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 Musical 
 

Magia musical:

A maldição da Guitarra de Ouro

A guitarra que carregava uma "inscrição maldita" foi roubada, mas voltou ao dono como previa a inscrição. A Guitarra de Ouro foi o protótipo da primeira REGVLVS-RAPHAEL, construída pelo técnico eletrônico e luthier Cláudio César Dias Batista, irmão dos Mutantes, Sérgio e Arnaldo. Essa lendária guitarra com feitio especial e recursos que a diferenciava foi utilizada por Sérgio Dias durante muitos anos.

 

Por Pepe Chaves*

De Belo Horizonte-MG

Para Via Fanzine

17/08/2014

 

Cláudio César Dias Baptista posa com a Guitarra de Ouro, o protótipo da primeira REGVLVS-RAPHAEL, em foto feita na época da construção.

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Originalidade brasileira

 

Do Pau Elétrico de Dodô & Osmar no início da década de 1940, até a Guitarra de Ouro que CCDB concebeu para Os Mutantes, no final da década de 1960. Estas são apenas duas comprovações da originalidade, inventividade e engenhosidade de músicos e construtores de instrumentos brasileiros que mereciam ser reconhecidas pelo restante do mundo.

 

No Brasil, “A maldição da Guitarra de Ouro”, ficou conhecida não somente no meio dos guitarristas brasileiros, mas atualmente, essa "lenda" (que de lenda não tem nada) percorre várias partes do planeta. Essa é a história de um diferenciado instrumento criado por um luthier e técnico eletrônico paulista, que prestou total apoio técnico à banda de seus irmãos.

 

Em 1992, eu estive pessoalmente com o pivô dessa história, o excêntrico e ilustre Cláudio César Dias Baptista (CCDB), sendo gentilmente recebido em seu apartamento - onde também funcionava o seu laboratório - situado no bairro das Laranjeiras, no Rio de Janeiro e à ocasião ele me confirmou a veracidade dessa “lenda urbana”. Cerca de dois anos depois, ele concedeu uma entrevista exclusiva a Via Fanzine (versão impressa, Itaúna-MG, 1995) falando de sua atividade como empresário do áudio na época, entre outros assuntos.

 

Cláudio César Dias Baptista é irmão de Arnaldo e Sérgio Dias Baptista, integrantes da formação original da banda Os Mutantes que, juntamente com a cantora e compositora Rita Lee, se tornaram conhecidos em todo o país e também no exterior. Irmão mais velho de Arnaldo e Sérgio Dias Baptista, ele era o "homem das ferramentas" e seu trabalho era buscar soluções para a banda. Quando ainda era um precoce, mas já eficiente técnico em sonorização de Os Mutantes, ele me contou que também dirigia a Kombi da banda, levando os músicos, seus equipamentos e instrumentos a inúmeros shows apresentados em distintas cidades do Brasil.

 

Extraída por CCDB da foto de J. Ferreira da Silva, em reportagem de Luís de Castro, num dos números da revista InTerValo: a Guitarra de Ouro "Regvlvs Raphael",

ainda sem os captadores (pick-ups).

 

Guitarra mutante

 

Considerado um "Mutante" fora dos palcos, Cláudio César Dias Baptista era também construtor artesanal de instrumentos (luthier) e, em 1969, recebeu a encomenda de construir uma certa “Guitarra de Ouro”. Segundo ele próprio contou durante a minha visita, esse nome foi dado porque essa guitarra exclusiva (recebendo dele a nomenclatura REGVLVS-RAPHAEL) teve todos os seus circuitos internos soldados com ouro, em vez de se usar a solda comum. De acordo com ele, usando o ouro como condutor, havia um ganho final enorme no sinal gerado pela guitarra, justificando assim, um investimento extremamente mais caro que o convencional. Além disso, as peças externas das guitarras desta série recebiam um banho de ouro.

 

Este era apenas alguns dos detalhes que diferenciavam tão original instrumento. A guitarra semi-acústica projetada por Cláudio César teve modelo semelhante ao de uma Guild Duane Eddy. Mas, segundo Cláudio César Dias Baptista, a sua Guitarra de Ouro guardava outros segredos de sonoridade e muito mais beleza plástica, apresentando o seu perfil mais arqueado e anatômico, altamente ergonômico ao guitarrista, semelhante aos violinos Stradivarius.

 

Esse instrumento foi manufaturado por Cláudio César Dias Baptista para o seu amigo Raphael Vilardi (daí a origem de sua nomenclatura, REGVLVS-RAPHAEL), músico que havia tocado guitarra com ele e seus irmãos em bandas que antecederam Os Mutantes. Contudo, para se chegar ao instrumento final, Cláudio César construiu antes um protótipo, o qual se tornaria depois a Guitarra de Ouro da tal maldição. Cláudio César afirma que esse protótipo foi tão bem desenvolvido que seu irmão Sérgio Dias, então guitarrista de Os Mutantes se apaixonou por ele e acabou recebendo o instrumento de presente, passando a usá-lo em suas apresentações.

 

Cláudio César Dias Baptista e a Guitarra de Ouro, que depois ficaria com o irmão Sérgio. Na sua mão direita, ele começava a construir a guitarra definitiva para Raphael Vilardi.

 

Atualmente, Cláudio César tem se negado terminantemente a falar sobre assuntos como Os Mutantes, Guitarra de Ouro, equipamentos sonoros, música e afins, pois, segundo ele, está vivendo agora uma "nova encarnação", na qual não deseja manter contato com tais experiências de seu passado, que considera superado. Ele tem se dedicado ao seu novo projeto, o "Géa", mantendo um site explicativo de livre acesso ao público.

 

Contudo, em seu site (Géa), onde se dedica somente à carreira de escritor, Cláudio César abriu um adendo, tornando públicas algumas explicações sobre a construção e os resultados obtidos por sua Guitarra de Ouro. Segundo o criador, “A Regvlvs do Raphael foi encomendada por ele [Raphael Vilardi] para ser o que realmente se tornou: ‘a melhor guitarra do mundo’ - foi assim que ele me pediu que a construísse, usando essas palavras, e sei que consegui”, afirma sem nenhuma modéstia, por acreditar piamente na eficiência de sua criação.

 

Ainda em seu site, CCDB revela detalhes do processo de construção simultânea dos dois primeiros instrumentos dessa série, a Regvlvs Raphael e a Guitarra de Ouro (protótipo). Durante a construção quase concomitante de ambas, a guitarra protótipo ia servindo de base à guitarra definitiva de Raphael. Assim que cada característica do protótipo era testada e aprovada, era implementada na guitarra de Raphael”, afirmou.

 

Ainda sobre a parte técnica, o construtor também falou da captação diferenciada de seu instrumento, “A captação magnética das guitarras Regvlvs Raphael possui impedância baixa o bastante para que todos os captadores de qualquer modelo Regvlvs capturem todos os harmônicos da região das cordas que se lhes sobrepõe. Nenhum captador, seja de qual tipo for, pode captar o que não existe: todos os harmônicos de uma corda só se acham presentes em dois pontos: no cavalete e no trasto contra o qual a corda for comprimida (ou a pestana, se a corda estiver solta), explicou.

 

Sobre a continuidade na produção do instrumento para o irmão, Cláudio César informou sobre tal impossibilidade em seu site, “O Sérgio sempre quis que eu lhe fosse fazendo guitarras cada vez mais aperfeiçoadas e também para essa última me solicitou isso. Porém, hoje vivo outra encarnação, sou escritor, e além disso tenho os problemas nas mãos e nos olhos que me impediriam de manufaturar nova guitarra para o Sérgio.

 

Enquanto trabalhava como luthier, Cláudio César manufaturou artesanalmente mais de trinta Guitarras de Ouro e mais de cem guitarras sólidas. Além disso, ele criou vários dispositivos eletrônicos exclusivos para uso de Os Mutantes.

 

Posteriormente, o jovem brasileiro que recebeu diploma "Honoris Causa" de uma faculdade de Engenharia de Áudio dos Estados Unidos (curso inexistente no Brasil) desenvolveu e produziu por vários anos, séries de amplificadores exclusivos para uso profissional, além de mesas de som e caixas acústicas com desenhos inéditos assinados pela sua própria marca, CCDB, então reconhecida por sua primazia em todo o mundo.  Imerso que estava no mundo sonoro, lembro-me bem de ele ter brincado comigo quando estive com ele, “O áudio está presente até no meu primeiro nome”, disse Cláudio César Dias Baptista.

 

Atualmente, Cláudio César Dias Batista se dedica somente à carreira de escritor e se recusa a falar do passado. Sérgio Dias ainda tem se apresentado com a banda Os Mutantes com a formação do álbum "Tudo foi feito pelo sol".

 

A "maldição"

 

A história da "maldição" se deu com essa primeira Guitarra de Ouro (protótipo), que traz inscrita, em uma placa banhada a ouro afixada na sua parte traseira e na parte interna, dizeres de um livro intitulado “Magia Teúrgica - A Arte de Manifestar o Espiritual”, de F. Mondini.

 

Na sua parte externa, foi afixada a inscrição contendo a tal maldição, de autoria de Cláudio César, que reza: “Que todo aquele que desrespeitar a integridade deste instrumento, procurar ou conseguir possuí-lo ilicitamente, ou que dele fizer comentários difamatórios, construir ou tentar construir uma cópia sua, não sendo seu legítimo criador, enfim, que não se mantiver na condição de mero observador submisso em relação ao mesmo, seja perseguido pelas forças do Mal até que a elas pertença total e eternamente. E que o instrumento retorne intacto a seu legítimo possuidor, indicado por aquele que o construiu”.

 

Além disso, atrás da placa que contém essa inscrição, está gravada a “Conjuração dos Espíritos do Mal”. Contudo, Cláudio César afirma jamais ter acreditado na existência do “Mal” ou que possam existir, de fato, espíritos ou entidades malignas, porém, afirma que ainda assim fez a placa e as inscrições para ajudar a promover o grupo Os Mutantes, que rapidamente se tornou um sucesso na música brasileira.

 

Cláudio César me confirmou que, de fato, o instrumento chegou a ser roubado de seu irmão Sérgio Dias Baptista, mas – como manda a inscrição - voltou às mãos do músico alguns meses depois. Segundo ele, a guitarra que foi roubada durante o translado de equipamentos durante um show, reapareceu, através de um suposto comprador, que leu o texto no corpo do instrumento, acreditou na “maldição” e o devolveu ao legítimo proprietário.

 

E, de acordo com ele, a Regvlvs Raphael original encomendada por Raphael Vilardi ainda se encontra intacta, “A Guitarra Regvlvs Raphael está, até onde sei, com o próprio Raphael. A última vez em que a vi estava nova em folha, na caixa, tinindo, brilhando, refulgente”, afirmou o luthier.

 

Datada de 9 de junho 1969, uma edição do jornal Folha de São Paulo abordando a produção de instrumentos do jovem paulista, trouxe matéria especial com mais de uma página, intitulada "Guitarra de Ouro já é artigo de exportação". Esse artigo registrou a produção das guitarras pelo luthier brasileiro e apresentou imagens das inscrições nos dois lados da dita placa afixada no instrumento.

 

A Guitarra de Ouro no laboratório de CCDB, após passar por 135 horas de reforma para retornar às mãos de Sérgio Dias.

 

Quando se arranca a alma de um instrumento

 

Quando eu estive com Cláudio César no Rio, enquanto ele me contava a história da notória guitarra, pude ver pendurada no teto de seu laboratório, a velha protagonista de um dos ícones guitarrísticos brasileiros: a Guitarra de Ouro. Eu me impressionei ao vê-la ali, sem as cordas, aparentando ser tão frágil aquele fiel instrumento. Trazia marcas de "sofrimento" pelo uso ostensivo durante muitos anos: os trastos de aço e as "casas" de seu braço estavam simplesmente carcomidos de tanto serem usados pelas mãos de um único músico.

 

Foi impressionante, verificar que a madeira estava afundada por muitos milímetros em determinadas partes do braço da guitarra (sobretudo, na região dos solos mais altos), efeito dos dedos ágeis de Sérgio Dias Baptista comprimindo a madeira ao longo dos tempos. Segundo CCDB contou naquela ocasião, a guitarra do irmão estava ali para ser reformada e voltar à ativa. Algum tempo depois, o instrumento foi devidamente reformado e devolvido ao músico.

 

A imagem da guitarra desgastada realmente me impressionou, pois eu jamais havia visto um instrumento usado tão intensamente por um único músico. Ainda tento imaginar, por quantas horas, dias, meses ou anos seguidos, este "herói da guitarra brasileira" chamado Sérgio Dias utilizou aquele "mágico" instrumento criado com tanta dedicação pelo seu próprio irmão. Neste caso, o músico chegou ao extremo de esgotar a vida útil do querido instrumento, mas tão somente até que o seu criador lhe sopre uma nova alma...

 

Sérgio Dias Baptista, o amigo da família, Josy, presenteado com uma guitarra da série exclusiva e Rafael Borges, filho de Cláudio César Dias Baptista.

 

CCDB fala conosco após ler esta matéria

 

Falando conosco pela Internet em 17 de agosto de 2014, após ler e elogiar esta presente matéria, Cláudio César Dias Baptista acrescentou e esclareceu sobre alguns detalhes que envolvem esta sua linha exclusiva de instrumentos musicais. De acordo com CCDB, "As soldas dos Instrumentos que eu manufaturava, as Guitarras de Ouro Regvlvs Raphael, inclusive, eram normais, conquanto muito bem feitas: não eram de ouro. De ouro era o revestimento interno desses instrumentos, com vários propósitos: 1 - blindar contra ruído eletrostático e, com isso me permitir não utilizar fios blindados, cuja capacitância do condutor e a blindagem rouba as altas frequências. 2 - imunizar a madeira (além dos tratamentos que eu lhe dava) a insetos, fungos e tal. 3 - melhorar a estética e contribuir para o renome do instrumento e, portanto do usuário", afirmou o construtor.

 

Ainda de acordo com ele, "Uma das Guitarras de Ouro que fiz para meu irmão Sérgio (a segunda) foi também revestida de ouro pela parte externa e em seguida pintada com verniz colorido, para formar o padrão conhecido no exterior como 'golden sunburst'. Mas, com aspecto muito melhor que o das guitarras estrangeiras, pois onde estas têm a cor amarela, a Guitarra de Ouro tem ouro de verdade", disse CCDB a Via Fanzine.

 

Cláudio César Dias Baptista também esclarece ao autor dessa matéria que, "A Guitarra de Ouro que você viu pendurada na parede não era aquela da Maldição, não era aquele protótipo que presenteei ao Sérgio. Era, isto sim, uma terceira Guitarra de Ouro que manufaturei para ele, sob pedido, especificamente para determinado tipo de acompanhamento. E, para isso, com cabo especialmente desenhado: mais estreito e com três superfícies achatadas na parte posterior, o que dava maior agilidade e precisão às 'pestanas' nesse tipo específico de uso. Esse Instrumento forneceu as chaves (que eram montadas por mim com contatos especiais para as Guitarras de Ouro) para a reforma da Guitarra de Ouro número dois (a 'golden sunburst' supramencionada)", esclarece CCDB.

 

Além da Regvlvs Raphael original encomendada por Raphael Vilardi, que ainda está com ele, CCDB menciona sobre “o destino” das outras distintas peças que integram esta sua série exclusiva de Guitarras de Ouro. Segundo Cláudio César Dias Baptista, "O protótipo, ou seja, a Guitarra de Ouro da Maldição, Sérgio vendeu a Henrique Antonio Bartsch, um amigo querido nosso que hoje mora em outra dimensão. A Guitarra de Ouro Número Três [a que vi na parede de seu apartamento] presenteei ao amigo Josy, pela ajuda que deu ao empregar meu filho Rafael Borges como aprendiz em sua empresa de gravação e sonorização, quando minha mulher, meu filho e eu já morávamos na Região dos Lagos-RJ".

 

E finalizando este apêndice com sua fala exclusiva a Via Fanzine, afirma CCDB ao autor da matéria, "Novamente agradeço, e muitíssimo pela matéria e espero que esta minha exposição só venha a contribuir positivamente para o que você realizou, um ato nobre e útil ao indivíduo e à sociedade, ao escrever e publicar essa reportagem", declarou o luthier.

 

* Pepe Chaves é editor de Via Fanzine e da ZINESFERA.

 

- Fotos:  J. Ferreira da Silva /Nelson Coelho / ccdb.gea.nom.br / Divulgação.

 

- Nota do autor: esta matéria escrita originalmente em 12/10/2013 foi revisada e enriquecida com o apêndice "CCDB fala conosco após ler esta matéria", inserido em 17/08/2014.

 

- Referências:

 

- "A maldição da guitarra de ouro", em 'A divina comédia dos Mutantes'. Carlos Calado. Editora 34. ISBN 9788573260090 (1996).

 

- "Via Fanzine" (Itaúna-MG), em 'Os Heróis da Guitarra' - Parte 8. Pepe CHAVES. Via Fanzine/impresso. (25 de Abril de 1995, página 05).

 

- Relatos verbais concedidos por Cláudio César Dias Baptista a Pepe Chaves (Setembro/1992).

 

- Relatos verbais concedidos por Cláudio César Dias Baptista a Pepe Chaves, via internet (Agosto/2014).

 

- Informações online do site de CCDB: ccdb.gea.nom.br.

 

- Extra: Visite o site de CCDB: http://www.ccdb.gea.nom.br/

 

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