UFOVIA - ANO 5 

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 Aparições Marianas

 

 

Fenômenos:

O que a igreja diz sobre as Aparições Marianas

Fenômeno que atravessa séculos não é visto como conclusivo pela igreja católica.

 

Por Pepe Chaves *

Para UFOVIA

 

Mesmo colocando imagens de santas em seus templos,

igreja afirma que casos de aparições não são conclusivos.

 

As alegadas revelações (de catástrofes, entre outras) e as aparições (de seres de origem desconhecida) se constituem num leque da crença popular em todo o mundo. Em diversas e distintas localidades do globo, pessoas asseguram ter entrado em contato com entidades exógenas, ou seja, de natureza desconhecida.

 

Em muitos desses casos, dada à religiosidade do lugar, religiosos e, sobretudo, padres foram chamados a constatar tais fenômenos, quando, muitos dos quais seriam “adaptados” aos dogmas e juízos da Igreja Católica. Tem sido assim por muitos séculos e alguns desses casos se tornaram referência de fé cristã para muitos crentes em todo o mundo.

 

Os reportes de aparições atribuídas por muitos à “Nossa Senhora”, ou Maria, mãe de Jesus, surgiram em diversas partes do mundo e, em muitos desses casos, dentro de um mesmo clichê que se repete por séculos, tendo como principal referência a aparição secular de uma senhora na localidade de Lourdes, na França, ainda no século 18. Outros casos surgiriam dentro dos mesmos clichês e seriam também incorporados extraoficialmente pela igreja católica, mundo afora. Em muitos locais das aparições, foram construídas capelas e grutas artificiais para honrar a aparecida.

 

Se a igreja entende que as aparições de seres exógenos estariam ligadas à Sagrada Família ou aos personagens bíblicos, há também que as associe aos seres de civilizações cósmicas mais evoluídas, portando poderes tecnológicos extraordinários, que estão a nos visitar a partir de seus respectivos mundos. Em muitos desses casos, foram reportados objetos desconhecidos nas mãos de tais aparições que poderiam ter funções técnicas que se encontram além de nosso entendimento, mas que poderiam estar implicados numa espécie de "teletransporte" ou outros recursos ainda inimagináveis dentro de nossa realidade.

 

Em grande parte desses casos, temos a figura de um "vidente", pessoa que teria o dom de perceber a aparição de forma mais aguçada que os demais, bem como, repassar ao público as mensagens enviadas por uma criatura "divina". Inclusive, em algumas ocorrências, a testemunha principal acabara por ser reclusa pela igreja, que a impede de colocar sua experiência diretamente à sociedade. Algumas das figuras catalisadoras de tais eventos também chegaram a ser verdadeiramente enclausuradas pela igreja, sendo mulheres, foram praticamente obrigadas a viver o resto de suas vidas em conventos. Isso ocorreu em casos como o de Lourdes (França), Fátima (Portugal) e também da menina Abadia no Triângulo Mineiro - entre tantos outros, nos últimos séculos.

 

No entanto, oficialmente, a igreja afirma não reconhecer a originalidade divina de tais fenômenos, demonstrando que sua impressão no contexto desses eventos é bastante flexível e que, teoricamente, a mesma se torna adaptável a todos os fiéis da igreja, já que estes estariam "livres" para crer ou não em determinadas aparições marianas, por exemplo. Por isso, estas ocorrências envolvendo aparições de pessoas estranhas, bem como àquelas envolvendo a transmissão de mensagens, chamadas todas pela igreja católica de "revelações particulares" têm sido objeto de polêmica dentro da própria igreja.

 

Na obra "Católicos Perguntam", do bispo Dom Estevão Tavares Bettencourt, é abordada o que seria, teoricamente, a relação da igreja com tais ocorrências. No capítulo "Aparições e Revelações, que dizer?",  diz o autor, "A Teologia ensina que o conteúdo de tais revelações particulares não se pode tornar artigo de fé obrigatória para todos os cristãos, porque a Revelação Divina pública e oficial foi encerrada com a geração dos Apóstolos". Isso nos leva a entender que, apesar de influências sobre testemunhas e a crença gerada em particulares localidades, como vimos, a igreja oficialmente desconhece que, após os apóstolos bíblicos, outros eventos extraordinários da fé tenham fundo excepcional ou que sejam de fato, uma manifestação do Deus católico.

 

A seguir, reproduzimos na íntegra o artigo de Dom Dom Estevão Tavares Bettencourt.

 

Fenômenos:

Aparições e revelações, que dizer?**

Dom Estevão Tavares Bettencourt

 

Ultimamente, muito se tem falado sobre aparições de Nossa Senhora em diversas partes do mundo, especialmente no Brasil: Ceará, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, etc. Em consequência, muita gente pergunta: que diz a Igreja Católica a respeito desses fenômenos extraordinários?

 

Em resposta, notemos logo que de trata das chamadas “revelações particulares”, isto é, feitas a uma ou algumas pessoas, para as quais elas podem ter significado. Se tais pessoas julgam que Nossa Senhora realmente apareceu e falou, podem continuar acreditando nisso enquanto a Igreja não se pronuncia a respeito, de modo oficial. Em outras palavras: a aceitação dessas aparições e revelações fica a critério de cada fiel, contanto que a Igreja não se tenha manifestado a propósito. Tal é, por exemplo, o caso de Medjugorje: quem julga que Nossa Senhora fala aos videntes daquela localidade, pode-lhes dar crédito, pois a Igreja, até hoje não se definiu a respeito.

 

A Teologia ensina que o conteúdo de tais revelações particulares não se pode tornar artigo de fé obrigatória para todos os cristãos, porque a Revelação Divina pública e oficial foi encerrada com a geração dos Apóstolos. É o que diz o Concílio Vaticano II: “A dispensação cristã da graça, como aliança nova e definitiva, jamais passará, e já não que se esperar alguma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo (cfm 1Tm,6,14,Tt 2,13) (Constituição Dei Verbum, nr 4).

 

Depois dos Apóstolos, o Senhor Deus pode permitir que os Santos como Nossa Senhora apareçam aos homens a fim de nos exortar a uma vida santa e ao apostolado. Essas aparições, porém, mesmo autênticas, nada acrescentam ao patrimônio da fé. Em suma, o que Nossa Senhora pediu em La Salete, Lourdes e Fátima (casos que podem ser tidos como genuínos) foi a conversão dos pecadores, incluídos os cristãos, e o retorno à oração, muito esquecida em nossos dias; tal é a síntese das revelações particulares.

 

Ora, isso já está no Evangelho. Por conseguinte, quando o Senhor Deus permite que algum Santo apareça, Ele tem em vista reafirmar as verdades básicas do Evangelho, negligenciadas num  mundo que se entrega cada vez mais ao ativismo materialista e ao hedonismo (busca desenfreada do prazer). Eis a razão pela qual, as revelações não se impõem obrigatoriamente à fé de todos os católicos.

 

Distinguir o autêntico do inautêntico

 

Dizíamos que a Igreja se pronuncia sobre as revelações particulares... Mas, quando é que ela se pronuncia?

 

Está claro que, diante de um fenômeno religioso extraordinário, a Igreja se sente interpelada. Ela se vê obrigada a procurar distinguir o autêntico do não autêntico, pois pode haver ilusões, fraudes ou algum estado doentio na origem das revelações. Por isso, quando se proclama uma revelação de certo vulto, a Igreja estuda quatro aspectos da questão:

 

  1. O conteúdo da mensagem transmitida aos videntes. É mensagem condizente com as verdades da fé? Está em harmonia com o Credo e Moral Católica? Não haverá aí expressões da fantasia humana, sequiosa de dados maravilhosos? Um vidente, mesmo de boa fé ou candidamente, pode propor suas idéias como se fossem reveladas por Deus? Daí a cautela da Igreja ao examinar o que se atribui a intervenções do além.

 

  1. Os videntes gozam de boa saúde física e mental? Podem estar sendo vítimas de alguma alucinação ou fantasia doentia? Sabemos que isso acontece com certa frequência; de modo especial, a temática religiosa sugere “intuições”, dado o peso da religião na vida dos homens.

 

  1. Há honestidade, humildade e amor nos videntes e naqueles que propagam suas respectivas mensagens? Ou é possível descobrir charlatanismo, vaidade, cobiça de lucro, desejo de autopromoção em suas ações? Está claro que qualquer deslize moral na transmissão das mensagens desabona a revelação?

 

  1. “Pelos frutos se conhece a árvore”, diz o Evangelho. A Igreja estuda as consequências do fenômeno extraordinário. Procura saber se há benefícios espirituais (conversões, novo fervor, progresso nas virtudes etc.), resultantes de tais mensagens, ou se há benefícios corporais (curas, graças no plano físico ou material).

 

Caso tais benefícios ocorram sem que haja erro doutrinário nem defeito moral, a Igreja pode tomar uma ou outra das seguintes atitudes:

 

A - Deixa correr os acontecimentos não havendo motivo para alguma censura. A Igreja não se pronuncia - o que equivale a certo abono dos fatos;

 

B - Favorece o culto à Virgem Santíssima, tal como é prestado no lugar das ditas aparições.

 

Observem bem: a Igreja nunca dirá oficialmente que Nossa Senhora apareceu nesta ou naquela localidade; mas em vista dos frutos espirituais colhidos em consequência das propaladas aparições, poderá abonar  a devoção a ela tributada no local mencionado. É o que se dá em Lourdes e Fátima: embora não se pronuncie sobre as aparições como tais, a Igreja incluiu no seu calendário litúrgico a Festa de Nossa Senhora, tal como é cultuada em Lourdes (11 de fevereiro) e em Fátima (13 de maio).

        

Caso, porém, o exame dos acontecimentos leve a descobrir algo que fira a fé ou a moral, a Igreja diz “não” à devoção provocada pelas pretensas aparições. Em Garabandel, na Espanha, por exemplo, os bispos locais declararam espúrias as propaladas aparições de Nossa Senhora.

 

Apoiando as esperanças no transcendental

 

Resta dizer algo sobre o grande número de “profecias”, que circula entre os fiéis, relativas a este fim de século.

 

A esse propósito, notamos que atualmente, muitas pessoas sentem insegurança por diversos motivos: estão abaladas a economia, a política, a educação, a família... É natural, pois, que procurem algum apoio para sua esperança no transcendental, ainda que se trate de mero imaginário. Daí o pulular de previsões relativas à proximidade do fim do mundo, que porá termo à desordem hoje vigente.

 

Também o grande número de visões e aparições prometendo a intervenção do “alto” neste mundo, em favor de uma nova fase da História, caracterizada por paz, amor e fidelidade a Deus, provêm de tal “insegurança coletiva”. Essas visões podem ser contagiantes, visto que muitas vezes se trata de fenômenos meramente psicológicos - senão psicopatológicos - que sugestionam o público e levam pessoas mais sensíveis a conceber, também elas, visões e aparições.

 

O fiel católico deve exercer certo senso crítico em relação às numerosas profecias que sacodem a sociedade de nossos dias. Há, por exemplo, quem afirme que o Santo Padre já permitiu a revelação do terceiro segredo de Fátima, o qual segundo dizem, promete terríveis flagelos. Ora, isto é falso! O Papa não tem tratado do assunto. Longe de prever catástrofes e o fim da presente civilização, João Paulo II pensa em celebrar o advento do terceiro milênio com uma nova evangelização, que deverá culminar (segundo desejo de Sua Santidade) numa celebração eucarística no Monte Sinai e pelo Patriarca de Constantinopla.

 

Os fiéis católicos nada perdem ao reconhecer que muitas das pretensas aparições de nossos dias não são autênticas. Na verdade, o Evangelho está a clamar diariamente por oração e penitência (cf. Mc 1,14;Lc 18,1). Esse apelo é, em última análise, o mesmo de Nossa Senhora em suas genuínas aparições.

 

Orar e converter-se é o programa que os fiéis hão de assumir cada vez mais coerentemente, incitados precisamente pelas grandes lacunas religiosas e morais de nossos dias. O mundo precisa de Santos. Não lhe faltam profissionais e técnicos em diversas áreas; porém aquilo mais importante na propagação dos caminhos de uma sociedade mais harmoniosa e feliz é o cultivo da santidade ou da incondicional fidelidade a Cristo e a Sua Santa Igreja.

 

Eis o que deve permanecer na mente dos fiéis católicos, interpelados por Cristo e Sua Mãe Santíssima em nossos dias.

  

* Pepe Chaves é editor do diário digital ViaFanzine e do portal UFOVIA (Brasil).

 - Imagem: divulgação.

 - Revisão do texto de Dom Bettencourt: Eneida Batista

 

** BETTENCOURT, Estevão Tavares- Católicos Perguntam, Coordenação do Frei João Mamede Filho, São Paulo, O Mensageiro de Santo Antônio, 1997, p.111-115.

 

Nota: O livro supracitado é composto de uma coletânea de artigos de Dom Estevão Tavares Bettencourt, OSB, um dos mais respeitados religiosos e teólogos brasileiros, nascido em 1919. Tais artigos foram publicados no período de 1994 a 1997, no MSA.

 

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