AEROVIA ARQUEOLOVIA ASTROVIA DORNAS DIGITAL JORNAL SÃO TOMÉ J.A. FONSECA UFOVIA VIA FANZINE

          

 

Chapada Diamantina

 

Geotecnologias:

Um raio x ambiental da Chapada Diamantina

As geotecnologias como subsídio à análise geossistêmica no Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD), Bahia. Inicialmente, buscou-se informações da área de estudo; mapas, bases de dados digitais e literatura de referência. Foi realizado uma reflexão teórica, sobre a aplicação dos geossistemas.  

 

Por Osvaldo de Oliveira Junior*

Para Via Fanzine

26/09/2024

 

A região da Chapada Diamantina está localizada no centro do Estado da Bahia.

 

RESUMO

 

As geotecnologias possibilitam a aplicação de métodos assertivos para realização de diagnósticos ambientais. O presente trabalho realizou uma cartografia de geossistemas no Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD) com base nas geotecnologias. O mapeamento do parque justificou-se pela possibilidade de mapeamento sob a perspectiva de Bertrand, para o qual o geossistema é formado pelo potencial ecológico, exploração biológica e ação antrópica. Inicialmente, buscou-se informações da área de estudo; mapas, bases de dados digitais e literatura de referência. Foi realizado uma reflexão teórica, sobre a aplicação dos geossistemas.

 

A metodologia baseou-se na organização de um banco de dados contendo; imagem (CBERS 4A), Modelos Digitais de Elevação SRTM e Uso e Cobertura (Map biomas). Os dados derivados de MDE foram utilizados na vetorização das unidades geomorfológicas, tendo a imagem (CBERS 4A) órbita ponto 199_129 com 1 seg. de arco e resolução espacial de 30 metros como mapa base. A carta de Geossistemas; identificou 5 classes. Concluiu-se que há necessidade de mapeamentos a nível de (geofácies), visto que no interior dos geossistemas, há processos que são importantes para compreender relações internas. Portanto, O PNCD demanda um mapeamento em escalas maiores e com dados, atualizados, para a normatização do seu uso, alinhada à sustentabilidade.

 

INTRODUÇÃO

 

A Região da Chapada Diamantina (Figura 1) , localizada no centro do Estado da Bahia, é marcada de forma acentuada pelas alterações antrópicas na paisagem, resultado dos condicionantes históricos associado ao ciclo econômico da mineração, notadamente com destaque para os municípios que estão localizados no sopé da Serra do Sincorá como Mucugê, Andaraí, Ibicoara, Lençóis e Palmeiras. A Chapada Diamantina enquanto região economicamente dinâmica, surgiu no âmbito da exploração diamantífera a partir da segunda metade do Século XIX mais especificamente em 1820 (Bandeira, 2014, p.17).

 

Figura 1: Mesorregiões da Bahia.

Fonte:www.bahia.ws/mapa-bahia/

 

A intervenção cada vez mais acentuada da sociedade humana no espaço geográfico tem alterado inevitavelmente a dinâmica dos sistemas ambientais (Cavalcanti, 2018). Os municípios supracitados, inseridos nas chamadas “Lavras Diamantinas” possuem antigos núcleos urbanos de razoável beleza arquitetônica, e são tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Nacional (IPHAN). Devido sua localização estar associada a uma região de singular riqueza histórica e ecológica, e à recente inserção de áreas de grandes projetos de agricultura irrigada, tem surgido, frequentemente, problemas socioambientais, que geram uma grande demanda por pesquisas para avaliar tanto a organização de suas áreas, quanto o impacto que tais projetos acarretaram na sua paisagem.

 

O objetivo do presente trabalho foi realizar um mapeamento de geossistemas na escala analítica de geocomplexos para o Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD). O estudo foi organizado sob o sistema taxonômico hierárquico de Bertrand (1978). O mapeamento foi realizado na escala (1:250.000) (podendo em alguns casos, chegar a 1:100.000) ao qual foram identificados e delineados 5 geocomplexos por meio de geoprocessamento, utilizando-se álgebra de mapas com os temas ambientais selecionados no software de SIG Qgis 3.30, e pesquisas de campo.

 

Neste contexto, a busca por um detalhamento da escala de análise, foi fundamental para propor essas informações, no intuito de melhor oferecer uma base de informação cartográfica geossistêmica, para a tomada de decisão, por parte dos órgãos gestores responsáveis pela preservação do PNCD. Os mapeamentos de paisagem que contemplam a Região da Chapada Diamantina, geralmente apresentam uma escala cartográfica bem reduzida e mais genérica, e portanto, muito distoantes para a realização de uma análise descritiva ambiental no espaço no Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD) que são únicas em suas características geográficas naturais. Mapeamentos como o Zoneamento Agroecológico do Nordeste (ZANE, 1995) Zoneamento Ecológico Econômico da Bahia (ZEE-BA, 2013) e Unidades Regionais do INEMA - Chapada Diamantina (INEMA, 2013) são inadequados para um estudo de detalhamento no PNCD.

 

Estudos com base na Teoria dos Geossistemas no parque ainda são incipientes diante das outras abordagens utilizadas para estudo do PNCD e da Chapada Diamantina como um todo. Embora existam trabalhos sobre as áreas naturais do PNCD associado às geotecnologias como Análise das Paisagens do Geoparque Serra do Sincorá, com uso de Sensoriamento Remoto e SIG (2023); Apreensão da Paisagem a partir do Turismo na Chapada Diamantina - BA (2006); Biodiversidade e Conservação da Chapada Diamantina (2005); O Uso de Geotecnologias para mapeamento geomorfológico no Município de Mucugê - BA (2004) e no contexto atual, ainda se apresenta uma lacuna, na questão do mapeamento de unidades de paisagem sob a perspectiva geossistêmica no supracitado parque.

 

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

 

O PNCD (Figura 2) encontra-se localizado no centro do Estado da Bahia, na mesorregião da Chapada Diamantina (Figura 2). Situado nas coordenadas geográficas de 12º 25’ a 13º 20’ de Latitude Sul e 41º15’ a 41º 35’ de Longitude Oeste, possui altitude média de 800m acima do nível do mar, tendo no Pico do Barbado que fica localizado no Município de Abaíra, o ponto mais elevado de todo o Nordeste, com 2033 metros acima do nível do mar.

 

Figura 2: Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD).

 

Fonte: UEFS, 2023.

                                 

O PNCD tem extensão territorial de 1.520 Km2. À leste, encontra-se com a Área de Preservação Ambiental Marimbus, Iraquara (APA - Marimbus Iraquara). Em termos geológicos, a Chapada Diamantina como se conhece suas paisagens atualmente, originou-se a partir do Proterozóico superior em sedimentos antigos que foram dobrados e soerguidos no ciclo Brasiliano, formando anticlinais dissecados e vales fluviais intramontanos (Teixeira; Linsker, 2005) como consequência da evolução natural do processo de morfoesculturação (Jesus, 1985). A litologia predominante na região encontra-se estruturada em cobertura de sedimentos em arenitos e metarenitos com presença de pontos de sítios de conglomerados (Teixeira; Linsker, 2005) (Figura 3).

 

Figura 3: Ambientes Litológicos do PNCD.

Fonte: Oliveira Junior, 2023.

 

Os solos predominantes estão diretamente condicionados à influência litológica e climática (Jesus, 1985) Os cambissolos de alta fertilidade química da bacia de Irecê, está diretamente associado à litologia regional de natureza calcárea. Nos topos e vertentes da cordilheira do Sincorá (Figura 4) predomina os neossolos, bem drenados mas de fraca estrutura física e química (Jesus, 1985).

 

Figura 4: Unidades Geomorfológicas do PNCD.

Fonte: Oliveira Junior, 2023.

 

A distribuição da vegetação na Chapada Diamantina encontra-se diretamente associada a fatores geográficos e hipsométricos. Á leste da cordilheira do Sincorá, a presença de cobertura vegetal, sob a forma de floresta ombrófila e ripária está diretamente associado à estrutura da rede hidrográfica regional, formada pelos rios que nascem na Serra do Sincorá e dos principais rios da porção leste da Chapada Diamantina (rios Utinga e Santo Antônio).

 

Quanto ao clima da região, o fator orográfico desempenha um fator decisivo no padrão climático, através do efeito de barlavento e sotavento, responsável pela presença de formação florestal úmida no sopé da vertente leste da cordilheira do Sincorá, e vegetação sub úmida na vertente ocidental da cordilheira do Sincorá, onde predomina a paisagem de campos gerais, caracterizada pela presença de árvores esparsas em meio à presença de vegetação gramínea e arbustiva lenhosa (Teixeira; Linsker, 2005).

 

Essa descrição da organização espacial da cobertura vegetal no PNCD pode ser melhor apreendida através do recorte espacial da Coleção 8 do Map biomas na área poligonal do PNCD (Figura 5).

 

Figura 5: Uso e Cobertura da Terra

(Map biomas coleção 8) no PNCD.

Fonte: Oliveira Junior, 2023.

 

A Chapada  Diamantina corresponde a uma Mesorregião Geográfica do Estado da Bahia, composta por 44 municípios, dos quais 6 abrange o Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD): Palmeiras, Lençóis, Andaraí, Itaitê, Mucugê e Ibicoara. Sua área é conformada, em sua maior parte, pela Serra do Sincorá, caracterizada por  rios que formam vales e canyons entalhados pela ação fluvial perene.

 

O principal rio que percorre o PNCD é o Rio Paraguaçú, que dá nome à maior Bacia Hidrográfica do Estado e a mais importante, abastecendo mais da metade da população do Estado, destacam-se na região como seus principais afluentes: Rio Baiano, Rio Lençóis, Rio Ribeirão, Rio Garapa, Rio Roncador, Rio Santo Antônio, Rio do Ramalho e Rio dos Morcegos. À leste do parque, na porção central, localiza-se a extensa planície do Mini Pantanal dos Marimbus, uma paisagem de planície inundável com presença marcante de inúmeras plantas hidrófitas.

 

À oeste do Parque predominam os campos gerais, e o Planalto de Mucugê, onde são desenvolvidas atividades de pequenos proprietários da agricultura familiar em contraposição a enormes projetos de produção agrícola em larga escala, com pivôs irrigados. O clima da Chapada Diamantina é caracterizado como tropical sub úmido; A região possui um índice médio de precipitação aproximado de 600 mm ao ano. Os meses ditos chuvosos são entre novembro e março, enquanto os meses mais secos são entre julho e outubro.

 

Com base na reflexão exposta, a pesquisa ancorou-se no emprego do conceito de Complexo Geográfico, que foi aplicada na Carta de Potencial Geoambiental (escala 1:50.000) da Bacia do Rio Utinga, elaborado pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do Paraguaçu (Desenvale) em 1986 (IBGE/DESENVALE, 1986, p.16). Segundo Moura Oliveira (2008), complexo geográfico é o conjunto dinâmico de todos os fatores internos de um geossistema, e que podem ser do quarto ou quinto nível de grandeza na classificação de Georges Bertrand (Moura-Oliveira, 2008 p. 141).

 

O MODELO CONCEITUAL GEOSSISTÊMICO DE BERTRAND

 

Bertrand concebe geossistemas como sendo uma realidade estruturada sob a tríade: exploração biológica, potencial ecológico e ação antrópica (Figura 6).

 

Figura 6: Modelo geossistêmico de Bertrand.

Fonte: Bertrand (2007).

 

A abordagem de Bertrand considera o homem como componente, e assim sendo, um importante agente do geossistema. Este modelo de Bertrand é base para uma classificação de paisagens hierarquizada de forma descendente top-down (Cavalcanti, 2018): Zona; determinada pela zonalidade térmica do planeta (subártico, temperado, equatorial tórrido, tropical quente, etc).

 

Domínio; categorizado como sendo as regiões dos grandes biomas do planeta ( Tundra, Taiga, Floresta Temperada, Floresta Tropical Equatorial e Savana). Região Natural; e em menor escala, Geocomplexo; Geofácies e Geótopo (Bertrand et Bertrand, 2007 p.40) (Figura 7). Essa classificação mais atualizada de Bertrand e Berutchachvili, foi explicitada no artigo intitulado: Geossistema ou “Sistema Territorial Natural” ao qual, preocupados com a disparidade que suas pesquisas estavam tomando perante a perspectiva russa de classificação da paisagem, sob a liderança de cientistas como Sotchava e Isachenko, afirmaram: “Em 1964-1965, nós havíamos definido o geossistema como uma unidade taxo-corológica, dentre outras: geotopo, geofácies, geossistema, região natural, domínio geográfico, zona. O geossistema representa um espaço natural dividido em geofácies. Esta definição taxonômica tem sido utilizada por outros autores, tanto em pesquisas fundamentais como em trabalhos de aplicação [...] Em um esforço de uniformização conceitual e de simplificação da linguagem, nós nos reunimos com o CIMA para uma definição mais lógica, como a de V. B. Sotchava, que faz do geossistema, como do ecossistema, uma abstração e um conceito.” (Bertrand & Beroutchachvili, 1978 p.168).

 

Esta atualização conceitual faz Bertrand reorganizar seu sistema classificatório de paisagens, e, substitui a categoria hierárquica geossistema por “Geocomplexo”, passando assim, a considerar todas as escalas de paisagens como sendo geossistemas, por entenderem este conceito como uma teoria e não apenas uma escala territorial pré definida (Daves; Faccio, 2021).

 

Figura 7: Níveis de escala propostos por Bertrand e Beroutchachvilli (1978).

Fonte: Bertrand e Beroutchachvili (1978).

 

Todas as escala passam, portanto, a serem consideradas como geossistemas dinâmicos e abertos. Quanto à evolução dinâmica da paisagem Bertrand enfatiza que o sistema de erosão de Cholley deveria ser estendido ao conjunto da paisagem (Bertrand, 2004) e dessa forma transcender a geomorfologia estrita. Segundo Bertrand, a morfogênese condiciona a dinâmica do geossistema e consequentemente, o sistema de evolução da paisagem.

 

Os geossistemas podem apresentar sistemas de evolução diferentes. Estes sistemas de evolução podem ser de origem geomorfológica, pedológica ou biológica (Bertrand, 2004). Em sua obra intitulada - Uma Geografia Transversal e de Travessias, Bertrand apresenta uma nova abordagem metodológica da paisagem, o Sistema GTP (Geossistema, Território e Paisagem).

 

Proposto no ano de 1990, o sistema GTP, agrupa o geossistema-ambiente ao território-recurso e  à paisagem-identidade. Num esforço de Bertrand de abarcar a  globalidade, a diversidade e a interatividade de todo o sistema ambiental (Bertrand & Bertrand, 2007 p. 72).  O presente trabalho não contempla  a metodologia do sistema GTP, tendo  em visto que o autor procurou focar mais nos aspectos dos processos da organização natural dos geossistemas no PNCD.

 

MATERIAIS E MÉTODOS

 

Para a delimitação dos geocomplexos no Parque Nacional da Chapada Diamantina em ambiente SIG, empregou-se o método de álgebra de mapas, que consiste em uma análise de variáveis ao qual, são cruzados os planos de informação temáticos (PI’S) segundo (Crepani, 2001 p.22). A classificação, resultou em cinco classes de geossistemas: Baixas matas de encosta; Topos e vertentes sob cobertura savânica rupestre; Planície de inundação sob cobertura hidrófita; Gargantas e vales sob mata úmida e de grotão; Vertentes sob tensão ecológica. Para a realização do geoprocessamento em álgebra de mapas, foi criado um banco de dados (Figura 8) com os seguintes planos de informação: Modelo Digital de Elevação (NASADEM) com recorte da área de interesse (Parque Nacional da Chapada Diamantina), Carta de ambientes litológicos escala 1:250.000 (IBGE), Recorte do mapa de uso e cobertura da Terra map biomas coleção 8, e Unidades de Relevo obtido a partir de imagem de satélite CBERS 4A com 30m de resolução espacial (2023) fornecida pelo INPE (www.dpi.inpe.br) baixado em 12/09/2023.

 

Para esse trabalho, tomou-se por base a metodologia apresentada em - IBGE/DESENVALE (1986), no qual realizou-se mapeamento geossistêmico em escala 1:50.000 com a finalidade de ordenar e normatizar projetos de agricultura familiar no setor leste da Região Chapada Diamantina.

 

A metodologia ampara-se na chave conceitual de Bertrand (1972) que concebe o meio natural de forma sistêmica, constituído por um conjunto de elementos interdependentes, que funcionam harmonicamente e mantido por fluxos de matéria e energia. Para a obtenção da carta síntese dos Complexos Geográficos (geossistemas de quarta e quinta ordem segundo Bertrand, 2007) utilizou-se os planos de informação listados a seguir:

 

           Unidades de Relevo e suas classes, (vetorizado manualmente);

 

           Ambientes Geológicos , e suas classes (IBGE 2023);

  

           Uso e Cobertura da Terra, (Mapbiomas, coleção 8).

 

A carta de Uso e Cobertura da Terra (Mapbiomas coleção 8) foi sobreposta às cartas de Unidades Geomorfológicas e Ambientes Geológicos para a obtenção de síntese dos Geocomplexos (Geossistemas de 4º e 5º ordem na classificação de Bertrand (2007) também denominados como Complexos Geográficos.  

 

A etapa de pesquisa de campo, consistiu-se em estudo de área in loco, com utilização do registro fotográfico e imagens do Google Earth impressas  para avaliar as classes obtidas com o geoprocessamento de síntese e registros e anotações de fenômenos e processos ambientais empiricamente verificáveis nas áreas identificadas.

 

Figura 8: Fluxograma de trabalho.

Fonte: Oliveira Junior, 2023.

 

RESULTADOS

 

O mapeamento permitiu a identificação de cinco complexos geográficos (geossistemas): Vertentes sob Tensão Ecológica; Planície de Inundação sob Cobertura Hidrófita; Gargantas e Vales sob Mata Úmida e de Grotão; Baixas Matas de Encosta; Topos e Vertentes sob Cobertura Rupestre / Savânica  ( Figura 9).

 

 Figura 9: Carta de geossistemas do PNCD - Bahia.

 Fonte: Oliveira Junior, 2023

     

Nas unidades geossistêmicas, identificadas, foi possível constatar que cada geocomplexo (Figura 10), tem sua própria dinâmica funcional, cada uma com seu nível de intensidade em relação às suas variáveis, como: declividade, drenagem superficial e estado da cobertura vegetal. Duas destas unidades apresentaram-se bastante condicionadas pela drenagem e topografia variável: Gargantas e Cânions sob mata úmida e de grotão; e Vertentes sob tensão ecológica. Apresentamos a seguir a descrição evolutiva estrutural e dinâmica dos geocomplexos identificados:

 

Figura 10: Complexos individualizados do PNCD. 

Fonte: Oliveira, Junior,2023.

 

1.        PLANÍCIES DE INUNDAÇÃO SOB COBERTURA ÚMIDA E HIDRÓFITA

 

Apresenta-se como uma extensa planície de inundação constituída por rios, lagos e brejos. Localiza-se ao sul do Município de Lençóis e ao Norte do Município de Andaraí. Popularmente conhecido como Mini Pantanal do Marimbus. Esta planície drena as águas dos rios que estão localizados na Cordilheira do Sincorá, portanto, esta planície exerce importante função geossistêmica ao controlar o fluxo de sedimentos que a jusante, são depositados no leito do Rio Paraguaçu através do seu maior tributário em vazão, o Rio santo Antônio.

 

É denominado também de Mini Pantanal pelos moradores e turistas, pelo fato de serem encontrados espécies típicas do Pantanal mato-grossense como o Jacaré (Alligatoridae), a Sucurí (Eunectes murinus), a Capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) e o Tucunaré (Cichla ocellaris).

 

2.        BAIXAS MATAS DE ENCOSTA

     

Constituída basicamente de extensa porção de terrenos entre os rios São José e Santo Antônio, abrange parte do sítio urbano das cidades de Lençóis e Andaraí. Possui distribuição fitogeográfica heterogênea. Áreas situadas à margem direita do Rio São José nas imediações de Lençóis, predomina a presença de cobertura vegetal com características mistas de Cerrado e mata ombrófila, e possui um dossel bem mais alto quanto mais próxima encontra-se das margens fluviais, com espécies de plantas típicas de Bioma de Mata Atlântica como o pau D’arco, a Massaranduba, a Sucupira e o Ipê.

 

Sob o ponto de vista sistêmico encontram-se em razoável estado de bioestasia, a presença da cobertura florestal contribui para o predomínio de processos pedogenéticos sobre os processos erosivos, e contribui para formação de solos desenvolvidos, com estrutura arenosa a franco arenosa.

 

3.        TOPOS E VERTENTES SOB COBERTURA RUPESTRE / SAVÂNICA

 

São geossistemas localizados nas imediações mais elevadas da Serra do Sincorá, sob uma cota altimétrica média de 800 metros acima do nível do mar onde se pode visualizar uma paisagem vegetal mais aberta, com bastante presença gramínea e arbustiva, árvores e arvoretas esparsas, muito típico de áreas de elevada altitude de regiões planálticas do Brasil.

 

Sobre essa estrutura de afloramento rochoso de origem quartzítica, formam-se interflúvios ao longo da extensão Norte-Sul da Cordilheira do Sincorá, muitos dos quais, formam declividades abruptas ou paredões em suas extremidades. Neste geossistema, há pouca presença de solos desenvolvidos devido a predominância de processos morfogenéticos e cobertura vegetal aberta. Os processos de intemperismo biogeoquímico são bem expressivos nos diversos pontos de lajedos (rocha exposta) que existem nesta paisagem.

 

4.        VERTENTES SOB TENSÃO ECOLÓGICA

 

Um geossistema de considerável complexidade espacial tanto em caráter geofísico como ecológico. Localizado e concentrado na elevada cobertura de origem metassedimentar, que oferece grande resistência aos processos intempéricos (Amorim; Oliveira,2008) constituída basicamente de quartzitos, com pontos de metaconglomerados. este geocomplexo encontra-se presente em grande parte da extensão da Cordilheira do Sincorá.

 

Sua epiderme geológica possui um manto de intemperismo relativamente incipiente, formado por depósitos de matacões, regolitos e saprolitos. Sobre essa camada de alteração encontra-se uma cobertura cruzada com espécies de bioma de cerrado e de Floresta Tropical úmida e sub úmida. Sob o ponto de vista sistêmico, este geocomplexo desempenha importante função de recarga dos leitos fluviais, através do escoamento hídrico superficial e subsuperficial. Sua altitude média gira em torno de 800 m (Funch, 2008).

 

5.        GARGANTAS E VALES SOB MATA ÚMIDA E DE GROTÃO

 

Geocomplexo localizado entre as estruturas metassedimentares, originado a partir de processos externos de dissecação denominado na literatura como erosão diferencial (Jesus, 1985) potencializado principalmente pelo entalhamento do talvegue do cursos fluviais ao longo de eras geológicas, existente na Cordilheira do Sincorá. Nos pontos de maior verticalização podem alcançar 20 metros de vertentes em ângulo de 90 graus.

 

Esta paisagem é estruturada em cursos fluviais de alta competência erosiva e de fluxo turbulento. Não raro, encontrando-se em seu leito, grandes blocos de metaconglomerado ou metarenito. Suas vertentes apresentam feições de cânions e inclinações serranas irregulares, abrandadas pela cobertura vegetal, constituída por musgos, líquens, espécies de samambaias e demais plantas e árvores típicas de mata de galeria, que formam um solo incipiente de serrapilheira, muito rico em matéria orgânica às margens dos rios localizados neste geocomplexo.

 

O substrato encontrado nesta paisagem exerce importante função sistêmica, ao fixar sedimentos da pedogênese incipiente, impedindo assim a sobrecarga de sedimentos no leito dos canais fluviais ali existente.

 

Uma das muitas cachoeiras da região da Chapada Diamantina.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O presente trabalho procurou suscitar a relevância para o estudo de áreas organizadas segundo os próprios princípios de ordenamento natural. Com base nos descritores das paisagens estudadas, a maioria dos geocomplexos do PNCD encontram-se em um estado de razoável conservação ambiental, apesar de haver um elevado fluxo de turistas durante a alta estação do ano, entre os meses de dezembro a fevereiro.

 

Exceto o geocomplexo - ‘Baixas Matas de encosta’, que tem sofrido uma certa pressão devido a ocupação antrópica, onde não raro verificou-se intervenções antrópicas de roçado e construção de casas residenciais.

 

Portanto, geossistemas delimitados dentro da área do Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD) necessitam de futuras pesquisas que possam contribuir  para melhor conhecimento de detalhe geossistêmico, para subsidiar tomada de decisões ambientais legais para uma efetiva preservação do parque. Faz-se necessário a presença da aplicação de uma política ambiental contundente para a preservação do parque, observando-se uma concepção geossistêmica, que venha contribuir para um plano de manejo integrado com a realidade da estrutura dos geocomplexos no PNCD.

 

Estes diversos ambientes no PNCD são integrados por relações de natureza física, química e biológica. Por tal razão, uma fiscalização mais contundente do parque, se faz urgente e torna-se fundamental para combater os impactos ambientais ainda persistentes no parque: tratamento inadequado dos resíduos sólidos, as queimadas indiscriminadas, o desmatamento e o garimpo ilegal.

 

A ausência da aplicação da lei ambiental representa perigo à integridade das paisagens geossistêmicas do PNCD e o consequente comprometimento da qualidade de vida para seus habitantes.

 

* Osvaldo de Oliveira Junior é Mestrando em Modelagem em Ciências da Terra e do Ambiente, com Licenciatura em Geografia - Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). ORCID 0000-0002-5255-2670.

- E-mail: geoanalise.info@gmail.com

 

- Fotos: Divulgação.

 

- Referências:

 

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FUNCH Roy, FUNCH Ligia, QUEIROZ Luciano. Sincorá: Parque Nacional da Chapada Diamantina. ed. Radami Editora Gráfica. São Paulo, 2008.

 

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