Modelo energético:
Nuclear em desuso
O plano japonês apresentado é semelhante
ao da Alemanha, primeira nação
industrializada que comprometeu desligar
todos os seus 17 reatores até 2022.
Por Heitor Scalambrini Costa*
De Recife-PE
Para Via
Fanzine
21/09/2012
Setembro de 2012 ficará marcado na história pelos anúncios
feitos pelos governos japonês e francês, a respeito da decisão de se
afastarem da energia nuclear, responsável pelos piores pesadelos da
humanidade. Esta tomada de posição tem um significado especial, visto
que estes países, até então defensores desta fonte energética, têm em
suas matrizes a maior participação mundial da nucleoeletricidade. Depois
da histórica decisão do governo alemão em abandonar em definitivo a
energia nuclear, agora são os governos do Japão e da França que vão
rever os planos relativos ao uso do nuclear.
O Japão anunciou que irá abrir mão da energia nuclear ao
longo das próximas três décadas. Esta decisão, tomada após um encontro
ministerial (14/09), indica o abandono de tal fonte energética na
"década de 2030". Esta posição governamental foi tomada após o desastre
de Fukushima que abalou a confiança da população na segurança dos
reatores nucleares. O plano japonês apresentado é semelhante ao da
Alemanha, primeira nação industrializada que comprometeu desligar todos
os seus 17 reatores até 2022. Sem dúvida para o Japão, a tarefa é
complexa visto que 1/3 da eletricidade gerada no país é proveniente dos
50 reatores instalados em seu território.
Ainda sobre a decisão do governo japonês existem criticas
por não ter sido especificado, quando exatamente a meta seria alcançada,
já que a decisão agora tomada não seria obrigatória para governos
futuros. O que significa em principio, que uma nova administração
poderia reverter os planos. Todavia, analistas afirmam que dificilmente
esta mudança de rumo ocorreria pelo alto engajamento e conscientização
dos japonese(a)s, demonstrada em recente pesquisa de opinião, onde mais
da metade da população se diz favorável ao fim do uso do nuclear no
país. Também houve criticas sobre o porque deste calendário ser tão
dilatado, já que o país chegou a desligar 48 dos reatores depois do
desastre de Fukushima, e poderia, com o aumento da participação das
fontes renováveis e com um ambicioso programa de eficientização
energética, atingir a meta num prazo menor. Todavia, mesmo com estas
ressalvas, a decisão anunciada aponta para um novo rumo na questão
energética japonesa e mundial.
Já na França, em recente conferencia realizada (14 e 15/9)
sobre questões ambientais, em Paris, o presidente, François Hollande,
cumprindo promessa de campanha, declarou que está engajado na transição
energética, baseada em dois princípios: eficiência e fontes renováveis;
e que planeja reduzir a dependência do país da energia nuclear, hoje
correspondendo a 75% da matriz energética, para 50% até 2025.
Sem ter metas conclusivas para o abandono definitivo da
energia nuclear no seu território, sem duvida a decisão do governo
francês é histórica e extremamente positiva, visto que até então,
discutir a questão nuclear na França era tabu. Para aqueles defensores
desta tecnologia que sempre mencionavam o estado francês como referencia
de uma experiência exitosa na área nuclear, fica ai uma derrota de
grandes proporções. Sem dúvida, a França rever sua posição, mesmo diante
das dificuldades, da complexidade do problema e das contradições
existentes, é indispensável para um mundo de amanhã sem nuclear.
Somados a Áustria, Bélgica, Suíça, Itália (decisão
plebiscitaria, onde mais de 90% da população votou contrário à
instalação de novos reatores nucleares em seu território) que reviram os
planos de instalação de novas usinas, e decidiram se distanciar da
energia nuclear; agora a Alemanha, o Japão e a França tomaram decisões
semelhantes.
Diante deste contexto internacional fica aqui uma pergunta
que não quer calar: porque então o governo brasileiro insiste em
planejar a construção de usinas nucleares? Com a palavra as “autoridades
energéticas”.
* Heitor Scalambrini Costa é professor Universidade Federal de
Pernambuco.
- Visite a página do Movimento
Ecosocialista de Pernambuco:
http://www.mespe.com.br/
* * *
Alerta:
Um apelo aos arquitetos e afins (sobre as
árvores)
A questão que eu quero tratar aqui, mais
como um desabafo, é da ausência
e até da eliminação das árvores na maior
parte dos projetos arquitetônicos desenvolvidos.
Gabriel Bertran
Para
Treesforever
27/02/2012
Em grande parte das postagens deste blog, foram tratadas
questões ambientais de ordem nacional e até mundial. Claro que nunca
devemos nos esquecer da emergência em que o Planeta se encontra, a qual
se deve, sem dúvida, à magnitude dos problemas. Da mesma forma, é óbvio
que os grandes problemas resultam de uma série de pequenos impactos, em
escala local, em todas as atividades humanas. Portanto o "agir
localmente, pensar globalmente" nunca esteve tão em voga como nestes
tempos de sustentabilidade.
Eu poderia debater aqui neste tópico - como já fiz em
outros - aspectos da arquitetura sustentável. Sabe-se que este ainda não
é, digamos assim, um "tipo" de arquitetura propriamente dito e sequer
bem definido. Está em formação, até o momento não passa de um apanhado
de sistemas construtivos e formas de projetar os quais, sendo mais ou
menos utilizados, transformam uma construção em sustentável (ou não).
Na verdade a questão que eu quero tratar aqui, mais como um
desabafo, é da ausência e até da eliminação das árvores na maior parte
dos projetos arquitetônicos desenvolvidos (e executados) hoje em dia no
Brasil. Ressalva-se que não quero aqui criticar o trabalho dos colegas,
longe disso. Sei que muitas vezes este desprezo quase generalizado pela
arborização decorre de falta de visão ou de costume e até influência de
clientes mal orientados. Sei que há exceções e parabenizo os
profissionais e clientes que valorizam a arborização.
Também não quero afirmar que o plantio e a preservação das
árvores, por si só, definam uma arquitetura sustentável. A
sustentabilidade é um conjunto de fatores. Nem quero comprovar
cientificamente que o plantio de árvores em nossas cidades vá diminuir o
aquecimento global. Sei que encontrarei diversos opositores neste
quesito, os quais afirmam que as árvores não mudam em nada nosso clima
global. Podem até não amenizar as mudanças climáticas a nível mundial
(embora EU acredite que elas ajudem sim), mas é no microclima das
cidades que seu papel é mais fortemente percebido. Querem um exemplo
prático? As tempestades de verão quando atingem a grande São Paulo (o
que não é incomum) são muito mais violentas, causando problemas ainda
maiores, nas regiões menos arborizadas da metrópole, como é o caso da
Zona Leste. Além de ser a área mais povoada, é a mais extensa e tamanha
extensão é, em sua maioria, concretada e asfaltada. O que ocorre é que a
maior concentração de calor causada por esta imensa faixa de concreto
aumenta a intensidade das tempestades sobre este local. Ao mesmo tempo,
a ausência de árvores faz com que a água chegue mais rapidamente ao
solo. E este solo, por ser totalmente impermeabilizado, não dá vazão à
tromba d´água. Isso leva às enchentes catastróficas, com perdas humanas
e materiais significativas. Ninguém fez o cálculo ainda, mas é imenso o
prejuízo pago (financeiro e emocional) pela população que não planta
árvores! Está aí uma das provas (práticas) do quanto as árvores são
importantes para nossas cidades, para nosso povo.
Eu comentei acima um problema de magnitude relativamente
grande, que envolve grandes áreas da maior metrópole brasileira. Mas e
no nível micro? São inúmeras as vantagens das árvores no dia a dia das
pessoas. Elas aumentam a nossa qualidade de vida, proporcionando uma
paisagem mais aprazível, agradável aos olhos e a todos os sentidos de um
modo geral, visto o microclima do local onde as casas estão localizadas
ser muito mais equilibrado, agradável. É só experimentar caminhar, neste
verão tropical brasileiro, por uma rua sem árvores e por outra com. A
diferença é sensível. Num horário em que estejamos a 30 graus de
temperatura ambiente, sob as árvores o alívio chega a até 10 graus a
menos, permitindo elas que caminhemos a agradáveis 20 graus célsius! Por
aí vemos a falta de caridade consigo mesmo e também com as outras
pessoas quando um morador corta a árvore em frente a sua residência:
está ele ao mesmo tempo se privando de um clima melhor e ainda por cima
condenando todos os pedestres que ali passam a um calor insuportável! O
pior é que esta é uma atitude cada vez mais comuns de norte a sul do
Brasil. Atitude execrável, que deveria ser severamente punida pelas
prefeituras. Mas estas são coniventes, em sua maioria.
Continuando com as vantagens das árvores para a população
em geral, já foi falado da diminuição da velocidade das águas que chegam
ao solo nas tempestades. Podemos também citar a regulação, além da
temperatura, da umidade relativa do ar, fator importantíssimos nestes
tempos de mudanças climáticas em que, além das tempestades fortíssimas,
temos tido períodos prolongados de seca inclusive no verão. Não se pode
esquecer também da purificação do ar, da beleza das flores, da atração
dos pássaros, da barreira contra ventos que elas formam, da fertilização
da terra. Enfim, são inúmeros benefícios que elas nos trazem.
Alguns alegam os perigos de quedas de galhos sobre a rede
elétrica e sobre veículos estacionados. Realmente isto ocorre, porém o
plantio de espécies adequadas, com galhos fortes e feita a manutenção
periódica (podas técnicas, corretamente supervisionadas), bem como as
inspeções dos técnicos da prefeitura, estes transtornos são evitados.
Vale dizer que já passou da hora de nossas cidades terem fiação elétrica
enterrada. Ela é muito mais segura tanto do ponto de vista da
arborização quanto de outros riscos que os fios expostos causam. E a
beleza de não termos aquele emaranhado de fios poluindo visualmente as
ruas é incalculável. Além de tudo, deixam as árvores em paz. Existem
países mais pobres que o Brasil que já adotaram esta solução para a
distribuição de energia, telefonia, etc. Por que aqui ainda não?
Por todos estes diversos fatores é que me entristece cada
vez mais os arquitetos, engenheiros e construtoras da atualidade não
contemplarem a arborização em seus projetos. Em cada imóvel que é
reformado a primeira coisa que se faz é, de forma deliberada e
ignorante, cortar todas as árvores. E no caso de construções novas,
então.. se no terreno existem árvores, elas raramente são poupadas. Após
finalizada a nova casa (ou edifício), não se planta nada além de
arbustos baixos (em muitos deles corremos o risco de tropeçar, de tão
baixos) ou palmeiras importadas da Indonésia ou outra localidade
asiática (sendo que o Brasil é um dos países mais diversos neste tipo de
planta). Vale aqui abrir um parênteses: eu não sou contra as palmeiras,
definitivamente. Elas até estão em extinção em nossa mata atlântica,
devido à extração criminosa do palmito. Mas as palmeiras devem ser
plantadas em um contexto, em conjunto com outras árvores nativas do
Brasil. Não apenas palmeiras isoladas, como é bastante comum. Nos novos
empreendimentos imobiliários parece haver uma "ditadura das palmeiras".
Elas sozinhas não proporcionam quase nenhuma sombra e os pássaros não
conseguem viver nelas. É necessário resgatar a biodiversidade inclusive
em nossos jardins e calçadas, combinando diversas espécies de árvores,
arbustos, etc.
Não se sabe se essa tal "moda" de jardins desprovidos de
árvores e erroneamente chamados de "limpos" (e horríveis, diga-se de
passagem) é passageira. Espero que seja, porque estão enfeiando por
demais nossas ruas, avenidas, estradas. Vale dizer que nos bairros das
cidades norte-americanas as árvores são regra, e não exceção. Ao
abrir-se novos loteamentos uma das primeiras providências, junto com a
pavimentação, é o plantio de árvores. Assim deveria ser aqui no Brasil.
E as leis para sua preservação deveriam ser mais rígidas, bem como os
incentivos à preservação das existentes (como isenção de IPTU, por
exemplo) tinham que ser amplamente divulgadas e utilizadas. Inclusive
deveriam propor nas câmaras leis para preservação dos "meios de quadra".
São redutos do verde, amplamente arborizados, resquícios dos quintais de
antigamente, que muitas vezes estão presentes em áreas densamente
povoadas. Os construtoras simplesmente ignoram isto, construindo em toda
a superfície possível, eliminando esta biodiversidade tão importante em
nossas cidades. Conseguimos construir muito (até aumentando o potencial
construtivo), preservando o verde.
Não é somente nos parques que o verde precisa estar
presente. Temos sim carência de parques em nossas cidades e eles são
importantíssimos como áreas de lazer e convívio. Basta ver como ficam
cheios de famílias aos domingos! Então por que ao invés dos parques
estarem na cidade, a cidade não passa a estar dentro do parque? Pensem
nisso arquitetos e construtores, antes de projetarem relegando o verde
ao segundo plano. Vamos colocar as árvores como prioridade. Vamos lançar
a moda dos "jardins biodiversos"! Comentem e divulguem essa ideia.
Formemos uma corrente em prol de mais árvores em nossas casas,
edifícios, condomínios, empresas, indústrias, ruas, avenidas, estradas,
etc.
* * *
Divirta-se:
É Carnaval no Brasil
Há quem diga que o ano começa no Brasil
só depois do Carnaval e com o fim do horário de verão.
Por
Pepe Chaves
De
Belo Horizonte
Para Via Fanzine
17/02/2012
Nesse momento, em que “aperto as malas” para mais uma
estadia de descanso em Itaúna, o clima de carnaval toma conta de todo o
país. Na própria Itaúna, a prefeitura promove o anunciado mais longo
carnaval da história.
Outras cidades da região também entram no clima, como Pará
de Minas, Divinópolis, Mateus Leme e Bonfim, onde ocorre o tradicional e
ímpar carnaval a cavalo.
Na capital, a animação vai rolar em diversos locais
públicos também nos mais tradicionais clubes mineiros.
Já fui informado que o trânsito para a saída de BH está
horrível, como sempre, com pioras nesses períodos de feriado.
Enquanto muitos buscam as baladas carnavalescas, outros
preferem a paz de paisagens litorâneas paradisíacas e desérticas, ou
interior das matas, buscando as cachoeiras, sombra e água fresca.
Há quem diga que o ano começa no Brasil só depois do
Carnaval e com o fim do horário de verão. Se for verdade, é bom
recarregar as baterias, pois este é um ano de eventos relevantes, como
as Olimpíadas e as eleições, prometendo muitas emoções, até dezembro
voltar!
Distantes dos antigos carnavais, nessa época ‘hi-tech’, há
fantasias para todos os gostos. Até mesmo para aqueles que desejam ficar
longe do som das cuícas, tamborins e baterias para somente descansar das
turbulências mundanas atuais.
Temos um longo feriado pela frente e estamos num país em
que a liberdade nos dá plenas condições de vivenciá-lo como bem
entendemos. Nada melhor que isso...
Ótimo feriado pra você!
* * *
Tribos urbanas:
Mensageiro do ódio
Diga-se de passagem, que o conceito de
classe social varia na concepção
de vários sociólogos e não cabe num
pequeno artigo aprofundar o tema.
Por
Maria Lúcia Victor Barbosa*
De Londrina-PR
06 /05/2011
O brutal atentado ocorrido em 11 de setembro de 2001 nos
Estados Unidos mostrou ao mundo de modo ampliado uma das faces mais
temidas da violência: o terrorismo. Ao susto e à dor provocados pelo
covarde ataque às Torres do World Trade Center e ao prédio do Pentágono,
no qual centenas de norte-americanos e estrangeiros, entre os quais,
quatro brasileiros morreram de modo pavoroso, seguiram-se intensamente,
pelo menos no período imediato ao hediondo ataque, o medo e a
insegurança. Justamente sobre esses dois sentimentos, o terror lança
tentáculos para produzir a dominação sobre suas vítimas.
Viver com medo é tornar-se escravo e foi esta escravidão
psicológica que o monstruoso Osama Bin Laden, misto de fanático e
psicopata, prometeu aos Estados Unidos por ele chamado de “Grande Satã”.
O profeta do caos alardeou que faria chover aviões sobre aquele país e
volta e meia, para escarnecer dos norte-americanos que durante quase dez
anos o procuraram em vão, tornou-se o mensageiro do ódio através de
mensagens gravadas em áudio e divulgadas, principalmente, pela rede de
TV Al-Jazeera.
Em algum lugar que não se sabia onde a figura sinistra do
criador do Al-Qaeda (a base) em 1988, sobreviveu por muito tempo depois
do atentado de 11 de setembro de 2001, lembrando que o terror significa
a tensa espera de um inimigo que ataca sem se fazer anunciar e em
lugares inesperados.
O milionário saudita, que na expressão de Giles Lapouge era
“a quintessência do islamismo mais enlouquecido”, foi responsável por
inúmeros atentados e pela morte de centenas de pessoas inocentes Entre
seus seguidores estavam Jihadistas islâmicos, mujahedins (jihadistas de
origem iraniana), terroristas radicais antissemitas, o que significa que
sua guerra santa era também contra os judeus, alago que faz lembrar a
figura também abjeta do iraniano Ahmadinejad cuja meta é destruir
Israel.
A recente morte de Bin Laden, em 1º de maio, numa operação
espetacular do governo norte-americano livrou, portanto, o mundo de um
desses monstros que de quando em quando assombram a humanidade. Mas, se
nos Estados Unidos houve alívio e euforia, entre os fundamentalistas
islâmicos houve choro e ranger de dentes.
Manifestações de veneração, admiração e carinho pelo
genocida Bin Laden não faltaram também entre antiamericanos,
antissemitas e esquerdistas de todo mundo. Logo apareceram defensores
dos direitos humanos que não foram vistos quando despencaram as Torres
Gêmeas em Nova York. E há os que se apiedaram do pobre terrorista, como
se numa guerra os que tombam não soubem que nela estão para matar ou
morrer. Na mesma linha de defesa do criminoso e crítica aos Estados
Unidos é dito que esse país invadiu o Paquistão. Ora, o Paquistão é
aliado do governo norte-americano para combate ao terrorismo e para isto
recebe milhões de dólares. Portanto, se alguém falhou foi o governo
paquistanês, pois Bin Laden morou por longo tempo na cidade paquistanesa
de Abbottabad, quase dentro de um quartel general.
Na América Latina, onde os Estados Unidos são também
odiados, houve curiosas manifestações. Na Argentina dois homens de nome
Musa Isa e Santiago Torres expressaram através de jornal seus profundos
pêsames à família do terrorista. No Brasil, um vereador gaito da cidade
de Anápolis (Goiás) pediu na Câmara um minuto de silêncio em homenagem
ao companheiro Bin Laden. Só falta pedir a canonização de Bin Laden
juntamente com Hitler.
Discute-se muito no momento se com a morte do líder
globalizado e símbolo máximo do Al Qaeda haverá ou não revanches
ensandecidas de seus seguidores contra os Estados Unidos e outros
países. Provavelmente haverá, pois existem franquias da rede terrorista
no Norte da África e no Oriente Médio. E outros grupos como o
Lashkar-i-Taiba ou o Taleban continuarão a matar os que considerem como
infiéis. Ao mesmo tempo, se é certo que Bin Laden não exercia mais o
comando operacional do Al-Qaeda, sendo da organização figura mitológica
e inspiradora, outros na hierarquia podem dar sequência aos atos de
terror. De qualquer modo, a morte do líder deve ter causado grande dano
psicológico aos seus seguidores, em que pese sua lembrança maligna
continuar a influenciar os que são recrutados em nome da ideologia que
veta ódio ao ocidente e da fé fundamentalista islâmica.
O Brasil, país da impunidade e da moralidade frouxa, tem
predileção por bandidos, pois aqui se abrigam desde o terrorista
italiano Cesare Battisti até membros das Farc. Para piorar e conforme
reportagem da Veja de 6 de abril deste ano, “a Polícia Federal tem
provas de que Al Qaeda e outras quatro organizações extremistas usam o
país para divulgar propaganda, planejar atendados, financiar operações e
aliciar militantes”. Desconheço se o governo brasileiro desmentiu a
reportagem ou tomou providências.
Na tragédia da escola de Realengo, no Rio de janeiro,
quando um ex-aluno matou doze adolescentes, a causa do ato tresloucado
foi atribuída a mente perturbada do rapaz e no péssimo exemplo que vem
dos Estados Unidos. Curiosamente, Wellington de Oliveira sonhava jogar
um avião contra o Cristo Redentor para relembrar os aviões que foram
atirados nas Torres Gêmeas em Nova York. Em uma das fichas da escola
quando era estudante, ele escreveu que sua religião era mulçumana. Em
anotações encontradas na sua bolsa havia o relato de que passava umas
quatro horas por dia lendo o Alcorão e que meditava sobre o atentado de
2001. Finalmente, pede em carta um ritual de sepultamento que lembra
ritos mulçumanos. Nada disso foi levado em conta para explicar sua
atitude.
O presidente Barack Obama agiu certíssimo, mas seria bom
que desse uma prova contundente de que o mundo está mais arejado sem o
mensageiro ódio. Caso contrário, Bim Laden ficará tão vivo quando Elvis
que não morreu.
* Maria Lucia
Victor Barbosa é socióloga.
mlucia@sercomtel.com.br
www.maluvibar.blogspot.com
- Leia outros artigos
de
Maria Lucia Victor
Barbosa:
http://www.viafanzine.jor.br/site_vf/pag/1/artigos2.htm
http://www.viafanzine.jor.br/site_vf/pag/1/artigos.htm
* * *
Tribos urbanas:
Classe C: um fato crítico
Diga-se de passagem, que o conceito de
classe social varia na concepção
de vários sociólogos e não cabe num
pequeno artigo aprofundar o tema.
Por
Maria Lúcia Victor Barbosa*
De Londrina-PR
2 0/04/2011
Um fato crítico em ciência significa um fato que prende a
atenção e, que por isso, precisa ser explicado. A classe média baixa ou
C tornou-se um fato crítico por alguns motivos. Entre eles é preciso
explicar que a ascensão de parcela da classe baixa ou D à classe C, tem
sido usada pelo governo petista como feito unicamente seu, mas,
principalmente, como ato redentor de Lula da Silva, o salvador da
pátria.
Todavia, a política distributivista que proporcionou a
mobilidade social ascendente de uma parcela de brasileiros foi um
processo desencadeado no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Prosseguiu no governo Lula com o apelo constante ao consumismo
facilitado em suaves prestações e caridades oficiais.
Fundamentalmente, porém, a melhoria do nível de vida da
população brasileira como um todo foi impulsionada pelo Plano Real de
FHC, que domou a inflação e estabilizou a economia. Sem isso seria
impossível grandes mudanças na pirâmide social.
Recentemente a classe C tornou-se de novo fato crítico a
merecer explicação. Isso se deu quando o ex-presidente FHC, em artigo
para uma revista, sugeriu ao seu partido, o PSDB e aliados, investir na
classe C na medida em que o PT domina os movimentos sociais e o “povão”.
Bastou a palavra “povão”, muito usada pela esquerda, para
os petistas e o populista Lula erguerem as bandeiras, rufarem os
tambores e caírem de pau em cima de FHC, como é de seu costume. Lula,
que parece desenvolver um sentimento doentio de inferioridade com
relação ao tucano, aproveitou a deixa para espalhar que FHC e o PSDB
detestam pobres. Nada a ver, é claro. FHC apenas pensou politicamente,
pois as classes médias A, B e C constituem a maioria ou,
aproximadamente, 52% da população brasileira. Só na classe C estão
aproximadamente 38,8% dos brasileiros com carências e aspirações de
várias espécies, portanto, um espaço especial para o trabalho dos
políticos.
Diga-se de passagem, que o conceito de classe social varia
na concepção de vários sociólogos e não cabe num pequeno artigo
aprofundar o tema. Para para citar uma definição escolho a do sociólogo
Max Weber, segundo o qual “classes são agregados de indivíduos que têm
as mesmas oportunidades de adquirir mercadorias e exibem o mesmo padrão
de vida”. Acrescento que classes sociais, em que pese o mundo
massificado em que vivemos, possuem comportamentos, valores e atitudes
diferenciados que possibilitam distingui-las.
A parcela da classe C que emergiu da classe D, não pode
deixar também de apresentar características de psicologia coletiva que a
faz subserviente em relação aos que estão em posição superior, mantendo
no fundo a aspiração de ser igual ou ter o mesmo padrão de vida das
classes mais altas. Afinal, o ser humano sempre quer ter mais de forma
insaciável, inclusive, prestígio. Mas, para alcançar o status mais
elevado os indivíduos da classe C teriam que ultrapassar sua origem
familiar, casamento, história profissional e instrução. Isso é possível
para alguns ou para muitos indivíduos, mas, dependendo das
circunstâncias econômicas, a mobilidade pode ser ascendente ou
descendente. Do jeito que a inflação segue descontrolada, dos mecanismos
governamentais que desesperadamente tentam contê-la penalizando os que
já se acostumaram com as facilidades do crédito, não é difícil que
parcela da classe C retorne à classe D ou até à mais baixa classe E.
Observe-se ainda, que nem todos os que pertencem à classe C
chegarão como num passe de mágica a professores universitários,
profissionais liberais, funcionários públicos, altos cargos burocráticos
ou políticos como os “colarinhos brancos” das classes médias A e B.
Entretanto, não só as dádivas caídas dos céus estatais e a ampliação da
burocracia, mas os empregos propiciados pela iniciativa privada e a
multiplicidade de novas funções geradas pelo avanço da tecnologia e
pelos meios de comunicação da sociedade globalizada, possibilitaram a
parcela da classe D ascender e integrar a classe C que, frise-se, já
existia e apenas se tornou mais numerosa.
Lembremos também que a Educação chegou a um nível tão baixo
de qualidade, que há falta de mão-de-obra mais especializada e
sofisticada, estando os grandes empresários obrigados a importar
profissionais do exterior. Num extremo oposto, faltam operários da
construção civil porque o segmento da classe D, que ascendeu à classe C,
já não aceita o trabalho pesado e mal remunerado dos que constroem os
cada vez mais numerosos edifícios nas metrópoles e nas cidades de porte
médio.
Duas características marcam também todas as classes
sociais: o individualismo e a indiferença política. Apenas em épocas de
campanha algum interesse aparece. Concentra-se em determinado ou
determinados candidatos com potencial carismático ou demagógico, capazes
de propiciar vantagens individuais. Nenhuma ideologia ou questões de
princípios estão presentes nas campanhas onde as propostas dos
postulantes aos cargos públicos quase não se distinguem e os partidos
são meros clubes de interesses.
Finalizando concordo com o pensamento de C. Wright Mills em
sua obra “White Collar”, adaptando-o a nossa realidade:
As posições particulares como indivíduos de nossas classes
médias é que determinam a direção para onde elas se encaminham. Mas seus
indivíduos não sabem para onde ir. Por isso vacilam, confusos e
hesitantes em suas opiniões, desordenados e descontínuos em suas ações.
Formam um coro medroso demais para protestar, histérico demais em suas
manifestações de aprovação. Constituem uma retaguarda. Estão à venda no
mercado político e qualquer um que pareça bastante confiável tem
probabilidade de comprá-las.
* Maria Lucia
Victor Barbosa é socióloga.
mlucia@sercomtel.com.br
www.maluvibar.blogspot.com
- Leia outros artigos
de
Maria Lucia Victor
Barbosa:
http://www.viafanzine.jor.br/site_vf/pag/1/artigos2.htm
http://www.viafanzine.jor.br/site_vf/pag/1/artigos.htm
* * *
Reflexões:
Jesus e deus
Em
verdade vos digo, o mail que recebi não era sobre isso, e sim sobre
Jesus.
Perguntava como eu podia desacreditar na existência dele.
Por
Beto Canales
De
Porto Alegre-RS
Para Via Fanzine
As pessoas confundem as coisas. E eu, como não sou uma
ameba (embora, às vezes, me porte como uma), também confundo. Então, aos
esclarecimentos, já que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra
coisa.
Depois da polêmica na recusa de algumas empresas de ônibus
de Porto Alegre em divulgar uma campanha de ateus, muito bem bolada, por
sinal, recebi um mail questionando minha posição. Sou ateu convicto,
sabe-se, e não gosto de religião. Seja ela qual for. Na minha humilde
opinião, todas elas, sem exceções, fazem mais mal do que bem. Nossa
maltratada civilização seria bem mais desenvolvida e viveria com muito
mais paz se elas não existissem. Mas, convenhamos, elas existem e vieram
para ficar. Fazer o quê? Nada. Essa é a questão. Eu não acredito em
deuses, em nenhum deles, e não pretendo convencer ninguém para
desacreditar também. Na página da ATEA - Associação Brasileira de Ateus
e Agnósticos, em uma sessão de perguntas e respostas, tem uma passagem
interessante. A pergunta é "o que prega o ateísmo?" "Nada", diz a
resposta. Eu uso esse exemplo para simplificar o que chamaria de
respeito.
Minha posição tem a mesma forma e a mesma consistência que
a de um crente. Eu tenho o mesmo direito que o mais ardoroso beato.
Entretanto, seguidamente vejo estampados anúncios coloridos em favor
dessa ou daquela crença. Propaganda de festas para santos, reuniões e
espetáculos para aqueles que creem e tantas outras manifestações,
inclusive de programas de TV em horário nobre. Bem, se partirmos da
questão básica que trata de direitos iguais para todos, se eles podem "propagandear"
seus feitos e seus herois, por que eu não posso divulgar que não
acredito em nada disso?
Sabendo-se que a intenção da maioria desses anúncios é
aumentar o "rebanho" (e também as doações, em alguns casos), não seria
ainda mais grave, comparando com a intenção dos ateus, que não é de
convencer ninguém, nem pregar nada?
Mas, em verdade vos digo, o mail que recebi não era sobre
isso, e sim sobre Jesus. Perguntava como eu podia desacreditar na
existência dele. Aí o engano. É claro que o sujeito que nós chamamos de
Jesus existiu. Isso é um fato historicamente comprovado. Evidente que as
façanhas a ele atribuídas não ocorreram conforme ditam os livros de
"convencimento" coletivos, mas, algumas passagens de sua vida realmente
fazem parte da nossa história. Melhor nem transpor para os dias de hoje,
como exemplo, um sujeito tendo um ataque de fúria agredindo camelôs. Ou
as verdadeiras "viagens" proferidas a cada discurso, e, pior ainda, o
complexo de grandeza evidente em dezenas de ações e falas.
Mas, deixa eu esclarecer de uma vez por todas, que é a
minha intenção desde o começo: Jesus existiu e foi uma "figura" muito
peculiar, que nos dias de hoje apodreceria em um manicômio como "louco
varrido". O dito pai dele, o fictício, o irreal (não o que transou com a
Maria), não existiu, não existe e não existirá.
Então, independente de crenças ou opiniões, desejo a todos
um feliz natal, da mesma forma que desejaria também um feliz dia no
índio ou dia da árvore.
E nenhum raio caiu sobre minha cabeça!
Já que é assim, feliz 2011 também.
* Beto Canales é editor do blog Cinema
e bobagens.
* * *
Wikileaks:
Direito à informação e defesa nacional
‘Nossos diplomatas não são ativos de
inteligência’
P.J. Crowley – Porta voz do
Departamento de Estado dos EUA.
Por
Higor N. Jorge*
De
Santa Fé do Sul-SP
Para Via Fanzine
I – INTRODUÇÃO
Espionagem, sabotagem, infiltração, comprometimento,
compartimentação de conhecimentos sensíveis, recrutamento, dissimulação,
história cobertura, estratégia, manipulação, serviço secreto,
cyberterrorismo, guerra de informações, diplomacia, segurança nacional,
contra-inteligência, classificação de documentos sigilosos e outros
tantos termos são utilizados geralmente por órgãos de inteligência para
caracterizar a sua atividade fim, que é a produção de conhecimentos
sensíveis para subsidiar a tomada de decisão pelos governantes do país.
Neste sentido, uma das características destes órgãos é a
confidencialidade de sua atuação e dos seus documentos, ou seja,
permanecem distantes dos cidadãos comuns porque não são divulgados.
II – WIKILEAKS
Há algum tempo estes termos passaram a ser utilizados com
maior frequência em razão da divulgação no site da organização WikiLeaks
de milhões de informações e documentos considerados sigilosos.
Inicialmente o site teve o domínio wikileaks.org, mas
atualmente tem sido alterado constantemente, conforme extraído do
twitter dos seus organizadores (twitter.com/wikileaks).
O WikiLeaks é uma organização transnacional, sem fins
lucrativos, sediada na Suécia que disponibiliza na internet dados,
informações, documentos, vídeos e fotos confidenciais, oriundas de
governos ou grandes corporações.
De acordo com o exposto no site a organização é composta
por jornalistas credenciados, programadores de softwares, engenheiros de
rede e matemáticos de diversos países, cuja identidade é preservada por
intermédio da utilização do software Tor, que é utilizado na difusão dos
dados e informações sigilosos.
O site é coordenado pelo jornalista e cyberativista Julian
Assange que atualmente é procurado pelo governo da Suécia em razão de
crimes que teria cometido no referido país.
Abaixo consta uma imagem do site WikiLeaks:
III – WIKILEAKS E OS ESTADOS UNIDOS
Em abril de 2010, um vídeo chamado “Assassinato Colateral”
(Collateral Murder) despertou a atenção mundial, pois mostrava militares
norteamericanos em um helicóptero promovendo a execução de civis
desarmados em uma rua do Iraque, sem qualquer indicação que fossem
terroristas.
No mês de julho, o site publicou um conjunto de documentos
denominados “Diários da Guerra Afegã” (Afghan War Diary) que descrevem a
ação de grupos militares norteamericanos e aliados, que promoviam ações
contra talibãs e chefes da Al Qaeda e que também produziam a morte de
milhares de civis.
Em outubro foram divulgados os “Registros da Guerra do
Iraque” (Iraq War Logs) com informações sobre torturas contra
terroristas presos e ataques contra civis no Iraque.
No final do mês de novembro passaram a publicar diversos
telegramas sigilosos entre as embaixadas e o governo dos Estados Unidos.
A empresa Bahnhof, que hospedava o site na Suécia, passou a
sofrer ataques virtuais e o site passou a ser hospedado pelo amazon.com.
No início de dezembro o amazon.com deixou de hospedar o site em seus
servidores e o seu domínio tem variado constantemente.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU),
Ban Ki-moon teria sido espionado. Consta que no mês de julho de 2009 foi
solicitado que os diplomatas americanos informassem dados biométricos
detalhados e informações técnicas (incluindo dados sobre cartões de
crédito, DNA e senhas utilizadas nas comunicações) do secretário-geral e
outras autoridades da ONU.
As informações divulgadas no site também indicam que
líderes árabes como, por exemplo, o rei da Arábia Saudita, Abdullah Bin
Abdul Aziz, pressionaram o governo americano para que bombardeasse o
Irã.
IV – WIKILEAKS E O BRASIL
Em relação ao Brasil diversas comunicações foram obtidas.
De acordo com os documentos disponibilizados no WikiLeaks o governo não
aceitou receber prisioneiros suspeitos de terrorismo mantidos nas
prisões de Guantánamo no ano de 2005.
Quanto a pane ocorrida no ano de 2009, no sistema de
fornecimento de energia elétrica em grande parte do país, foi descartado
que tenha ocorrido em razão de uma ação promovida por hackers.
Também há comunicações no sentido de que o governo
norteamericano considera o Itamaraty adversário de seus pleitos e com
tendências antiamericanas.
Os norteamericanos também demonstraram preocupação com
grupos islâmicos supostamente extremistas que estariam instalados na
área da tríplice fronteira (Porto Iguazu – Argentina, Cidade do Leste –
Paraguai e Foz do Iguaçu - Brasil) e com a atuação da Polícia Federal
teria realizado diversas prisões de pessoas envolvidas com o terrorismo
islâmico, mas não teria lhes acusado pelo envolvimento com o terrorismo,
apenas por outros crimes, para não amedrontar futuros turistas
interessados em conhecer o país, nem “estigmatizar a comunidade
muçulmana”.
V – AS CONSEQUÊNCIAS
Um dos reflexos da divulgação destes documentos é que os
diplomatas provavelmente vão procurar evitar oferecer informações muitos
detalhadas sobre os países em que estiverem desempenhando suas
atribuições, com o receio que seus relatórios sejam divulgados.
Além disso, os diplomatas serão vistos pelas pessoas dos
países em que estiverem instalados basicamente como meros agentes do
serviço de inteligência dos países, de forma que será mantido certo
distanciamento deles.
Os órgãos do governo que lidam com informações
confidenciais vão passar a dar mais valor na segurança corporativa, que
representa a adoção de medidas visando proteger os recursos humanos, a
documentação, o material, os recursos da informática, as comunicações e
as áreas e instalações das referidas instituições.
Neste sentido é possível prever uma maior preocupação com a
limitação do acesso as informações sigilosas, de forma que terão acesso
a elas apenas as pessoas que tiverem real necessidade de ter contato com
as mesmas (princípio de compartimentação do conhecimento – conhecer
apenas o que for necessário conhecer).
Outra medida que deverá ser aplicada diz respeito a
impossibilitar o acesso às informações confidenciais no mesmo computador
utilizado para acessar a internet, além do bloqueio de gravadores de CDs
e DVDs e drivers USB para evitar a utilização de dispositivos portáteis
de armazenamento, como por exemplo, pen drivers, etc.
Outra conseqüência do WikiLeaks é que fomentou a discussão
sobre os limites da imprensa na divulgação de notícias que possam
colocar a segurança do país em risco e até que ponto o cidadão tem o
direito de ter acesso a informações confidenciais salvaguardadas pelo
governo.
Alguns têm alegado que o direito à informação em um regime
democrático é uma garantia de todas as pessoas e que os órgãos de
comunicação devem fazer chegar ao público todo tipo de notícia,
inclusive aquelas envolvendo informações sensíveis que possam ameaçar a
soberania, a integridade territorial do país e as relações com outros
países.
Outros possuem o entendimento que a liberdade de imprensa
deve ser relativizada, que os meios de comunicação devem trabalhar com
responsabilidade, de forma que não divulguem informações capazes de
proporcionar prejuízos ao Estado. Segundo o entendimento destas pessoas
a segurança nacional deveria prevalecer sobre os interesses de cada
cidadão ter acesso a este tipo de informação.
VI – LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
No Brasil existem normas que tratam dos documentos
sigilosos e não permitem que os mesmos sejam indevidamente divulgados.
O Decreto Nº 4.553/02 prevê a salvaguarda de dados,
informações, documentos e materiais sigilosos de interesse da segurança
da sociedade e do Estado, no âmbito da Administração Pública Federal.
Este Decreto considera sigiloso o dado ou informação cujo
conhecimento irrestrito ou divulgação possa acarretar risco à segurança
da sociedade e do Estado e também aqueles necessários ao resguardo da
inviolabilidade da intimidade da vida privada, da honra e da imagem das
pessoas (art. 2º do Decreto).
Os dados e informações sigilosos, de acordo com o seu
artigo 5º, são classificados em ultra-secretos, secretos, confidenciais
e reservados, em razão do seu teor ou dos seus elementos intrínsecos,
sendo denominados:
- ultra-secretos: dados ou informações referentes à
soberania e à integridade territorial nacionais, a planos e operações
militares, às relações internacionais do País, a projetos de pesquisa e
desenvolvimento científico e tecnológico de interesse da defesa nacional
e a programas econômicos, cujo conhecimento não-autorizado possa
acarretar dano excepcionalmente grave à segurança da sociedade e do
Estado;
- secretos: dados ou informações referentes a sistemas,
instalações, programas, projetos, planos ou operações de interesse da
defesa nacional, a assuntos diplomáticos e de inteligência e a planos ou
detalhes, programas ou instalações estratégicos, cujo conhecimento
não-autorizado possa acarretar dano grave à segurança da sociedade e do
Estado;
- confidenciais: dados ou informações que, no interesse do
Poder Executivo e das partes, devam ser de conhecimento restrito e cuja
revelação não-autorizada possa frustrar seus objetivos ou acarretar dano
à segurança da sociedade e do Estado;
- reservados: dados ou informações cuja revelação
não-autorizada possa comprometer planos, operações ou objetivos neles
previstos ou referidos.
Cabe destacar que a classificação destes documentos possui
um prazo de duração contado a partir da data de sua produção. Conforme o
artigo 7º os documentos ultra-secretos têm um prazo máximo de trinta
anos, os secretos possuem um prazo máximo de vinte anos, os
confidenciais têm um prazo máximo de dez anos e os reservados um prazo
máximo de cinco anos.
O artigo 37, 1º prevê que “todo aquele que tiver
conhecimento, nos termos deste Decreto, de assuntos sigilosos fica
sujeito às sanções administrativas, civis e penais decorrentes da
eventual divulgação dos mesmos” e o artigo 65 que “toda e qualquer
pessoa que tome conhecimento de documento sigiloso, nos termos deste
Decreto fica, automaticamente, responsável pela preservação do seu
sigilo”.
O artigo 325 do Código Penal prevê que a divulgação de
informações sigilosas pode ser enquadrada no crime de violação do sigilo
funcional, que possui uma pena de 2 a 6 anos de reclusão e multa.
VII – CONCLUSÃO
O Estado tem a finalidade de promover o bem estar da
população e agir sempre na mais restrita legalidade. A partir do momento
que seus agentes ultrapassam este limite, a imprensa não apenas tem o
direito, mas também o dever de agir, de denunciar e difundir em todos os
meios disponíveis.
É uma constatação geral a necessidade dos órgãos de
imprensa realizarem suas atividades na mais absoluta liberdade,
imparcialidade e transparência, de forma que veiculem notícias
independente dos interesses particulares que possam atingir.
Estas características são salutares para a democracia,
contudo não é aceitável que uma atuação irresponsável de um órgão de
comunicação, coloque em risco a vida das pessoas, a soberania do país ou
a segurança nacional, pois devem ser salvaguardadas a qualquer custo.
Desta forma consideramos necessário que a imprensa respeite
os prazos de não divulgação de informações classificadas como sigilosas,
conforme dispõe o Decreto Nº 4.553/02, desde que as mesmas tenham
relação com ações “lícitas” praticadas pelo Estado como medida adequada
para a manutenção da segurança do Estado e de cada um dos cidadãos.
Neste contexto a divulgação de documentos sigilosos do
governo, como a organização WikiLeaks tem promovido deve ser realizada
apenas se respeitar os prazos previstos nas normas dos países envolvidos
ou nos casos em que o Estado violar a Lei, sendo que nestes casos deve
ser feita uma ampla divulgação para que não ocorram novamente e que
estes casos sejam devidamente apurados.
VIII – BIBLIOGRAFIA
ANDREI NETTO.
Vazamento de segredos no WikiLeaks obriga países a repensar a
diplomacia. O Estado de S.Paulo.
<http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101205/not_imp649639,0.php>.
Acesso em: 05 dez. 2010.
EÇA, Luiz. Wikleaks
Desmascara a Guerra de Obama. Correio da Cidadania. Disponível em:
<http://www.aepet.org.br/site/noticias/pagina/181/WIK-LEAKS-DESMASCARA-A-GUERRA-DE-OBAMA>.
Acesso em: 05 dez. 2010.
JORGE, Higor Vinicius
Nogueira Jorge. et al. Considerações sobre a necessidade de integração
entre os setores de inteligência policial no Brasil. In: Integração
Nacional dos Setores de Inteligência Policial. 35 ed. São Paulo: ADPESP,
2007, p. 07-32.
MURTA, Andre. EUA
expandiram espionagem direta, revelam telegramas vazados pelo WikiLeaks.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mundo/841108-eua-expandiram-espionagem-direta-revelam-telegramas-vazados-pelo-wikileaks.shtml>.
Acesso em: 06 dez. 2010.
NUNES, Letícia;
THURLER, Larriza. Novo Vazamento revela segredos diplomáticos.
Disponível em:
< http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=618MON001>.
Acesso em: 04 dez. 2010.
WikiLeaks. Disponível
em: <http://213.251.145.96>. Acesso em: 05 dez. 2010.
WikiLeaks e Islândia
querem criar o paraíso da informação. Terra Tecnologia. Disponível em:
<http://tecnologia.terra.com.br/noticias/0,,OI4631443-EI12884,00-WikiLeaks+e+Islandia+querem+criar+o+paraiso+da+informacao.html>.
Acesso em: 05 dez. 2010.
*
Higor Vinicius Nogueira Jorge é delegado de Polícia, professor de
análise de inteligência da Academia da Polícia Civil, professor
universitário e tem feito palestras sobre segurança da informação,
crimes cibernéticos, TI e drogas. Site:
www.higorjorge.com.br Twitter:
http://twitter.com/higorjorge.
* * *
Lembranças de abril:
Esqueceram Getúlio Dorneles Vargas
O cronista vive de analisar os fatos e
deles tirar alguma conseqüência jornalística.
Por
Murilo Badaró*
De
Belo Horizonte
Para Via Fanzine
Minha geração estudantil incorporou à sua memória a
lembrança do dia 19 de abril dos idos de 1941/42/43, quando desfilava
garbosa e altiva pelas avenidas da capital para homenagear o chefe do
Estado Novo, cujo endeusamento era prática habitual no regime instalado
a partir de 1937.
Chegando ao governo com o apoio das forças mineiras,
escolhido chefe do governo provisório em 1930, foi eleito pelo Congresso
para o período presidencial que tinha início em 1934 para, em 1937,
golpear as instituições sob o fundamento do avanço comunista no Brasil.
Estou me lembrando de Getúlio Vargas por uma série de
razões, especialmente pela circunstância de que no amplo noticiário
desta semana, concentrado nas homenagens pelo cinqüentenário de Brasília
e pelo primeiro quartel da morte de Tancredo, esqueceram de comentar que
em abril também existia o dia 19, data do nascimento da mais importante
figura histórica brasileira do século XX.
Como o dramático suicídio de Vargas ocorreu em agosto de
1954, já esmaecido pelo tempo e pela incrível capacidade da desmemoria
nacional, no vasto painel dos fatos históricos apresentados pelo mês de
abril, tal e qual o mês de agosto notável pelos infaustos acontecimentos
que ensombraram a vida brasileira, pode ter ocorrido lapso aos
comunicadores ao olvidarem da data de nascimento de Vargas.
Outros dirão que é preferível saudá-lo pela lei que criou a
Petrobras. Outros se lembrarão de que foi de sua lavra a mais moderna
legislação social daquele tempo, conquista que nem mesmo os mais
ardentes inimigos de Vargas conseguem negar-lhe. Talvez a grande maioria
prefira recordar o caudilho gaúcho no dia 24 de agosto, data em que
segundo suas próprias palavras “deixava a vida para entrar na história”,
gesto cuja dramaticidade tocou intensamente a alma nacional, a ponto de
inverter tendência política que aparentava perdas para o suicida.
Talvez muitos tenham esquecido nas homenagens a Tancredo
Neves, de que o mineiro foi Ministro da Justiça do governo Vargas e que
o assistiu nos últimos e mais intensamente perturbadores daquele dia de
agosto, episódio do qual certamente retirou exemplos de dignidade que
lhe serviram como azimute durante o resto de sua vida.
Enfim, a ampla personalidade de Vargas, como homem ou como
político, presta-se a inumeráveis especulações para que não fique
esquecida a data de seu nascimento, antes nos tempos do fastígio do
poder comemorado com fogos e clarinadas, hoje sequer lembrada pela
natural imposição da natureza das coisas, que dão preferência ao culto
de Tiradentes, marco histórico que baliza outros acontecimentos
incorporados à memória nacional.
Seja como for, o cronista vive de analisar os fatos e deles
tirar alguma conseqüência jornalística. É possível que muitos leitores
ainda conservem vivas idiossincrasias herdadas do período Vargas. Mas
ninguém negará a ele o lugar de honra que tem na história do Brasil.
*
Murilo Badaró é presidente da Academia Mineira de Letras.
* * *
Costume enraizado:
Brincando de índio
Enquanto esse mesmo povo praticamente se
enrabicha e morre de amores pelos seus mecenas,
pelo privilégio de utilizar cartões que
dão direito inclusive ao estrambótico valor de 20 reais mensais,
os ditos cujos usufruem cartões
corporativos sem limite, em hotéis, restaurantes...
Por
Davi Castiel Menda*
De
Gravataí-RS
Para Via Fanzine
Meus professores de história ensinavam que os índios foram
utilizados pelos portugueses para carregar nossa madeira, principalmente
o pau-brasil e, em troca, recebiam colares, espelhinhos e outras
bugigangas do gênero. Ser presenteado com aqueles artefatos banais –
porém bizarros, coloridos e chamativos - era uma verdadeira festa para
aquele povo simples e ingênuo, e o engodo perdurou por muito tempo.
Já se passaram mais de 500 anos e, a exemplo do que
aprendemos pela vida afora, a história se repete. Em plena era da
informação e comunicação, os mais fortes, os mais poderosos, os
detentores do poder, continuam distribuindo suas benesses, desta vez em
troca da cumplicidade do silêncio e da resignação.
O povo é apresentado e presenteado a todo momento à uma
gama de cartões que beiram o insólito e de uma absurdez atroz. É
bolsa-família, bolsa-gás, bolsa-escola, bolsa-fome, bolsa-terrorismo,
bolsa-qualquer-coisa, me surpreendendo que até hoje, os oportunistas de
plantão, não terem concebido a criação da bolsa-futebol, o lado
simbólico-circense do ópio do povo, dando direitos aos menos afortunados
de freqüentar os estádios inteiramente de graça; talvez, quem sabe, numa
segunda etapa, com direito a um lanchinho no intervalo dos jogos.
Enquanto esse mesmo povo praticamente se enrabicha e morre
de amores pelos seus mecenas, pelo privilégio de utilizar cartões que
dão direito inclusive ao estrambótico valor de 20 reais mensais, os
ditos cujos usufruem cartões corporativos sem limite, em hotéis,
restaurantes, viagens, et cetera, et cetera, atingindo ao final
de cada mês um somatório de arrepiar, digno de um país rico (o que
sabemos que não somos).
Os 310 ex-senadores e seus familiares pensionistas custam
alguns milhões anualmente, ordenhados de tetas que, inexplicavelmente,
jamais secam. Detalhe: para se tornar um ex-senador e ter direito a usar
pelo resto da vida o sistema de saúde bancado pelos cofres públicos é
preciso ocupar o cargo por apenas seis meses. Antes de 1995, a mordomia
era ainda maior: bastava ao suplente assumir o cargo por apenas um dia!
E por falar em senado, ao juntar suas valorizadíssimas notas de real na
tentativa de passar um fim de semana agradável, lembre-se que a filha e
o genro do atual presidente do senado foram pegos com 900 mil reais –
história que até hoje não foi devidamente esclarecida – e que, segundo
eles, seria “uns trocados para passar o fim de semana”.
Inexplicavelmente, o povo, deslumbrado, trepida de emoção
com sua aposentadoria igual a um salário mínimo (não se preocupe: se
você recebe um pouco mais, com o achatamento em curso, você ainda chega
lá), e com o péssimo atendimento do sucateado serviço de saúde
brasileiro. Nem vou falar da segurança! Não sei não, mas julgar o
governo que aí está classificando-o como ótimo e bom, conforme pesquisas
insistentemente publicadas na imprensa, me cheira a sadomasoquismo (tudo
se espera e nada surpreende de um povo que dá 280 milhões de ligações
telefônicas numa semana para votar no BBB).
Este mesmo povo, aquele referido em nosso hino (“de um povo
heróico o brado retumbante”) tão cantado e decantado nos nossos
estádios, perdeu o bonde da história: ele não sabe (ou não quer,
entorpecido pelos cartões-manutenção-pobreza) mais se indignar. A última
vez que se ouviu sua voz, se impondo, foi para derrubar o presidente
Collor, o caçador de marajás, marajás esses que hoje seriam enquadrados
como reles esmoleiros perto dos desmandos, escândalos e maracutaias
atuais, sempre envolvendo os mesmos, que por certo serão reeleitos ad
eternum per omnia saecula seculorum, mesmo que estejam brincando de
índio com o povo. Lamentável.
*
Davi Castiel
Menda,
65 anos, é programador na área de matemática e reside em Gravataí-RS.
-
Seus blogs são
http://davicm.blog.terra.com.br
e
http://matematico.blog.terra.com.br
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