Saturno
Sonda Cassini: Revelado formato inusitado de uma lua saturnina A sonda espacial Cassini da NASA revelou detalhes da inusitada Pan, a lua que desenvolve excêntrica órbita no interior dos anéis de Saturno.
Por Pepe Chaves* De Belo Horizonte-MG Para Via Fanzine 10/03/2017
Lua discoide: vista de perto, Pan nos lembra uma noz ou um disco voador. Leia também: Cassini-Huygens faz o sistema solar nos parecer menor Orbitador Cassini revela novas belezas de Saturno Titã: o mundo mais parecido com a Terra Lua de Saturno pode abrigar forma exótica de vida, conclui estudo
Enquanto adeptos de teorias de conspirações afirmam que a NASA ocultaria da comunidade mundial informações sobre o espaço e a vida extraterrestre, esta agência espacial do governo americano continua nos surpreendendo. Em 2004 pude escrever o artigo “Cassini-Huygens faz o sistema solar nos parecer menor” publicado pelos portais Via Fanzine e ASTROvia, abordando a saga da viagem da sonda Cassini-Huygens até a periferia orbital de Saturno e já prevendo para os próximos anos a possível revelação de imagens e descobertas inusitadas.
Esta empreitada que ocorreu dentro de uma parceria da NASA com a Agência Espacial Europeia (ESA) enviou a sonda robótica Cassini para tomar fotos de Saturno, seus anéis e luas. Acoplada na Cassini, seguiu também a pequena sonda Huygens. Este aparato (menor que uma máquina de lavar), ainda no início da missão, se deslocou da sua “nave-mãe” Cassini, e num voo programado e sem volta rumou à superfície de Titã, a maior lua de Saturno. Durante os instantes que pôde sobreviver às fortes radiações de Titã na sua descida, a Huygens enviou à Terra, imagens e até sons daquele estranho mundo. A missão Cassini tem administração da NASA e a missão Huygens foi administrada pela ESA e Agência Espacial Italiana.
Em aproximadamente 13 anos situada próxima de Saturno, a sonda Cassini pôde navegar e fotografar por diversos ângulos, enviando à Terra milhares de imagens maravilhosas. Algumas mostrando com detalhes as várias camadas dos anéis de Saturno sob distintos ângulos, suas separações materiais e diferentes tonalidades, bem como detalhes de tão distintas luas do gigante gasoso, algumas delas bastante excêntricas, como a Encelado. As surpreendentes imagens da natureza de Saturno e suas luas seduziram todo o mundo da ciência espacial, pois nunca poderíamos imaginar ver de tão perto tantos detalhes precisos de um dos maiores planetas do nosso sistema solar. Mas nada seria tão bizarro como o formato – agora revelado – da lua Pan, que faz sua órbita em meio aos anéis de Saturno.
Imagem mostra Pan em sua órbita dentro da “Falha de Encke”, um espaço livre para trafegar entre as camadas dos distintos materiais que formam os anéis (cinzas, ao lado).
A vez da inimaginável Pan
Nesta semana, a direção da missão Cassini liberou à comunidade científica e ao público em geral, as primeiras imagens brutas, ainda não processadas de Pan, a minúscula lua de Saturno. As imagens desse astro irregular foram tomadas em 7 de março de 2017, pela sonda Cassini. Para tomar as imagens, o voo rasante (flyby) da Cassini teve uma distância aproximada de 24.572 quilômetros do alvo.
Estas recentes imagens de Pan, são as mais próximas já tomadas desse pequeno astro e ajudarão a caracterizar seu formato e geologia. As imagens em alta resolução nos mostra que a lua Pan de Saturno não se parece com nada do que já tínhamos visto até agora no sistema solar.
Anteriormente, a Cassini já tinha fotografado à distância esta pequena lua irregular, que mede apenas, 34,4 × 31,4 × 20,8 quilômetros. No passado já se sabia que ela se situava dentro de uma falha entre os anéis de Saturno e que, assim como a Atlas, também tinha uma estranha forma, lembrando uma noz ou um disco voador.
Imagem de Pan permite ver detalhes de sua protuberância central e parte da superfície geológica.
Entendendo um astro discoide
De acordo com os cientistas, sua protuberância central forma um disco equatorial formado pelo material adquirido dos anéis de Saturno. Pan está situada dentro da região dos anéis, bem no meio da “Falha de Encke”, um espaço livre para trafegar entre as camadas dos distintos materiais que formam os anéis. Para os cientistas, Pan é um aparato natural do planeta gasoso, cuja função seria limpar as partículas de gelo e poeira de sua área. Desenvolvendo uma órbita dentro dessa falha, este pequeno objeto funciona como uma espécie de “limpa-trilhos”, atraindo pra si todo o material disperso, seja pelo caminho de sua órbita ou da sua vizinhança próxima.
As imagens são tão impressionantes que parecem modelos de computador, enquanto na verdade são fotos reais em alta resolução. Contudo, até agora, não temos ainda imagens com mais detalhes sobre o protuberante disco de Pan. Para melhor entender a natureza desses estranhos astros discoides, os cientistas consideram alguns fenômenos, como carga eletrostática, viscosidade das partículas e forças de maré.
As partículas expelidas pelos anéis são agrupadas no equador de Pan, nos pontos de Lagrange L1 e L2, uma vez que Pan - assim como a nossa lua - mostra sempre a mesma face para Saturno. Este excesso de material em sua região equatorial formou o disco que a caracteriza. Espera-se que as novas imagens despertem o interesse para as teorias de formação destes curiosos discos.
Com seu grosso anel equatorial, Pan parece querer imitar Saturno.
Descobertas por vir
O fato de apenas podermos ver de perto e analisar cientificamente esse inusitado objeto orbital de Saturno, já se torna uma grande descoberta. Faz poucos anos algo assim jamais se enquadraria no conceito lunar da ciência. Isso mostra que a ciência não se encontra estática, mas evolui e se recapitula de quando em quando, reconhecendo e buscando compreender as novidades espaciais.
Com isso, estamos aprendendo que padrões e leis podem mudar na medida em que avançamos a nossa compreensão rumo ao espaço exterior. Se aqui, próximo ao nosso mundo já encontramos objetos que soariam tão bizarros alguns anos atrás, o que poderemos ainda encontrar no espaço profundo, onde megaestruturas cósmicas esperam para ser desvendadas pelos homens?
E assim, através do esforço comum entre homens e suas incríveis máquinas, o nosso Sistema Solar nos parecerá cada vez menor.
* Pepe Chaves é editor do diário digital Via Fanzine e da ZINESFERA. - Com informações da NASA, Daniel Marín e tradução do autor.
- Imagens: NASA / JPL-Caltech / SSI / Ian Regan.
- Colaborou: J. Ildefonso P. de Souza.
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- Extra: Página oficial do projeto Cassini-Huygens
- Produção: Pepe Chaves ©Copyright 2004-2017, Pepe Arte Viva Ltda. Brasil.
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