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 entrevista

 

  

Entrevista com Vermelho

Compositor, instrumentista e vocalista.

 

Por Antônio Siqueira

Para Via Fanzine

www.viafanzine.jor.br

jun/2006

 

Vermelho, tecladista do 14 Bis.

 

Um dos músicos mais talentosos de sua geração, excelente compositor, arranjador, tecladista, vocalista e co-fundador do grupo mineiro 14 Bis, ao lado dos irmãos Cláudio e Flávio Venturini e dos músicos Sérgio Magrão e Hely Rodrigues. Vermelho nasceu na cidade mineira de Capela Nova, próxima a Barbacena e desde sua infância sofreu fortes influências musicais do pai, Sr. Moreira, que é músico da banda da cidade. Antes de iniciar seu trabalho com o 14 Bis, participou de outras bandas e tocou como convidado para gravações de diversos músicos de renome nacional. Considerado um dos mais esmerados tecladistas da MPB, ele nos fala um pouco do novo dvd do 14 Bis, de seus planos para lançar seu trabalho solo, dentre outros assuntos.

 

Via Fanzine: Você é um dos fundadores e principais criadores do 14 Bis, ao lado de Flávio Venturini, que saiu do grupo em 1987. Como foram esses 28 anos de estrada e este DVD ao vivo que já é sucesso de público e crítica?

Vermelho: A saída do Flávio foi tão amigável que até gravamos um CD ao vivo no Palácio das Artes (BH), para comemorar a saída dele, o que significava para ele, a possibilidade de realizar seu desejo de fazer carreira solo, com as idéias dele, sem estar preso ao som da banda. Eu mesmo pretendo gravar, talvez esse ano ainda, um cd solo. Agora, este dvd é um sonho antigo nosso, já que temos 27 anos de estrada, fizemos mais de 2500 shows por todo o País e exterior. Queríamos registrar nossas musicas ao vivo, com as melhores condições técnicas, para ser uma coisa bonita. Felizmente, no final de 2006, pudemos realizar o sonho: conseguimos, através da Lei Rouanet, patrocínio suficiente para podermos contratar o que havia de melhor em termos de som e iluminação, além de um teatro que tivesse acústica e toda uma estrutura para um grande espetáculo. Gravamos em duas seções, dia 26 de Dezembro de 2006, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, com um público entusiasmado e participante que nos fez tocar como nunca. Gravamos a maioria de nossos sucessos e algumas músicas do cd Outros Planos, além da 14 Bis Instrumental, Xadrez Chinês, etc.  Contamos também com a participação especial de Beto Guedes (em Caçador de Mim), Marcus Vianna (violino em 14 Bis Instrumental e Mesmo de Brincadeira). Além de Rogério Flausino (voz em Planeta Sonho) e Flávio Venturini (que tocou e cantou em Uma Velha Canção Rock’n’roll e Planeta Sonho); esses dois gravaram em estúdio, pois não puderam participar da gravação ao vivo. A participação deles está no show que apresentamos no dvd. Mas nos extras do dvd, você pode ouvir estas duas canções tocadas somente com o 14 Bis, ao vivo. O dvd foi lançado no início de junho (2007) pela Sony BMG -, que nos cede todo apoio. Já fizemos shows de lançamento em Belo Horizonte, e devemos fazer o Circo Voador, no Rio de Janeiro, Nordeste e São Paulo, na semana seguinte. Depois, devemos, aos poucos, fazer todas as principais capitais. O dvd já está entre os mais vendidos e com os shows e trabalhos de divulgação, principalmente programas de tevê, agendados pelas gravadoras, espero que voltemos a ocupar o espaço que merecemos, na mídia e no mercado fonográfico da Música Popular Brasileira.

 

Via Fanzine: Como surgiu o nome do grupo?

Vermelho: O nome do grupo, na verdade o Flávio já tinha pensado nele e 14 Bis nos parecia um bom nome. Mas, quando a EMI-Odeon nos contratou, já tínhamos feito alguns shows, mas chamávamos “Show Nascente”, que era nome de uma música conhecida do Flávio, gravada pelo Milton Nascimento no Clube da Esquina 2 e que nos abriu as portas da gravadora para nosso primeiro trabalho. Então fizemos um brain-storm, regado a tulipas de chopp, lá no Leme, no Rio. Ficamos cada um escrevendo num papel, vários nomes que vinham a cabeça. Na época, as bandas que existiam tinham nomes do tipo, Cor do Som, Boca Livre, Mutantes. Na época, o Roupa Nova ainda era Funks, tocavam em baile.

 

Via Fanzine: Dentre todas as releituras e sucessos atuais gravados no dvd, a canção “Caçador de Mim”, de Sérgio Magrão e Luiz Carlos Sá, tem tocado bastante nas principais rádios do Brasil e do Rio. Realmente o arranjo de Eduardo Souto Neto deu um brilho ainda maior a esta bela canção, mas nos fale da participação do Beto Guedes nesta faixa, seu amigo pessoal.

Vermelho: Bem, o Magrão é autor da música, cuja letra é do Luiz Carlos Sá, do trio Sá, Rodrigues e Guarabyra, grande amigo e parceiro. Muita gente pensa que esta música é do Milton Nascimento, já que fez sucesso com ele, apesar de ter sido gravada antes pelo 14 Bis, em nosso segundo álbum - o disco da “da escada”. O disco tem, ainda, Planeta Sonho, Nova Manhã, Bola de Meia, Bola de Gude e outras menos conhecidas, mas ótimas, como Carrossel, Nas Ondas do Rádio, bem progressiva, que eu adoro [Letras da poetiza mineira Suzana Nunes]. Têm arranjos do grande maestro Rogério Duprat em Carrossel, Caçador de Mim e Pra te Namorar. Orquestra mesmo, não só cordas, mas também instrumentos de sopro (madeiras e metais). Sinto falta desta época, em que tínhamos orquestra à nossa disposição. O som de samplers hoje em dia, emulando (imitando) som de orquestra funciona, porém o som de uma orquestra, com arranjo bem elaborado, é um som inigualável. Bem, voltando a sua pergunta, eu acho que o Magrão canta muito bem a música, a voz dele se destaca, tem um timbre que só ele tem, e nós fazemos um vocal bem suave, como é o estilo da música. Agora, a participação do Beto foi fantástica: ele, na verdade, adora Uma Velha Canção Rock’n’roll. Essa é a música que tínhamos pensado para ele gravar, mas o tom não estava de acordo com a extensão de voz dele. Por isso, ele mesmo sugeriu cantar Caçador de Mim. E ficou aquela maravilha: a capacidade de ele cantar, de dividir as sílabas com um ritmo todo próprio, a maneira com que ele enfatiza certas palavras, faz dele um cantor incomparável e único. E o público percebe isto - o quanto ele vivencia mesmo o que canta - e se empolga e aplaude entusiasticamente, como pode-se ouvir/ver no dvd.

 

Via Fanzine: A ausência de Flávio Venturini no palco (apesar da participação em estúdio) foi bastante sentida e criticada por fãs e internautas que acompanham vocês desde o início. O que aconteceu de fato?

Vermelho: Eu, não sei direito o que houve, já que, quem ficou de ver sobre a participação dele no dvd foi o Cláudio, irmão dele, ou o Magrão. Eu falei com o Marcus Vianna e o Beto Guedes e acertei com eles, tanto que participaram da gravação ao vivo. Por isso, não sei o que aconteceu para que ele não comparecesse no Palácio das Artes no dia dos shows da gravação do DVD. Pode ter sido viagem ou porque estava cansado - ou outro motivo qualquer... Mas, conhecendo o Flávio como conheço, sei que ele deve ter tido mesmo um motivo forte que o impediu de participar da gravação. Ele é uma pessoa muito leal comigo, amigo, irmão e, acima de tudo, 14 Bis é uma banda que é dele também. Afinal, fomos nós dois que tivemos a idéia de fazer uma banda, muito antes de podermos ter realizado este sonho. Por isso, nunca perguntei a ele o que realmente houve... Se não esteve lá no dia, é porque não era para estar. Claro, se ele tivesse participado da gravação ao vivo, poderia ter sido mais interessante, principalmente para os fãs, que gostariam de vê-lo tocando e cantando conosco ao vivo. Mas gostei também – e muito! - dele gravando com a gente no estúdio [fotos de estúdio no site www.14bis.com.br]. No estúdio, ele pôde tocar piano acústico, o que não teria sido possível no Palácio das Artes, onde gravamos ao vivo. Ele cantou com a gente, fazendo o vocal ficar a quatro vozes, em Planeta Sonho e Uma Velha Canção Rock’n’roll, onde também faz a voz solo, revezando com Cláudio. E posso dizer, com certeza, que a gente vai, num futuro próximo, voltar a compor e tocar juntos, a gente se completa musicalmente de uma maneira maravilhosa e ele, de certa maneira, sempre fez e faz parte da banda.

 

2007: Flávio, Cláudio, Vermelho e Hemir (técnico  do DVD 14 bis).

 

Via Fanzine: Marcus Vianna abriu o dvd com vocês, executando um dos temas instrumentais mais lindos da música contemporânea. Estava tão à vontade que parecia o 15º Bis e lembrou-nos dos bons tempos dele no Saecula Saeculorum e no Sagrado Coração da Terra...

Vermelho: Eu o convidei, pois nos conhecemos e nos admiramos há muito tempo. Mas a produtora dele foi a responsável por ele participar deste show, segundo ele mesmo disse. Ele é um cara profissional, muito requisitado, além dos trabalhos com varias bandas, ainda faz inúmeras trilhas para novelas de sucesso, principalmente, na Rede Globo. Por isso, tinha que agendar tudo direitinho e sua produtora foi muito eficiente, fez com que a participação dele fosse possível e trouxesse um brilho todo especial para o show. Pois - como você bem disse -, a 14 Bis Instrumental é uma das melhores músicas instrumentais progressivas que eu e Flávio, em parceria com os outros da banda, compusemos. Tem ao mesmo tempo um tema muito bonito, uma melodia meio arpejada que Flávio compôs, onde eu montei toda a estrutura e forma da música, mas deixando espaço para o Cláudio improvisar tudo que tem direito na guitarra. Além disso, fiz a parte central, mais Rock‘N Roll – de onde o Magrão (no baixo) e Hely (na batera) saem para um ritmo bem sincopado que, depois de idas e vindas, mudanças de tom, etc, volta ao tema principal. E, neste gran finale, o dueto da guitarra com o violino soa muito bem. Cláudio e Marcus Vianna tocaram isto de maneira maravilhosa no show, estão acostumados a tocarem juntos e são virtuoses em seus instrumentos. Concordo com você, é realmente uma grande musica instrumental contemporânea e quando a escolhemos para ser a abertura do show de gravação do dvd, não tínhamos idéia de que ia ter uma receptividade tão boa como teve... Sinal de que as pessoas gostam também de desafios...

 

Via Fanzine: A canção Nave de Prata teve um tratamento muito especial neste dvd, a letra de Márcio Borges é fascinante e, ao vivo, com um quarteto de cordas, ficou ainda mais bela que a gravação do 14 Bis em Idade da Luz. Como surgiu esta canção maravilhosa?

Vermelho: Morei quase 20 anos no Rio, numa rua tranqüila do Jardim Botânico, no 4º andar, com uma vista maravilhosa para uma enorme pedra, rodeada de matos, cachoeiras e canto de pássaros – essa floresta saía dos fundos da casa do Tom Jobim. Estava feliz com a banda, vivíamos um momento muito criativo e, na minha vida particular, tudo ia muito bem, tinha acabado de nascer minha filha, que amo de paixão. Eu estava com uma viola de 12, ligada num gravador de quatro pistas - novidade para a época, pois tinha acabado de chegar. Era um fim de tarde destes que só o Rio propicia, depois de um passeio pelo Horto, aquelas árvores centenárias e aquele silêncio que inebria a gente de boas energias, céu azul etc. Tomei uma batidinha e comecei a dedilhar alguns acordes na viola e logo encadeei alguns acordes que me inspiraram uma melodia: aí me veio à lembrança, minha cidade natal, também repleta de silêncio e canto de pássaros e aquela tranqüilidade foi me tornando uma letra onde eu cantava “eu me lembro da chuva, pequena cidade, as ruas, o chão”, e por aí vai. Fiz a música assim, em um fim de tarde, começo de noite. Depois acrescentei um órgão Farfisa, que adoro, pois tem um som brilhante e ao mesmo tempo suave. E fiz uma terceira parte, mais ritmada, mais rock. Quando entreguei a música para o Marcinho fazer a letra, como eu já tinha escrito algumas frases, ele soube muito bem aproveitar isto, principalmente as rimas - usou a sonoridade que havia em minha letra-esboço. Onde eu tinha colocado chão, ele escreveu "tudo acontece no meu coração", rimando com "a mesma vontade de revelação...". Foi assim que ficou pronta a música. O Marcinho é muito musical, ele guarda nuances da melodia que, às vezes, te surpreende. Se você cantar diferente do que ele ouviu, ele te corrige... E capta bem a idéia que você teve e a coloca em termos de uma bela letra poética. Planeta Sonho, outra grande letra, ele fez completamente livre – eu e Flávio só fizemos a música, ele viajou na música e veio com uma letra muito original, não mudamos nada, estava perfeita. E a banda toda a transformou num sucesso que, talvez seja a música que mais reflita o som 14 Bis.

 

 Vermelho e o filho Rafael em 1984.

 

Via Fanzine: Você sempre diz aos fãs e amigos que não é maestro, porém já assinou arranjos belíssimos como, por exemplo, Pensando em Você, também na regência, do Flávio em seu álbum Nascente e no primeiro disco do Beto Guedes, em Maria Solidária. Qual é sua formação musical e a origem de tanto talento?

Vermelho: Comecei cedo vendo meu pai, maestro de banda, arranjador de mão cheia, escrever dobrado para uma banda em qualquer papel e toca. Estudei arranjo com Rogério Duprat, o maestro do Tropicalismo e nas aulas do Festival de Inverno de Ouro Preto, na década de 70, fiz arranjos muito ousados, ele incentivava isto. Compus uma fuga, que é uma forma de composição muito elaborada, que teve em Bach, talvez, seu ápice, e misturei aquilo com baixo, batera, teclados e guitarra. Ainda bem que era o Rogério que estava regendo, senão, ninguém dava conta de entender o que eu escrevi lá (risos).  Pena que não tem registro gravado daquilo, mas foi uma experiência inesquecível. O primeiro arranjo que escrevi profissionalmente foi para cordas, para uma música minha, Palhas de Milho, que gravei com o Bendego, ótima banda baiana, com violões, violas baixo, percussão, batera (Hely) e eu nos teclados. Vocal a quatro vozes e uma harmonia bem nordestina, mas ao mesmo tempo pop, tipo Beatles. A banda não ficou conhecida, apesar de termos gravado e tocado com Caetano Veloso, na época do Qualquer Coisa. Depois fiz o arranjo de Pensando em Você, música do Flavio que O Terço gravou e acho que ficou muito bom o arranjo, além da presença do Duprat, que fez outros arranjos. Tínhamos uma boa orquestra à disposição, e um estúdio (o Vice Versa – SP) que era o mais moderno do Brasil na época. Depois, no álbum A Página do Relâmpago Elétrico do Beto Guedes, eu Flávio, Hely e Zé Eduardo, fizemos, juntos com o Beto, praticamente todos os arranjos do disco. E, especificamente em Maria Solidária - bom que você teve a percepção disto -, pois foi realmente uma idéia minha aquele arranjo, de mudar subitamente de tom (sobe de Ré maior para Mi maior), com o órgão antecipando a modulação. Só ouvindo para entender o efeito, que é fantástico. Essas mudanças súbitas de harmonia são muito usadas pelos grandes mestres, notadamente Wagner, C. Franck, Liszt e os grandes organistas, de qualquer época. Organistas sempre foram mestres na harmonia, desde a Idade Media, Renascença, Romantismo, Modernismo, Jazz e, claro, Rock, vide Tony Banks (Genesis) e Rick Wakeman (Yes). E, por aqui, temos também grandes tecladistas bons de harmonia, seja no órgão, sanfona ou piano, tais como, Guilherme Arantes, César Camargo Mariano, Wagner Tiso, Tom Jobim, Hermeto Pascoal, Sivuca, Egberto Gismonti, entre outros. E acho que posso me incluir – sem falsa modéstia (risos), neste time da pesada. Estou estudando bastante pra isto.

 

Vermelho e o pai, Sr. Moreira, músico de Banda.

 

Via Fanzine: Que o 14 Bis é composto de músicos de primeira linha, ninguém duvida. A banda tem em seus primórdios fortes inclinações Folk-acústicas regionalíssimas. Já vi Cláudio tocando guitarra portuguesa, gaita, violas de 10 e 12. Você, até cravo toca e muito bem, o Magrão, desde O Terço, trabalhava este lado e o Hely é um percussionista divino. Não cairia bem um Acústico MTV com todo aparato necessário e de acordo com a grandeza de vocês?

Vermelho: Não sei bem como é esta coisa da MTV. Posso estar enganado, mas me parece que eles têm um conceito do que é moderno, do que é in e do que está out, do que é brega, etc... Assim, alguns artistas não aparecem lá. Nós nunca fomos convidados, nem nunca tivemos nada nosso executado lá. Se existe algum padrão de qualidade estética deles, até hoje nunca entendi. Antigamente assistia muito e gravava em vídeo coisas excelentes que passavam lá. Mas, depois o nível começou a mudar, parecia que beleza estética, gente bonita, com roupa da moda ou então quem fosse mais periferia, mais louco, era o que importava. Não sei mesmo... Deixei de entender de vez, quando vi um programa dedicado a Sandy e Júnior. Então, saí fora, apesar de gostar da voz da Sandy e saber que eles têm jeito para a musica, sendo filhos de quem são... Porém, alguma coisa não bateu nesta história toda: divulgação de alguém que tem um forte poder de se impor? Sei lá...

 

Via Fanzine: Vocês já têm um repertório de composições inéditas para o próximo CD?

Vermelho: Estou revendo muitas idéias guardadas em fitas, disquete, etc, coisas de mais de 20 atrás. O Flávio disse que também está resgatando o que tem gravado, inclusive, muita coisa que compusemos juntos, eu, ele e Beto Guedes. Vou selecionar o que achar que ainda pode ser aproveitado hoje e, partir daí, fazer novas canções, seja sozinho, seja em parceria. Claro, vamos fazer coisas totalmente novas também. Eu e Cláudio, por exemplo, gostamos de compor juntos, como fizemos em Xadrez Chinês e Mesmo de Brincadeira, que estão no dvd. Xadrez inclusive é uma surpresa, o arranjo que fizemos ficou ótimo e a letra, do Chacal, que diz, “Às vezes, me pego pensando igual computador, tem dias que nem sei ao menos quem eu sou” – foi escrita em 1985! Ela antecipa o que acontece hoje, quando, às vezes, a gente fica meio perdida com a vastidão de informações no mundo da informática, principalmente na Internet. Devemos fazer um cd com canções inéditas até o fim do ano e todos nós vamos compor. Vamos ver o que acontece. Já temos muito material e com muita vontade de trabalhar músicas novas, pois é muito estimulante tudo isto.

 

  Dvd '14 bis ao vivo'.

 

Via Fanzine: Quando veremos o Vermelho intimamente num disco solo?

Vermelho: Eu tive um período de minha vida em que - por motivos que não vêm muito ao caso, pois é passado, fiquei um pouco desligado, quase ausente da banda. Isto, por volta de 1990 até 2003, foi um longo período. Época também em que me mudei do Rio e voltei para Minas. Continuei compondo em casa e fazendo shows, mas não contribuí muito com composições para a banda, como antes. Além disso, foi uma época em que a qualidade das músicas que as gravadoras, rádios, tevês e mídia em geral, mostravam para o público era péssima, para meu gosto. E, pior ainda, parecia que o público queria era esta merda mesmo. Parecia não haver espaço para o que queríamos mostrar. Mas tudo começou a mudar quando fizemos uma excursão com o Boca Livre, uma banda que sempre curtimos muito, tem vocais e instrumentais excelentes, num estilo todo próprio – temos muito em comum. Fizemos ótimos shows juntos, dividindo repertório, cantando músicas em várias vozes e, tudo isto foi registrado em cd e dvd. Depois, o 14 Bis gravou, em 2003, um cd de inéditas, o Outros Planos. Continuamos fazendo shows e sentindo que estava na hora da boa música voltar a ocupar seu lugar. E no final de 2006, finalmente, pudemos realizar o sonho de gravar nosso primeiro dvd. Assim, agora posso pensar em fazer meus projetos: o primeiro que quero fazer é um cd/dvd de Banda de Música, com meu pai, registrando composições dele e de outros grandes músicos, alguns desconhecidos, outros consagrados, do Barroco Mineiro. Minha idéia é fazer um disco agradável de ouvir, selecionando músicas típicas de banda. Pelo que ouvi na minha infância, eu e meu pai vamos selecionar coisa boa, só estamos dependendo de patrocínio, coisa, às vezes, meio complicada, pois a burocracia e politicagem são muito enraizadas em nosso país, infelizmente. O mesmo acontece para fazer um cd solo meu, onde quero misturar todas minhas influências, de música erudita (englobando o que gosto, do século XII ao XXI), a música popular brasileira (mais particularmente, mineira) e me cercando de músicos que realmente gosto de tocar junto, como Beto Guedes, Flávio Venturini, Marcus Vianna, minha filha adolescente, que já compõe bem, num estilo totalmente dela, meio gótico, meio pop, moderno mesmo. E outros músicos que vão aparecer, de acordo com as músicas que escolher. PQuero mostrar meu universo musical, o universo de um músico. Continuarei estudando regência com grandes maestros, mas ainda não me considero um maestro (‘mestre’, em italiano), como os grandes músicos que admiro. Sei que um dia chego lá, mas ainda tenho muito que aprender. A música é um universo! 

 

* Antônio Siqueira é cronista e correspondente carioca de Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br).

- Fotos: Arquivo Vermelho / Arquivo Via Fanzine.

- Visite o site do 14 Bis: www.14bis.com.br

- Produção: Pepe Chaves.  

 

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