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Especial - Caso Dyátlov

 

Ural do Norte, Rússia: – 54 anos depois:

'Não vá lá': O misterioso perecimento do grupo de Ígor Dyátlov

Esta história misteriosa se passou em 1959, no Ural do Norte, na Rússia. O ocorrido impressionou

as mentes de milhões de pessoas e continua a atormentar pelo seu mistério insolúvel.

 

'O que silencia a Montanha dos Mortos' – Parte 2/4

 

Por Natália Dyakonova*

De Moscou/Rússia

Para Via Fanzine

02/02/2013

  

O Passo Dyátlov.

Leia também:

Nota do editor: 'Não vá lá: a aventura final'

'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de Ígor Dyátlov - Parte 1/4

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'Não vá lá': o misterioso perecimento do grupo de Ígor Dyátlov - Parte 3/4

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Lendo os diários dos turistas... 

 

Os diários encontrados com o grupo foram lidos com atenção e aqui, vamos folheá-los também, caro leitor. Esses registros podem ser usados para restaurar os eventos dos últimos dias naquela trágica caminhada e o estado de espírito do grupo. Como já foi mencionado, o diário geral foi escrito por todos os turistas, no seu respectivo turno.   

 

Os trechos dos diários vão acompanhados de algumas notas nossas, assinaladas em colchetes. 

 

Zina escrevendo o diário.

 

Do diário de Zina Kolmogórova:

 

28.1.59 

 

Há tempo que já é hora de sair, e tanta moleza, tanta moleza. Não entendo como é possível gastar tanto tempo para ficar prontos. 

 

Já andamos os primeiros 30 minutos. É claro que a mochila é um tanto pesada, mas caminhar é possível. O primeiro dia sempre é difícil. Sashka Kolevátov estava provando o seu dispositivo e deixou.

 

A segunda pousada. Caminhar ontem sem mochilas foi muito mais fácil.


Neve, neve, neve, neve, 

Pelas margens dos rios gelados 

Está 

Nevando, nevando.

 

No vale do Lozva.

 

Um breve descanso sobre as mochilas. Os jovens aproveitam-no para fazer fotos;

Zina está escrevendo algo, como de costume.

  

O almoço foi aproximadamente às 4 horas. Depois do jantar, fizemos uma jornada e pousamos. Eu costurava a tenda. Deitamos para dormir. 

 

29.1.59 

 

Yúrka [Yuri Doroshenko] faz aniversário hoje. Caminhamos pelo Lozva primeiro, depois voltamos para o Áuspiya. Os lugares são lindos. 

 

Ao longo do Áuspiya tinham passado os mansi. É visível o traço, os entalhes, também a trilha. As marcas são encontradas com frequência nas trilhas. Eu me pergunto o que eles escrevem? 

 

Os sinais mansi esculpidos nas árvores. Indicam a família que está caçando na área,

que tipo de animal foi morto e que há perigo e é preciso ter cuidado.
 

 

Agora, a pequena trilha gira estritamente para o sul. 

 

Agora, estivemos sentados os três: Rústik [Rustem Slododín], Yúrka e eu. Estamos esperando pelo resto. 

 

Pousamos para o pernoite perto da pista de esqui. Yúrka e eu serramos a lenha. 

 

30.1.59 

 

Nós vamos pelo Áuspiya, aiserm [expressão mansi que significa “faz frio”; os turistas aprenderam algumas palavras mansi com os moradores da vila 41o Kvartal, no início da caminhada]. A pequena trilha mansi terminou. 

 

Floresta de coníferas. De manhã, estava um solzinho, mas agora, aiserm. Nós caminhamos o dia inteiro pelo Áuspiya. Pousamos para o pernoite na pequena trilha mansi. Hoje, não conseguimos obrigar Kólya [Nikolai Thibeaux-Brignoles] a ficar de plantão, por isso, estivemos de plantão Rústik e eu.

 

Thibeaux, Zolotaryov, Slobodín e Dubínina.

 

Queimamos as luvas e a segunda jaqueta acolchoada de Yúrka. 

 

Ele está praguejando todo o tempo. 

 

 O humor sempre ajuda: Yuri Doroshenko posando com a camisa acolchoada queimada.

 

Hoje provavelmente vamos construir um labáz [termo russo para armazém temporário para acondicionamento de mantimentos]. 

 

(Esta é a última das entradas no diário de Zina).

 

Trechos do diário geral 

 

28 de janeiro. 

 

Pela manhã, todos foram acordados com o ruído monótono das vozes de Yúrka Kri [Gueorgui Krivoníschenko; no idioma russo, os nomes ‘Yuri’ e ‘Gueorgi’ são consideradas variantes do mesmo nome, dali o mesmo apelido dos dois rapazes do grupo, Yuri Doroshenko e Gueorgui Krivoníschenko] e Sashka Kolevátov. O tempo ainda nos está sorrindo, pois fazem -8 graus. 

 

Saímos às 11:45. Caminhamos pelo rio Lozva acima. Cada um está abrindo a trilha por 10 minutos. A profundidade da neve este ano é muito menor do que no ano passado. Muitas vezes temos que parar e raspar a neve molhada dos esquis, porque ainda se encontra alguns lugares descongelados.

 


Semyon Zolotaryov limpando os esquis da neve molhada.

 

As margens do rio na área de Vtoróy Séverniy são rochosas, especialmente, a margem direita, depois, as rochas (estratificadas, de calcário) são encontradas apenas em alguns lugares, tornando-se finalmente inclinadas as margens, sendo cobertas totalmente pela floresta. 

 

Margens rochosas do rio Lozva

 

Pousamos às 5:30 na margem do Lozva. 

 

Hoje foi a nossa primeira noite na tenda. Os rapazes estão ocupados com o fogão e pregando a cortina a partir do lençol. Fazendo algumas coisas, sem fazer outras, nós sentamos para jantar. 

  

Dubínina, Krivoníshenko, Thibeaux e Slobodín: ótimo humor, apesar do cansaço.

 

 

Dubínina, Slobodín, Thibeaux e Kolmogórova 


Depois do jantar, permanecemos sentados ao redor do fogo por um longo tempo, cantando canções de alma. Zina até está tentando aprender a tocar o bandolim sob direção de Rústik, nosso músico principal. Depois, uma e outra vez é renovada a discussão, sendo que todas as nossas discussões durante esse tempo eram principalmente sobre o amor. Alguém tem a idéia de taquigrafar todos os nossos pareceres, ou redigir um caderno especial a esse respeito. Fartando-se de conversar, nós duas, juntamente, arrastamo-nos para dentro da tenda. O fogão pendurado irradia calor e divide a tenda em dois compartimentos. No compartimento do fundo, nos acomodamos Zina e eu. Ninguém quer dormir ao lado do fogão, e decidimos colocar lá, Yúrka Kri (do outro lado, se acomodou Sasha Kolevátov). Yúrka, após permanecer deitado por um ou dois minutos, não suporta, passando para o segundo compartimento... Depois disso não conseguíamos dormir ainda por muito tempo, sempre discutindo sobre algo, mas, finalmente, tudo ficou quieto. 

 

Lyuda Dubínina 

 

29.1.59 

 

É o segundo dia que estamos esquiando. Caminhamos a partir da pousada no Lozva até a pousada no rio Áuspiya. Andamos ao longo da trilha mansi. O tempo está bom: 13 graus centígrados negativos. Vento fraco. No Lozva, com frequência encontramos as náleds [náled: termo de origem russa para os maciços de gelo, dispostos em camadas sobre a superfície do solo, gelo ou estruturas de engenharia. Tais maciços são formados a partir do congelamento das águas naturais ou artificiais, derramadas ou precipitadas periodicamente].

 

É tudo.


Kólya Thibeaux

 

Zina reparte açúcar durante uma breve pousada:

os hidratos de carbono ajudam a repor a energia.

  

30 de janeiro de 1959 

 

O diário é escrito durante o caminho, no frio, em movimento. 

 

Hoje é a terceira pousada fria [pousada sem acender o fogão] na margem do Áuspiya. Começamos a nos habituar. O fogão é a grande coisa. A cortina: os lençois pendurados mostram-se plenamente justificados. O despertar é às 8:30. Após o pequeno-almoço, seguiremos pelo rio Áuspiya, mas, novamente, essas náleds nos impedem de avançar. Fomos ao longo da margem, seguindo a pista do trenó de renas. No meio do caminho, encontramos o acampamento mansi. Sim, mansi, mansi, mansi. A palavra está surgindo cada vez mais em nossa conversa. Os mansi são um povo do norte. A r. n. de Khantia-Mansia [aparentemente, a abreviação empregada por Zina é a de região nacional’, mas a denominação correta na época seria o ‘distrito nacional’ de Khantia-Mansia], pertencente à esta pequena nacionalidade, com o centro em Salekhard, tem uma população de 8.000 pessoas. São um povo muito interessante e original, que habita o Ural do Norte Polar, perto da Óblast de Tyumen. Eles têm sua escrita, sua linguagem e, como algo peculiar, os entalhes nas florestas e os sinais especiais, representando um interesse particular. 

 

Krivoníshenko olhando para os sinais mansi.

 

(Não aparece a assinatura debaixo dessa entrada, mas foi Zina Kolmogórova que, às vezes, escrevia em movimento). 

 

30.01.59 

 

Tempo: a temperatura na manhã é de -17

No dia: -13 C

Na noite: -26 C. 

 

Forte vento sudoeste, está nevando, as nuvens são espessas, há uma drástica diferença de temperatura. Esta é característica do Ural do Norte. 

 

Este é um relato peculiar da floresta. Esses sinais [mansi] falam sobre os animais avistados, os acampamentos e indícios diversos e, lê-los, ou decifrá-los, seria de especial interesse para os turistas, bem como para os historiadores. 

 

A trilha dos cervos terminou, começando a trilha aberta, mas, depois acabou também. Caminhamos pela camada da neve virgem, foi muito difícil, com a neve de 120 cm de profundidade. A floresta gradualmente está se rareando, há sensação de altura, começaram aparecer as bétulas e os pinhos, anões e feios.

 

Zolotaryov, Doroshenko e Dyátlov: pode-se notar pelos

semblantes que os esquiadores estão muito cansados.

 

É impossível caminhar pelo rio: não se congelou, havendo debaixo da neve, água e náled. Novamente caminhamos pela margem, aqui mesmo, na pista de esqui. A tarde está terminando, é necessário procurar um lugar para bivaque. Eis aqui a parada para o pernoite. Há um forte vento oeste, está fazendo cair a neve do cedro e dos pinheiros, dando a impressão de uma nevada.   

 

Como sempre, fazemos rapidamente a fogueira e instalamos a tenda sobre os ramos de coníferas. Aquecemos um pouco perto da fogueira e fomos dormir. 

 

(Sem assinatura) 

 

Preparações para o pernoite: Kolmogórova (inclinada),

Zolotaryov, Dubínina e Kolevátov.

 

31 de janeiro de 1959 

 

Hoje, o tempo está um pouco pior: há vento (oeste) e neve (ao que parece, caindo dos abetos), ainda que o céu esteja perfeitamente claro. 

 

Saímos relativamente cedo (cerca de 10:00). Caminhamos pela pista de esqui, aberta pelos mansi. (Até agora, temos seguido a trilha mansi, pela qual, não há muito tempo, passou um caçador montando os cervos). 

 

Ontem, aparentemente, encontramos o lugar do pernoite dele, os cervos não tinham ido mais longe, o próprio caçador não seguiu os entalhes da trilha velha, e sobre o seu rastro nós vamos caminhando agora. 

 

Hoje, o pernoite foi surpreendentemente bom, quente e seco, apesar da baixa temperatura (de -18 C a -24 C).  

 

O fogão na tenda. O fogão da caminhada foi construído pelo próprio Ígor Dyátlov.

 

Hoje, caminhar é particularmente difícil. O rastro não é visível, com frequência estamos perdendo-o, ou andamos às apalpadelas. Desse modo, fazemos 1,5-2 km por hora. 

 

Os membros do grupo tinham que abrir a pista de esqui cada um por turno.

 

Estamos desenvolvendo novos métodos de uma caminhada mais produtiva. O primeiro atira a mochila e caminha por 5 minutos, depois volta, descansa por 10-15 minutos, depois, alcança o resto do grupo. Assim nasceu o método da abertura ininterrupta da pista de esqui. A parte mais dura toca ao segundo, que vá carregando a mochila pela pista de esqui, aberta pelo primeiro. Pouco a pouco, estamo-nos afastando do Áuspiya, a subida é contínua, mas bastante suave. Eis aqui onde terminaram os abetos e apareceram umas ralas bétulas. Chegamos ao limite da floresta. O vento é oeste, quente, penetrante, a velocidade dele é semelhante à do ar durante a ascensão do avião. Nast [termo russo para a crosta firme de neve gelada, que forma-se após um breve degelo], lugares escalvados. Nem sequer há que pensar em montar um labáz. 

 

O mau tempo não permitiu montar o labáz.

 

São cerca de 4 horas. Devemos escolher o lugar de pernoite. Descemos para o sul, ao vale do Áuspiya. Esse é, aparentemente, o lugar de maior nevada. 

 

O pernoite no vale do Áuspiya em 31 de janeiro.

 

Vento leve pela neve de 1,2-2m de espessura. Cansados, exaustos, começamos a montar a pousada. A lenha é escassa. Os abetos são estiolados e úmidos. Fizemos a fogueira nos troncos, não tivemos vontade de cavar um buraco. Jantamos direitamente na tenda. Faz calor. É difícil imaginar um conforto semelhante em algum lugar da serra, com um vento penetrante uivando, a centenas de quilômetros dos povoados. 

 

Dyátlov 

Aqui cessam as entradas no diário geral do grupo de Dyátlov.  

 

O que aconteceu depois? 

 

Pelas entradas nos diários vê-se que os esquiadores não se moviam o suficientemente rápido conforme o planejado. Aparentemente, a terceira categoria de dificuldade estava começando a ser sentida. Segundo lembra Yuri Yúdin, que passou o trecho inicial da viagem com o grupo, “os esquis se afundavam, havia uma náled incrivelmente difícil, uma vez a cada 5 minutos (...) em cada esqui, havia meio metro da neve molhada, e foi necessário limpá-lo. E a rota foi planejada pelos rios, porque ir atravessando a taiga sem a trilha era, todavia, mais difícil, através da neve chegando até o peito (...). Portanto, Ígor compreendeu a complexidade dessa situação, e ele me disse para que comunicasse no instituto, que eles demorariam por dois ou três dias”

 

Caminhar é difícil. O grupo vê-se obrigado a descansar com frequência.

 

Eles caminhavam lentamente, ora sobre a náled, ora sobre a neve virgem, na qual precisavam abrir a pista de esqui. Com frequência, descansavam sobre as mochilas ou simplesmente apoiando-se sobre as varetas do esqui. Os turistas se cansavam, mesmo saindo, às vezes, às 10 horas da manhã, perdendo assim, duas horas da claridade do dia, tão valiosa nessa temporada do ano e reduzindo o dia de caminhada em até 6 ou 7 horas. Como resultado, em 31 de janeiro, eles gastaram metade do tempo previsto, mas romperam apenas um pouco mais de um terço da rota planejada. Evidentemente, havia um significativo atraso no horário inicialmente previsto por eles. 

 

Nas paragens ermas do Ural do Norte.

 

Fragmento do depoimento de Gueorgui Atmanaki, membro da equipe de resgate: “encontramos os acampamentos do grupo, aparentemente, eles estavam muito exaustos, porque nós estávamos fazendo regularmente, duas ou mesmo três jornadas deles”

 

Por volta das 16 horas do dia 31 de janeiro, chegaram à beira da floresta, debaixo do passo, que mais tarde receberia o nome de Dyátlov. Ventos fortes sopravam das montanhas. O lugar estava completamente aberto, e eles precisavam de árvores para instalar um labáz. Por isso, decidiram descer ainda mais abaixo, para o vale do Áuspiya, onde havia árvores normais e lenha para o acampamento. Lá, eles pernoitaram, na esperança de construir um labáz na manhã e depois, sair para o Otortén. 


As entradas no diário foram feitas regularmente, como regra geral, após o jantar, ainda que Zina também escrevesse em movimento. Mas o dia 1º de fevereiro nenhuma entrada foi registrada, nem no diário geral do grupo, nem nos diários pessoais. 

 

O que é que se sabe sobre as ações dos dyátlovtsy durante esse dia? 

 

Em 1º de fevereiro, Krivoníschenko marcou nos croquis a localização do labáz (o croqui é uma espécie do “esqueleto de mapa”, que se faz transferindo do mapa para o papel os objetos mais importantes: caminhos, povoados, rios e certos pontos importantes do trecho desejado do percurso). Foram precisamente as suas marcas que ajudaram a equipe de resgate a encontrar o labáz e o lugar do penúltimo pernoite dos dyátlovtsy

 

Comparando a rota normal para o Otortén com a rota do grupo de Dyátlov, após a subida ao passo e a partir do vale do Áuspiya, a investigação considerou que, nas condições de tempo mau, o grupo poderia ter ido erroneamente a 500-600 metros à esquerda, encontrando-se, deste modo, nas encostas do Kholat Syakhyl. O que havia de fazer em tais circunstâncias? Por um lado, a direção era imprecisa. Por outro lado, eles já tinham passado uma parte do caminho, cerca de dois quilômetros, e tinham pena de voltar para o vale: caminhar era difícil, com a neve, muito frio e vento, além disso, eles estavam atrasados por um dia no seu horário. Foi por isso que instalaram a tenda nas encostas da montanha. 

 

No entanto, este parecer não foi aceito por Serguei Sógrin e Moisei Akselrod, turistas muito experientes do Instituto Politécnico de Ural (UPI), que tinham participado das operações de busca. 

 

Fragmento do depoimento de Moisei Akselrod: 

 

1º de fevereiro. O grupo se levantou tarde. Tarde, porque no dia anterior, de acordo com o diário, o grupo tinha estado muito cansado, como também porque na manhã, ou ainda tarde na noite, depois de ter sido escrito o diário, tinham decidido fazer um labáz, com o fim de deixar livres os ombros, fatigados com a caminhada anterior, durante pelo menos três dias, como também aumentar a velocidade do movimento. De manhã, o grupo se levantou às 11 e começou a montar o labáz. Enquanto estavam fazendo o labáz, considerando o que levariam consigo e o que deixariam (na véspera, eles não tinham feito isso, pois o arranjo do labáz ainda era discutido), estava pronto o pequeno-almoço. Foi cerca das 2 horas. E eu acho que o grupo teria saído, mais cedo, às 2:30, propondo resolver uma das duas tarefas. 

 

1) Passar de uma floresta para a outra, do vale do Áuspiya para o vale do Lozva; ou, 

 
2) dado o fato de que, durante vários dias o grupo tinha estado caminhando por uma neve excepcionalmente profunda, sobre a qual, o movimento resulta ser extremamente fatigante, considerando que o grupo tinha descansado bem nesta parada semidiurna e comido tarde, — considerando tudo isso, optariam por avançar o mais longe possível pela borda da floresta, sem entrar nela (por razão da neve profunda), na direção do Otortén, a fim de se encontrar já com certeza perto do próprio Otortén na noite seguinte. O grupo com mochilas leves sai para a rota; mas a hora relativamente tardia, cerca das 5 horas, uma visibilidade má, ou, mais certamente, a falta da visibilidade, faz com que o grupo pare, a fim de pernoitar fora da floresta. Isto não é excluído por nenhuma das opções oferecidas aqui. Foi realmente justificada a decisão de passar a noite sobre a terra nua (eu evito premeditadamente a palavra ‘encosta’, pois acho que a encosta como tal não desempenhou nenhum papel no seu perecimento)? Na minha opinião, sim. Por quê? No ano passado, no Ural Polar, tivemos quatro pernoites assim. Todos passaram em condições tais, quando as razões de segurança do grupo ditavam a necessidade de ficar onde há espaço para instalar a tenda, enquanto, todavia, há tempo claro. Isso ocorreu durante frios consideráveis (-25, -30C), e não houve razões para reconhecer tal decisão como taticamente errada. Assim, Dyátlov tinha precedentes, e ele parou para a noite, sem se acovardar, sem se submeter cegamente às forças da natureza...” 

Fragmento do depoimento de Serguei Sógrin:

 

"Avistando do topo do passo uma funda descida para o Lozva, Dyátlov decidiu ir pelas alturas, o que é muito mais cômodo do que o movimento pela neve profunda, no fundo do vale, a partir do qual nada pode ser avistado. Portanto, em 1º de fevereiro, o grupo não chegou a descer do passo para abaixo, mas seguiu avante pela encosta em direção ao Otortén. À noite, na encosta da elevação ‘1079’, foi instalada a tenda”.


Nas últimas fotos dos turistas, de fato, pode-se ver que naquele dia o tempo não era favorável a eles: havia uma nevada espessa e ventos fortes, quando eles aparecem pela primeira vez usando máscaras de esqui cobrindo o rosto.

 

Foto da última jornada do grupo, 1º de fevereiro. Vento e neve.

 

A última jornada, num momento de muito má visibilidade.

 

Decidiram então parar para descansar, tendo passado apenas cerca de dois quilômetros do acampamento anterior. A encosta era declive, a inclinação, seguramente, menor que 20 graus. Cavaram um buraco na neve profunda, colocaram os esquis pranchas para cima, instalando a tenda sobre estas. Segundo conclusão da investigação, fundando-se na opinião dos especialistas, a tenda foi instalada de acordo com todas as regras turísticas e montanhistas, fornecendo ao grupo uma pousada tranquila. 

 

Na encosta do Kholat Syakhyl: a última instalação da tenda.

 

Pode-se notar que Ígor Dyátlov está aflito: novamente,

o grupo tem um atraso no seu plano de horário.

 

Parece que Dyátlov teria decidido antecipadamente que seria possível fazer uma pousada fria, uma vez que eles iriam caminhar apenas a metade do dia, depois de um almoço quente. O jantar mesmo se planejava frio. Levaram consigo um pouco de lenha para preparar o pequeno-almoço; no entanto, o fogão na tenda foi encontrado desmontado e colocado na cobertura.

 

A investigação encontrou na parede interna da tenda uma folha de papel, pregada com um alfinete, com uma ‘publicação’ gracejadora do jornal estudantil “Otortén Vespertino”, datado de 1 de fevereiro. Yuri Yúdin explica assim o título desse mini-jornal humorístico: “Em Sverdlovsk, pouco antes da nossa caminhada, começou a se publicar o jornal ‘Sverdlovsk Vespertino’, cujas matérias muitas vezes se assemelhavam à imprensa amarela. Para aquele período, era um jornal livre, e gozava de popularidade. Todos os estudantes, independentemente das suas opiniões políticas ou, por dizer, da sua atitude para com o partido e o governo, liam esse jornal, e foi por isso que os companheiros puseram associativamente como título desse papel, o ‘Otortén Vespertino’”.

 

Os turistas parodiaram as colunas tradicionais do jornal, ficando o conteúdo da seguinte maneira:

 

OTORTÉN VESPERTINO” № I

1 de fevereiro de 1959

 

Editorial: Celebremos o XXIo Congresso com o aumento da natalidade turística!

 

Ciência: Ultimamente, na comunidade científica continua o animado debate sobre a existência do Abominável Homem das Neves. Segundo os dados mais recentes, os Abomináveis Homens das Neves habitam no Ural do Norte, na área do Monte Otortén.

 

Seminário Filosófico: “O Amor e o Turismo" — é realizado diariamente na sede da tenda (corpo principal). As conferências são feitas pelo Dr. Thibeaux e a Candidata a Dra. em Ciências de Amor Dubínina.

 

Adivinhação armênia: É possível aquecer os nove turistas com um fogão e um cobertor?

 

Notícias de Tecnologia: Trenó turístico. Bom para ir de trem, de carro e a cavalo. Não é recomendado para transportar cargas pela neve. Para as consultas, favor se dirigir ao construtor-chefe camarada Kolevátov.

 

Esportes: A equipe de radiotécnicos composta pelos camaradas Doroshenko e Kolmogórova define um novo recorde mundial na competição para a montagem do fogão — 1 hora 02 min. 27,4 seg.

 

Órgão editorial da organização sindical “Khibina”.

 

Quanto à “adivinhação armênia”: na época, circulavam numerosas piadas satíricas muito populares, em vários tópicos, incluindo os políticos, sobre a “rádio armênia”, no estilo “a rádio armênia pergunta...”, “a rádio armênia responde...”.

 

Todo o comportamento dos turistas aponta que eles não observaram nada de anormal ou alarmante, no grupo prevalecia uma calma absoluta. A tenda foi instalada como de costume; não se preocupavam com o tempo, nem esperavam visitas desagradáveis, nem montaram patrulhas, mas em vez disso, escreveram um jornal alegre e trocaram de roupa (ou ainda estavam se trocando). Durante a jornada, os esquiadores vestem-se com trajes leves, mas antes de dormir trocam obrigatoriamente a roupa, vestindo-se o mais calorosamente possível e calçando os seus pés nos válenqui (botas altas de feltro) ou búrqui (botas de lã feltrada).


A julgar pelo fato de que na tenda foram cortados pedaços de bacon, encontrando-se ao lado deles a faca pertencente ao grupo, como também várias peles de bacon (as quais necessariamente teriam sido removidas da tenda após a refeição e antes de dormir); havendo também cacau em cantil e restos de mingau de aveia (provavelmente, cozido ainda durante o almoço), pode-se deduzir que os turistas estavam se preparando para o jantar. Então, precisamente aí “o momento X” chegou para eles.

 

No mapa, estão marcados: o último acampamento do grupo de Dyátlov, com o labáz, em 31 de janeiro;

o caminho do lugar do último acampamento para o monte Kholat Syakhyl; a tenda e as pegadas mostrando a fuga

a partir da tenda até o cedro. A linha rosa pontilhada mostra o passo que a partir de então leva o nome de Dyátlov.

 

Fragmento do depoimento de Vladislav Karélin, graduado do UPI, turista, participante das operações de busca:

 

Armando a tenda, o grupo começou a se alojar para o pernoite e preparar uma ceia fria. Neste momento, foram assustados por alguma coisa, e correram para fora da tenda descalços. As pessoas, como aquelas que estavam no grupo de Dyátlov, só poderiam se assustar com um fenômeno fora do comum. Um assobio do vento, um barulho, um fenômeno celeste, mesmo um tiro único não poderiam assustá-los. (...). Falando em geral, o grupo de Dyátlov só poderia se assustar com um grupo de gente armada de pelo menos 10 pessoas, mas no lugar do acidente não foi detectada qualquer evidência da presença de estranhos”.

 

Achados espantosos

 

Na manhã de 27 de fevereiro, os estudantes Mikhail Sharávin e Evgueni Koptiélov, do grupo de Boris Slobtsov, partiram pela encosta da montanha para baixo, seguindo a cadeia das pegadas. Logo que, após uns 500 metros, as pegadas desapareceram, eles olharam em redor de si. À frente, para baixo, se encontrava a borda da floresta. Não muito longe dela, havia um vigoroso cedro, que estava alinhado com as pegadas. Obedecendo a sua intuição, os rapazes seguiram nesta direção. Abaixo, viram novamente a cadeia das pegadas, sendo que estas, de fato, iam na direção do cedro. Depois de descer a encosta, os buscadores toparam com uma pequena saliência, da altura de uns 5 ou 7 metros, subiram-na e acercaram-se para o cedro, contornado-o da parte esquerda. Foi aqui onde lhes esperava o choque: em frente deles, havia dois corpos polvilhados de neve, perto do rasto de uma fogueira.

 

Dois corpos debaixo do cedro.

 

Quando a neve foi removida, verificou-se que sob o cedro encontraram o seu terrível fim, Yuri Doroshenko e Gueorgui Krivoníschenko. Além do mais, Gueorgui não foi reconhecido imediatamente como tal, sendo que foi tomado erroneamente por Zolotaryov: tão drástica foi a mudança causada na aparência dos rapazes. 

 

Os corpos de Yuri Doroshenko e Gueorgui Krivoníshenko.

 

Estranha cor foi notada na tez e as mãos.

 

Ambos vestiam apenas camisas xadrez leves e roupa interior, sem qualquer outra roupa. Não tinham calçado. A tez de ambos estava com um estranho tom de marrom, as mãos pareciam queimadas... Nenhum dos dois estava na posição de quem tem morte por congelamento. O homem congelado, que está sucumbindo ao frio, sempre assume a forma de uma bola ou a “posição fetal”: puxa os joelhos contra o peito, se enrola ao máximo para preservar o que lhe fica de calor interno no corpo. Os dois turistas foram encontrados em poses completamente diferentes: estendidos ao comprido, um deles deitado de costas, o outro, no abdome, como se costuma ficar na areia da praia.

 

Segue o depoimento de Gueorgui Atmanaki, participante das operações de busca (extraído da investigação criminal): 

 

Aproximadamente a dois metros do local do seu perecimento, atrás do cedro, se conservaram os traços da fogueira, bastante grande, a julgar pelo fato de que as brasas remanescentes, com um diâmetro de 80 milímetros, se tinham queimado até o ponto de serem partidas em metade. Tudo estava polvilhado de neve, mas debaixo do cedro foi achada uma camisa cowboy, não se sabe de quem, um lenço, algumas meias, um punho de casaco ou suéter e mais algumas coisas pequenas. Um pouco mais perto do cedro, foram apanhados oito rublos de dinheiro, em notas de 3 e 5 rublos.

 

Aproximadamente a 20 metros ao redor do cedro, se conservaram vestígios de que, alguém que estava presente perto do cedro tinha estado cortando ramos de abetos novos com uma faca. Se conservaram cerca de 20 cortes desse tipo, ainda que não achamos os troncos próprios, exceto um. É impossível sugerir que esses cortes foram utilizados para o aquecimento, uma vez que eles, em primeiro lugar, não queimam devidamente e, além disso, havia uma quantidade relativamente grande de material seco ao redor. Além do mais, não houve necessidade de cortar ou rachar, como todos esses rebentos novos quebravam-se facilmente, mesmo com um pequeno esforço. Você pode pensar que esse trabalho foi feito pelas pessoas, que ora estavam muito enfraquecidas, ora tinham a mente nublada.

 

O cedro. Nota-se abaixo os ramos e raminhos quebrados.

A direita, o lugar da fogueira.

 

No próprio cedro, conservaram-se traços de quebras frescas. Foi quebrada a maioria dos ramos secos na altura de até 5 metros. Além disso, o lado do cedro voltado para a encosta, na qual estava a tenda, foi limpa de ramos na altura de 4 ou 5 metros. Esses ramos úmidos não foram utilizados, uma parte deles estava atirada no chão, e a outra parte estava pendurada nos galhos mais baixos do cedro. Parecia que as pessoas tinham feito algo como uma janela, para que fosse possível avistar de cima aquela direção a partir do cedro, donde eles vieram e onde se encontrava a sua tenda.

 

A quantidade de trabalho feito perto do cedro, mesmo como a presença de muitas coisas que, evidentemente, não poderiam pertencer aos dois camaradas encontrados, indica que perto da fogueira se reuniu grande parte, se não todo o grupo (...)”. 

 

No mesmo dia, a 300 metros no caminho do cedro na direção da tenda, debaixo de uma bétula anã, foi encontrado o terceiro corpo, coberto de neve apenas parcialmente.

 

Perto de uma bétula anã, um corpo quase coberto de neve.

 

Esse corpo era o de Ígor Dyatlov, com a cabeça descoberta, estava descalço, vestindo um colete de pele, desabotoado no peito. Sua postura também não estava consonante com a posição de uma pessoa congelada. As mãos, levantadas para o peito, pareciam estar tentando abrir as roupas, como se ele estivesse ofegando. No seu pé direito, estavam postas duas meias, uma de algodão, e a outra, de lã, no pé esquerdo, apenas a meia de algodão. O relógio quebrado na sua mão mostrava a hora, 5:31.

 

O corpo de Ígor Dyátlov.


A exploração na encosta continuou. Após algum tempo, Alma, o cão de busca e serviço, encontrou o quarto corpo debaixo de uma camada de meio metro da neve espessa. Era o corpo de Zina. Os corpos de Dyátlov e da jovem estavam separados por uma distância de aproximadamente 330 metros. 

 

O corpo de Zina Kolmogórova.


Zina estava rígida em uma pose dinâmica, era evidente que ela esteve se arrastando para a tenda. Estava bem vestida: em cima da roupa interior, usava uma camiseta com mangas compridas, uma blusa de vicunha (tecido a partir de algodão e lã) vestida ao avesso, uma camisa cowboy, sobre a qual tinha posto um suéter azul com o punho da manga direita arrancado. A parte inferior do corpo também foi protegida por várias camadas de roupa: leggings de lã, calças esportivas de algodão e calças de esqui. Os seus pés estavam vestidos por três pares de meias, mas não estava calçada. Na neve, perto do seu rosto, havia manchas de sangue, por causa de epistaxe.

 

No mesmo dia, a tenda de Dyátlov foi cuidadosamente examinada e lavrado um inventário de tudo o que lá foi encontrado. O exame confirmou que na tenda se encontravam quase todos os pertences pessoais do grupo, como também os equipamentos públicos.

 

Trecho do depoimento de Evgueni Máslennikov, expert em turismo, segundo encarregado das operações de busca:

 

A tenda fica a 150 metros da crista do contraforte (numa altitude de 900 m) da elevação ‘1079’. A tenda foi esticada por sobre os esquis e varetas cravadas na neve, sua entrada voltada para o lado sul, sendo as extensões laterais desse lado intactas. No entanto, as extensões laterais do lado norte foram arrancadas, ficando, portanto, toda a outra metade da tenda atulhada de neve. A neve era pouca, apenas aquilo que deixaram cair as nevascas durante o mês de fevereiro. Encontramos na tenda: um machado de gelo, um par de esquis de reserva; diretamente a 10-15 m da tenda, estavam atirados os chinelos, as meias e o casaco de pele pertencente à Dyátlov. Aqui mesmo estava atirada a jaqueta impermeável. Sobre a tenda, estava colocada uma lanterninha chinesa acesa (mas não emitia luz). Na tenda de Dyátlov, haviam 9 mochilas, 10 pares de esquis, 9 deles debaixo do fundo da tenda, 8 pares de sapatos, 3,5 pares de válenquis (7 peças), uns quantos jaquetões acolchoados e alguns outros pertences”.

 

Trecho do depoimento de Vadim Brusnitsyn, estudante do UPI, participante das operações de busca:

 

Por cima de todas as coisas, estava uma vareta de esqui cortada em vários pedaços. Aparentemente, sobre ela foi fixado o cume norte da tenda. Decidir danificar a vareta, dado o fato de que o grupo não tinha outras de reserva, seria possível apenas em circunstâncias especiais”.

 

Trecho da investigação criminal: 

 

A inspeção da tenda mostrou que foi instalada corretamente e fornecia o devido alojamento para os turistas. Dentro da tenda, estão postos dois cobertores, encontrando-se também as mochilas, jaquetas impermeáveis e calças. Os outros cobertores tinham sido amarrotados e se congelaram. Sobre um dos cobertores, foram encontrados alguns pedaços de pele de bacon.


A disposição e a presença de objetos na tenda (quase todo o calçado, todos os agasalhos, objetos pessoais e diários) testemunhavam que a tenda tinha sido deixada de uma forma repentina, por todos os turistas simultaneamente, sendo que, como foi estabelecido posteriormente pela perícia forense, o sotavento da tenda, para onde os turistas tinham colocadas as cabeças, foi cortado a partir do interior em dois lugares, nos trechos que permitem a livre saída de uma pessoa através dessas incisões.


Nem na tenda, nem perto dela foram encontrados sinais da luta ou da presença de outras pessoas”.

 

Em 28 de fevereiro, Vassili Tempálov, promotor de Ivdel, iniciou uma investigação preliminar pelo fato do perecimento dos turistas do grupo de Dyátlov.

 

O dossiê da investigação criminal sobre o fato de perecimento de turistas.

 

Por esse tempo, a história dos turistas desaparecidos gerou interesse em Moscou, quando o próprio Nikita Khrushchev, líder soviético, enviou a seguinte instrução: “Encontrá-los a qualquer custo”.

 

Desta maneira, o controle sobre as buscas dos perecidos foi assumido pelos comitês regional e municipal do Partido Comunista.

 

Radiograma:

 

Ao camarada Máslennikov.

 

Após receber a sua mensagem telefônica, a direção do comitê regional do partido adotou a seguinte resolução.

 

Primeiro: continuar as buscas dos camaradas perecidos e encontrá-los, sem importar os esforços que isso custar.

 

Segundo: substituir os camaradas cansados, em especial, os do grupo de Slobtsov. O gorkom [comité municipal do partido] toma medidas para substituir o grupo do mansi Kúrikov. O radioperador deve ficar com vocês.

 

Anunciamos o plano de ação. Caso haja tempo adequado, para vocês serão enviados dois helicópteros. Estes trarão de 12 a 15 soldados de Busygin, armados com sondas. Caso seja possível, no segundo voo serão enviados os sapadores com detectores de minas. Vocês deverão enviar os cadáveres e 5 ou 6 camaradas cansados”.

 

A tenda com as coisas nela encontradas foi levada para Ivdel para a identificação, e os corpos de turistas, para efetuar a autópsia. Alguns dos estudantes que participaram das buscas retornaram para as suas casas em 3 de março. Os rapazes estavam cansados, encontrando-se alguns deles até em um profundo estado de estresse pela trágica morte dos companheiros e os achados espantosos...

 

Em 2 de março, encontraram o labáz de Dyátlov, que se localizava quase ao lado do campo da equipe de resgate.

 

A equipe de busca encontra o labáz do grupo de Dyátlov.

 

Radiograma de Evgueni Máslennikov para Sverdlovsk: 

 

"03.03, 18:30


“As buscas no vale do Lozva falharam hoje. 22 homens foram até o passo, tendo que voltar por causa da nevasca, nenhuma visibilidade. Em vez disso, coletamos a lenha e fortalecemos o acampamento, preparando-o para a chegada do reforço.

 

O grupo de busca de Slobtsov e Kúrikov encontrou a 400 metros da nossa tenda pelo Áuspiya acima, o labáz de Dyátlov. Neste, foram achados víveres de 19 gêneros, de 55 quilogramas de peso, como também a botica de reposição, botas quentes de Dyátlov, um par de botas de esqui, um bandolim, um sortimento de baterias com luzes e um jogo de esquis de reserva.

 

Movendo-se precisamente do lugar encontrado do seu pernoite, onde ficou o labáz, para o passo, num tempo mau, o grupo de Dyátlov poderia facilmente tomar a crista do contraforte da montanha ‘1079’ pelo passo ao Lozva. Mas o mistério principal da tragédia continua a ser a saída de todo o grupo para fora da tenda. Além do machado de gelo, a única coisa que foi encontrada fora da tenda, uma lanterninha chinesa, no seu telhado, confirma a probabilidade da saída para fora de uma única pessoa vestida, que deu a todos os outros alguma razão para deixar apressadamente a tenda.


A causa pode ser algum fenômeno natural extraordinário, ou o voo de um foguete meteorológico, que foi avistado em 1/II em Ivdel, e em 17/II, pelo grupo de Karélin. Amanhã, continuaremos as buscas com as forças novas e faremos o envio da carga planejada.

 

Máslennikov”

 

O voo deste “foguete meteorológico” foi avistado por muitos, mas vamos discutir isso em detalhe mais tarde.

 

A perícia médico-legal e o quinto corpo

 

Em 1º de março, chegaram voando a Ivdel, vindos de Sverdlovsk o promotor criminal Lev Ivanov e o médico legista Boris Vozrozhdiônniy. Todas as perícias médicas no decurso posterior da investigação foram dirigidas precisamente por Vozrozhdiônniy.

 

A autópsia dos corpos pôde ser realizada apenas em 3 de março, como tinham sido fortemente congelados e foi preciso que se descongelassem a temperatura ambiente.

 

Seguem os detalhes principais dos volumosos pareceres dos médicos legistas, Vozrozhdiônniy e a sua equipe, sobre os quatro primeiros cadáveres de turistas.

 

Gueorgui Krivoníschenko: tez de cor parda; na região temporal esquerda, há duas escoriações de cor parda vermelha, da densidade do pergaminho; congestão nas regiões temporal direita e occipital; escoriação no dorso do nariz, tornando-se uma ferida na região do ponto e asas do nariz; lábios edematosos; escoriações múltiplas de vários tamanhos na face, peito, coxas e pernas, nos braços e palmas das mãos; parte traseira da mão esquerda edematosa, aqui aparece uma ferida escalpada de 8 x 2 centímetros; ao longo do punho esquerdo, há escoriações de 5 x 2,5 centímetros; sobre as falanges médias dos dedos 4º e 5º, há uma profunda ferida de cor marrom escuro, da densidade do pergaminho, com carbonização; uma considerável queimadura da planta do pé e na perna esquerda; orelhas congeladas; escoriações de vários tamanhos no lado direito do peito; órgãos internos cheios de sangue; os pulmões de cor lilás escura, ao serem apertados, fazem escorrer sangue líquido escuro e um sanguinolento líquido espumoso. A última ingestão de alimentos ocorreu de 6 a 8 horas antes da morte. Nenhum vestígio de álcool. Causa da morte: hipotermia.

 

Yuri Doroshenko: tez de cor parda; cabelo queimado na parte direita, na região da têmpora, sincipício e occipício; vestígios de sangramento nasal; sobre a bochecha direita há vestígios de um líquido cinzento espumoso, que escorreu da boca (o mesmo líquido foi encontrado nos pulmões); perto dos lóbulos de ambas as orelhas há estranhos setores pardos e sólidos, de 4 e 6 centímetros; mesmas escoriações sólidas, de 2 e 1,5 centímetros, aparecem na parte interior do ombro direito, ao longo delas são feitas umas incisões lineares; as falanges terminais dos dedos das mãos e pés, congelados; múltiplas escoriações de diversos tamanhos nos braços e pés; edema das meninges; os rins e o coração cheios de sangue; os pulmões de cor cianótica vermelha, ao serem apertados, fazem escorrer em grande quantidade o sangue líquido escuro e um sanguinolento líquido espumoso. A última ingestão de alimentos deve ter ocorrido entre 6 e 8 horas antes da morte. Nenhum vestígio de álcool. Causa da morte: hipotermia.

 

Ígor Dyátlov: a cor da tez é descrita como “cianótica vermelha”; escoriações de vários tamanhos na face, pálpebras superiores, antebraço direito, braços e pés; sangue coagulado nos lábios (a fonte do sangramento não é indicada); edema das meninges; órgãos internos cheios de sangue; pulmões de cor lilás escura, ao serem apertados, fazem escorrer sangue líquido escuro e um sanguinolento líquido espumoso. A ingestão de alimentos ocorreu de 6 a 8 horas antes da morte. Nenhum vestígio de álcool. Causa da morte: hipotermia.

 

Zina Kolmogórova: a epiderme da face e as mãos de cor lilás vermelha; lábios edematosos, de cor cianótica vermelha; congelamentos de 3º e 4º grau das falanges dos dedos das mãos; escoriações de cor vermelha escura, da densidade do pergaminho, nas pálpebras superiores, no dorso e na ponta do nariz; escoriações múltiplas de vários tamanhos nas mãos e palmas das mãos; ferida de 3 x 3 centímetros, com um pedaço de pele escalpado na mão direita; uma grande escoriação no lado direito passando para as costas, 29 x 6 centímetros; edema das meninges; órgãos internos cheios de sangue; pulmões de cor lilás escura, ao serem apertados, fazem escorrer sangue líquido escuro e um sanguinolento líquido espumoso. Manchas cadavéricas de cor cianótica lilás estão dispostas no lado traseiro do tronco (os peritos modernos acreditam que Vozrozhdiônniy tomou por manchas cadavéricas o eritema gelado, que na década de 1950 ainda não era classificado como um sinal separado da morte por congelamento). Virgem. Nenhum vestígio de álcool detectado. A última ingestão de alimentos ocorreu de 6 a 8 horas antes da morte. Causa da morte: hipotermia.

 

Enquanto isso, na encosta da montanha Kholat Syakhyl, as buscas continuavam.

 

Em 5 de março, Vladislav Karélin e um dos soldados do grupo do tenente Potápov encontraram com a ajuda de sondas o corpo de Rustem Slobodín. Ele estava sob uma camada de neve de 12 a 15 centímetros, a meio caminho entre Dyátlov e Kolmogórova, ou, mais precisamente, a 150 metros de Kolmogórova e a 180 metros de Dyátlov. 

 

O corpo de Rustem Slobodín.

 

Os três corpos se encontravam em linha reta entre a tenda e o cedro. O corpo de Slobodín também estava em uma pose dinâmica, de bruços, com a cabeça na direção da tenda, seu braço esquerdo atirado para o lado, e o punho cerrado da mão direita, acercado para o peito. O pé direito encolhido para o abdome, um dos pés calçado em válenok (bota). O outro válenok faltava. Slobodín vestia um suéter preto, roupa interior quente, camisa cowboy, calças de esqui, alguns pares de meias e um gorrinho de esqui na cabeça. O relógio “Zvezdá” (“Estrela”) na mão esquerda mostrava 8 horas e 45 minutos. Em torno do corpo, formou-se o assim chamado “leito do cadáver”, ou derretimento típico da neve sob um corpo ainda quente, com o posterior congelamento e a formação da náled, ou capa superficial de gelo.

 

Em comparação com o restante de cadáveres, Rustem apresentava traumas mais graves. Apesar da evidente falta de lesões externas e marcas do golpe, ele foi diagnosticado com uma fratura no crânio. O exame forense revelou o seguinte. 

 

Rustem Slobodín: epiderme da face de cor cianótica vermelha; a epiderme do tronco, membros superiores e inferiores, de cor cianótica rosa; escoriações menores de cor parda vermelha na testa, e acima destas, dois arranhões de 1,5 centímetros de comprimento; na pálpebra superior do olho direito, havia uma escoriação de cor parda vermelha, com a congestão nos tecidos subjacentes; sangue coagulado no nariz; lábios edematosos; na metade direita da face “um pouco edematosa”, múltiplas escoriações menores de forma irregular; na metade esquerda da face, escoriações da mesma natureza; escoriações na região dos nós dos punhos; escoriação de cor parda ao longo da borda da palma esquerda. O exame interno revelou: nas regiões dos músculos temporais direito e esquerdo, congestões difusas com a impregnação dos tecidos moles; a partir da borda dianteira do osso temporal esquerdo para frente e para cima, há uma fenda de até 6 centímetros de comprimento, e com o desconjuntamento de bordas de 0,1 centímetros, a fenda localiza-se a uma distância de 1,5 centímetros da sutura sagital; desconjunções da sutura temporocoronal dos ossos do crânio a esquerda e direita (classificadas como 'post-mortem'); os ossos da base do crânio intatos; falta da congestão claramente definida nos tegumentos subcerebrais; os pulmões de cor cianótica vermelha, ao serem apertados, fazem escorrer abundantemente um sanguinolento líquido espumoso e sangue escuro líquido; presença de manchas cadavéricas de cor cianótica avermelhada na parte traseira do pescoço, tronco e extremidades (os peritos modernos acreditam que Vozrozhdiônniy tomou por manchas cadavéricas o eritema gelado, que na década de 1950 ainda não era classificado como um sinal separado da morte por congelamento). Causa da morte: congelamento. 

 

Opinião do perito Boris Vozrozhdiônniy: “O indicado trauma no crânio foi ocasionado por um instrumento contundente. No momento do seu surgimento, indubitavelmente, causou um curto aturdimento de Slobodín, contribuindo com que ele se congelasse o mais rapidamente possível. Considerando as lesões acima mencionadas, Slobodín nas primeiras horas, a partir do momento em que foi abatido, encontrava-se em capacidade de se mover e se arrastar”.

 

Esquema de fratura do crânio que recebeu Slobodín.

 

Com isso, o leitor deve lembrar que o cadáver de Slobodín não tinha características externas deste suposto “golpe ocasionado por um instrumento contundente”. O fato é que o perito simplesmente não foi capaz de encontrar nenhuma outra explicação para esse estranho trauma no crânio.   

 

O caráter segredo do caso e o funeral

 

O caso do perecimento de turistas do grupo de Dyátlov foi imediatamente cercado por um véu de silêncio. Muitos dos participantes das buscas tiveram que assinar a obrigação de não-divulgação das informações. A imprensa guardou silêncio. 

 

Lembrou o juiz de instrução Vladimir Korotáyev, que investigou o caso durante os primeiros três dias:

 

Os jornalistas, vieram muitos. Eu me encontrei com um do jornal “Rússia Soviética”... Klinov, o promotor regional, bateu com o punho: ‘Que não haja nenhum jornalista aqui!’. E todos desapareceram como que por encanto”.

 

Vladimir Korotáyev

 

Apenas dois jornalistas puderam visitar a cena dos acontecimentos. 

 

Um deles, Yuri Yarovoy, trabalhou no jornal local do Ural. Viajante experiente, ele participou das buscas do grupo de Dyátlov, atuou como testemunha e fotografou os corpos para a investigação. Posteriormente, em 1966, publicou a novela “Categoria mais alta de dificuldade”, baseada na história dramática do grupo de Dyátlov. Mas, em 1959, ninguém publicou nada sobre o perecimento de turistas.

 

O segundo jornalista, Gennadi Grigóryev, esteve em Ivdel por acaso, retornando de outra missão, da qual foi o encarregado pela redação. Segue uma anotação de seu caderno.

 

No segundo dia da minha estadia em Ivdel ouvi dizer que sumiram 9 pessoas. Eu estava tão cativado, cheguei-me a interessar cada vez mais pelas buscas. Já não conseguia lidar com o meu trabalho, fui para o aeroporto, e uma hora depois estava voando. Quando avistei do avião a tenda e as pessoas, já não me interessava mais nada, exceto as buscas. Pedi para que me levassem no helicóptero às montanhas. Mas não me aceitaram. Eles disseram: “Para que? Não é permitido escrever sobre isso no jornal”... Depois, voltaram os helicópteros. Descarregam os cadáveres. Todos cobertos de neve. Gelo no cabelo. Foram fechados com lençois e colocados em uma maca, num caminhão. Após o voo, o general, que veio hoje de UralVO [circunscrição militar do Ural], reuniu aos pilotos, e eles aconselharam sobre os voos posteriores. Aos pilotos foi-lhes trazido o almoço de refeitório e eles partiram para o voo novamente”.

 

Todavia, mais tarde, graças ao coronel Ortyukov, encarregado das operações de busca, Grigóryev conseguiu visitar o passo, reunindo-se com as equipes de busca, mas apenas por pouco tempo, pois muito em breve ele foi ordenado a retornar.

 

Em Ivdel, encontrou-se com Yuri Yarovoy.


“Ele
[Yarovoy], tinha estado lá de 22/02 a 03/03, com uma câmera fotográfica e bem vestido, como um turista. Ele me contou algumas coisas. Assim, os rapazes [das equipes de busca], ao chegar, estavam ansiosos por resgatar os seus companheiros. Depois, quando viram os cadáveres, ficaram deprimidos. Mas todavia mantinham a esperança de que os outros ainda estivessem vivos, e estavam apressados para ir buscá-los. Mas quando encontraram o labáz, perderam o ânimo. Começaram, então, a buscar por mortos. Foi especialmente pesado ver os sinais da luta pela vida: os dyátlovtsy tinham rasgando as suas roupas, atirando-as no fogo, para que não se apagasse. Eles lutaram por suas vidas como homens de ferro. Você nunca deve voar para lá sozinho, sem treinamento. Pode acabar mal para você. Além do mais, não são bem-vindos lá todos aqueles que não sejam turistas, pois consideram a gente estranha como um fardo’, me disse Yarovoy.

 

Caminhamos ao longo de uma tranquila rua de Ivdel. Yarovoy ficava feliz de ter saido de lá. Por mais que ele tratasse de esconder de mim essa alegria, não conseguiu. Ele tem feito as suas anotações, mas não me leu nenhuma. É claro que ele guardou muito para sim. Provavelmente, também vai escrever alguma coisa, e o fará mais rápido que eu”.

 

Não houve outros jornalistas na cena dos acontecimentos.

 

Qual foi a causa do caráter tão extremamente secreto do caso? Afinal, não são tão raros os casos do perecimento de turistas em suas rotas. Mas aqui temos várias razões.

 

Em primeiro lugar, as buscas pelos turistas atraíram interesse ​​do mais alto nível, em Moscou. Nikita Khrushchev ordenou que os jornais comunicassem sobre o sucedido somente após serem encontrados todos os turistas desaparecidos. Mas as buscas demoraram, logo o caso passou para a papelada confidencial, desaparecendo por muitos anos da vista do público.

 

Em segundo lugar, a história do perecimento dos turistas não tinha nenhuma explicação razoável que a investigação e as autoridades poderiam oferecer à sociedade agitada, o que gerou como resultado uma série de rumores mais diversos...

 

Em terceiro lugar, naquele preciso momento, em 28 de fevereiro a 1º de março, na cidade de Sverdlovsk (onde moravam, estudavam e trabalhavam os integrantes do grupo de Dyátlov) estava sendo realizada a Copa do Mundo de Patinação de 1959 em um clássico poliatlo entre as mulheres, ficando os funcionários do partido e do governo muito temerosos de que os sussurros e boatos na sociedade sobre o perecimento dos nove turistas fossem estragar o belo panorama geral.

 

Finalmente, cada funcionário do partido e cada burocrata temiam muito receber a repreensão, ou algum outro tipo de punição, por “ter permitido” ou “não ter assegurado”, bem como “não ter controlado” a situação, etc. Por isso, foi do seu melhor interesse extinguir qualquer informação extra.

 

Enfim, todas essas pessoalidades oficiais chegaram a tal ponto, que começaram a sugerir muito insistentemente às famílias dos jovens perecidos, para que estes fossem sepultados não em Sverdlovsk, mas em Ivdel, prometendo edificar um monumento em sua honra. Mas todos os parentes ficaram extremamente indignados com tal proposta e a recusaram. Ainda assim, em 9 de março, as autoridades tentaram fazer o menos perceptível possível, o funeral dos cinco primeiros turistas encontrados em Sverdlovsk. No próprio UPI, alguém estava arrancando constantemente o anúncio do tempo e do lugar do funeral. O cortejo fúnebre foi obrigado a fazer seu caminho pelas ruas remotas e os participantes não foram autorizados a ir para o cemitério a partir da entrada principal, tendo que passar através de um buraco feito na cerca especialmente com esse propósito.

 

O cortejo fúnebre avança pelas ruas periféricas da cidade.

 

Muita gente assistiu ao funeral.

 

Apesar do sigilo oficial, muita gente assistiu e a cidade encheu-se de rumores sobre o misterioso perecimento dos jovens. Acima de tudo, muitos foram impressionados com a estranha cor da pele dos perecidos: uns diziam que “parecia estar sepultando negros”, outros notavam a cor laranja marrom dos rostos.

 

Lembra Vladimir Bogomólov, na época, estudante do 2º ano do UPI:

 

"No átrio da décima habitação coletiva estudantil na Rua de Lenin, sobre os escabelos, estão expostos os ataúdes decorados com andrinópola, albergando os corpos de Ígor Dyátlov, Zina Kolmogórova, Yuri Doroshenko e Rústik Slobodín.

 

A despedida.

 

As tampas dos ataúdes permanecem abertas e, dando uma volta ao redor, todos os que vieram se despedir deles têm a oportunidade de ver com os próprios olhos as faces dos nossos amigos calados: apagadas que estão com uma coloração marrom e escoriações. Em cima deles, inclinaram-se os pais, parentes e amigos dos falecidos, inconsoláveis, com lágrimas nos olhos. Nesse instante, fomos avistados pelos parentes de Zina Kolmogórova, aos quais não há muito tínhamos visitado na sua aldeia, depois da caminhada de agitação e propaganda em dezembro: tínhamos cantado então, canções fogosas e líricas junto com Ígor e Zina. É claro que, ao ver-nos, os parentes de Zina romperam novamente em soluços. É difícil suportar, os olhos se enchem de lágrimas.

 

O cortejo fúnebre alinha-se na Rua de Lenin e segue em coluna para o Instituto Politécnico, para que os jovens amigos que nos estão deixando possam se despedir dos edifícios acadêmicos da sua querida ‘Alma Mater’. Tampouco, aqui permitem aos estudantes despedir-se com dignidade dos seus amigos. O oficial de milícia [corpo de guarda civil na URSS], parado na encruzilhada, redirige a fila da Rua de Lenin para a Rua Kuzbásskaya. A fila move-se pelo corredor até o muro desmontado do cemitério, na volta da Rua Kuzbásskaya. Lá, já estão cavadas as sepulturas. Os ‘dyatlovtsy’ partem no seu último caminho nas mãos cuidadosas dos seus amigos”.

 

Os pais de Gueorgui Krivoníshenko decidiram sepultá-lo num outro cemitério, que ficava mais perto ao seu domicílio, mas no mesmo dia com os outros.

 

O irmão de Gueorgi disse para o jornalista Gennadi Grigóryev que eles, os familiares, tinham a impressão de como se o Estado tivesse querido compensar alguma culpa sua: para o funeral, foi cedida uma fina orquestra militar e tudo foi organizado por representantes das autoridades, sendo que não foi requerido nenhum esforço de parte dos parentes. Moisei Akselrod, que conhecia bem as vítimas, lembra que a mãe de Krivoníshenko perguntou-lhe no funeral, escondendo as lágrimas: “Diga-me, o meu filho morreu como um homem?”.

 

Mas para a data do funeral dos cinco turistas encontrados, as equipes de busca ainda não conseguiram localizar os corpos dos quatro restantes membros do grupo de Dyátlov. Será que eles teriam sofrido um destino diferente?

                                         

Aguarde a parte 3/4 - prevista para o dia 15/02.

   

* Natália P. Dyakonova é licenciada em Filologia, diplomada em Pintura, autora de uma serie de artigos sobre a Literatura, Arte e História. Pesquisadora e historiadora por inclinação. É consultora e correspondente em Moscou para o diário digital Via Fanzine e da Rede VF (Brasil). É editora do blog Protocivilización.

 

- Tradução: Oleg I. Dyakonov.

 

- Revisão final e adaptação: Pepe Chaves.

 

- Imagens:

- As fotos do grupo tomadas pelos próprios turistas estão na internet em livre acesso, receberam a divulgação após o dossiê do caso ter sido acessado pelos pesquisadores.

- O mapa de rota foi confeccionado pela autora a partir de imagem do Google Earth.

 

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- Produção: Pepe Chaves

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