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Simbologia:
Cosmogênese
Por J.A. FONSECA*

O Inimitável, ao
manifestar-se, cria um campo de atividade, no qual as consciências
possam atuar livremente. Permanecendo envolto em suas Eternas Vestes, a
Matéria Primordial, Ele, então, apresenta-se de forma Ternária, que a
Teurgia conhece como as Três Hipóstases da Divindade, ou seja, Primeiro,
Segundo e Terceiro Tronos de Deus. Desta forma, podemos distinguir os
primeiros simbolismos velados que vêm representar o Absoluto e suas
manifestações no reino do Espaço:
-
o Círculo, como
representação do Ain-Soph, o Eterno, o Horizonte da Eternidade;

-
o Círculo, com um
Ponto no centro, como símbolo da atuação do Primeiro Trono de Deus (o
Pai);
-
o Círculo, com uma
Linha divisória, como manifestação do Segundo Trono (a Mãe);
-
o Círculo, com uma
Cruz dividindo-o em quatro partes iguais, como símbolo do Terceiro Trono
(o Filho).

Este “campo de
trabalho” é uma autolimitação da Consciência Dele Próprio, da qual
aquelas consciências tiveram sua origem e à qual se encontram
perenemente interligadas, surgindo, daí, o esboço do universo e das
forças que nele atuam. Este esboço pode ser representado na Tetraktis, o
quaternário sagrado dos pitagóricos, no qual se manifestam a Unidade, o
Binário Cósmico, o Ternário e o Quaternário, convergindo todos para a
Década, podendo ser compreendidos da seguinte maneira.
-
a Unidade, como
princípio Indivisível e Absoluto;
-
o Binário Cósmico,
como os dois princípios antagônicos, mas equilibrantes, Purusha e
Prakriti (Espírito- Matéria);
-
o Ternário como a
representação do mundo fenomenal; a manifestação da Mônada no Binário
Espírito-Matéria;
-
o Quaternário, como
a Tétrade, a realização no mundo dos efeitos, de todo o processo
criativo;
-
a Década, como a
representação de todo o Cosmos, de tudo o que se encontra em atividade,
inclusive a Consciência do Absoluto, constituindo-se da soma algébrica
de seus pesos numéricos: 1 + 2 + 3 + 4 = 10.
Este universo, que
começa a manifestar-se, é representado na Tradição Iniciática pelo
Círculo, no qual a Energia Criadora desenvolve seus princípios.
A tradição milenar
denomina-o de Caos, pois representa uma primeira manifestação criativa.
É chamado de mundo Primordial. Nesse Universo caótico, desenvolver-se-ão
todos os aspectos que se encontram plasmados nas infinitas faces do
Logos Criador, iniciando-se um processo, ininteligível para nós, de
consolidação e agrupamento de forças turbilhonantes e criativas.
Ocorre, então, algo
de transcendental magnitude.
O próprio Logos
imprime sua Consciência no caos para que se dê o início ao processo da
criação propriamente dito, e para que as forças colocadas em movimento
possam ter uma direção a seguir.
É o princípio das
causas.
É o germe na raiz.
É a Unidade atuante
no abismo cósmico.
É o momento onde a
causalidade começa a manifestar-se, cujo simbolismo se encontra no Ponto
dentro do Círculo, a Unidade Imperecível, desencadeando o processo
criativo do universo em formação, como já foi mencionado anteriormente.

“Não existia nada;
nem o claro céu,
Nem ao alto a
imensa abóbada celeste.”
Assim diz o Rig
Veda, o mais antigo dos Vedas, em seu poema, que busca
“cantar a ciência”
dos mais antigos sábios de Além-Himalaia.
“Só o UNO respirava
em Si mesmo e sem ar;
Não existia nada,
senão Ele.
E ali reinavam as
trevas, tudo se escondia
Na escuridão
profunda; oceano sem luz.
O germe, que
dormitava em seu casulo,
Desperta ao influxo
do ardente calor
E faz então brotar
a Natureza una.”
Quando o Universo
começa a manifestar-se, compreende-se que se acaba de formar-se o oposto
da Divina Essência, não conhecida pelos homens, a qual chamamos de UNO,
Parabrahman, Deus, etc. Por esta razão, seu simbolismo ficou sendo o
círculo, que não teve começo nem terá fim, e cujo nome permanece velado
no Sol Oculto ou Astro Zero. De Sua Essência Imutável todas as coisas se
fizeram manifestar e o Universo (o verso do UNO) tornou-se realidade.
Sem Sua permanente
presença, nada do que existiu e existe poderia ter-se mantido coeso ou
receber vida e evoluir. Somente através do influxo ininterrupto de Sua
Eterna Vontade é que o Universo pôde tornar-se realidade e manter-se em
processo contínuo de evolução.
Portanto, quando a
Consciência Theos começa a sua atuação no caos é que a conjunção das
forças tem efetivamente seu começo. Até então, era apenas uma energia
amorfa em movimento, que ao receber o impacto da Consciência do Logos,
buscou o agrupamento das potências afins, desenvolvendo o esboço do
cosmos.
A raiz mística do
Universo e do surgimento do plano Material é esta Causa Eterna,
Onipresente, que as religiões chamam de “Pai que está no céu” e que a
ciência esotérica chama de o Eterno Espaço. Helena P. Blavatsky, em sua
Doutrina Secreta, diz que “o Espaço é a única coisa eterna que
somos capazes de imaginar facilmente, imutável em sua abstração, e que
não é influenciado nem pela presença nem pela ausência de um Universo
objetivo.”
Quando este
princípio de atividade caminha de encontro a um reflexo, onde possa dar
sustentação à atividade cósmica criativa, transformadora e regeneradora,
tem-se o surgimento da diferenciação, o Espírito e a Matéria. Através
destes aspectos de Purusha e Prakriti é que se estabelece o Mundo das
Leis, ocasião em que o Espírito passa a refletir-se na Matéria e a
Matéria busca elevar-se ao Espírito, no processo dinâmico de causa e
efeito, o princípio da Justiça Universal, do direito e do dever.
O Mundo das Leis é o
que determina o funcionamento do Universo criado, ao qual todos os seres
se encontram vinculados, e cujas Leis, únicas para todos, não permitem
que não se cumpra nem um só “til”, nem uma única “vírgula”, pois que
tudo elas regem e fazem cumprir com rigor o que ali ficou estabelecido.
Desde as mais altas Hierarquias ao mais ínfimo ser vivente, todos se
rendem a elas.
Seguindo a esteira
da criação, novamente acontece algo de transcendental magnitude dentro
do cosmos em busca de auto-expressão: o ponto projeta-se em direção aos
seus dois lados opostos, produzindo uma divisão no círculo universal,
uma linha, dividindo-o em dois aspectos ou reflexos, antagônicos e
iguais em força e potência, dando ao cosmos a sua primeira configuração
de organização e progresso.

Surge o binário
Surge a oposição.
Das turbilhonantes energias virginais, ergue-se o esboço das primeiras
formas mentais que se opõem às forças primordiais, sem forma,
espirituais. É como se se formasse a matéria como essência espiritual,
abstrata, tão perene como o Espaço. Os hindus a denominaram de
Mulaprakriti, como sendo a Substância Primordial imperecível, de onde se
originaram os veículos de todos os fenômenos dos planos inferiores,
mental, astral e físico.
Sabemos que todo o
universo é mental.
Ao estabelecer-se a
Consciência no seu aspecto bipolar, ela dinamiza-se dentro do sistema do
Plano de Evolução que foi esquematizado para o Universo, e manifesta-se
em estados diferentes, porém interligados por fios indeléveis à Unidade
Imutável.
Suas polaridades
cósmicas representadas por Purusha, o Ser, a Consciência Espiritual, e
Prakriti, a Criação e o Universo manifestado, tanto visível quanto
invisível, são, na realidade, eternas enquanto durar o Grande Manvantara,
para, então, recolherem-se na Essência Original, Parabrahman, no final
da grande experiência Logóica Universal. Enquanto vibrante de vida
cósmica, neles se mostram as potências dos dois pólos da mente divina,
no seu sentido abstrato e no seu sentido de concretização.
Quando se polariza a
Consciência no seu aspecto perceptível, surge a definitiva manifestação
da Unidade Imperecível, que gera seu terceiro aspecto dentro do cosmos:
um Triângulo de Forças, que é regido pelo único princípio da Unidade, o
Logos Universal, conforme pode ser visto abaixo:

Tem-se então a
manifestação Ternária no Universo criado, que é visto, teurgicamente, na
forma do simbolismo do círculo com o triângulo equilátero no seu
interior.
Acima de tudo está o
Absoluto, o Parabrahman dos Vedas, o SAT. A seguir vem o Primeiro Logos,
que é a Causa Primeira, Impessoal e não manifestado. Após, o Segundo e o
Terceiro Logos, como Espírito-Matéria, Purusha-Prakriti e a Ideação
Cósmica, Mahat ou Inteligência.
Na tradição cristã
primitiva, estas três Hipóstases da Divindade eram representadas como
Pai-Mãe-Filho e hoje, como Pai-Filho-Espírito Santo, sucedendo-se uma à
outra, com interação absoluta, pois que as três já se encontravam
latentes na Consciência Una do Logos, no princípio da Criação.
Este Triângulo da
manifestação Divina determina a atividade de seus três aspectos, como
Primeiro, Segundo e Terceiro Logos ou Pai, Mãe e Filho, dentro do Grande
Binário Cósmico, Purusha-Prakriti, iniciando-se a formação das galáxias,
dos sistemas solares, dos planetas, etc. Através destas três
manifestações Logóicas, a Consciência Superior passa a habitar todos os
recantos do universo, todos os reinos da criação, todos os sóis e mundos
materializados.
A Consciência do
Terceiro Logos, como a base das operações inteligentes no seio da
Natureza, aprofunda-se nos planos mais densos da criação, que neste
momento atinge seu estado mais concreto: o plano físico-etérico,
tridimensional, o astral e mental-concreto.
Interligado-se ao
Segundo e Primeiro Logos, portanto, em Ternário Perfeito, Ele atua no
plano material, dando forma ao Quaternário dentro do Círculo, ou seja, à
manifestação visível do cosmos na Natureza, a representação da Divina
Essência em corpos densos.
As figuras abaixo
representam esta manifestação quaternária da Divindade, que se encontram
igualmente relacionadas no microcosmo humano, esboçando-se como um ponto
de sustentação no seu enfoque espiritual, conforme pode ser observado no
Arcano 4, através do cubo hermético, que dá sustentação ao trabalho do
Imperador.
Temos, então, a
atuação das Forças Criativas e Evolutivas no mundo da matéria,
começando-se assim, a evolução através dos Reinos Mineral, Vegetal,
Animal e Humano. Aqui, unem-se o Ternário e o Quaternário Cósmicos,
formando o Setenário Sagrado, caminho da realização do Grande Plano
Divino, o qual se identifica com toda a Natureza em seus sete estados de
manifestação nos planos físico e etérico.
Neste simbolismo,
encontramos a representação do Universo em atividade, ou seja, todo o
processo de Ideação Cósmica manifestado, circunscrito pela Lei de Causa
e Efeito (do Mundo das Leis) em plena expansão e realização no Mundo dos
Efeitos.
Para que o Universo
criado, abstrato, pudesse realizar a Grande Obra Solar, é que foi criada
a oposição, que se manifestou numa experiência concreta. Somente então é
que pudemos conhecer aquilo que denominamos de Cosmos, o qual carrega em
seu seio as duas naturezas universais, que se chamaram no oriente
Purusha e Prakriti, ambas de natureza imortal, porém expressando a
polaridade transcendente Espírito-Matéria.
No seu aspecto
Espiritual, ficou caracterizada como o sentido Superior da manifestação
do Universo Abstrato, como Essência Unitária e Impessoal.
No seu aspecto
Material, caracterizou-se pela multiplicidade das consciências que se
tornaram independentes, até sua completa individualidade nos planos mais
densos desta manifestação.
Em todo este
processo transcendental de realização do Plano Macrocósmico, vamos então
encontrar a Unidade que se torna múltipla e a multiplicidade que busca a
Unidade. Nesse processo infinito de descida e subida das consciências
evolutivas, encontramos os atributos essenciais do UNO, que se
entrelaçam em toda a Eternidade e se fazem presentes sempre. É o
SAT-CHIT-ANANDA, Existência, Consciência e Beatitude, no qual tudo o que
se acha em evolução nestes universos infinitos, os chamados Mundos dos
Efeitos, encontra sua sustentação e apoio para suas individuais
realizações.
Pode-se denominá-los
também como Poder, Conhecimento e Amor Universal, através dos quais as
energias transformadoras da Mãe Shakti, o Universal aspecto feminino de
Brahmâ, podem ser emanadas para todos os seres eternamente.
Temos, então, o
Poder de Deus, do UNO, que sustenta todo o emaranhado sistema Cósmico e
suas Causas, Leis e Efeitos; o Conhecimento, a Sabedoria Transcendental
sempre oculta e sempre imutável, que orienta o funcionamento de todos os
“departamentos” hierárquicos da criação; e, finalmente, o Amor Universal
da Mãe, que permite a todos os seus filhos, estejam em que reino
estiverem, possam nutrir-se de vida em seu seio sagrado e eternamente
virgem.
É terrivelmente
abstrata esta atividade da Mãe Cósmica Shakti. Porém, todo o mundo
criado se encontra sob sua direção e influência.
Refletindo sobre tão
misterioso tema, talvez possamos melhor compreender a atividade Cósmica
do Logos Criador e de seus atributos, da Divina Mãe e sua manifestação
no Espaço Infinito, dos reinos em evolução e dos mundos paralelos
invisíveis, que perfazem uma parcela ínfima do que se encontra muito
mais além.
A nível iniciático,
talvez possamos conseguir penetrar na transcendentalidade da expressão
cabalística do número 137 (que veremos mais adiante), onde se pode
perceber a atuação da Unidade Imperecível (UM), até que sua Consciência
se manifeste cosmicamente no Ternário (TRÊS) e no Quaternário da Matéria
(QUATRO), para a perfeita realização do Grande Plano Divino, na escala
SETENÁRIA que determina os caminhos da evolução.
*
J.A.Fonseca
é economista, aposentado, escritor, conferencista, estudioso de
filosofia esotérica e pesquisador arqueológico, já tendo visitado
diversas regiões do Brasil. É presidente da associação Fraternidade
Teúrgica do Sol em Barra do Garças–MT. É
articulista do jornal
eletrônico Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br)
e
membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA.
- Todas as ilustrações: Reproduções de J.A. Fonseca/Arquivo Via Fanzine.
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