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Divinal:

Vamos fazer um programa no mato?

Tomava-se cerveja, e eu preferia o meu suco; comíamos alguma coisa e tagarelávamos. E o Divino era a principal atração. Ele tinha um linguajar todo próprio, trazido do meio rural, onde viveu grande parte de sua vida.

 

Por Sérgio Souza*

De Ibirité-MG

Para Via Fanzine

27/11/2023

 

 

Pegou uma casca de ovo. Nela, ele botou água, um pouquinho de pó e açúcar. Deitou essa casca sobre o borralho. Num minuto, estava pronto o café!

 

O Divino era superdivertido. Às vezes, ele até que sabia disso, porém, na maioria das ocasiões, ele era engraçado sem saber. Era um sujeito espontâneo.

 

E como o conheci? Fui morar num edifício. E o Divino era o zelador. No térreo, havia uma lanchonete. À noite, a turma do prédio se reunia ali. Tomava-se cerveja, e eu preferia o meu suco; comíamos alguma coisa e tagarelávamos. E o Divino era a principal atração. Ele tinha um linguajar todo próprio, trazido do meio rural, onde viveu grande parte de sua vida.

 

Bem, e esse nosso herói costumava começar muitas frases com o “Sipunhamo”, exemplo: “Sipunhamo que eu quisesse te pidi um favor, ocê faria pra mim?”

 

Do outro lado da rua, havia um ponto de ônibus. O Divino dava dicas sobre toda moça que lá chegava. Vejamos: “Sipunhamo que ocêis qué trusá com aquela de vistido vermeio, pode. Ela é gaia.” (Trusá, transar; gaia, garota de programa.)

 

Já na próxima noite, ele advertia: “Com aquela lá, sipunhamo que ocêis qué tentá, cêis vai é caí do cavalo. Ela gosta é de muié. Ela é viada.”

 

Um dia, eu estava chegando de São Paulo, quando o Divino noticiou:

 

- Teve um moço quereno falá cum ucê.

 

- Quem é?

 

- Ah, eu num sei o nome dele não.

 

- Como ele é?

 

- Ah, ele é um sujiitim meio ispaneco.

 

(Deu na mesma. Continuei sem saber quem era o rapaz.)

 

E como o Divino punha animal nas suas conversas! Exemplos: “O ladrão robô um besta dum relógio da vizinha.” “Eu durmo aqui de noite, mais meu sono é sono de cueio.” (Dizem que coelho dorme com os olhos abertos, né?) “Aquele moço dá diarreia em cabrito.” (Ou seja, ele chato demais.) “Meu chefe chegô onte iguar um catitu.” (Traduzindo: o chefe chegou muito irritado. Caititu é porco-do-mato, o qual eriça o pelo, quando enraivecido.)

 

Outras palavras e expressões do Divino: arriá, vestir-se; disarriá, despir-se. Vejamos, ele falando de uma aventura sua com uma mulher – quando era mais novo, é claro: “... Aí, conde nóis já tinha disarriado, o pai dela chegô.” (Conde = Quando.) “Meis passado, nóis foi na Aparicida do Norte. Nóis foi de onde.” (Onde = ônibus.) Esta, ele falava muito também: “Dexei de sê branco pra sê franco.” (Quando ele queria expressar que falou com toda a franqueza.)

 

Mas bacanas mesmo eram os namoros do Divino. Um dia, ele arranjou uma tal de Margarida. E ele se gabava: “Ela é dezesseis anos mais moça do que eu.” Contava que a conheceu, ele “trabaiano lá na roça, co’a vara de tocá gado na cacunda”. Começou muito romântico, né? Mas o melhor estava por vir: os programas no mato, que eles costumavam fazer.

 

No primeiro programa, eles foram para um matagal, por onde passava um riacho. Fizeram um guisadinho, comeram. Vocês nem queiram imaginar a alegria da Margarida. Ao regressar, ela contou entusiasmada para as amigas sobre o melhor que havia acontecido nesse passeio: “O Divino me ensinô a bebê água na foia de taioba, gente!”

 

No próximo domingo, escolheram um mato diferente. Logo que lá chegaram, a donzela foi arrebatada por um desejo ardente: de tomar um cafezinho. Para o Divino, nada era problema. E ele estava sobremodo empenhado em agradar à sua flor (a Margarida). Ele juntou uns gravetinhos, fez um foguinho, deixou apagar. Em seguida, pegou uma casca de ovo. Nela, ele botou água, um pouquinho de pó e açúcar. Deitou essa casca sobre o borralho. Num minuto, estava pronto o café!

 

A Margarida não conseguiu se conter, tamanho o entusiasmo. Pegou depressa essa casca, colocou-a logo na boca, e o que aconteceu? O Divino é quem conta: “Ela quemô o beiço todo. Ficô com o beiço todo istragado.”

 

Foi assim que terminou esse namoro e também a nossa história.

 

* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.

 

- Imagem: Montagens do autor.

 

- Produção: Pepe Chaves. 

© Copyright, Pepe Arte Viva Ltda.

 

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Arte sacra:

Por que não pintar um anjo negro? 

Desconheço letra mais provocadora que esta, quando o assunto é a Consciência Negra. Vamos ver?

 

Por Sérgio Souza*

De Ibirité-MG

Para Via Fanzine

22/11/2023

 

 

ANGELITOS NEGROS (Anjinhos Negros)

 

LETRA ORIGINAL

 

Pintor nacido en mi tierra
Con el pincel extranjero
Pintor que sigues el rumbo
De tantos pintores viejos

Aunque la virgen sea blanca
Píntame angelitos negros
Que también se van al cielo
Todos los negritos buenos

Pintor si pintas con amor
Por qué desprecias su color
Si sabes que en el cielo
También los quiere Dios

Pintor de santos de alcoba
Si tienes alma en el cuerpo
Por qué al pintar en tus cuadros
Te olvidaste de los negros

Siempre que pintas iglesias
Pintas angelitos bellos
Pero nunca te acordaste
De pintar un ángel negro

 

TRADUÇÃO (de Sérgio Souza)

 

Pintor nascido em minha terra

Com o pincel estrangeiro

Pintor que segues o rumo

De tantos pintores velhos

 

Ainda que a Virgem seja branca,

Pinta-me anjinhos negros

Porque também vão ao Céu

Todos os negrinhos bons

 

Pintor, se pintas com amor

Por que desprezas sua cor

Se sabes que no Céu

Também os quer Deus

 

Pintor de santos, de alcovas

Se tu tens alma no corpo

Por que ao pintar os teus quadros

Tu te esqueceste dos negros

 

Sempre que pintas igrejas

Pintas, sim, anjinhos belos

Porém nunca te lembraste

De pintar um anjo negro.

 

BREVE INTERPRETAÇÃO

 

O autor questiona o pintor, valendo para os pintores em geral: por que vocês, que sabem pintar anjos belos, não se lembram de pintar um anjo negro? “Pintor que segues o rumo/De tantos pintores velhos”. Significa que os pintores em geral vão seguindo os pintores antigos, sem questionar, sem mudar nada.

 

“Porque também vão ao Céu/Todos os negrinhos bons.” O que importa para Deus não é a cor da pele, sim, a bondade. E esta pode ocorrer, independente da cor ou da raça.

 

E na última estrofe, o autor salienta que, quando pintores pintam igrejas, pintam anjinhos belos (porém dentro daquele padrão: clarinhos, de cabelinhos anelados, olhinhos azuis – diria eu). Eles nunca se lembram de pintar um anjo negro. Ou seja: esta atitude corriqueira e aparentemente bela, pode estar escondendo um racismo, nada belo perante Deus.

 

OS AUTORES

 

Manuel Alvarez Rentería, apelidado Maciste (autor da música)

 

Foi um extraordinário violonista e cantor, principalmente de tangos. Participou de vários filmes de Hollywood. Voltando ao México, integrou-se ao cinema mexicano. Teve participação ainda no rádio. Deixou célebres composições, dentre elas, Manos Blancas (Mãos Brancas) e Me sobra corazón (Sobra-me coração). Todavia, nenhuma alcançou mais sucesso que Angelitos Negros.

 

Andrés Eloy Blanco (autor da letra)

 

Poeta, escritor, advogado e dramaturgo venezuelano. Viajou por diversos países. Um de seus livros se chama justamente Pintame Angelitos Negros, que originou este bolero.

 

Como surgiu esta música?

 

Não foi de uma hora para outra que Eloy Blanco teve um estro poético, dando na ideia de escrever a letra de Angelitos Negros, que veio a ser considerada um hino contra a discriminação racial. Eloy Blanco já surgia como um revolucionário na Venezuela, tendo sido até preso por bater contra o regime daquela época. Foi deputado, depois, ministro das Relações Exteriores de seu país, mas aí houve um golpe e o presidente que o havia indicado caiu. Em decorrência disto, o poeta se exilou no México. Foi aí que conheceu Manuel Alvarez Rentería, que colocou música em seu poema, rendendo-lhes um sucesso mundial.

 

Foram muitas as gravações mundo afora. Escolhemos a de Javier Solis, clique aqui para ouvir.

 

* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.

 

- Imagem: Montagens do autor.

 

- Produção: Pepe Chaves. 

© Copyright, Pepe Arte Viva Ltda.

 

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Amor atrás das grades:

Os casamentos na delegacia

Houve caso de um moço que deflorou uma donzela de dezoito anos. Não quis casar. Ao sair da delegacia, o pai notou que, por um arranjo ali - que ele jamais entendeu -, o “disinquietadô de famia” não ia ser preso. Ali mesmo, o pai, pondo a mão num trinta e oito, que ele havia levado, avisou ao delegado: “Pode dexá intão, que eu memo arresorvo isso.”

 

Por Sérgio Souza*

De Ibirité-MG

Para Via Fanzine

13/11/2023

 

Enfim, esta é a sociedade machista, paternalista, a qual existiu no Brasil e, mesmo com o avanço de algumas leis, diminuiu, mas ainda existe; e que persiste em muitos lugares no mundo.

 

Era tão bonito!... Chegam os noivos, Haroldo e Angélica. Ele, com um terno azul, que seu tio lhe trouxe da Itália como presente de casamento. E Angélica, a garota alva, rosada, delicada, sempre lindíssima, hoje, mais ainda. Testemunhas ali presentes. E eis que uma voz grave, possante, porém eufônica e expressiva, faz a tão sonhada pergunta:

 

- Haroldo, é de gosto receber a Angélica como sua legítima esposa?

 

O Haroldo engrossa o tom e responde:

 

- É sim, Sô Delegado!

 

- Eu vos declaro então marido e mulher.

 

Casados, e o Haroldo livre da cadeia. Explicando: numa época (aqui mesmo no Brasil), caso o namorado tirasse a virgindade da namorada, ele tinha duas opções: ou casava ou ia preso. Tudo isso mexia com ambas as famílias. O pai da moça então, ficava furioso.

 

Houve caso de um moço que deflorou uma donzela de dezoito anos. Não quis casar. Ao sair da delegacia, o pai notou que, por um arranjo ali - que ele jamais entendeu -, o “disinquietadô de famia” não ia ser preso. Ali mesmo, o pai, pondo a mão num trinta e oito, que ele havia levado, avisou ao delegado: “Pode dexá intão, que eu memo arresorvo isso.” (Mas parece que ficou só em conversa. Nem o delegado acreditou.)

 

Hoje, soa até difícil compreender. É que, há algumas décadas, a moça, para casar, tinha de ser virgem. O homem, ao contrário, deveria levar consigo alguma experiência. Com isso, mesmo aqueles rapazes mais tímidos eram encorajados a dar uma pulada lá na Zona, a fim de ir aprendendo as coisas da vida e não passar vergonha no primeiro dia com a nubente.

 

Outra hipótese: imagine um namoro, obedecendo aos cânones cristãos, em que o namorado e a namorada não pudessem ter relações sexuais antes do casamento. (Isso, aliás, era a regra.) Um dia, eles se casam - na igreja e no civil, direitinho. Todavia, já na tão esperada lua de mel, o esposo descobre que aquela insinuante garotinha não era virgem. Teria ocorrido o chamado “defloramento de mulher, ignorado pelo marido”. Nesse caso, ele dispunha de dez dias para devolver essa mulher a seus pais. E quanto essa renegada sofria! A cidade ficava sabendo... A coitada tornava-se desmoralizada; dificilmente arranjava outro casamento.

 

O negócio era mal-arranjado demais. Quer dizer que, durante dez dias, o esposo poderia aproveitar a boneca, quantas vezes quisesse. Depois, “Ah, vou devolver; ela não era virgem.” E partia pra outra – talvez usando a mesma tática.

 

Fato é que, na maioria das vezes, o cônjuge, logo que notava aquele logro, já cuidava de devolvê-la. Bem, e havia marido que descobria, ficava caladinho, permanecia casado, temendo que a sua amada caísse na rua da amargura, sendo quase que apedrejada pela cidade.

 

Em outros países, o rigor pode ser ainda maior. Vejamos o caso do Azerbaijão, um país com um pouco mais de dez milhões de habitantes, cuja capital é Baku, tendo como vizinhos a Rússia, a Geórgia, a Armênia, o Irã. Segundo notícia que li, nesse país, na noite de núpcias, uma mulher mais experiente permanece do lado de fora da porta do quarto do casal, com o fim de dar alguma orientação à recém-casada, caso necessário. E se escuta algum gemido ou algum som suspeito, bate forte na porta e interfere mesmo.

 

Ainda nessa nação, a mulher deve exibir, no dia seguinte, o lençol com sangue (o que eles chamam de “maçã vermelha”), para provar que antes era virgem e ali perdeu a virgindade. E se a garota não passa no "teste da maçã", seus pais podem deserdá-la.

 

Enfim, esta é a sociedade machista, paternalista, a qual existiu no Brasil e, mesmo com o avanço de algumas leis, diminuiu, mas ainda existe; e que persiste em muitos lugares no mundo.

 

De tempos em tempos, as leis têm de mudar, para acompanhar as mudanças sociais. Em 2023, o Congresso rediscute as relações homoafetivas. Isso, a pedido de parlamentares, falsos moralistas, que apresentam, na maior parte das vezes, condutas nada exemplares.

 

Bem, eu sei é que, daqui pra frente, queiram os conservadores ou não, a coisa será mais ou menos assim:

 

- Haroldo, é de gosto receber o Pit Bull como seu legítimo esposo?

 

* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.

 

- Imagem: Montagens do autor.

 

- Produção: Pepe Chaves. 

© Copyright, Pepe Arte Viva Ltda.

 

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Na estação das flores:

É primavera, e eu não a vejo

Os desejos falam mais alto que as necessidades. Pensem comigo: por que cobiçar um relógio todo adornado de diamantes? A função deste dispositivo não é informar as horas? Sendo assim, um relógio bem simples não serviria igualmente?

 

Por Sérgio Souza*

De Ibirité-MG

Para Via Fanzine

06/11/2023

 

O aumento da arrecadação não seria capaz de fazer aquele humilde ceguinho enxergar. Entretanto, poderia dar-lhe um melhor conforto.

 

Numa rua de uma capital, ficava um senhor sentado no chão, encostado num muro. Ele segurava a haste de um cartaz, onde se lia: “CEGO”. Ao seu lado, um chapéu, em que as pessoas caridosas pudessem depositar alguns trocados para ele.

 

Por ali, passou uma tarde um cavalheiro. Este cumprimentou aquele bom velhinho, também colocando naquele chapéu seu donativo. Em seguida, perguntou:

 

- Em média, quando o senhor fatura aqui por mês?

 

- Em torno de um salário mínimo – respondeu aquele pobrezinho.

 

- Quer ganhar mais?

 

(Rindo) – Quem não quer? Mas como? Eu aqui, sem poder fazer nada.

 

- Permita-me que eu escreva uma frase em seu cartaz?

 

- Eu não sei o que é não, mas pode escrever sim.

 

Um mês depois, volta ali aquele cavalheiro.

 

- Olá, meu Amigo! Lembra de mim?

 

- Ah, lembro sim. Pela voz, eu tô te reconhecendo.

 

- E aí? Já melhorou pro senhor? Quanto recebeu neste mês?

 

- Sim! Melhorou demais! Tô satisfeitíssimo! Ganhei umas dez vezes o que eu ganhava. Qual foi a grandiosa mágica que o senhor fez?

 

- Eu escrevi no seu cartaz: “É primavera, e eu não a vejo. CEGO.”

 

Na verdade, aquele homem que passava era um experiente publicitário. Em que constava a mágica que usou? Ele apelou ao sentimento, às emoções. De regra, os consumidores compram por impulso, movidos pela emoção. Os desejos falam mais alto que as necessidades. Pensem comigo: por que cobiçar um relógio todo adornado de diamantes? A função deste dispositivo não é informar as horas? Sendo assim, um relógio bem simples não serviria igualmente?

 

A diferença está no prestígio, no status, no poder, na distinção, na supremacia que esse maquinismo - transmudado em joia, depois, em cobiça - confere ao usuário. Ou seja, grande parte dos produtos são adquiridos, não pelo seu valor de uso, mas pelo status sociopsicológico que tal aquisição é capaz de oferecer. E o que demonstra esse comportamento? Demonstra que esse consumidor tem dentro de si um vazio, o qual ele tenta preencher com esses artifícios exteriores e tão caros!

 

O apelativo “É primavera, e eu não a vejo” conseguiu atrair a empatia dos transeuntes – o que, antes, pouco existia. Aqueles que passavam, absortos em seus compromissos, foram lembrados de que era primavera; que a estação traz flores, belezas, alegrias. A distância criada pelo publicitário - entre aquele que vê - portanto, pode desfrutar de tudo isso - e aquele que se priva de todas essas maravilhas ficou mais evidente. Isso conscientiza as pessoas e cobra mais responsabilidade.

 

O aumento da arrecadação não seria capaz de fazer aquele humilde ceguinho enxergar. Entretanto, poderia dar-lhe um melhor conforto. Por um momento, as pessoas punham-se no lugar daquele ser destituído da visão. E existe, num panorama mais amplo, o instinto de luta pela preservação da espécie. Está no inconsciente coletivo – e isso se vê até no Reino Animal.

 

Fato é que a publicidade tem o condão de mudar hábitos, gostos e a maneira de cada um ver o mundo. Também tende a padronizar – é certo.

 

Um consumidor compra então uma mercadoria, mais por seus valores extrínsecos que intrínsecos. Em outros termos, o comprador atenta-se menos ao valor de uso que aos atributos, meramente, criados pelos publicitários. Ou ainda: o consumidor elege uma marca, fideliza-se, e até a defende, porque as crenças e os valores vinculados a ela coincidem com aquilo que lhe é precioso. Celebra-se a sua identificação com produto.

 

Neste aspecto, seria plausível afirmar que, ao comprar uma mercadoria, estaria o consumidor comprando a si mesmo?

 

* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.

 

- Imagem: Montagens do autor.

 

- Produção: Pepe Chaves. 

© Copyright, Pepe Arte Viva Ltda.

 

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Tempos atuais:

Sinais do fim do mundo

Segundo relatório da ONU, de 2021, 260 milhões de pessoas aqui na Terra passam fome. É um número alarmante! Motivo para pensar em fim do mundo?

 

Por Sérgio Souza*

De Ibirité-MG

Para Via Fanzine

31/10/2023

 

De vez em quando, corre algum boato de que o mundo vai acabar em tal data. Aí, uns correm para as igrejas, outros danam a comprar e fazer dívidas. Chega a ser divertido.

 

Peste, fome, guerra; anticristos; terremotos; mares engolindo praias; montes de gelo se dissolvendo... Segundo alguns místicos e intérpretes das Escrituras, tudo isso já está previsto em Apocalipse.

 

Falsos profetas. Durante estas últimas campanhas políticas no Brasil, ficamos fartos de ver candidatos frequentando igrejas, coisa que antes eles não costumavam fazer. Em seus discursos inflamados, não poupavam referências a Deus e à bíblia. Na verdade, estava havendo muita parceria entre políticos e pastores. Muito desvio de dinheiro público para a compra de votos. Seriam eles os falsos profetas, prenunciando o fim dos tempos?

 

Segundo relatório da ONU, de 2021, 260 milhões de pessoas aqui na Terra passam fome. É um número alarmante! Motivo para pensar em fim do mundo?

 

No tocante à peste, esta poderia ser interpretada como as atuais doenças pandêmicas. A Covid-19, por exemplo, foi bastante relacionada a essa peste predita na bíblia, prenunciando, então, o fim dos tempos.

 

E as guerras? Eis aí o conflito entre Rússia e Ucrânia. Muitos previam que seria uma rápida conflagração - a Rússia dominando a Ucrânia, e quem sabe, até anexando-a ao seu território. O caso é que, hoje, até uma guerra já está globalizada. Isso, somado à volúpia de indústrias por vender armas, é que vai prolongando o enfrentamento. É o fim?

 

Israel. Por que grande parte dos evangélicos tanto se identifica com essa terra? É que eles estão bastante voltados ao Antigo Testamento, que trata, basicamente, da história sagrada do povo israelita. Apenas se deve deixar bem claro que, em nosso tempo, a questão israelita está bem mais ligada à política - incluindo a aliança com os Estados Unidos - que à religião.

 

Israel em guerra. Essas implicações políticas, revestidas de religião, via de regra, não são explicitadas aos fiéis ou peregrinos da Terra Santa. Tudo porque - sem que saibam - eles estão ajudando a movimentar um Plano de Poder, de gente que, não podendo dominar todo o Planeta, anseia por dominar boa parte dele. Há quem afirme que este é mais um forte sinal de que a vida na Terra está prestes a se extinguir.

 

Memória. Existia um comercial de rádio, iniciando-se com um efeito sonoro (simulando um disco voador). Vinha a locução: “Alguém no espaço quer falar com a Terra.” Eu caía em pânico. Corria para a minha cama, fechava os olhos e tapava os ouvidos, esperando tudo se explodir. Na época, só se falava em fim do mundo. Minha irmã custou me convencer de que era uma publicidade. De fato, vinha a canção logo em seguida: “Água quente a toda hora, água quente sem demora, aquecedor JMS...” Muito bem feita então!

 

De vez em quando, corre algum boato de que o mundo vai acabar em tal data. Aí, uns correm para as igrejas, outros danam a comprar e fazer dívidas. Chega a ser divertido.

 

Outros pontos de vista. Há quem entenda que esse pretexto, de fim do mundo, é bastante útil a avarentos pastores, para atrair novos contribuintes. O apelativo seria mais ou menos este: “O mundo vai acabar! Se você não correr para a nossa igreja, você morrerá e irá para o inferno.”

 

Há quem argumente que as guerras sempre existiram. E que as batalhas mais difíceis de vencer são as que acontecem dentro de nós mesmos. Por sinal, a essência desse pensamento também está expressa no Bhagavad-Gita, quando Arjuna, já no campo de batalha, se depara com seus irmãos, ficando desencorajado de lutar. Os irmãos, neste caso, são os egos – segundo a Gnose - ou os pecados capitais, segundo a doutrina cristã: avareza, gula, inveja, ira, luxúria, preguiça e soberba. (Irmãos, porque estão sempre próximos da gente). Assim, o ser humano necessitaria, primeiro, resolver seus conflitos internos, para depois pensar nos externos.

 

E o que diz a ciência? Segundo matéria publicada pelo jornal O Globo on-line, de 22/07/2013, o astrobiólogo Jack O’Malley-James, da Universidade de St. Andrews, na Escócia, efetuou um cálculo no computador, concluindo que o nosso planeta tem vida para mais 2.000.002.013 (dois bilhões, dois mil e treze anos). “Os humanos e as plantas deixarão a face da Terra antes, na metade deste tempo, ou seja, daqui a um bilhão de anos.”

 

Mas e afinal, o que você pensa? Você se identifica com alguma destas posições, ou você tem outra ainda? Entre em contato com a gente e conte para nós. Obrigado!

 

* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.

 

- Imagem: Montagens do autor.

 

- Produção: Pepe Chaves. 

© Copyright, Pepe Arte Viva Ltda.

 

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Por Sérgio Souza*

De Ibirité-MG

Para Via Fanzine

21/10/2023

 

Algumas vezes, quando pessoas agem aí pelas ruas de modo rude ou até violento, frases deste tipo podem ser ouvidas: “Que selvageria!” “Agora tá predominando é a lei da selva.”

 

A selva é encantadora. No entanto, é mesmo perigosa! Como podem corças, zebras e leões, conviverem no mesmo habitat? Como águias, pelicanos e pássaros menores dividem igual espaço? É ali o reino da vida; é ali o reino da morte. Viver ou morrer é questão de detalhe. Sobreviverá aquele que ganhar esse arriscado jogo.

 

Verdadeiramente, depois de tudo o que está acontecendo, se alguém repetir a frase: ““Agora tá predominando é a lei da selva.”, hei de desabafar: quem dera que fosse apenas assim! O bicho homem é mil vezes mais feroz. Animais não usam fuzis, drones, metralhadoras; não lançam bombas, nem ao menos flechas ou pedras.

 

Na selva, a insegurança, a apreensão, o medo, os ímpetos de fuga são constantes. Na cidade, tudo isso, de regra, é ainda maior. Nunca foi tão urgente nos unirmos por um mundo mais pacífico e propício ao bem-viver.

 

Eis o caso da guerra de Israel versus Hamas. Qualquer guerra denota brutalidade, incapacidade para se entender, negociar. Conflitos, desde os familiares, surgem por radicalismos, fundamentalismos, intolerâncias, vontades de ficar com mais.

 

Todos nós sabemos, as contendas naquela região não começaram agora. Elas são históricas. O que eu não consigo entender é como, justamente na terra onde Jesus nasceu, e nas terras por onde caminhou, existe tanta barbaridade! O que o Mestre mais ensinou não foi a paz, o amor, o perdão? Acaso, as suas Palavras foram levadas, para longe dali, pelo vento? (Aliás, onde mesmo Elas estão?)

 

Quanta gente vai à “Terra Santa”, para mais bem compreender os ensinamentos de Cristo! Outros não! Alguns líderes religiosos fazem esta peregrinação, basicamente, com o fim de ganharem maior credibilidade frente aos seus fiéis. Caso análogo é o de alguns políticos. Vão lá, tiram fotos, jogam nas redes sociais, passam por fervorosos cristãos, a fim de ganharem mais votos.

 

Vocês sabem, na prática, quem é mesmo o “Deus de Israel”? Ora, são os Estados Unidos. As duas nações se irmanam, para mais consistente estratégia de guerra, para um mais robusto plano de poder. Criar um estado palestino seria justo; daria à Palestina mais voz e um lugar no mundo. Porém, isso não garantiria a ausência de conflitos.

 

Vale considerar que há judeus fortíssimos financeiramente nos EUA, e eles ajudam a financiar campanhas de candidatos à presidência da República. Sendo assim, Israel precisa ser tratada com distinção, independente de ideologias e suas consequências.

 

Na América do Norte, ocorre ainda uma insana parceria: a indústria bélica também financia candidatos; em recompensa, estes, elegendo-se, favorecem as vendas de armas. De que modo? Lógico, promovendo guerras, ou nelas se envolvendo.

 

Quanto aos crédulos romeiros, estes vão à Terra Santa, choram no Muro das Lamentações, voltam felizes para casa - e com prestações no cartão de crédito para pagar, vez que essas caravanas costumam ser promovidas por suas igrejas, e têm um alto custo. Voltam, ademais, com a cabeça transbordante de fantasias. Mais ainda do que antes – já que as implicações políticas e ideológicas, decerto, não são reveladas pelos líderes religiosos a esse abstraído rebanho.

 

BOMBA! Fecha-se o cerco! Dobra-se a ameaça! O medo de um massacre se torna real! Perigo iminente! Os peregrinos atingem o ápice do desespero, clamando por socorro. Chega célere o resgate! Iniciativa do Governo Lula, juntamente com a Força Aérea Brasileira.

 

Já dentro do avião, um passageiro (supostamente o pastor) grava uma mensagem, agradecendo, não ao governo, mas a Deus, por ter usado “alguns políticos para esse fim” (sem citar nomes). É aclamado por todos. Infere-se que são bolsonaristas e, como tal, não quiseram dar créditos ao governo rival. Provocação: teria Deus protegido esse grupo e desprezado outros, que passavam pela mesma tribulação?

 

Peregrinos da Terra Santa, por que temeis as bombas? Por que chorais e rangeis os vossos dentes, implorando por socorro, se vós peregrinastes, justamente, inspirados pelo Deus de Israel? Onde está a vossa fé? Quantas vezes, em vosso templo, vós bradastes “Amém”, “Aleluia!”, quando o vosso pastor vos encorajava, pregando, com voz clara e retumbante, o salmo que ora segue?

 

“Mil cairão ao teu lado, e dez mil, à tua direita, mas tu não serás atingido. Somente com os teus olhos olharás e verás a recompensa dos ímpios. Porque tu, ó SENHOR, és o meu refúgio!...”

(Salmos 91:7-10 ARC, em uma de suas versões.)

 

* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.

 

- Imagem: Montagens do autor.

 

- Produção: Pepe Chaves. 

 

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Comportamento:

Tenho orgulho de ser conservador

Como é bom ser conservador! Muitas vezes, é dificílimo achar o que a gente quer, mas vale a pena tentar. Por exemplo: comprei agora um Ford 29. Já estava cansado de andar de jardineira. Moto e lambreta, nem pensar! Isso é coisa de roqueiros.

 

Por Sérgio Souza*

De Ibirité-MG

Para Via Fanzine

15/10/2023

 

“Sou patriota, cristão, conservador! Apoio qualquer candidato – mesmo que não tenha competência e nem vontade de trabalhar, mas que seja conservador.”

 

“Como é bom ser conservador!” Quando preciso fazer alguma compra maior, saio procurando uma carroça para trazer tudo para mim.”

 

“Como é bom ser conservador! Só uso sapato, calças e camisas sociais, mesmo que o sol esteja a 40º. Antes de sair, não saio com meu cabelo todo atabalhoado, como fazem jovens por aí. Ao pentear, emplasto meu cabelo com brilhantina Glostora ou Palmolive. Saio assobiando alguma valsa do Carlos Galhardo. Vou ver se assim arranjo alguma namorada – mas... namorar com respeito! Sair de mãos dadas, só no terceiro mês.”

 

“Como é bom ser conservador! Muitas vezes, é dificílimo achar o que a gente quer, mas vale a pena tentar. Por exemplo: comprei agora um Ford 29. Já estava cansado de andar de jardineira. Moto e lambreta, nem pensar! Isso é coisa de roqueiros.”

 

“Como é bom ser conservador! No entanto, às vezes, entendo que é necessário a gente se atualizar, acompanhar os avanços tecnológicos. Pensei num computador. Queria mesmo era um ENIAC (1946), cujo conjunto de peças enchia um quarto inteirinho. Também tentei a internet da ARPANET. Na impossibilidade, tive de me contentar com um mais moderninho. Encontrei um sensacional, com internet discada e impressora de papel contínuo. Comprei 10 disquetes para começar.”

 

“Como é bom ser conservador! Acham que eu uso esses celulares moderninhos, chatos, de gente esnobe, que tem por aí? Jamais. Inclusive, meu cunhado queria me vender um daquele de anteninha, contudo, eu achei avançado demais para mim. Frisei que sou conservador! Portanto, até mesmo os orelhões, eu acho excessivamente modernos. Gosto mesmo é dos telefones fixos, pretos, pesados. Aliás, adorava, quando para fazer um interurbano, a gente tinha de ir a uma empresa telefônica, pegar a fila e, quando chegava a nossa vez, a telefonista ficava suada de tanto tentar, até conseguir a conexão. Isto podia demorar entre 30 a 40 minutos. Dava muito mais emoção!”

 

“Como é bom ser conservador! Assistir a um jogo do Pelé. Depois, pregar figurinhas no álbum da Copa de 58, ou no álbum de escoteiros. Dá pra ler também o almanaque do Jeca Tatu, que a gente ganha quando compra o Biotônico Fontoura.”

 

“Bom demais ser conservador! Quando escrevo à mão, é sempre com caneta-tinteiro. (Sim, ela borra bastante, mas, para resolver isso, tenho sempre um mata-borrão.) Entretanto, quando quero redigir uma carta, uso sempre a minha Olivetti, a melhor máquina de escrever. Detalhe: com essa Facit elétrica eu não me acostumei não. Moderna demais. A calculadora Facit, ah, isso sim. Uma máquina do tamanho de três tijolos sobrepostos, pesada, porém, em termos de desempenho, é o que há de melhor.”

 

“Como é bom ser conservador! Discos? Tenho um monte lá em casa. Todavia, prefiro os 78 rotações. Eles são pesados, quebráveis, comportam uma música de um lado, outra do outro. Dizem que chiam muito. Mas isso não me incomoda. Não quis me modernizar, comprando esses discos de vinil.”

 

“Como é bom ser conservador! Assistir às missas em latim. Acompanhar as procissões, temer as assombrações.”

 

“Tenho orgulho de ser conservador! No entanto, sinto-me vencido pela correnteza do progresso, que é avassaladora e demove todos os que estiverem à sua frente. À vista disso, quem não entra nessa onda fica excluído da sociedade e do tempo vigente. Devemos reconhecer: nós, que insistimos em ser conservadores, não temos mais estrutura para sobreviver num mundo que já não existe mais. Vou deixar então que o progresso tome conta de mim. Vou me lançar no paraíso das inovações.”

 

“Jovem roqueiro, funkeiro ou sambista, me passa o teu Zap, me diz do teu Face, me fala do Instagram, me conta dessa tal de Inteligência Artificial! Mergulha comigo nos mistérios desse ciberespaço. Agora sou teu brother, agora sou teu mano. Agora sou teu fã. Fui!”

 

* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.

 

- Imagem: Divulgação.

 

- Produção: Pepe Chaves. 

 

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Viajando:

O lar do motorista de ônibus

Seis horas da manhã. É hora de empreender mais uma viagem interestadual. O Laércio, à porta de seu veículo, já deu um bom-dia a cada um dos que vão entrando e mostrando para ele a passagem.

 

Por Sérgio Souza*

De Ibirité-MG

Para Via Fanzine

30/09/2023

 

Surgem dentro daquele volátil lar galhofas ou filosofias. Quanta gente, que pouco frequentou escola, mostra ter uma notável visão de mundo!

 

Laércio acorda cedo, toma seu banho, seu café, dá um beijo na esposa, outros beijos em seus filhos, e segue determinado, lutando pelo pão de cada dia.

 

Seis horas da manhã. É hora de empreender mais uma viagem interestadual. O Laércio, à porta de seu veículo, já deu um bom-dia a cada um dos que vão entrando e mostrando para ele a passagem.

 

Senta-se ao volante. Um nome-do-pai, uma breve oração. Alguns passageiros fazem o mesmo. (Algum medo, alguma insegurança.) Sai o veículo.

 

Os destinos são certos. Os destinos são incertos. Cada um ali sabe onde quererá descer. Está certo da hora em que lá chegará. Contudo, pode haver algum impedimento (acidente na estrada, boi cruzando o caminho, asfalto desgastado pelas tempestades, polícia, árvore caída na pista...)

 

Todavia, com a proteção de Deus (e de São Cristóvão, cujo retrato está pendurado logo à frente do motorista), este ônibus chegará em paz.

 

Passageiros dormem. (Dormiram pouco durante a noite, preocupados com esta viagem e com a responsabilidade de não perder a hora). Outros procuram passar o tempo, imersos numa telinha de celular. Há um senhor lendo um jornal. E algumas mulheres estão conversando e oferecendo biscoitinhos. Aliás, tempo é o que não falta. Serão doze horas de viagem.

 

E o condutor, ali, mergulhado em rotina. Catorze anos, fazendo o mesmo trajeto. Sabe certinho o quilômetro onde tem uma borracharia; lembra em que ponto existe uma barraca vendendo abacaxi e garapa; tem informação sobre o local onde a pista está sendo duplicada; conhece até aquela árvore solitária, na várzea daquele caudaloso rio. Paisagens deslumbrantes – para ele, já desbotadas, em função da mesmice.

 

Só uma coisa não é rotina para o motorista. Sua família. Não aquela, que ele beijou antes de sair. A outra: a totalidade dos passageiros. Sim! O condutor gasta doze horas do seu dia viajando; meia hora andando, de sua casa até a garagem; meia para voltar; oito horas para dormir. Total: vinte e uma horas. A ele lhe restam apenas três horas diárias para estar junto dos seus legítimos familiares. Portanto, seu verdadeiro lar é o ônibus, a estrada.

 

Que estranho lar! Seus integrantes não são fixos. Um dia, está ali o Pedro; no outro dia, é o João, a Maria, a Alice... Cada um com seus problemas, seus valores, seus sonhos, suas crenças, sua ideologia. Cada um com seus mistérios. Todos buscando, enfim, uma razão de viver.

 

O condutor ignora quase tudo. Ele quase não tem tempo para dialogar com esses seus irmãos. No entanto, ele pode intuir. A experiência já lhe contou dos atrativos que cada cidade oferece, e o que se tende a procurar. (Só não dá para conhecer os corações.)

 

Como em toda família, ali igualmente aparecem alguns irmãos para perturbar. É um moço que entra, mas não quer pagar; é um tonto, que está falando besteira; ou é aquela fanática, que se põe a cantar hinos cristãos a plenos pulmões – e se alguém reclamar, ela diz que não vai parar, porque está cantando é para exaltar o nome do Senhor.

 

Ah!... Mas há horas de bonança também. Descobre-se um aniversariante naquele grupo. Agora, é lícito cantar para ele o Parabéns. Soma-se a essa alegria um jovem contando piadas. E segue a condução. Trocando ideias, alguém encontra um emprego ou alguma oportunidade de negócios. Interagindo, um moço e uma moça iniciam ali mesmo um romance, que pode resultar em casamento.

 

Surgem dentro daquele volátil lar galhofas ou filosofias. Quanta gente, que pouco frequentou escola, mostra ter uma notável visão de mundo!

 

Enquanto isso, o líder daquela família acelera, buscando o ilusório horizonte que o chama. Por alguns momentos, mergulha-se em devaneios, absorto em gado, em plantas, que ele vê e tanto desejaria ter – todavia, não pode nem ao menos tocar. Tudo é fugaz, e tem um vidro separando a realidade do sonho. (Quem sabe, quando se aposentar?)

 

O motorista de ônibus (poderia ser de caminhão) tem dois lares - e não tem nenhum.

 

* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.

 

- Imagem: Divulgação.

 

- Produção: Pepe Chaves. 

 

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Calor:

Vovó e os pernilongos

Vovó falou que esses pernilongos atrevidos estavam tais quais os jovens de hoje. Eles não têm limite. Não honram ninguém nem nada. Esses bichos não respeitam mais nem inseticidas.

 

Por Sérgio Souza*

De Ibirité-MG

Para Via Fanzine

23/09/2023

 

Coqueiros, bananeiras e alguns arbustos em flor completavam o lirismo do local. Tudo bonito, fresquinho... No entanto, essa vegetação abrigava também as malditas muriçocas.

 

Tempo de calor é mais alegre. Mais gente nos bares e na rua. Boa ocasião para ir à praia, tomar um sorvete, uma água de coco... Só que alguns hóspedes indesejáveis invadem a nossa casa e se sentem donos da situação: os danados dos pernilongos.

 

Vovó, oitenta e três anos, morava numa casinha, do jeito que ela queria: simples, sossegada, um pouco retirada do centro da cidade. Pintura cor-de-rosa, já gasta, e um terreiro limpíssimo. Coqueiros, bananeiras e alguns arbustos em flor completavam o lirismo do local. Tudo bonito, fresquinho... No entanto, essa vegetação abrigava também as malditas muriçocas.

 

Há mais de quarenta anos, vovó havia ficado viúva, e não mais se interessara por casar, nem ao menos, namorar. Morava ali sozinha.

 

Uma noite, os terríveis malfeitores não deixaram vovó dormir. Logo que se levantou, ela foi a um supermercado comprar um inseticida. Comprou o mais forte que achou, um de ligar na tomada.

 

Suas filhas foram lá visitá-la. Vovó contou que não teria mais problema com as muriçocas. Que havia comprado um inseticida poderoso.

 

Vovó, logo que viu aquela nuvem de pernilongos entrando por sua janela, ligou o aparelho e ficou na expectativa de vencê-los completamente.

 

Chegou a hora de dormir. O produto ali aplicado ajudou bastante. Restaram, no entanto, uns três desses perturbadores, que não se intimidaram com aquele ataque bélico disparado contra eles. Zoaram, zoaram... Depois, um deles veio e deu uma boa ferroada no nariz da pobrezinha.

 

Nervosa, ela se levantou, deu tapas, travesseiradas... Uns cinco, ela garantia que matou. Em seguida, dormiu tranquila – de cansada, é claro.

 

As filhas voltaram lá. Vovó falou que esses atrevidos estavam tais quais os jovens de hoje. Eles não têm limite. Não honram ninguém nem nada. Esses bichos não respeitam mais nem inseticidas. Quando eu era moça, tudo era diferente. As pessoas tinham respeito. E esses invasores noturnos iam embora por muito menos.

 

As dedicadas filhas contrataram um serviço de dedetização. Dedetizaram casa, quintal, acharam até uma cobra na bananeira, mas isso não impressionou vovó. Ela queria saber é se tinham acabado com aqueles malditos perturbadores do seu sono.

 

A vida é surpreendente. Daí, a graça de viver. Depois de toda essa guerra, restou apenas um pernilongo. Esse não ia à noite a fim de picar vovó. Ia apenas cantar para ela. E ela achou a voz dele tão linda!

 

Vovó contou para alguém que passara a ter um fascínio por esse companheiro da noite. Quando ele demorava a aparecer, ela chegava a sentir a sua falta. Aí ele vinha, cantava, e ela dormia serenamente...

 

Não precisou que ela explicasse. Numa reunião em família, interpretaram que esse canto era, na verdade, um canto antigo, ancestral, imortal, que ficara para sempre colado na memória de vovó. Aquele inseto-cantor apenas o despertara.

 

Quando jovem, vovó se apaixonara por um moço de circo. (Ela evitava falar sobre isso, em respeito ao vovô.) Ele cantava e tocava violão muito bem. E fazia belas serenatas para ela. Um dia, o circo se foi. Seu amor também.

 

Dali a duas semanas, era aniversário de vovó. A família procurou na internet, na televisão, até encontrar aquele seresteiro apaixonado. Ele já estava com oitenta anos, mas ainda se apresentava em eventos.

 

Chegou o dia! Grandiosa surpresa! Logo que ele, ainda do lado de fora da casa, deu os primeiros acordes no violão, vovó não teve dúvida de que fosse aquele seu antigo e ardente amor. Correu ao seu encontro. Não resistindo, deu nele um abraço e um beijo apaixonado. Porém, logo se conteve. Ele podia já estar casado, ter filhos e até netos...

 

Ele entrou, sentou, comeu do bolo, bebeu do vinho, cantou as músicas prediletas de vovó. Seus olhos revelavam que ele tinha ânsias de falar uma porção de coisas, porém, o superego entrava em ação e o impedia de falar.

 

A festa acabou. O inesquecível amor novamente se foi.

 

(Vovó, em monólogo interior) - Tanta coisa aconteceu, tudo por causa de um pernilongo...

 

* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.

 

- Imagem: Divulgação.

 

- Produção: Pepe Chaves. 

 

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Gentileza gera gentileza:

O gato que ofertava flores

Sendo ele de um estrato inferior ao dos humanos, a única coisa que lhe restava era ir para a porta desse restaurante, a fim de assistir, toda noitinha, ao empolgante show: as pessoas contando casos, rindo felizes e saboreando os mais deliciosos pratos.

 

Por Sérgio Souza*

De Ibirité-MG

Para Via Fanzine

17/09/2023

 

Nem sempre recebia em troca a sua comida, porém uma boa dose de carinho estava sempre garantida.

 

Vida de gato é essa mesmo: correr, pular, brincar, passear bastante durante a noite e, quando o sono chega, entregar-se ao reino dos sonhos. Especialistas afirmam que tais felinos têm muita energia e vivacidade, porque sabem, como poucos no mundo, relaxar.

 

Alguns podem ter um lar, receber ali sua ração, seu carinho e todo cuidado sanitário. Mas e os que vivem na rua? Estes comem o que acham e quando acham, e se nada encontram, o jeito é furtar.

 

A história de um sem-nome com certeza vai te emocionar. Em suas peregrinações, esse bichano sentiu o cheiro de comidas um tanto apetitosas para ele: churrascos, peixes e o mais.

 

Sendo ele de um estrato inferior ao dos humanos, a única coisa que lhe restava era ir para a porta desse restaurante, a fim de assistir, toda noitinha, ao empolgante show: as pessoas contando casos, rindo felizes e saboreando os mais deliciosos pratos. (E o coitado, também saboreando tudo, mas apenas com os olhos.) 

 

Uma noite, o faminto não resistiu. Deu um pulo e ficou na janela. Ninguém o importunou, porque ninguém o notou.

 

Na próxima vez, o nosso herói empreendeu ousadia maior: da janela, saltou para dentro do estabelecimento. O proprietário expulsou-o de lá.

 

Frustrado, aquele infeliz passou três dias sem reaparecer ao local. Num canto da mata, permaneceu meditando, tentando entender os humanos, com quem ele, fatalmente, deveria continuar a conviver.

 

Na sequência, voltou à porta do restaurante, desta vez, só para observar. Verificou, detalhadamente, o ambiente e o comportamento das pessoas.

 

Importante foi notar que os humanos não comiam de graça. Para receber aquilo que desejavam, entregavam à garçonete uma folha de alguma planta, algo assim. Aí ele pensou: “Ah, já entendi por que não sou prestigiado neste recinto. Eu não chego aqui com essa folha, esse papel.”

 

Decidido, pulou o muro de um jardim, colheu a mais bela flor.

 

Partiu para uma nova missão. Portando cuidadosamente aquela dádiva da Natureza, entrou seguro naquele paraíso dos prazeres alimentares. A garçonete nem nota sua presença. Entretanto, ele a chama. Logo que ela o vê, ele oferta-lhe aquele atraente mimo.

 

A moça quedou paralisada, tamanho o deslumbramento. Fazia quase cinco anos que ela terminara um noivado. Frustrada, decidira que não ia mais amar ninguém. Pensava que o amor, um carinho, um afeto, já estavam morando em outro planeta, bem distante daqui. Jamais poderia imaginar que alguém ainda se acercasse dela, ofertando-lhe uma flor.

 

Ela acariciou muito o amiguinho. Beijou-o carinhosamente, como num sincero agradecimento. Sensível que era, entendeu direitinho a intenção desse novel cliente. Foi logo preparar um pratinho bem apetitoso para ele. Pragmático, o gerente questionou:

 

- Mas você está tirando comida daqui a fim de dar para um gato?

 

Ela respondeu:

 

- Ele pagou.

 

O gato voltou mais duas vezes ao recinto, levando flores à sua amiga ou a alguém que o admirasse.

 

A garçonete tentou levá-lo para casa. No entanto, ele resistia. Seu lugar era mesmo o mundo...

 

Desapareceu dali. Os próprios fregueses sentiram a falta dele. Teria sido atropelado? Felizmente não. É que ele acabara de descobrir a sua real missão nesta Terra: sair pelas ruas, distribuindo flores à população.

 

Nem sempre recebia em troca a sua comida, porém uma boa dose de carinho estava sempre garantida. E isto, se não alimentava seu corpo, alimentava a sua alma e o deixava felicíssimo.

 

Bonito é que seu exemplo foi seguido, não só por animais, como também por humanos. Via-se um montão de gente distribuindo rosas. O afeto existe dentro de todos nós. Às vezes, ele precisa é ser despertado.

 

* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.

 

- Imagem: Divulgação.

 

- Produção: Pepe Chaves. 

 

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Somos independentes?

Independência ou Morte! O quê!?

Enfim, a total independência é mera utopia. País nenhum consegue essa façanha. Aliás, pessoa alguma, uma vez que a vida em sociedade transcorre por intercâmbios, um saciando o desejo ou a necessidade do outro.

 

Por Sérgio Souza*

De Ibirité-MG

Para Via Fanzine

06/09/2023

 

Todo país que fica devendo ao FMI torna-se também obrigado a seguir as diretrizes do Imperador, no caso, os Estados Unidos.

 

Nem independentes, nem mortos! Foi assim que estivemos, é assim que estamos, será assim que estaremos.

 

E então, depois de amargar o jugo português, durante mais de três séculos, com Portugal roubando nosso ouro, nossa madeira, nossas pedras preciosas... Portugal catequizando os índios - vale dizer, implantando a religião do Império – uma das formas de aculturação e dominação... Depois ainda de um período sombrio, escravocrata... Aí se ouve, forte e retumbante, o brado de Independência, dado pelo multi-instrumentista e compositor Dom Pedro I, que, nas horas de folga, era também Imperador - e adorava uma mulata (dizem, né?).

 

Foi assim que ficamos independentes. Oh! Que bom! Quer dizer que, nesta terra brasilis, não tinha mais pobres, nem escravos? Você sabe a resposta.

 

E vem a República. Presidentes militares, com pernas de chumbo, mãos de ferro e cabeça de papel. Um dia, no entanto, aparece um civil, porém ditador: Vargas. Dizem que ele era “pai dos pobres” (“mãe dos ricos”, em compensação). No aspecto trabalhista, foi bom, mas tinha ânsias de poder.

 

Eis que vem o golpe militar de 64! Foram vinte e um anos de uma ditadura perversa, perseguidora, matadora. Tudo em nome da arrogância e do poderio militar, com aquela velha desculpa de que estariam impedindo o comunismo de invadir e dominar o Brasil - o que agradou sobejamente o Império Norte-Americano que, tudo indica, estava por detrás. Vargas já havia feito o mesmo discurso.

 

Ué, mas não estávamos livres, independentes?

 

Ah, sim, independentes de Portugal. O Brasil não precisaria, nunca mais, dar satisfação aos lusitanos nem a ninguém sobre seus atos; teria total soberania. Mas...

 

E o Império Norte-Americano? Estava agora o Brasil dependente dos aspirantes a dominadores do mundo, devendo prestar-lhes conta da sua economia, sua política interna e externa, e outras mumunhas mais.

 

Todo país que fica devendo ao FMI torna-se também obrigado a seguir as diretrizes do Imperador, no caso, os Estados Unidos. Sempre que necessário, o devedor desse Fundo se obriga a ser contido nos aumentos salariais, nas despesas internas, nos projetos sociais para uma vida melhor de seu povo. Em síntese: impõe-se sobrar dinheiro para pagar a esse Fundo. E o Brasil devia. E o Brasil era escravo desse senhor. Conseguimos pagar. Hoje, vemos outras nações sofrendo com esse jugo. Pelo menos disso, ficamos independentes.

 

Vamos dar um flashback na História, e lembrar que todo império, um dia, se desmorona. O Império Americano do Norte ainda está de pé, alimentando a Ucrânia, na guerra produzida pela Rússia. Ou seja, aquela Guerra Fria não acabou. Há, na verdade, até uma guerra armada, entre EUA e Rússia, tendo, como teatro de operações, a Ucrânia. Aliás, hoje, os EUA se envolvem em duas Guerras Frias: a citada e a acirrada disputa econômica com a China. Será a China o próximo império, com pretensões de dominar o mundo? “The answer, my friend, is blowing in the wind.”

 

Outra ameaça, que está tirando o sono do Tio Sam, são os BRICS. O Grupo vem ganhando cada vez mais poder. Outros países, com importantes economias, acabam de aderir ao Grupo. Os Estados Unidos vêm gozando seu conforto, uma vez que a economia do Brasil e de grande parte do mundo é em dólares. Se os EUA precisam de dinheiro, se gastam tanto com a guerra, sem problema! “Vamos fabricar mais dólares.” Enquanto isso, outros países amargam suas inflações e seus problemas sociais.

 

Para maior dor de cabeça dos norte-americanos, os BRICS estão dispostos a não mais negociar em dólares. As negociações podem ser em real, em yuan (moeda chinesa), em Rand sul-africano (da África do Sul) ou, bom também, numa moeda que os BRICS pretendem criar. Bem, se isso não fizer ruir o Império norte-americano, pelo menos vai abalá-lo bastante.

 

Enfim, a total independência é mera utopia. País nenhum consegue essa façanha. Aliás, pessoa alguma, uma vez que a vida em sociedade transcorre por intercâmbios, um saciando o desejo ou a necessidade do outro. O importante é que cada um tenha vez, seja visto e ouvido.

 

* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.

 

- Imagem: Divulgação.

 

- Produção: Pepe Chaves. 

 

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Ensino Público:

Educação ou inducação, na querida São Paulo?

Todos já sabem também que o bolsonarismo virou uma seita. A seita PIX, a seita ouro, a seita diamantes, a seita qualquer tipo de cartão. Em troca, você recebe um sorriso confiante do mito, sorriso este, ainda mais tentador, agora, com harmonização facial, dental e até nas nádegas, conforme andam dizendo por aí. 

 

Por Sérgio Souza*

De Ibirité-MG

Para Via Fanzine

1º/09/2023

 

Tarcisio e Bolsonaro: um novo Samba do Crioulo Doido está nascendo em São Paulo.

 

Um homem muito “inducado”, o qual não conhecia direito São Paulo, candidatou-se a governador desse estado. E qual não foi a surpresa para muitos? Ganhou.

 

Todos sabem que ele segue o modelo de Bolsonaro, e que é amigo do Edir Macedo. Aliás, ele é do Partido Republicanos, fundado por esse bispo (melhor dizendo, por esse empresário).

 

Todos já sabem também que o bolsonarismo virou uma seita. A seita PIX, a seita ouro, a seita diamantes, a seita qualquer tipo de cartão. Em troca, você recebe um sorriso confiante do mito, sorriso este, ainda mais tentador, agora, com harmonização facial, dental e até nas nádegas, conforme andam dizendo por aí. 

 

E o Tarcísio de Freitas, uma vez bolsonarista, “a seita” automaticamente a doutrina imposta pelo líder. E um dos princípios desse cânon é o repúdio à ideologia de gênero. Dentre as regras, não se pode nem falar nas escolas sobre educação sexual. É imoral; é indecente; é pecaminoso. E a família tradicional brasileira deve até entrar em guerra, se preciso for, para que tal conteúdo educacional não seja ensinado.

 

Considerações: A primeira é que eu lecionei, durante um bom tempo, no Ensino Fundamental e Médio. Nas aulas de educação sexual, falava-se sobre gravidez precoce, prevenção contra doenças sexualmente transmissíveis... Era comum um médico ser convidado para melhor instruir os alunos e responder perguntas por eles formuladas.

 

Era tudo muito respeitoso e positivo. E preenchia uma lacuna, vez que a maior parte do alunado não recebe informações suficientes em casa. Segunda consideração: a família do Bolsonaro é tão exemplar assim? Ele já está na terceira esposa; o que ele ensinou aos filhos foi desonestidade, e um por um caminha para as goelas da Justiça. Tudo não passava de discursos eleitoreiros, para enganar as pessoas mais sugestionáveis e crédulas.

 

Vamos voltar ao Tarcísio. Esse governador resolveu declarar guerra aos livros didáticos do MEC. Em lugar deles, propôs a produção de material digital, com redação de sua própria equipe e, ao que tudo indica, recheado com as ideologias bolsonaristas de que falamos. Com isso, seriam usados também para uma doutrinação, uma pré-campanha política, dando sequência à seita fundada pelo messias Bolsonaro.

 

Quanta mancada! Um bom número de alunos não tem computador para assistir às aulas, baixar material (o que ainda lhe causaria mais uma despesa), não tendo, muitas vezes, nem ao menos um celular. E o valor do investimento é altíssimo e desnecessário, porque o MEC já tem tudo pronto e a distribuição é gratuita. Será que o Tarcísio se inspirou na Noruega, ou em algum outro país consideravelmente rico e com índice de desenvolvimento humano sobremodo elevado? São Paulo tem muito glamour. Tem sim. Mas infelizmente, tem moradores de rua, tem favela, como acontece nas grandes cidades brasileiras. Responsabilidade dos governos.

 

Contudo, a coisa não para por aí. Chegou a hora de descontrair um pouco. Você se lembra do Samba do Crioulo Doido, do notável jornalista Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta)? Se não se lembra, vamos recordar. A situação é essa: um bom crioulo foi incumbido de compor um samba-enredo para um carnaval, o qual discorresse, como de praxe, sobre pontos da História do Brasil. Só que era muita informação, e o moço misturou tudo. No seu samba, a princesa Leopoldina se casa com Tiradentes; depois, foi “proclamada” a escravidão, e por aí vai.

 

Pois bem, um novo Samba do Crioulo Doido está nascendo em São Paulo. Uma notícia do Uol vem informar que, no material didático da gestão Tarcísio de Freitas, consta que São Paulo, capital, é banhada pelo mar. Pior: numa lição de História do Brasil, registra-se que quem assinou a Lei Áurea foi Dom Pedro II. Ah, quer saber? Menos mal. Achei que eles iam colocar que foi o Pedro, jogador do Flamengo, ou quem sabe o Pedro Bento, que fazia dupla com o Zé da Estrada.

 

* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.

 

- Imagem: Divulgação.

 

- Produção: Pepe Chaves. 

 

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Divisão:

Brasil do Norte e Brasil do Sul

O assunto do momento é a infeliz fala do governador de Minas, Romeu Zema, defendendo que deveria ser criado um consórcio Sul/Sudeste, para fazer frente ao consórcio dos estados do Norte/Nordeste.

 

Por Sérgio Souza*

De Ibirité-MG

Para Via Fanzine

19/08/2023

 

Todavia, não somos ingênuos. A contenda se situa muito mais no terreno político do que no social. É que o Hemisfério Sul pendeu mais para Bolsonaro, enquanto o Nordeste foi decisivo na eleição do Lula.

 

Durante a campanha para as últimas eleições presidenciais, um dos mais inflamados discursos da direita era que, se o Lula ganhasse, o Brasil iria transformar-se numa Venezuela. (Bem, a nossa vizinha tem seus pontos positivos. Um deles, foi a magnífica ajuda prestada aos amazonenses, quando eles estavam morrendo por falta de oxigênio – e de responsabilidade do governo federal vigente na ocasião.)

 

A direita, que criticou, agora, através de alguns dos seus líderes e seguidores, propõe que o Brasil se transforme – digamos assim – numa Coreia, que é dividida em dois hemisférios, a saber: a do Norte e a do Sul.

 

Seria então o “Brasil do Norte” (composto pelas regiões Norte e Nordeste) e o “Brasil do Sul” (constituído pelas regiões Sul e Sudeste). E o Centro-Oeste? Em que hemisfério ficaria? Talvez do Sul.

 

O assunto do momento é a infeliz fala do governador de Minas, Romeu Zema, defendendo que deveria ser criado um consórcio Sul/Sudeste, para fazer frente ao consórcio dos estados do Norte/Nordeste. A fala tem gerado uma enorme repercussão. “O Nordeste é pobre; o Sul é rico.” Foi mais ou menos isso que tal governador quis dizer em um dos tópicos. Preconceito! Xenofobia! Nazismo! E se o Zema realmente tem pretensões de se candidatar a presidente em 2026, está indo na contramão, porque ele seria o presidente do Brasil (Deus nos livre), e não apenas do Hemisfério Sul.

 

Tal preconceito, no entanto, já vem de outras eras. Bolsonaro já o tinha com sobra, e boa parte dos seus aliados. Fala-se que no Nordeste não tem economia, só tem praias; que o nordestino é preguiçoso; que vive é de bolsa-família. Esqueceu-se de que grande parte do que foi construído no Sul/Sudeste foi com mão de obra nordestina; esqueceu-se também de que muitos sulistas são filhos desses imigrantes.

 

Preconceito já até estrutural. Luiz Gonzaga fez suas primeiras aparições aqui no Hemisfério Sul, de terno e gravata, como era a moda entre os artistas. Só depois de fazer amizade com o cantor e compositor catarinense Pedro Raimundo - o qual se apresentava com trajes gaúchos -, é que teve a coragem de “se assumir realmente nordestino”, criando seu visual (às vezes criticado) e divulgando enfim a cultura da sua região.

 

Todavia, não somos ingênuos. A contenda se situa muito mais no terreno político do que no social. É que o Hemisfério Sul pendeu mais para Bolsonaro, enquanto o Nordeste foi decisivo na eleição do Lula.

 

Com a inelegibilidade de Bolsonaro, vêm surgindo candidatos ao seu espólio. Um é o Tarcísio de Freitas; outro, o Zema. E outros decerto surgirão. A guerra separatista é, pois, uma campanha antecipada, uma posição direitista radical, visando a alinhar-se ao pensamento bolsonarista e a ganhar seus eleitores. Tenho até um bom nome para esse movimento: “Operação Urubu”. São urubus disputando a carniça, a saber: os traços de fascismo e de nazismo implantados neste nosso honrado País.

 

O Hemisfério Norte é pobre? Pobre em quê? Em cultura, em consciência política, devemos reconhecer que não é. E a riqueza natural da Amazônia? E o novo pré-sal? E a indústria de carros elétricos que será implantada na Bahia? Parece que alguns líderes nazifascistas vieram de outro planeta, pois não conhecem o Brasil.

 

Impor barreiras entre povos é impor barreiras a si próprios. O bonito é a união das pessoas. Que mal tem o Nordeste exibir as bonitas danças gaúchas, e o Sul ser aquecido com um caloroso forró? Pode-se tirar um incalculável proveito, lendo-se Machado de Assis, Drummond, Guimarães Rosa, Mário de Andrade, Érico Veríssimo, Cruz e Souza, Jorge Amado, Manuel Bandeira, Graciliano Ramos, dentre outros mil. Todos eles são filhos de uma única terra: o Brasil. Aliás, já são do mundo.

 

Ontem, numa rede social, quando comentei este assunto, alguns internautas reagiram contra mim. Um deles me provocou: “Se você gosta do Nordeste, por que não muda pra lá?” Respondi: Sou feliz em Minas; já morei em São Paulo, tendo gostado bastante de lá; mudaria para o Nordeste sim, e garanto que me sentiria sobremodo feliz.  A felicidade -  falei com ele - existe é dentro de cada um de nós. O infeliz acha todo lugar ruim. Já o venturoso festeja seu tempo de júbilo em qualquer terra. E então quem atingir o sublime estado de graça? Ah, este, até mesmo numa guerra, encontrará motivos para sorrir.

 

* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.

 

- Imagem: Divulgação.

 

- Produção: Pepe Chaves. 

 

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Vida profissional:

Uma derrota pode acarretar sucesso

Um dia então, o adolescente Wesley chega até o pai e anuncia: “Vou fazer vestibular de engenharia.” E o pai: “Oh! Que notícia boa!” “Chegue aqui, Maria, mais um engenheiro na família.” E ela: “Não tinha melhor escolha!”

 

Por Sérgio Souza*

De Ibirité-MG

Para Via Fanzine

04/08/2023

 

Repórteres à sua porta e convites para entrevistas no rádio e TV não faltavam.

 

Na casa do Wesley, respirava-se engenharia. Pai, irmão mais velho e tio, todos engenheiros. Quando se reuniam os três na sala, as mulheres nem conseguiam mais falar da moda, da vizinha ou da novela da Globo.

 

Um dia então, o adolescente Wesley chega até o pai e anuncia: “Vou fazer vestibular de engenharia.” E o pai: “Oh! Que notícia boa!” “Chegue aqui, Maria, mais um engenheiro na família.” E ela: “Não tinha melhor escolha!”

 

- Filho, mas eu queria primeiro conversar com você. Você sabe que eu, seu tio e seu irmão não ficamos milionários nesta profissão, mas temos uma vida confortável. Cada um tem seu carro, sua casa, podemos colocar os nossos filhos em colégios particulares... Foi esta a razão da sua escolha?

 

- Não, meu pai, é porque eu gosto mesmo. Posso ter tido alguma influência de vocês – não vou negar -, mas a real vontade brotou de mim.

 

- Ah, ótimo! E é bom que você ainda poderá contar com a nossa mentoria.

Tudo perfeito. Só que o jovem, cheio de sonhos, não passou.

 

A frustração não foi só sua. Foi da família inteira. Depois, o pai o consolou:

 

- Wesley, também nem tudo está perdido. Você é jovem, e daqui a seis meses, tem o vestibular de novo. Você vai e passa.

 

O filho andou dentro de casa, ponderou, depois falou de sua decisão:

 

- Como segunda opção no vestibular, eu coloquei Design Industrial. E a minha pontuação dá, para fazer esta faculdade. Vou matricular-me nela então.

 

- Mas você gosta?

 

- Sinceramente, mãe, eu nem sei direito o que é isso. Achei que parecia interessante, poderia ter campo de trabalho, coloquei lá na ficha.

 

Wesley, já na faculdade, faz uma grande amizade com seu colega Henrique. Um dia, este lhe pergunta:

 

- Wesley, vai fazer o concurso?

 

- Que concurso?

 

- De redação. O tema é “A importância da embalagem”.

 

- Aqui para a faculdade mesmo?

 

- (Rindo) Não, amigo! É em nível mundial.

 

- Nem pensar! Há pouco tempo, eu nem sabia o que era Design. Agora, vou eu disputar com os feras do marketing e da publicidade?

 

O Henrique se inscreveu no concurso e convenceu o Wesley a também participar, ainda que fosse só por experiência. O Wesley aceitou. E esqueceu-se daquilo.

 

Faltando só dois dias para a entrega do trabalho, o Wesley se lembrou e pensou: “Nossa! Vou ter que fazer isto hoje.” Foi comprar num sacolão. Ali é que ele teve um insight para a redação. Chegou em casa, pegou uma caneta, um papel, e em dez minutos, escreveu mais ou menos assim:

 

“Deus, ao criar as frutas e os legumes, colocou neles uma embalagem: a casca. E o Criador, sendo o Maior dos Engenheiros, projetou, para a melancia, um invólucro espesso e resistente. Já para a pequenina uva, Ele criou uma embalagem mais tenra e delicada. Imaginemos agora Deus, enquanto Publicitário. Ele não poupou os apelos sensoriais em suas embalagens: estimulou a visão, com belíssimas cores; acrescentou-lhes cheiro, sabor e até algum prazer no tato. Pois bem, se Deus achou importante a embalagem, quem sou eu para discordar?”

 

Venceu o concurso! Como prêmio, recebeu cem mil dólares. Suas caixas de mensagens ficaram abarrotadas, tanta gente dando-lhe parabéns e elogiando o seu trabalho. Repórteres à sua porta e convites para entrevistas no rádio e TV não faltavam. Chega novamente o pai:

 

- Filho, eu, seu tio e seu irmão já estamos há tanto tempo na nossa profissão e nunca nos tornamos uma celebridade, coisa que você, em poucos meses, realizou. Ainda vai tentar engenharia?

 

- Claro que não, meu pai. Se eu iniciei a mil por hora esta intrigante carreira, quero continuar nela, procurando sempre ser o melhor do mundo.

 

* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.

 

- Imagem: Divulgação.

 

- Produção: Pepe Chaves. 

 

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Boemia carioca:

Madame Satã

Era negro. E ao ser entrevistado uma vez pelo Pasquim, perguntaram-lhe se ele era homossexual. Ele respondeu: “Sempre fui, sou e serei.” No entanto, foi casado com Maria Faissal. Adotaram e criaram seis filhos.

 

Por Sérgio Souza*

De Ibirité-MG

Para Via Fanzine

24/07/2023

 

João Francisco dos Santos (1900 – 1976) nasceu em Glória do Goitá, Zona da Mata pernambucana, em 25 de fevereiro de 1900. Aos treze anos, mudou-se para o bairro da Lapa, no Rio de Janeiro.

 

Hoje existe lei que protege a comunidade LGBTQIA+. Ainda assim, existem discriminações, agressões e até mesmo homicídios a integrantes dessa comunidade. Imaginem então nas décadas de 20 e 30 do século XX. E quando o indivíduo, além de homossexual, fosse negro?

 

Dependendo da situação e do temperamento de quem viesse a ser agredido em sua orientação sexual, alguns optavam por calar-se (e sofrer por dentro); outros reagiam, fazendo justiça com as próprias mãos.

 

João Francisco dos Santos (1900 – 1976) nasceu em Glória do Goitá, Zona da Mata pernambucana, em 25 de fevereiro de 1900. Aos treze anos, mudou-se para o bairro da Lapa, no Rio de Janeiro. Começou ali vivendo como moleque de rua. Depois, conseguiu um emprego, como vendedor ambulante de pratos e panelas de alumínio. Na sequência, fez de tudo um pouco: foi segurança, cozinheiro, garçom, capoeirista.

 

Posteriormente, enveredou-se pela vida criminosa, tornando-se bastante famoso no baixo mundo carioca.

 

Era negro. E ao ser entrevistado uma vez pelo Pasquim, perguntaram-lhe se ele era homossexual. Ele respondeu: “Sempre fui, sou e serei.” No entanto, foi casado com Maria Faissal. Adotaram e criaram seis filhos. Contudo, seu grande amor foi o Brancura, um malandro e cafetão. Viveram juntos, até que o Brancura se apaixonou por uma mulher e fugiu para o Mato Grosso, a fim de se casar com ela. O João Francisco foi atrás deles com o intuito de matá-los. Todavia, não os encontrou. Tempos depois, volta o Brancura para os braços do seu amado...

 

Desfilou uma vez no carnaval, tendo conquistado o primeiro lugar. Logo depois, ele e outros foliões, foram chamados à delegacia. Frente a frente com o senhor delegado, este lhe pergunta quem ele é. Por ter uma extensa ficha criminal, o rapaz nega-se a revelar. Aí o delegado, reconhecendo-o, fala categórico: “Ah, é a Madame Satã.” E o apelido pegou.

 

Madame Satã frequentava aqueles cabarés decadentes do Rio, tendo sido ator nesses ambientes. Era transformista.

 

O que mais o identificava, entretanto, era sua fama de valente, um homem que não levava desaforo para casa. Brigava, ou até mesmo matava, para defender os seus direitos.

 

Entrando para o teatro, decidiu abandonar a sua vida no crime. Só que o sangue quente corria-lhe nas veias. Em uma noite, quando voltava desse seu trabalho, resolveu jantar em um boteco. Ali apareceu um tal de Alberto, um vigilante noturno. Esse guarda dirigiu provocações contra ele. Chamou-o de “viado” reiteradas vezes. Madame Satã puxou da arma, atirou no vigilante. Foi condenado a dois anos e três meses de prisão. Houve dia, quando entenderam a sua reação como legítima defesa. Talvez isso tenha diminuído o seu tempo de cela.

 

Ao sair do presídio, decidiu abandonar o teatro, tendo sido impulsionado de vez para a vida no crime. Novos delitos, novas prisões.

 

“Baiana/que entra na roda/só fica parada/no samba não mexe/não bole nem nada/não sabe deixar/a mocidade louca...” Agora, estamos falando de Geraldo Pereira, compositor mineiro, de Juiz de Fora, autor desse famoso samba e de tantos outros de sucesso. Quando Geraldo Pereira compôs: “Um escurinho/Era um escuro direitinho/Agora tá com a mania de brigão...”, devíamos entender que “esse escurinho” era ele próprio. Conta-se que ele, quando estava sóbrio, era um doce. Contudo, quando embriagado, era mesmo valentão. Existem várias versões sobre sua morte. Há quem diga que foi de câncer; outros afirmam que sua esposa, sentindo-se reiteradamente traída, colocou vidro moído na bebida dele, causando-lhe hemorragia intestinal. Mas existe ainda outra. Vejamos.

 

O compositor entra com uma mulher num bar. Avista Madame Satã sentado sozinho a uma mesa. Chega o casal, senta-se com ele. Num certo momento, Geraldo Pereira, já tonto, cisma que Madame Satã havia trocado seu copo de chope. Dois brigões, aquilo foi o suficiente para mais uma confusão. Madame Satã dá-lhe um soco detonador. Geraldo cai com a cabeça num paralelepípedo, vai para o hospital, e lá, morre. 

 

Foi uma época de uma romântica malandragem, verificada nas noites do Rio, inspiradora de músicas, livros, filmes e até mesmo desta crônica. No dia 12 de abril de 1976, Madame Satã sai da vida, para tornar-se mito.

 

* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.

 

- Imagem: Divulgação.

 

- Produção: Pepe Chaves. 

 

 

 

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