Arqueologia Brasileira:

Mistérios Arqueológicos em Santa Catarina

Inscrições peculiares do Estado catarinense. 

 

Por J.A. FONSECA*

 

 

Inscrições na Ilha do Coral.

 

As inscrições rupestres em todo o litoral catarinense não se igualam às que foram encontradas em outras regiões do país por suas características peculiares, mas pensam os pesquisadores que elas foram gravadas por intermédio de instrumentos rudimentares de pedra, sem utilização de pigmentação. São tão intrigantes que chegam a levantar suspeitas de que possam ter sido elaboradas por homens primitivos, sem nenhuma capacidade de discernimento ou criatividade. Além do mais, percorrem uma faixa de cerca de 100 km em toda a costa, sem deixar de mencionar os demais registros arqueológicos encontrados no interior do estado. Os estudiosos não conseguiram ainda estimar a data aproximada destas inscrições, mas afirmam que teriam sido feitas pelos primeiros habitantes daquela região há cerca de 3000 ou 5000 anos.

 

Para os arqueólogos estas manifestações líticas se tratam do que chamaram de arte ou escrita indígena, mas tais registros possuem características muito particulares, diferentes de muitas outras em toda a vasta extensão do território brasileiro. Em geral são classificadas como motivos abstratos geométricos, permeados com representações antropomorfas e zoomorfas. Afirmam que estas insculturas teriam sido produzidas por intermédio de ferramentas de pedra, tornando-se difícil identificar, entretanto, quem as poderia ter feito. Algumas destas mostram uma superfície picotada, enquanto que outras são totalmente raspadas até atingir as conformações desejadas. Em alguns casos foram utilizadas ambas as técnicas. Em média as insculturas alcançam cerca de 3 milímetros de profundidade, mas podem chegar até a 8 milímetros. No interior existem outros tipos de grafismos, os quais foram gravados em pedra bruta que também mostram evidências de sinais característicos de uma escrita.

 

Para outros pesquisadores a ocupação humana em Santa Catarina teve início há cerca de 5000 anos, quando os primeiros caçadores e coletores apareceram naquela região.

 

Não só a Ilha de Santa Catarina possui um vasto patrimônio arqueológico que precisa ser pesquisado a contento antes que sejam definitivamente perdidos, como também todas as ilhas adjacentes, onde pode ser encontrada uma rica manifestação de arte lítica com variada simbologia. Uma das dificuldades em compreender a arte rupestre catarinense e, talvez, nacional, está em contextualizar uma idéia, mesmo que geral, sobre as populações pré-históricas que poderiam tê-las produzido. Da mesma forma que as vemos como constituídas de indivíduos primitivos que basicamente cuidam de tarefas mínimas de subsistência, encontramos nelas demonstrações de “arte” ou “escrita” oriundas de suas ínfimas percepções que carregam ideologias complexas, traços bem definidos e figuras que não conseguimos compreender e que são de difícil execução.

 

Assim como em outras regiões destas terras brasílicas Santa Catarina possui uma grande diversidade de registros em diversos lugares que determinam a presença humana em tempos bem remotos de nossa história. Hoje estes se encontram classificados em sítios arqueológicos para efeito de estudos e são possuidores de uma grande riqueza de detalhes e cuidados no seu manuseio. Vamos a seguir dar destaque a alguns destes sítios, mostrando o que mais de relevante eles possuem sob o enfoque do trabalho que estamos desenvolvendo, dando-nos elementos para consolidar nossa tese sobre o signário oculto existente em terras brasileiras.

 

A Ilha do Coral apresenta sítios importantes para o estudo da arqueologia. Dois painéis de grandes proporções mostram os famosos “letreiros” constituídos de conjuntos de sinais harmônicos riscados na rocha com grande maestria. Infelizmente, o painel localizado mais ao sul, segundo informações de pesquisadores locais, foi dinamitado na década de 1960, destruindo a maior parte de seus signos insculpidos. O painel que se acha localizado ao norte é o mais conhecido pelos pescadores e tem parte dele também destruída. Sua maior parte, porém, ainda esta bem preservada. É composto de círculos concêntricos, traçados retilíneos, formas triangulares, linhas sinuosas e ziguezagues que lhe conferem mistério e beleza incomparáveis.

 

Segundo os pesquisadores, na Ilha do Coral está localizada a maior concentração de petróglifos, dos quais, podemos citar os de formas circulares (aproximadamente 60% deles), figuras antropomorfas, triângulos, ziguezagues e linhas onduladas. São três sítios arqueológicos próximos uns dos outros que perfazem esta grande concentração de figuras circulares, justapostas e concêntricas, associações de formas triangulares com linhas em ziguezague e outras variações significativas e complementares.

 

Inscrições na Ilha do Campeche.

 

Na Ilha do Arvoredo foi encontrado um grande painel lítico que mistura uma grande variedade de registros, tais como figuras antropomorfas, círculos, pontos em série, bastonetes, linhas paralelas e em ziguezague, losangos e outras figuras em baixo relevo.

 

Entretanto, o maior conjunto de sítios de arte rupestre de Santa Catarina encontra-se, segundo os pesquisadores, na Ilha do Campeche, totalizando oito deles em levantamento feito em toda a ilha. O método de gravação em todos eles é pela utilização da técnica de polimento, chegando, em alguns casos, a alcançar uma profundidade de até 5 e 8 mm. Os signos regularmente encontrados e em grande quantidade são as formas circulares e os ziguezagues, podendo-se encontrar também outros sinais como linhas onduladas, figuras humanóides e de animais, pontos capsulares e linhas paralelas, formando conjuntos complexos e harmônicos. Foram encontrados ao todo 167 signos gravados nas rochas de Campeche, sendo que a grande maioria deles foi trabalhada pela técnica do polimento.

 

A Ilha das Aranhas possui petróglifos especialmente interessantes, tais como os que apresentamos abaixo como ilustração. Seus sulcos chegam a 5 mm de profundidade e apresentam formas extravagantes, apesar de estarem, em sua maioria, muito desgastados pelo tempo, segundo os pesquisadores. Em geral, podem ser observadas formas losangulares, círculos concêntricos, ziguezagues, triângulos, linhas paralelas e círculos simples.

 

Inscrições na Ilha das Aranhas.

 

Muitas outras regiões na área costeira de Santa Catarina também exibem petróglifos trabalhados pelo homem primitivo com características semelhantes às descritas anteriormente. Na praia de Galheta, por exemplo, podem ser encontrados resquícios de arte rupestre em um painel já bem desgastado pelo tempo. Na enseada de Prainha também podem ser vistos conjuntos petroglíficos constituídos de uma variedade de formas já descritas como linhas onduladas paralelas, linhas em ziguezague e cruzando-se perpendicularmente.

 

A praia do Santinho está entre os três maiores conjuntos de sítios arqueológicos da orla de Santa Catarina, não ficando também isentos da destruição provocada pela erosão natural e pela ação de vândalos. Também aí a forma predominante é a do círculo, acompanhada sempre por outros sinais como pontos em série, linhas paralelas e em ziguezagues, figuras antropomorfas, linhas retas e onduladas, triângulos, etc. A técnica utilizada pelos autores do petróglifo é também a do polimento, em sua maioria, havendo alguns poucos executados pelo método de picoteamento e um pequeno conjunto, com a utilização das duas técnicas.

 

Inscrições em baixo relevo - Praia do Santinho.

 

Em Porto União, a cerca de 500 km. de Florianópolis, o pesquisador Keler Lucas encontrou cerca de 20 sinais de arte rupestre em três galerias subterrâneas que visitou. Dentre estes estavam rostos ou máscaras humanas e motivos geométricos como cúpulas, losangos e retângulos justapostos e harmônicos. Um outro signo chama a atenção, pois assemelha-se a um coração escavado na rocha com sulcos bem profundos e, em seu interior os contornos se assemelham a uma grande vulva, se bem que ornamentada com traços externos que lhe podem dar uma outra pretensão idealizada por seus autores.

 

Em Urubici, entretanto, a 190 km. de Florianópolis é que vamos encontrar uma grande concentração de registros arqueológicos e formações rochosas com características excepcionalmente curiosas e belas. Além de inúmeros sítios arqueológicos já catalogados em suas cercanias, Urubici possui ainda muitas grutas, abrigos subterrâneos e formações rochosas monumentais. Lastimavelmente, também nesta região foram destruídos alguns sítios arqueológicos por caça-dores de tesouros que acreditavam numa lenda antiga sobre a existência de minas de prata desde a época dos jesuítas. O nome Urubici tem sua origem na língua tupi-guarani e tem o significado sugestivo de “pássaro reluzente”.

 

O sítio arqueológico mais importante de Urubici é, sem dúvida, o do morro do Avencal, constituído de painéis que foram vítimas tanto da ação natural do tempo quanto da inescrupulosidade de visitantes despreparados. A rocha desta região é do tipo arenito e suas gravações foram feitas através de cortes profundos, caracterizando-a como baixo relevo ou inscultura. Em todos os painéis estão representadas figuras diversificadas, dentre as quais, quadrados, triângulos, figuras geométricas, pontos capsulares e formas pouco convencionais reunidas de forma expressiva e concatenada que dão ao conjunto uma visão ao mesmo tempo embaraçosa, de caráter puramente artístico, como também se fosse portadora de uma mensagem milenar. Os contornos de suas insculturas são lineares, diferentemente das que foram encontradas no litoral catarinense, caracterizados por traços largos e polidos. Muitas figuras geométricas fazem parte de seu contexto geral, tendo seus signos representados por retângulos ou quadrados preenchidos por linhas verticais, horizontais e obliquas, dando formação a outras figuras e signos com variada complexidade.

 

Inscrições do morro do Avencal.

 

O padre Rohr que pesquisou a região em 1966 e publicou um livro sobre sua pesquisas (Os sítios arqueológicos do planalto catarinense), afirmou que encontrou resíduos de tinta preta nos sulcos destas inscrições, concluindo que estas foram assim preenchidas para lhes dar mais destaque à distância.

 

Também no morro do Avencal podem-se encontrar outros painéis, como já mencionado, com características semelhantes, somente que acrescido de figuras representativas de máscaras humanas. O que se acha ilustrado ao lado é chamado de painel das Máscaras por causa das duas figuras de rostos humanos gravados no meio dos signos que compõem este conjunto petroglífico. A superior (veja ilustração abaixo) foi chamada de “máscara do guardião” por se localizar numa posição mais elevada e de destaque, e por dar a impressão de querer afastar os curiosos daquele lugar através do medo. Ao observarmos a figura vamos notar que, de fato, ela pode representar algo assim, pois, parece estar encarando o visitante com ferocidade, porém, quanto ao conjunto imaginamos que pode tratar-se de um ideograma que se casa perfeitamente com os demais signos e formas geométricas ajustadas lado a lado. A figura (máscara) à direita e abaixo do painel, ao lado de uma forma quadrangular com linhas diagonais traçadas à direita e à esquerda, parece fazer sintonia com a superior e os demais objetos ali gravados, apesar de parecer isolada do contexto. Muitas formas triangulares ali se acham representadas e todas se mostram com traçados diferenciados em seu interior, querendo dar-lhe significações distintas ou complementares.

 

Entre Urubici e Bom Retiro existem algumas galerias subterrâneas que foram registradas pelo pesquisador J. A. Praderg-Drenkpol em 1933, quando publicou um artigo sobre as misteriosas galerias subterrâneas daquela região no Boletim do Museu Nacional. Luiz Galdino afirmou em seu livro Os Incas no Brasil que entre estas duas cidades acima citadas podem ser vistos vestígios de caminhos pavimentados que estão atualmente cobertos pela vegetação. Para ele, tratam-se de obras dos jesuítas e as galerias teriam sido cavadas para prospecção de minérios por eles próprios ou por europeus que chegaram ao Brasil na época da conquista. Entretanto, o pesquisador Praderg-Drenkpol ao penetrar nos subterrâneos, quando ali esteve, encontrou um pequeno painel de inscrições gravadas na pedra, que suspeitou tratar-se de arte pré-histórica. Inicialmente pensou que poderiam ser caracteres latinos em face da semelhança de alguns deles com esta língua. No entanto, muitos outros elementos relacionados a signos antigos e a outros símbolos universalmente conhecidos, colocaram em “cheque” tal possibilidade, passando a classificá-los dentre aqueles outros sinais que podem ser encontrados em outras regiões do Brasil e que não foram ainda compreendidos.

 

Inscrições descobertas em galeria subterrânea entre as cidades de Urubici e Bom Retiro.

 

Neste caso o pesquisador descobriu e registrou os caracteres acima mencionados, destacando que se tratavam de 22 gravuras em baixo relevo com uma seqüência aparentemente lógica. Em verdade, se tratam de 22 caracteres em duas colunas, compostos de signos triangulares, retangulares, circulares e semelhantes a alfabetos antigos, tendo abaixo quatro outros caracteres parecidos com letras latinas. Neste ponto, queríamos fazer uma relação entre os 22 signos encontrados nesta galeria e as 22 letras dos alfabetos mais antigos, notadamente, aos 22 caracteres primordiais da humanidade, o Vatan ou Devanagari, dos quais falaremos mais adiante. 

 

Porém, os mistérios catarinenses não param por aí. Na década de 1970 foi encontrada numa gruta, próximo da serra do Corvo Branco, por um lavrador da região, uma pedra de características muito peculiares. Traz gravado em todas as suas faces figuras em relevo e seres humanos, répteis, aves, felinos e um animal desconhecido. Por causa das figuras excêntricas esculpidas em seu dorso foi considerada por alguns como uma falsificação, mas o autor Luiz Galdino pensa que a pátina incrustada através do tempo em objetos como este, dão-lhe a autenticidade quanto à sua antiguidade.

 

A pedra do mapa descoberta em Três Barras (SC).

 

Uma outra pedra também foi encontrada nesta região do Brasil, no interior de um abrigo de rocha, apresentando características bem misteriosas. Foi chamada desde a sua descoberta de Pedra do Mapa por causa dos traços retilíneos que ela contém e signos desconhecidos. A nosso ver, entretanto, se trata de uma escrita muito antiga, assim como outros registros encontrados em diversas regiões de nosso país. Foi descoberta num local denominado Três Barras, próximo a um caminho semi-encoberto pela vegetação, por se tratar de obra que deve remontar à época da colonização. Esta pedra possui forma piramidal e é constituída de três lados e uma base, sendo que em todas as suas faces podem ser vistas as gravações. Duas delas possuem maior quantidade de signos registrados e dão a impressão de que se tratam realmente de uma escrita (veja ilustração). Linhas curvas e sinuosas, retas, setas e outras figuras semelhantes a letras lhe dão uma conotação austera e leva-nos a imaginar que os responsáveis pela sua feitura quiseram transmitir uma idéia específica para a posteridade. A ilustração acima mencionada (reproduzida por este autor) ilustra bem esta afirmativa e impede que sejamos induzidos, uma vez mais, a tender para uma análise simplista e padronizada, de que se trata de obra de silvícolas ou povos primitivos que aqui viveram no período pré-cabralino, sem uma intenção pré-determinada.

 

O pesquisador Luiz Galdino comparou-as às inscrições encontradas em pedras às margens do rio Araguaia, que são hoje conhecidas como Pedra dos Martírios, uma vez que seus signos foram confundidos pelo bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva com os instrumentos de martírio de Jesus, como a coroa de espinhos e os pregos da cruz, dada a sua semelhança com estes objetos.

 

Afora todas estas descobertas misteriosas em Santa Catarina não poderíamos deixar de mencionar ainda os extravagantes “monumentos” rochosos em Urubici, tais como, a Pedra da Torre e sua forma como que “trabalhada” ao estilo das colunas grego-romanas; a pedra do paralelepípedo com seus três lados cortados em ângulo reto; as pedras monumentais de forma cilíndrica e retangular, uma ao lado da outra, como se fossem reminiscências de algo ainda maior construído pela inteligência humana. 

 

* J.A. Fonseca é economista, aposentado, espiritualista, conferencista, pesquisador e escritor, e tem-se aprofundado no estudo da arqueologia brasileira e  realizado incursões em diversas regiões do Brasil  com o intuito de melhor compreender seus mistérios milenares. É articulista do jornal eletrônico Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br) e membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA.

E-mail: jafonseca1@hotmail.com.

 

- Fotografias e ilustrações: J. A. Fonseca.

 

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