Gosma Negra:

Nova forma de vida é constatada

Alguns desses micróbios parecem produzir metano, o que abre possibilidades para o desenvolvimento de biocombustíveis. Os pesquisadores agora investigam seus processos metabólicos e possíveis aplicações práticas.

Por José Ildefonso*

De Taubaté-SP

Para Via Fanzine

21/07/2025

O navio de pesquisa R/V Blue Heron foi palco de uma importante descoberta científica.

Leia também:

Outros destaques em Via Fanzine

Durante uma manutenção rotineira no navio de pesquisa R/V Blue Heron, algo inesperado aconteceu: uma substância viscosa semelhante a alcatrão, apelidada de “gosma do navio”, revelou conter uma nova forma de vida microbiana, batizada provisoriamente de “ShipGoo001”.

A descoberta foi liderada pelo biólogo Cody Sheik, da Universidade de Minnesota Duluth e do Large Lakes Observatory, e revela o quanto ainda ignoramos sobre os microrganismos que habitam os ambientes mais improváveis, inclusive os criados por nós mesmos.

Vida onde ninguém esperava

O achado surgiu enquanto a equipe consertava um eixo de hélice barulhento. No interior lubrificado do leme (um espaço quente, sem oxigênio e aparentemente estéril) viviam organismos desconhecidos. Amostras foram analisadas, e o que parecia apenas uma “gosma técnica” revelou DNA intacto e atividade biológica surpreendente.

Um ecossistema escondido em graxa

Esses microrganismos não só resistem, como prosperam em condições extremas: calor, ausência de oxigênio e graxa industrial. Isso aponta para um nicho ecológico completamente novo, escondido dentro da própria estrutura do navio.

Ambientes construídos, mundos inexplorados

A ciência explora vulcões, oceanos profundos e planetas distantes, mas ainda sabe pouco sobre os ambientes que nós mesmos criamos. Prédios, túneis, máquinas, todos podem abrigar formas de vida desconhecidas. O ShipGoo001 é uma prova disso.

O R/V Blue Heron entra para a história

Embora muitos navios de pesquisa tenham ajudado a descobrir vida nos mares, é a primeira vez que uma nova espécie é encontrada no próprio navio. Isso torna o R/V Blue Heron um local simbólico de descoberta científica.

A “gosma do navio”, revelou conter uma nova forma de vida microbiana, batizada provisoriamente de “ShipGoo001”.

Perguntas em aberto

— De onde vieram esses organismos?

— Por que só vivem em ambientes sem oxigênio, se o lago ao redor é oxigenado?

— Estariam adormecidos na graxa há anos, à espera de condições ideais?

— Seriam responsáveis por corroer metais?

Essas são algumas das questões que a equipe ainda busca responder.

Potencial energético e biotecnológico

Alguns desses micróbios parecem produzir metano, o que abre possibilidades para o desenvolvimento de biocombustíveis. Os pesquisadores agora investigam seus processos metabólicos e possíveis aplicações práticas.

Curiosidade como motor da ciência

“É uma ciência divertida”, diz Sheik. “A gosma do navio nos lembra que a exploração científica não precisa estar limitada a lugares distantes. Às vezes, basta olhar com atenção para aquilo que está bem diante de nós”.

E agora? O genoma da nova espécie será disponibilizado publicamente e o nome oficial será escolhido com o envolvimento da comunidade científica ainda neste verão.

Conclusão

Essa descoberta é um lembrete poderoso: mesmo nos lugares mais banais — como a engrenagem de um navio — a vida pode nos surpreender. E é exatamente por isso que devemos continuar apoiando a ciência básica, a curiosidade e a vontade de explorar o desconhecido, onde quer que ele esteja.

- Fonte:

https://news.d.umn.edu/articles/ship-goo

* José Ildefonso é articulista, cronista e colaborador de Via Fanzine.

- Imagem: Criação do autor, utilizando IA.

- Fonte: Adaptado da notícia do Jornal da Unicamp (27/06/2025), Projeto investigará assimetria entre matéria e antimatéria.

Leia também:

Outros destaques em Via Fanzine

- Produção: Pepe Chaves

© Copyright 2025, Pepe Arte Viva Ltda.