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MULHER

 

 

08 de março:

Dia internacional das mulheres trabalhadoras

Somos metade da humanidade neste fenômeno/performance chamado “mulher”. Ou seja, nascemos com uma incumbência histórica, surgida antes de nós, por suposto, de como nos performar, de como agir, como sentir e vivenciar o nosso dia-a-dia. 

  

Por Silvana Soares de Assis*

Para Jornal São Tomé Online

08/03/2023

 

Não existe, portanto, “a mulher”, somos diversas, somos várias e diferenciadas em classes, etnias, profissões, orientações de gênero etc.

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“Sou rainha do meu tanque,

Sou Pagu indignada no palanque,

Hanhan, hanhan,

Fama de porra louca, tudo bem,

Minha mãe é Maria ninguém,

(Rita Lee)

 

No dia 08 de março comemora-se o DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES. Eu acrescentei, “trabalhadoras”, pois é com estas que quero, prioritariamente, dialogar. Das mulheres camponesas, das operárias, operadoras de telemarketing, vendedoras, professoras, domésticas, donas de casa, dentre outras de nós que vivemos da venda de nossa força de trabalho.

 

Dentre estas, incluo as donas de casa, visto que trabalham uma vida inteira sem qualquer remuneração formal, embora sirvam à reprodução do capital.

 

O que temos a comemorar num país com estratosféricos números de feminicídio? Temos a comemorar a nossa capacidade de resistir!

 

Somos metade da humanidade neste fenômeno/performance chamado “mulher”. Ou seja, nascemos com uma incumbência histórica, surgida antes de nós, por suposto, de como nos performar, de como agir, como sentir e vivenciar o nosso dia-a-dia.  Somos julgadas por sermos e não sermos, desde que este ser ou não ser não esteja na “norma”.  Então, de tantas exigências sociais, muitas de nós, adoece. Das histéricas de Freud, às depressões, ansiedades, síndromes de pânico, dentre outras doenças que nos acometem na modernidade, seguimos tentando resistir.

 

Continuamos com os menores salários e as piores condições de trabalho, com a dupla ou tripla jornada – às vezes mais. Vejamos uma jovem mulher casada, que trabalha fora, que é mãe, estuda e ainda resolve lutar pelos seus direitos: esta mulher, na maioria absoluta das vezes, deverá cuidar da casa, dos filhos, dar conta dos estudos e da militância – não raro é pressionada pelo seu companheiro e, muitas vezes, abandonada por   este, segue solitária nesta múltipla jornada.

 

Como não adoecer tendo que seguir performando tantas exigências sócio-emocionais?

 

“Se ninguém nasce mulher, torna-se”, como já diria a icônica Simone de Beauvoir, o mesmo podemos dizer em relação aos homens. Estes detêm os privilégios da sociedade patriarcal, pois muitas das tarefas acima elencadas são transferidas às mulheres – mães, irmãs e esposas, como numa sequência natural e lógica. Todavia, não há nada de natural, nem lógico nestas exigências. É uma perversa construção histórica.

 

É verdade que mesmo dentre os homens há uma hierarquia para usufruir os privilégios do falo, sendo os brancos e ricos os que estão acima da pirâmide, secundarizados por homens historicamente racializados, como os indígenas e negros.  No entanto, nós, mulheres, estamos abaixo desta hierarquia falocêntrica, ocupando os andares de baixo da pirâmide e também hierarquizadas pelo lugar na prateleira, como diria Valeska Zanello, sendo as mulheres racializadas, sobretudo, as negras, as que ocupam a base desta.

 

Não existe, portanto, “a mulher”, somos diversas, somos várias e diferenciadas em classes, etnias, profissões, orientações de gênero etc. Todavia, marcadas por uma classificação para além das nossas individualidades, que nos têm, historicamente, definido e, por vezes, nos encouraçando numa existência de dores. É contra esta existência que nos insurgimos.

 

Nos insurgimos contra este martírio de jornadas, contra as exigências das formas de agir, pensar e amar que, a nós, foram impostas pelos filmes de Hollywood, pelas músicas ditas românticas, pelos romances, pelas mídias sociais etc. Estes padrões nos adoecem e dizemos NÃO a tais padrões.

 

No último governo, resultado de um discurso machista e misógino do detentor da faixa presidencial, assistimos ao aumento brutal do feminicídio.  A luta pelas nossas vidas não é algo que possa esperar – estamos morrendo, muitas vezes, em vida. Sabemos que não é uma questão meramente conjuntural. A violência sobre os nossos corpos e mentes é estrutural, exigindo soluções, também, estruturais.

 

Sendo assim, parte-se da urgente necessidade de educar as nossas crianças e jovens, educar a sociedade como um todo, através de todos os instrumentos disponíveis – escola, família, rede sociais etc. Infelizmente, ainda se faz necessário instrumentos de repressão, com a aplicação plena da Lei Maria da Penha, Lei nº 11.340/2006, acompanhada de casas de acolhimento às mulheres que não possam retornar a seus lares.

 

Que este dia 08 de março sirva para refletirmos acerca de nossa existência. Que juntas, em redes de apoio, rodas de conversas, grupos de estudos, movimento por direitos, dentre outros mecanismos de luta e solidariedade, sigamos, resistindo e construindo novas e saudáveis formas de existir.

 

Por uma vida plena, saudável e liberta de nossos grilhões!     Não nos calarão! Um salve ao nosso dia: Dia Internacional das Mulheres  Trabalhadoras!

 

 

* Silvana Soares de Assis é professora de História aposentada, membro do Conselho Municipal de Saúde de São Thomé (gestão 2022 a 2024) e colaboradora do Jornal São Tomé Online.

 

- Imagem: Divulgação.

 
- Produção: Pepe chaves.
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