Pandemia:

Coronavírus não foi manipulado, dizem cientistas

Após criar mal-estar diplomático com a China, presidente Bolsonaro e seu filho Eduardo são desmentidos por estudo científico mostrando que o covid-19 não foi manipulado ou disseminado por ações humanas, conforme publicação na Nature Medicine.

Por Pepe Chaves*

Para Via Fanzine

19/03/2020

Cientistas negam que covid-19 teria sido criado ou propositalmente manipulado em laboratório, uma vez que, entre outros pontos, todos os genomas já sequenciados apontam para uma mesma ancestralidade animal.

 Leia também:

Outros destaques em Via Fanzine

Conspiracionistas de internet

Teorias da conspiração povoam a internet neste momento de apreensão para toda a população mundial, por conta da pandemia do covid-19. Alguns “teoristas” propõem (sem apresentar as devidas comprovações) de que o novo coronavírus teria sido criado pela China, com o intuito de dar uma “rasteira econômica” no resto do mundo e se sobressair depois dessa crise de saúde pública.

Por sua vez, outros conspiracionistas com mentes não menos férteis, também propagam que foram os EUA quem criaram e disseminaram o vírus a partir do território chinês. No entanto, nada disso tem real sentido.

Bolsonaro e filho cometem gafe diplomática

No Brasil, até o presidente Jair Bolsonaro afirmou no dia 16/03 estar convencido de que a pandemia do novo coronavírus faz parte de um plano de recuperação econômica do governo chinês. Segundo o colunista Tales Faria, do UOL, a declaração foi feita a assessores e políticos mais próximos.

A teoria da conspiração, importada da internet e compartilhada pelo presidente e seu filho Eduardo Bolsonaro, diz que toda vez que a China tem problemas econômicos, uma grande doença aparece para causar crise nos mercados globais e diminuir os produtos que são importados do país. O presidente cita a gripe aviária e suína como exemplos de outras pandemias parecidas.

Segundo o presidente brasileiro, a China já está comprando petróleo 30% mais barato do que antes do aparecimento da doença, além de pagar menos por commodities exportadas do Brasil, como minério de ferro.

Seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro chegou a causar mal-estar diplomático entre Brasil e China ao publicar na internet que, “Quem assistir Chernobyl vai entender o que ocorreu”, e culpa a “ditadura” da China pelo ocorrido em todo o mundo.

O embaixador da China no Brasil Yang Wanming reagiu no dia 18/03 e exigiu um pedido de desculpas, afirmando que, “A parte chinesa repudia veemente suas palavras e pede que as retire e peça desculpa ao povo chinês”.

O embaixador chinês também notificou ao Itamaraty, e à Câmara dos Deputados sobre a fala irresponsável do filho do presidente, que até o momento não se desculpou publicamente. Contudo, o presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia pediu desculpas à China e ao embaixador pelas palavras “irrefletidas do deputado Eduardo Bolsonaro”.

Estudo científico mostra que não houve intervenção humana

Está claro que as declarações do presidente brasileiro e seu filho se mostram equivocadas, já que a ciência deu uma recente resposta sobre a disseminação e evolução do covid-19. Para os cientistas que trabalham na pesquisa desse vírus, está evidente que esse vírus não foi criado em laboratório ou manipulado por humanos.

Um estudo publicado pela respeitada revista científica Nature Medicine em 17/03 assinado pelos cientistas Kristian G. Andersen, Andrew Rambaut, W. Ian Lipkin, Edward C. Holmes e Robert F. Garry refuta a possibilidade de o vírus Sars-CoV-2 (Covid-19) ter sido criado ou propositalmente manipulado em laboratório, uma vez que, entre outros pontos, todos os genomas já sequenciados apontam para uma mesma ancestralidade animal.

Esse grupo de cientistas é formado por pesquisadores de renomadas instituições dos EUA e Austrália. No entanto, a dúvida que resta para os pesquisadores é se a mutação (seleção natural) aconteceu antes nos próprios animais, seguida de transmissão para os humanos ou se ocorreu nos humanos após a transmissão zoonótica.

Os cientistas esclarecem que o novo coronavírus, chamado de SARS-CoV-2 é o sétimo coronavírus conhecido por infectar seres humanos; SARS-CoV, MERS-CoV e SARS-CoV-2 podem causar doença grave, enquanto HKU1, NL63, OC43 e 229E estão associados a sintomas leves.

“Aqui, revisamos o que pode ser deduzido sobre a origem do SARS-CoV-2 a partir da análise comparativa de dados genômicos. Oferecemos uma perspectiva sobre os recursos notáveis ​​do genoma SARS-CoV-2 e discutimos cenários pelos quais eles poderiam ter surgido. Nossas análises mostram claramente que o SARS-CoV-2 não é uma construção de laboratório ou um vírus propositadamente manipulado”, afirma o estudo científico publicado pela Nature Medicine neste mês.

Clique aqui para acessar a íntegra do estudo (em inglês).

*  Pepe Chaves é jornalista e editor do diário digital Via Fanzine e da rede ZINESFERA.

- Com informações da Nature Medicine / IstoÉ e Uol.

– Foto: divulgação.