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Negócio nas alturas:

Revista denuncia 'lobista espacial' na AEB

Reportagem da 'Isto É' destaca algumas das atuações do empresário gaúcho

João Gilberto Vaz, junto a AEB, Inpe e outros de seus empreendimentos.

 

Por Pepe Chaves*

De Belo Horizonte-MG

Para ASTROvia

 

João Gilberto Vaz esteve com o então presidente Lula por diversas vezes durantes os seus mandatos.

 

O ‘Lobista espacial’ que não foi para o espaço

 

No final do mês de abril de 2011, a revista ‘Isto É’ apresentou reportagem intitulada “O lobista espacial” trazendo denúncias contra o empresário gaúcho e cônsul honorário da Bulgária no Brasil, João Gilberto Vaz que, “virou cônsul da Bulgária e foi pago pelo Brasil para acertar com os russos a viagem do astronauta Marcos Pontes ao espaço”, segundo a publicação.

 

A reportagem assinada pelo jornalista Claudio Dantas Sequeira foi publicada na edição nº 2164 da conhecida revista ‘Isto É’, de 29/04/2011. A reportagem rotula Vaz de “lobista” e o descreve como uma espécie de canastrão espacial, com poderes para executar incisivas intervenções junto a instituições federais, como o Inpe e a AEB (estes, subordinados ao Ministério da Ciência e Tecnologia). Para o sucesso dessas atuações, onde Vaz seria um simples atravessador em negócios milionários envolvendo verbas públicas, teria sido essencial o fato de ele ter se mantido em transito livre no seio de determinadas áreas dos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva.

 

De acordo com a reportagem, Vaz “é dono de uma empresa que vende imagens de satélite, empreendedor interessado em construir estádios para a Copa do Mundo, ex-cartola de um time de futebol formado por refugiados palestinos e responsável pela viagem espacial do primeiro astronauta brasileiro. A sede do consulado fica no Rio de Janeiro, mas o cônsul, João Gilberto Vaz, despacha em Brasília, onde mora numa bela casa do Lago Sul. Na capital federal, apesar de tantas e tão variadas atividades, Vaz tem chamado mesmo a atenção é pelo seu controvertido trabalho como lobista”.

 

Vaz envergando um traje usado pelos cosmonautas da Roskosmos.

 

Vaz põe o Brasil na Estação Espacial

 

O autor da reportagem também afirma que, na qualidade de lobista, o empresário gaúcho teria participado também das negociações que culminaram na viagem do piloto da FAB e depois astronauta paulista Marcos Pontes à Estação Espacial Internacional, cujos acordos e despesas foram sacramentadas pelo governo do Brasil, nas gestões de FHC e Lula.

 

Sobre isso, destaca Sequeira em sua matéria, “João Gilberto Vaz gaba-se de ser o responsável por ter levado o astronauta Marcos Pontes à sua viagem turística à Estação Espacial Internacional, a ISS, na sigla em inglês. Na verdade, ele fez mais do que isso pelo programa espacial brasileiro. Sabe-se lá por quê, em 1997 o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) convocou Vaz, que ainda não era cônsul, para intermediar o malfadado acordo com a Nasa para a participação brasileira na ISS. O custo para o Brasil seria de US$ 330 milhões, incluindo o fornecimento de algumas peças para um módulo que opera na estação espacial. O negócio foi firmado no final do governo FHC, arrastou-se pelo primeiro mandato de Lula e acabou anulado pela própria Nasa, irritada com os atrasos do Brasil em cumprir o cronograma de construção de itens da ISS. Nesse meio tempo, a vida de Vaz foi melhorando. Em função de contatos com a Academia de Ciências da Bulgária, que dividiria com os brasileiros experiências agrícolas na estação espacial, o lobista acabou convidado pela embaixada búlgara para integrar seu corpo consular”.

 

Como se sabe, logo após a viagem de Pontes ao espaço, o Brasil foi oficialmente excluído da participação no projeto da Estação Espacial Internacional – o que já não seria mais novidade, já que não teve capacidade de cumprir a determinação de produzir três peças para a Estação, encomendadas pelo consórcio espacial.

 

Vaz: 'Fiz um trabalho do mais alto nível. Mas não ganhei nem medalha',

sobre a viagem do 'tupinalta' Marcos Pontes à Estação Espacial.

 

AEB e Inpe

 

A reportagem também levanta uma grave acusação contra Vaz, que envolve também o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), conforme explica o autor, “(...) Ele [Vaz] recebeu ao menos US$ 10 milhões do Inpe pelo trabalho na aproximação com a agência espacial americana [Nasa], apesar de existir uma ampla rede diplomática para tratar de assuntos como esses”.

 

Apesar de executar inúmeros treinamentos por tempo demasiadamente longo em Houston, nos EUA, Sequeira também relembra que o astronauta brasileiro não conseguiu uma passagem no ônibus espacial da Nasa para seguir à Estação Espacial. Segundo a reportagem, esse problema teria sido resolvido por Vaz, que atuou como intermediário nas negociações com a Roskosmos (Agência Espacial da Rússia), que então forneceu o seu veículo espacial Soyuz-TM (que também serve à Estação Espacial), ao custo de R$ 30 milhões o assento de astronauta. Somente assim, Marcos Pontes pôde cumprir então a chamada “Missão Centenário” – nome alusivo à comemoração dos 100 anos de Alberto Santos Dumont –, a qual duraria 11 dias e em que Pontes realizaria experimentos com vegetais na órbita terrestre.

 

“Quando os acordos com a Nasa fracassaram, Vaz tratou de não deixar a Agência Espacial Brasileira (AEB) em uma situação vexatória. Foi ele quem intermediou com a Rússia a viagem do astronauta Marcos Pontes. Para essa missão, que custou R$ 30 milhões aos cofres públicos, Vaz teria ganhado mais alguns milhões de dólares, segundo afirmam seus detratores. Ele, no entanto, garante que tudo não passou da mais pura filantropia lobística. ‘Fiz um trabalho do mais alto nível. Mas não ganhei nem medalha’”, grafa a reportagem.

 

Vale lembrar que essa única missão espacial tripulada por um brasileiro foi fortemente criticada na imprensa por pessoas que creditaram à mesma simples caráter turístico, disfarçado de missão espacial que se traduziria, enfim, numa onerosa publicidade global de "poderio" do governo brasileiro.

  

A atuação de Vaz na viagem de Pontes ao espaço despertou desconfianças, conforme mostra a reportagem de Sequeira, “Edmilson Costa Filho, coordenador de Programas e Projetos da AEB, conhece o lobista de longa data e é taxativo: ‘Pessoas como Vaz se aproveitam dos elos eticamente fracos do poder público. Se a AEB fosse uma agência forte e atuante, não precisaria de intermediários’, afirma. Já o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), relator da nova política espacial, nunca ouviu falar do cônsul da Bulgária, mas questiona a necessidade de mediação privada num acordo entre agências governamentais. ‘Em tese, deveria ser feito diretamente’, diz”.

 

Do espaço terrestre para os gramados do Brasil

 

A reportam da ‘Isto É’ mostra que após o Brasil abandonar o programa de interação à Estação Espacial, Vaz se voltou às atividades mais “pés no chão” - e na bola -, como o futebol.

 

Narra Sequeira que, “Depois das desventuras espaciais, Vaz se dedica agora a projetos mais terrenos. No momento, ele está de olho nas oportunidades abertas pela Copa do Mundo no Brasil. Na semana passada, promoveu em Salvador, São Paulo e Rio uma série de encontros para tentar emplacar sua consultoria, a Arena do Brasil Ltda. A meta de Vaz é conquistar alguns dos milionários contratos para a construção e operação de estádios da Copa de 2014”.

 

O autor também explica que Vaz já detém certa experiência no campo do futebol, “Ele não é um novato na área futebolística. Em 2007, comprou um time da terceira divisão do Distrito Federal e o batizou com o nome da empresa que vende imagens de satélite, seu xodó naquela época. O ‘Brazsat Futebol Clube’ era formado por refugiados palestinos vindos do Iraque, por meio de um convênio que Vaz assinou com a Acnur, a agência da ONU para refugiados. A equipe chegou a ser tema de um documentário na rede de tevê árabe Al Jazeera e avançou para a segunda divisão. O cartola João Gilberto Vaz não conseguiu, contudo, levar o Brazsat para a primeira divisão e o time foi desfeito. Mas com essa experiência ele abriu canais com a CBF, que agora utiliza em sua nova área de negócios”.

  

Astronáutica no país do futebol: maquete de um dos estádios

que Vaz quer construir para o Mundial de 2014, a Arena do Brasil.

 

'Figura carimbada'

 

A reportagem também descreve o perfil de Vaz como sendo, “Sempre bonachão e muito bem relacionado”. E exemplifica, “Vaz é figurinha carimbada nos círculos da elite brasiliense. Costuma participar dos seminários promovidos pelo Gabinete de Segurança Institucional, fala sobre cursos feitos na Escola Superior de Guerra e não perde coquetéis e festas da comunidade diplomática. Chegou a integrar comitivas especiais, se diz amigo do deputado federal Protógenes Queiroz (PSOL-SP), o polêmico delegado da Operação Satiagraha, e exibe fotos ao lado do ex-presidente Lula e do arquiteto Oscar Niemeyer”.

 

Outra demonstração ou referência de Vaz como empresário bem sucedido também é apontada na matéria, “Na sala de sua casa, expõe em posição de destaque o diploma de um curso de três dias que fez na Universidade de Harvard”.

 

Mas, também afirma a reportagem, “Nem tudo em sua vida, porém, é sucesso”, já que o empresário aeroespacial-futebolístico dos Pampas teria passado por percalços profissionais, quando “Algumas iniciativas de Vaz acabaram em encrencas com a Justiça. Como em 2002, quando ele tentou representar no Brasil a companhia americana Space Systems/Loral, uma das maiores fabricantes de sistemas de satélites. Pouco tempo depois, a empresa rescindiu o contrato. ‘A Brazsat nunca teve poderes para representar legalmente e vincular a SS/L a qualquer tipo de obrigação e, portanto, a SS/L não se responsabiliza por atos praticados pela Brazsat e por seu principal cotista, o sr. João Gilberto Vaz’, registrou a empresa americana em cartório. Mas coisas desse tipo não chegam a inibir o ritmo frenético da atividade diplomática do cônsul honorário da Bulgária. Ele não tem limites”, finaliza a reportagem da 'Isto É'.

 

Os negócios de Vaz

 Infográfico da 'Isto É'.

 

Schlichting e Alcântara

 

Curiosamente, ainda no ano de 2005, o diário digital Via Fanzine também recebeu denúncias contra o senhor João Gilberto Vaz. O administrador e pesquisador Ronaldo Schlichting, de Curitiba-PR, nos encaminhou diversas mensagens que considerou “abusivas” por parte de Vaz com relação a determinadas intervenções junto à Agência Espacial Brasileira (AEB). Numa delas, Vaz ameaçada ir até Curitiba para "encontrar" Schilichting que teceu algumas críticas contra sua empresa.

 

Ronaldo Schilichting tornara públicas as suas convicções de que a explosão no Centro Espacial de Alcântara que matou 21 engenheiros e técnicos da AEB teria sido criminosa e com o intuito de os EUA continuarem na dianteira e manter o Brasil fora do rentável e promissor campo de lançamentos, ao inviabilizar o veículo Lançador de Satélites (VLS) do país.

 

Além disso, sabe-se que o posicionamento estratégico do Centro de Alcântara (próximo à linha do Equador) poderia baratear, sobremaneira, os custos para lançamentos de satélites e provocar colapsos nesse mercado global.

 

E assim, o curitibano acredita que com o sucateamento do VLS brasileiro, os EUA se aproximariam do Brasil, visando a operação dos lançamentos de satélites no país e posteriormente assumir o controle da Base de Alcântara.

 

* Pepe Chaves é editor dos portais Via Fanzine e ASTROVIA.

 - Com informações da revista 'IstoÉ', de 29/04/2011.

 

- Imagens: 'Isto É'/Arquivo VF.

 

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