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Política

 

 

Justiça:

Bolsonaro na prisão

Antes, um herói, um rei, um mito, ou - conforme ele mesmo se conceituava – o “imbroxável”, o “incomível”. Parecia até, permitam-me o neologismo, “impapudável”. Hoje esse falante semideus está mudo, reduzido – se não a nada – a quase nada.   

Por Sérgio Souza*

Via Fanzine

27/11/2025

 

Bolsonaro esteve no Exército, chegou (não sei como) a capitão. Um dia, resolveu desafiar seus superiores, publicando um artigo com críticas severas à remuneração dos militares. Como punição administrativa, ficou detido por quinze dias. Isso aconteceu há trinta e nove anos.

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O Niilismo, como podemos lembrar, é uma corrente filosófica que nega o valor intrínseco da vida, da moralidade, da verdade e da existência. “Nihil”, em latim, significa zero ou nada. É como se a vida não tivesse sentido, ou que tudo terminasse em nada. Obras de cunho niilista aparecem vez por outra na literatura. Bom exemplo é o poema Belo belo, de Manuel Bandeira. Vejamos um fragmento:

 

“Belo belo minha bela/Tenho tudo que não quero/Não tenho nada que quero/[...]/Belo belo/Mas basta de lero-lero/Vida noves fora zero.”

 

Tem ainda, bastante conhecido, Canteiros, de Cecília Meireles, musicado e interpretado por Fagner.

 

Lembremos o seu final:

 

“Amanhã estarei mudo/Mais nada.”

 

Esta vem sendo a trajetória de Jair Messias Bolsonaro. Antes, um herói, um rei, um mito, ou - conforme ele mesmo se conceituava – o “imbroxável”, o “incomível”. Parecia até, permitam-me o neologismo, “impapudável”.

Hoje esse falante semideus está mudo, reduzido – se não a nada – a quase nada.   

 

Bolsonaro esteve no Exército, chegou (não sei como) a capitão. Um dia, resolveu desafiar seus superiores, publicando um artigo com críticas severas à remuneração dos militares. Como punição administrativa, ficou detido por quinze dias. Isso aconteceu há trinta e nove anos.

 

Sua rebeldia no Exército catapultou sua carreira política. Primeiro, como vereador. Depois, deputado, chegando, como todos vivenciamos, à presidência da República.

 

Todavia, aquele vírus da rebeldia, da insubordinação e da vocação para atividades lucrativas ilícitas não sumiu de sua cabeça. Aliás, essa praga se multiplicou. E mais: contaminou seus pares e apoiadores, danificando milhares.

 

Antagonicamente, Bolsonaro sempre exibiu um carisma colossal. Sua eloquência é digna de nota. Ele mente com o rosto, as mãos, o peito, a voz, de tal forma que milhares, até milhões de pessoas acreditam plenamente. E mais: ainda brigam por ele; morreriam por ele, se preciso fosse.

 

Caiu o rei. Caíram príncipes (das trevas). Caírem as máscaras. Vêm caindo simultaneamente as palavras vazias que tanto se proferiram: de políticos, empresários e até de líderes religiosos.

 

Preso o presidente, o mesmo que apresentava um histórico de glórias, repleto de bajulações. Ele sempre se julgou mais do que era. Quando ocupando a cadeira presidencial (melhor que dizer quando era presidente), ele se considerou absoluto, maior que a Justiça, que os outros Poderes.

 

Esse “mito” exibia-se pregando um falso patriotismo, uma família bem estruturada (que de fato não era a dele), usando ainda, quase sempre, o nome de Deus.

Essa jogada de marketing, de acender no povo um amor ardente pela Pátria, foi a mesma utilizada por Goebbels, responsável pelas campanhas publicitárias de Hitler. E como funciona!

 

Bolsonaro tinha com efeito uma vida de rei. Uma riqueza material incalculável; poder; status; liberdade para viajar a qualquer lugar do Brasil ou do mundo; andar de jet ski; fazer motociatas; comer pastel, camarão; correr atrás de belas adolescentes quando “pintava o clima”... Quanta liberdade! Cair de um patamar tão elevado é uma queda estrondosa.

 

Bem, para a Papuda ele (ainda) não foi. Está numa cela da Polícia Federal. Em vez de cela, poderíamos melhor chamá-la de pequena suíte presidencial. Diferente daquelas dos outros presos (que cometeram crimes sim, porém, menores), a dele é individual, superlimpa, tem televisão, ar condicionado, e a comida está sendo levada pelos familiares.

 

E acredito sinceramente que lá ele não permanecerá por um longo tempo. Assim foi com o Collor, com o Maluf, com outros mais. Diziam nossos avós: “Quem rouba pouco é ladrão, quem rouba muito é barão.”

 

Bem, o ministro Alexandre de Moraes já decretou o fim do trânsito em julgado. Ninguém pode reclamar que ele foi o “ditador”. Os réus tiveram direito à ampla defesa e ao contraditório. Bolsonaro só não se livrou da condenação, em virtude do volume de crimes e de suas incontestáveis provas. Assim também, os generais, que dele foram cúmplices nessa tentativa de golpe. Todos foram sentenciados e já estão cumprindo pena em departamentos concernentes à Força Armada a que cada um pertence. (Exceção ao Anderson Torres, que está cumprindo pena na Papudinha.)

 

Vamos ver os próximos passos. Um deles, os julgamentos desses condenados, a partir de agora, pelo Superior Tribunal Militar. Caso condenados também ali, poderão perder o posto e a patente. Neste caso (e tendo recebido condenação maior que dois anos), serão eles impedidos de cumprirem suas penas em instalações militares. Vão ter que ir para a Papuda mesmo, ou coisa parecida.

 

Outro passo é investigar o megaesquema de fuga por parte do Bolsonaro. (O Ramagem já é declarado foragido.) A violação da tornozeleira por Bolsonaro (ainda em prisão domiciliar) figura apenas como um dos componentes desse esquema.

 

Há uma forte acusação contra o deputado Nikolas Ferreira, como sendo ele o grande elo do plano.

 

Além das atitudes desse inoperante deputado (quando o assunto é o cumprimento do dever), suspeita-se de que já estava montado um acurado planejamento, envolvendo embaixadas de países ligados à extrema direita e outras pessoas do Brasil e do exterior. Só que a PF foi mais esperta.

 

Continuemos lutando pela democracia. Dá muito trabalho para construir, mas ainda é a melhor forma de governo. É imprescindível desenvolver uma consciência política, estudar bem cada candidato, para eleger sempre os que podem de fato melhorar a vida da população. Nunca se pode esquecer que somos nós que pagamos os seus salários. Que nesta gloriosa jornada, ninguém largue a mão de ninguém.

 

* Sérgio de Souza é professor, músico e articulista. É colaborador de Via Fanzine.

 

- Imagem: Uol/reprodução.

 

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- Produção: Pepe Chaves

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