
Epitácio Pessoa, em 1920, com a construção das primeiras grandes
barragens, estratégicas no combate à seca. Artur Bernardes paralisou.
Juscelino Kubistchek idealizou e fundou programas de irrigação no Vale
do Jaguararibe e Vale do São Francisco. O governo da revolução implantou
43 mil hectares, Fernando Henrique Cardoso, 32 mil.
Se nos últimos nove anos, fossem implantados 60 mil
hectares, o que era possível, teriam 180 mil empregos no Semiárido. Eis
o que os nove anos perdidos ficaram devendo ao Semiárido: 180 mil
empregos.
Agora, o ministro Fernando Bezerra Coelho anunciou novo
compromisso com a irrigação em nome da presidente Dilma Rousseff. Se
ocorrer, creio que seremos a região mais rica do país. Só o Canal do
Sertão poderá gerar 600 mil empregos. Se somarmos o Canal do Sertão, o
projeto Salitre, o Baixio de Irecê, os projetos das ilhas, poderemos
chegar a um milhão de empregos. É o que poderemos, poderemos mais.
*
Osvaldo Coelho é empresário e ex-deputado federal por Pernambuco.
- Imagem: divulgação.
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