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CULTURA

 

 

Arte de rua
Hippies reclamam de abordagem truculenta

Expositores novamente acusam Prefeitura e Polícia Militar por abordagem supostamente abusiva nas imediações da Praça. Rafa Calami, integrante da classe na cidade falou conosco sobre esta última abordagem e a luta pelos direitos dos artesãos de rua em São Tomé das Letras.

 

Da Redação*

Jornal São Tomé Online

29/04/2023

 

Na sexta-feira, 28/04, a diretora de Cultura da Prefeitura de São Tomé das Letras realizou abordagem com a presença da PM junto aos artesãos de rua.

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A noite da sexta-feira, 28/04, foi marcada por uma confusão na Praça da Matriz de São Tomé das Letras-MG. Uma guarnição da Polícia Militar e a chefe do Departamento de Cultura da prefeitura local, Josiane Cardoso, abordou expositores hippies, na chamada “Esquina do Sucesso”, situada em um dos cantos da Praça da Matriz, no início da rua principal.

 

No local os hippies expõem seus trabalhos artesanais em panos abertos nas calçadas. No entanto, a Prefeitura vê contrariedade legal nessas exposições artesanais e assim, tem promovido reiteradamente a retirada dos artistas expositores do local.

 

Em matéria anterior, o Jornal São Tomé Online já havia abordado sobre um manifesto da classe publicado em rede social e assinado por Rafa Calami, integrante do movimento “Malucada de BR” na cidade. Esse manifesto acusa abuso e violência nas abordagens de agentes municipais e da Polícia Militar aos hippies e demais expositores no local chamado de “Esquina do Sucesso”, na região central.

 

Após esta ocorrência, nem a Prefeitura ou a PM se manifestaram publicamente a respeito da abordagem. Alguns dias depois, a Prefeitura divulgou um informe convocando os artesãos de rua a se cadastrarem no Departamento de Cultura. O informe afirmava que todos os trabalhares de rua deveriam se enquadrar na legislação municipal e, caso contrário, seriam retirados pelas forças da Guarda Municipal e Polícia Militar.

 

Policiais militares retiraram os hippies expositores do local chamado e Esquina do Sucesso.

 

Nesta semana, Rafa Calami divulgou nas redes sociais uma circular conclamando artesãos e moradores a se manifestarem contra as medidas da Prefeitura e a forma inadequada de abordagem, no que se refere à arte de rua na cidade. A manifestação será às 10h30 do dia 1º de maio, na Esquina do Sucesso.

 

Contudo, na noite da sexta-feira, 28/04, ocorreu outro incidente entre Prefeitura e hippies expositores. Os artesãos novamente acusam que sofreram abordagem exagerada e agressiva por parte da PM e da chefe do Departamento de Cultura, Josiane Cardoso.

 

O Jornal São Tomé Online falou exclusivamente com Rafa Calami que contou sua versão dessa segunda abordagem, onde a PM usou spray de pimenta contra alguns dos expositores. De acordo com ele, a prefeitura deveria investir no comércio de rua, e não o repreender. Segundo Calami, a manifestação para esta segunda-feira, 1º de maio, está marcada e ocorrerá conforme divulgada anteriormente.

 

A seguir, reproduzimos as falas de Rafa Calami ao Jornal São Tomé Online, sobre as abordagens supostamente abusivas, suas garantias constitucionais e o que espera por parte da Prefeitura, com relação aos artesãos de rua.

 

Confusão na noite de 28/04/2023

 

“Então, o que que aconteceu, vamos lá: desde o início estavam todos os artistas, todos os malucos de BR, artesões da cidade e nômades que vêm para São Tomé desde os anos 70. Ocupando a esquina do Sucesso, que é ali do lado do Caverna. Então estava todo mundo ali, bonitinho, pacífico, sentado, sem uso de drogas e sem venda de drogas. Isso é muito importante frisar, porque a Prefeitura acusa a gente disso, de estar ali vendendo droga. Enfim, fazendo baderna”.

 

Abordagem de Josiane Cardoso e Polícia Militar

 

“E por volta de umas 20h30 chegaram dois camburões de Polícia Militar junto com a Josiane Cardoso, titular do Departamento de Turismo da Prefeitura e os policiais da Polícia Militar, que chegaram agredindo. Já chegaram puxando os artesões do chão, sem falar nada, entende? Aí houve uma revolta dos próprios artesões e dos turistas. Havia um montinho de artesões fazendo o seu grito de guerra. Dizendo que, ‘a arte não é crime’”.

 

Polícia usou spray de pimenta no local

 

“E neste debate junto com os policiais, eles começaram a atirar spray de pimenta nos olhos dos artesões a menos de 30 cm de distância. Um artesão ficou até com problema de vista hoje. Ele foi vítima de uma policial que atirou spray de pimenta no rosto dele, a menos de 30 cm de distância. Depois, ela atirou o spray ali na frente do Caverna, respingando em vários turistas. Foi bem complicado...”.

 

Justificativa e ocupação da via pública

 

“A justificativa deles é que a gente não pode ficar ali na esquina. Só que ali é um espaço ocupado desde a década de 70. Têm fotos das pessoas que ocupavam esse espaço antigamente. Também ficavam na feira, mas em 2007 (se eu não me engano), o IPHAN tombou a praça e a igreja. Então eles retiraram os hippies dali para uma feira, mas a feira não contempla a arte de rua, a arte nômade, que tem o pano no chão. Isso descaracteriza o movimento cultural do artesão de rua, do maluco de BR e dos que não se sentiram contemplados com a feira, já que esta não contempla todo mundo, sendo uma forma de enquadramento e higienização social. Assim, eles vão para as ruas como sempre, desde a década de 70”.

 

A cidade e a tradição da arte de rua

 

“É muito importante lembrar que há uma dívida histórica com a malucada de BR, porquê São Tomé não cresceu em cima de pedra; em cima de exploração de pedras São Tomé, mas cresceu com a chegada dos hippies na década de 70. Por conta da ditadura militar, aqui virou um asilo político para a malucada de cultura nômade. E por ser uma cultura itinerante, São Tomé foi divulgada aos quatro ventos. Então, por isso, se tornou uma cidade turística e famosa principalmente com essa temática alternativa que o município se apropriou dessa cultura”.

 

Descaracterização e repressão

 

“Mas a cidade está se enchendo de várias lojinhas com artesanatos da rua 25 de março (SP) e agora está enxotando os seus artesãos. Isso é muito errado, pois há uma dívida histórica e a gente precisa de políticas públicas urgentes. Políticas inclusivas e não higienistas, antes que a cidade sucumba com um tiro no próprio pé, por conta dessa repressão contra os artistas. Trazemos a movimentação turística para São Tomé, o Ventania também botava seu pano no chão, né? Não estamos falando de droga, mas da cultura da malucada de BR, entende?”.

 

Guias teriam desaconselhado contatos

 

“Importante falar que alguns guias turísticos da cidade têm falando que nós somos drogados, que somos marginais. E eles pedem aos turistas para não falarem com a gente, porque nós seríamos “drogados”. Isso é muito sério, é um crime. O IPHAN está inventariando a malucada de BR nesse processo desde 2007, antes aconteceu com os indígenas, depois com os ciganos e agora é conosco”.

 

Abordagens desproporcionais e violentas

 

“As abordagens da Polícia Militar foram extremamente violentas e arbitrárias. Não existe nenhuma lei que nos proíba de estarmos nas ruas; não somos ambulantes, somos um movimento cultural! Então, ainda não há nenhuma lei que enquadre a gente. Há leis da arte, cultura e expressão de rua que nos contemplam, inclusive, em tratados internacionais da ONU, além da Magna Carta, onde a gente não se enquadra como ambulantes, como um morador de rua que tem mais amparo do que a gente”.  

 

A representatividade da “Esquina do Sucesso”

 

“Por que estamos reivindicando tanto a Esquina do Sucesso? Porque ali já é um espaço frequentado desde a década de 70, sem restrições. A gente tem fotos e registros desse espaço. E ali é um local onde tem a rua principal, então tem música, tem cultura. E a gente não fica ali só trocando nossa arte por um valor monetário, mas também estamos ali trocando saberes. Ali é um espaço onde a vivência e a cultura acontecem. A cultura oral, a cultura manual da arte que é passada de geração em geração, a filigrana, o macramê, que são coisas que já estão aí há muito tempo, nessa passagem de gerações”.

 

“Assassinato cultural”

 

“Então, o que está acontecendo ali é um assassinato cultural. Estão nos mandando para outros cantos, nos enfiando dentro da gruta da praça, estão mandando a gente para a praça do Rosário, para a gente não ser visto. Então, aquele espaço é um espaço onde a gente é visto, os turistas gostam de ver a gente e São Tomé cresceu em cima da cultura hippie”.

 

Abaixo-assinado reivindica espaço público

 

“A gente está fazendo um abaixo-assinado que já está com mais de 300 assinaturas para viabilizar aquele espaço. Para que a gente possa manter a nossa cultura. Por mais que eles tenham que fechar a rua principal, que disponibilizem esse espaço para nós. A gente não vai ficar em lugares onde a gente não é visto, onde não tem iluminação à noite, onde não circulam turistas. Nos colocar em tais situações é higienização social”.

 

Edição do Jornal do Brasil de 1990 mostra hippies vendendo artesanatos na ruas de São Tomé das Letras.

 

Prefeitura não incentiva a arte de rua

 

“Ao invés de massacrar a cultura, a Prefeitura tinha que estar incentivando a arte de rua. Porque a gente já vê que nossas belezas naturais já estão semidestruídas por conta das pedreiras, né? Já não é aquela coisa de antigamente, que o turista vinha e se sentia no paraíso. Então, o mínimo que a Prefeitura pode fazer é incentivar a arte de rua, o turismo, o entretenimento dos turistas dentro da cidade. Principalmente, em época de chuva, de frio, que não tem como ir para cachoeira, entrar nas águas. Era para aquelas ruas estarem cheias de artesãos, cheias de dança, de música, de poesia. Isso é cultura. Isso é uma cultura rica que São Tomé trata de forma errônea”.

 

* Com informações de Rafa Calami e da reportagem.

 

- Imagens: Arquivo Jornal São Tomé Online / Reprodução.

 

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