UFOVIA - ANO 5 

   Via Fanzine   

 

 

 Reflexões

 

 

Distorções:

A Ufologia no centro do picadeiro

Como pessoas do meio ufológico e a mídia têm se aproveitado

da Ufologia para levá-la do ridículo ao sensacional.

Por Rafaela Oliveira*

De Fortaleza-CE

Para UFOVIA

Do Arquivo VF 2008

 

Essa imagem distorcida e grotesca do que é um verdadeiro Ufólogo chega todos os

dias a milhões de telespectadores sentados em seus sofás, enquanto assistem à novela.

 

Gleiser anti-UFOs

 

Ainda hoje me lembro do último episódio da série “Poeira das Estrelas” apresentada pelo astrofísico Marcelo Gleiser, que falava a respeito da possibilidade de vida inteligente fora da Terra. Marcelo Gleiser, com sua voz suave e a pose de quem leva muita cultura e conhecimento nas costas, destruiu tudo o que se referia a Ufologia e a crença de Ufos no geral em menos de cinco minutos. Colocou os ufólogos e testemunhas de avistamentos ufológicos na categoria de “loucos pós-modernos” e absolutamente encerrou o assunto colocando uma pedra esmagadora em cima do fenômeno UFO. E ali, naquele momento, quem poderia dizer que ele estava errado? Nem o famoso programa do qual estava sendo exibida a série “Poeira das Estrelas” se interessou em dar um contraponto ao assunto abordado. Seria mesmo a Ufologia coisa de “louco pós-moderno”? Naquele momento era sim, a mais pura verdade, por que simplesmente não houve nenhuma voz que pudesse se levantar em meio à multidão e dizer a Marcelo Gleiser que ele estava errado.

 

Quem somos nós afinal? O que fazemos e o que queremos pesquisando e estudando essa coisa chamada Ufologia? Estaríamos dispostos a lutar em nome dela? Estaríamos dispostos a defendê-la? Se não, afinal, por que estamos nisso então? São com essas cinco perguntas que início este artigo.

 

Ufologia e mídia são dois ingredientes que juntos formam uma bomba que, quando explode, causa bastante estrago e as vítimas não são, obviamente, nunca são as grandes emissoras ou programas de televisão. Durante toda a sua história, a pesquisa de UFOs e seus estudiosos foram exaustivamente explorados, suas informações manipuladas, sua imagem ridicularizada e usada da maneira mais vil e deplorável dentro do sensacionalismo midiático, claro que não podemos generalizar, mas, trato aqui da maioria dos casos.

 

O ano de 2008 tem sido uma verdadeira bomba quando o assunto é ufologia na mídia. A exploração descarada do tema OVNI/UFO tem sido, a meu ver, de um terrível e extremo mau gosto. Mas, há também pessoas da própria ufologia que delatam abusos e insanidades praticadas por pessoas do próprio meio. Pensando nisso, o portal UFOVIA, especializado em Ufologia e outros assuntos, promoveu nesse ano, o Troféu Maionese, onde foram escolhidas três, das grandes gafes da Ufologia em 2008, para que os leitores votem e escolhem a mais contundente do ano.

 

Maionese lunática em ‘A Favorita’

 

A Ufologia entrou como atração principal no grande circo da televisão brasileira já com a exibição da nova novela “A Favorita” da Rede Globo de Televisão. O personagem que o ator José Mayer interpreta, Augusto César (qualquer semelhança com o Vanucci, deve ser coincidência), é aquilo que o autor acredita ser um ufólogo atuante, conforme descrito no próprio site da novela.

 

E como é Augusto César? Ele é um lunático, no mais cruel e pejorativo sentindo da palavra. Transtornado com o abandono da ex-mulher, Diva (Giulia Gam), uma traficante de armas, Augusto César largou a carreira de cantor de Rock e se refugiou em seu próprio mundo particular, um sítio no meio do mato, onde vive como um hippie pós-moderno e com um filho do qual não têm certeza nem da paternidade.

 

Em extremo desespero pelo abandono de seu grande amor, Augusto César criou a ilusão de que Diva foi abduzida por um Disco Voador e que isso faz parte de uma missão interestelar, da qual voltará em breve, mais evoluída espiritualmente, para ele e o filho. Em razão disso ele se tornou um “ufólogo” e passa a caçar discos voadores no céu.

 

Rótulo abusivo

 

Essa imagem distorcida e grotesca do que é um verdadeiro Ufólogo chega todos os dias a milhões de telespectadores sentados em seus sofás, enquanto assistem à novela acima referida. A imagem de um neo-hippie frustrado que perdeu totalmente o contato com a realidade e que se refugia numa fantasia para superar sua perda emocional, é usada para descrever um ufólogo brasileiro da atualidade. Essa figura de forte apelo emocional remete a questões mais profundas sobre o tema aqui abordado. Não se trata apenas do contexto ridículo em que é apresentado o personagem Augusto César, mas de todo o transtorno emocional em que ele vive e que o levou a se refugiar na fantasia de que a esposa fora abduzida e por isso, vir a se tornar um estudioso do assunto (se assim podemos dizer). Esse interesse pelo tema UFO surgiu de um trauma, de uma perda emocional e é na Ufologia (se assim podemos chamar) que ele se refugia. Essa abordagem leva a idéia de que esse interesse por UFOs que alguns têm, vem de algum trauma ou vazio emocional da própria pessoa, quase como um refúgio religioso.

 

Eu pergunto a todos que se consideram ufólogos e que agora lêem essa matéria: essa é a visão do que seja um Ufólogo? É assim que vocês são? Se a resposta for sim, podem parar de ler o resto dessa reflexão, mas se a resposta for não, faço uma outra pergunta: Alguém entre vocês protestou, falou ou mesmo se indignou com a imagem de ufólogo apresentada pelo personagem de José Mayer? Muitos neste momento podem estar dizendo para si mesmos: “Ah, mas não adianta nada reclamar, não vai mudar nada mesmo...” Eu não sei se vai mudar alguma coisa ou não, mas o que eu tenho certeza mesmo é que se ninguém disser nada, ai sim, nada vai mudar mesmo, assim como aquele ditado, que diz: “Quem cala consente”.

 

Essa visão deplorável do personagem Augusto César, de certo modo, já vem refletir o que se vê de rotineiro dentro da Ufologia atual. Enquanto os ufólogos ditos sérios assistem de cabeça baixa todo o circo que se transformou a Ufologia ou olham cheios de ego e orgulho inútil para os seus próprios umbigos, aqueles ditos seguidores da Ufologia “Mística” pipocam na televisão falando teorias mirabolantes sobre contatos diretos com alienígenas; salvação da Humanidade pelos extraterrestres e sobre a Nova Ordem de “paz e amor” que eles iriam instalar na Terra. Esse tipo de situação chega a ser tão comum e tão grave que, recentemente, tivemos a prova de como essa histeria pode se aproximar perigosamente de nós.

 

Mais um ‘contato final’ no ‘ano da maionese’

 

Uma determinada senhora, qual mal conhecemos sua verdadeira identidade e que se auto-intitula “Blosson Goodchild”, que se dizia médium a serviço da Grande Fraternidade Branca espalhou mensagens no site Youtube anunciando a chegada de uma gigantesca nave à Terra, no dia 14 de outubro e que ficaria durante três dias passeando nos céus do planeta para que todos pudessem vê-la, numa espécie de contato oficial. Passou o dia 14/10, passou os três dias que a nave ficaria sobre a Terra e nenhum um sinalzinho de luz no céu. Obviamente que qualquer um com o mínimo bom senso saberia de cara que essa tal profecia da Blossom não passava de mais uma fraude, mas o que se viu foi uma repercussão em todo o país e muitas pessoas realmente ficaram esperando a tal nave aparecer na data marcada. Muitos, deram todo o apoio e crédito ao que chamavam de “abençoada escolhida de Ashtar Sheran”, como essa autora mesmo viu em dezenas de salas de discussão sobre Ufologia nos dias que antecederam o dia 14 de outubro. O assunto ganhou a televisão e o rádio e como não poderia deixar de ser mais uma vez a Ufologia foi vilipendiada, ridicularizada e banalizada, assim como aqueles que a estudam.

 

Claro que um ufólogo com o mínimo de senso e juízo na cabeça sabia que essa “profecia” era mais uma fraude que surgiu para desmoralizar a pesquisa séria do fenômeno UFO frente à opinião pública. Mas, por que deixamos isso acontecer? O que sinto no ar com relação a 14 de outubro foi novamente a falta de motivação e acomodação da maioria dos ufólogos em tomar uma posição firme com relação a esse fato. O máximo que se via era a maioria dos veículos de divulgação ufológica falando do caso como uma notícia rotineira e não se preocuparam em tomar uma posição contra o assunto, como deixar claro que aquela profecia não provinha dos meios ufológicos sérios, mas sim, dos conhecidos e infames “ufolátras” (adoradores de UFOs).

 

Depois de curtir com o mundo inteiro a “canalizadora” revelou que 14 de outubro era o nome de uma banda pop australiana, que lançava um CD nesta data e sua “previsão” fazia parte da festa... Sem dúvida alguma, os sensacionalistas de plantão mereceram este “mico interplanetário”.

 

Ninguém veio demonstrar repúdio e indignação frente a essas atitudes, que vêm descredibilizar ainda mais a tão desmoralizada Ufologia. Essa posição seria de tal importância em um momento como esse, justamente para deixar bem claro para as pessoas em geral o que é real e o que é fantasia dentro da Ufologia. Mas como se viu, essa oportunidade foi perdida e mais uma vez todos caímos na navalha do descrédito por culpa de uns poucos.

 

Servir como piada, ser vítima de chacota e descrédito é algo rotineiro dentro da Ufologia, qual o ufólogo ou mesmo um curioso do assunto que nunca passou por uma situação de zombaria por conta de seu interesse por UFOs? O que cabe a nós diante dessa situação é minimizar ao máximo esse pensamento errôneo da maioria das pessoas de que “Ufologia é coisa de doido” e tentar demonstra o máximo de seriedade e bom senso ao tratar do assunto.

 

Seriedade e bom senso, infelizmente, são duas coisas que estão faltando, mesmo entre os ufólogos que se julgam com uma certa “tradição”.O mais deplorável caso de “seriedade” dentro da Ufologia que aconteceu recentemente, envolve paradoxalmente, um cético em UFOs.

 

Sobrou até para Carl Sagan

 

O astrônomo Carl Sagan, como todos sabem, foi um dos maiores cientistas da atualidade, um homem de inteligência rara. Trabalhou como astrônomo de muito talento e se tornou um dos maiores céticos e defensores do pensamento racional que se conheceu. Foi um dos maiores responsáveis pela popularização da astronomia e da exobiologia (Estudo da vida fora do planeta Terra).

 

Ele também se destacou por obras como “Cosmos”, “Os Dragões do Éden” e por um de seus mais conhecidos e apreciados livros em favor da ciência e da racionalidade “O Mundo Assombrado pelos Demônios”, onde ele, sem maiores rodeios, combate às chamadas crenças infundadas e as pseudociências, entre elas, a Ufologia. A verdade é que todos que conhecem o mínimo sobre Carl Sagan sabem que ele desprezava qualquer assunto ou tema relacionado ao fenômeno UFO e ele sempre deixou muito claro o seu posicionamento quanto a isso.

 

Em meio a um surto “racionalidade” e uma tentativa atrapalhada de dar “seriedade” à pesquisa ufológica, um grupo de ufólogos brasileiros resolveu fundar o “Instituto de Pesquisas Ufológicas Carl Sagan” com a promessa de “uma nova forma de fazer ufologia”.

 

Raramente em toda a minha vida eu vi tamanho absurdo e aberração no meio ufológico. Ainda que a idéia de usar o nome de Sagan no tal Instituto fosse por uma ironia proposital, mesmo assim, não teria qualquer explicação que justificasse tamanha loucura e mau gosto para tal ato. E o que dizer se se tratasse mesmo de uma sincera “homenagem” ao nome do falecido cientista? Ninguém com o juízo perfeito nomearia de “Carl Sagan” a um Instituto de Ufologia. Isso seria de uma irracionalidade tão grande quanto fundar um “Centro Adolf Hitler de Apoio aos Judeus” ou o “Instituto de filosofia Ateísta Bento XVI”.

    

Uma das linhas de defesa usadas por estas pessoas para justificar o nome de Sagan em um Instituto de Ufologia é que ele era próximo de Joseph Allen Hynek, considerado por alguns como o “pai da Ufologia Moderna”, que foi um dos estudiosos do projeto “Blue Book”. O que eles sustentam é que Sagan e Hynek chegaram a investigar alguns casos do “Blue Book” juntos. Sim, mas e daí? Eu pergunto! Tanto Sagan quando Hynek eram astrônomos e mantinham entre si o respeito mútuo que deve existir entre dois cientistas, mesmo que divergissem quanto a suas opiniões. É de conhecimento geral que Carl Sagan realmente investigou alguns casos ufológicos e nunca deu crédito a nenhum deles, segundo suas próprias palavras: Eu participei da comissão do Conselho Consultivo Científico da Força Aérea dos Estados Unidos que investigou o estudo da Força Aérea sobre UFOS (o Bluebook). Mas o que havia nos arquivos não valia grande coisa”.

 

A verdade é que as conseqüências de tamanha irracionalidade não foram poucas e serviu para dar ainda mais descrédito a Ufologia (de novo!). A repercussão de tal iniciativa foi tão grande e tão prejudicial que a própria viúva de Sagan, Ann Druyan, co-autora da maioria de suas obras e que detém os direitos de uso do nome de seu falecido marido, entrou na história. Ela é presidente da Fundação Carl Sagan e da Planetary Socieaty e deixou muito clara sua total indignação pelo uso indiscriminado do nome de seu marido e sua utilização ligada a uma das coisas que ele mais combateu na vida: a Ufologia.

 

Cientistas e céticos soltaram os bichos

 

Céticos e admiradores de Sagan ficaram tão chocados e ultrajados ao ver nome do cientista envolvido com a Ufologia que se manifestaram.  Eles se uniram e fizeram uma verdadeira campanha para por fim à tamanha loucura, Não é mesquinho sugerir que fomos nós, porque a vitória não é de ‘céticos contra ufólogos’. É sim uma vitória preservando o legado tanto pessoal, representado pela família de Sagan, que solicitou o fim deste ultraje, quanto profissional de Carl Edward Sagan. É tudo que nos resta desta figura que iluminou o mundo, e deve continuar a fazê-lo. Vejam o tamanho tapa na cara que a Ufologia levou, pois essa frase cheia de razões foi divulgada pelo site Ceticismo Aberto e dispensa qualquer comentário quanto à essa questão.

Uma união de céticos brasileiros e norte-americanos que se manifestou contrária à “homenagem”, deu resultado, já que os idealizadores do projeto voltaram atrás e decidiram mudar o nome do Instituto para “Galileu Galilei”, cujo domínio é público. “Ann Druyan, viúva e presidente da Fundação Carl Sagan e da Planetary Society, manifestou-se muito feliz com a notícia e agradeceu os esforços de todos que levaram a tal recuo”, informou o Ceticismo Aberto.

 

Essa união que existiu entre os céticos para a retirada do nome de Carl Sagan do instituto de Ufologia serve de exemplo para nós mesmos. Quando há vontade, quando há empenho e quando há trabalho sempre haverá resultados. Serve também para mostrar a todos o tamanho descrédito que passamos (e nesse caso não sem razão), a vergonha e as críticas carniceiras a que fomos submetidos. Por culpa de um ato impensado de uns poucos irracionais, toda a comunidade ufológica paga caro. Sim, por que ainda que fosse apenas os idealizadores deste infame projeto a sofrer as conseqüências e descrédito de seus atos, o pior de tudo é que toda a Ufologia sofreu como isso. Apesar de todas as desavenças e de todo desentendimento que existe no meio ufológico, entre ufólogos e centros de investigação, ainda somos uma comunidade. As atitudes irracionais que podem existir por parte de uns poucos que utilizam o fenômeno UFO de forma imprudente refletem em todos nós, refletem na credibilidade de nosso trabalho e nas pesquisas. Refletem, principalmente, em nós mesmos, como sendo incapazes de ao menos tentar entender o fenômeno UFO, quanto mais tentar explicá-lo ou provar que o mesmo existe dentro de nossa realidade.

 

Em meio a essa tamanha bagunça, a essa total falta de direção em que estamos eu me pergunto se existe algum futuro para a Ufologia? No fim das contas só quem pode responder a essa pergunta são as próprias pessoas que a fazem acontecer. Será que vão decidir acordar e finalmente assumir uma posição para o mundo e principalmente para si mesmos ou se vão deixar que a pesquisa do fenômeno UFO entre ainda mais num descrédito progressivo, infestada por lunáticos, “achistas” e aproveitadores que acabarão por enterrá-la de vez no obscuro mundo dos mitos modernos?

 

Atitudes muito sérias devem ser tomadas se queremos salvar a Ufologia do terrível crepúsculo. Não se dá seriedade à Ufologia ficando calado frente a lunáticos que a exploram em beneficio próprio. Não se dá seriedade à Ufologia assistindo calado à novela das oito, que vem distorcer a imagem do que é ser um ufólogo. Não se dá seriedade à Ufologia colocando nome de cientistas ortodoxos famosos em institutos de pesquisas ufológicas.

 

Dá-se seriedade à Ufologia, quando tomamos uma posição quanto a ela, quando nós mesmos exigimos respeito e seriedade ao combatermos atitudes carniceiras e errôneas que possa vir de outras pessoas. Será dada a devida seriedade à Ufologia, quando pararmos de disputar espaços uns contra os outros e começarmos a nos unir em prol de um bem e de uma vontade maior. Só se dará seriedade a Ufologia, quando nós que a fazemos, formos capazes de olhar para dentro e nos considerarmos dignos de investigar os mistérios do fenômeno UFO e os nossos próprios mistérios pessoais. Só assim, finalmente, poderemos tirá-la do picadeiro e levá-la para um lugar mais nobre, mais iluminado, onde não se escutem mais risadas promovidas por palhaços, mas sim, aplausos do público.

 

* Rafaela Oliveira é pesquisadora do fenômeno UFO, articulista e colaboradora de UFOVIA em Fortaleza/CE.

 

- Imagem: Divulgação.

 

- Produção: Pepe Chaves.  

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