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Rússia
Czarado felino: Os gatos do Hermitage Conheça a história secular dos felinos que trabalham em um famoso museu russo, cujo serviço é proteger as obras de arte contra a ação dos roedores.
Por Natália Dyakonova* De Moscou/Rússia Para Via Fanzine 08/06/2018
Aquiles, o gato “visionário” da Copa 2018 é um dos cinquenta gatos célebres do mundialmente famoso museu russo Hermitage. Os gatos estão no serviço do Estado para a preservação dos objetos de valor histórico e cultural desde o século XVIII e tornaram-se um dos símbolos do museu. Leia também: Outros destaques em Via Fanzine
Cinquenta gatos vivem no mundialmente famoso museu russo do Hermitage, em São Petersburgo. Eles estão tradicionalmente a serviço do museu desde os reinados do imperador Pedro I, o Grande (1682-1725) e da imperatriz Isabel Petrovna (1741-1762), sua filha. A missão deles era de preservar o local de roedores, protegendo assim, as coleções de raros objetos de arte.
O primeiro palácio em São Petersburgo foi edificado por Pedro, o Grande, e foi o mesmo czar que iniciou a tradição de aposentar gatos na residência imperial. Pedro comprou o gato de um comerciante de Vólogda e batizou-o de Vassili (Basílio) - e, desde então, este tornou-se o nome mais popular para gatos na Rússia. Pedro também emitiu um decreto legalizando a permanência de gatos nas instalações do palácio para proteção contra roedores.
Pedro I, o Grande, Isabel Petrovna e Catarina II, a Grande.
O Hermitage ainda não havia sido construído, e Isabel morava no antigo Palácio de Inverno. Quando a imperatriz se incomodou com o número de roedores naquele local, ela ordenou que lhe trouxessem de Kazan os 30 melhores gatos da raça de rateiros. Isabel não viveu para ver o término da construção do novo Palácio de Inverno, o Hermitage, onde a primeira residente chegou a ser, em 1762, a imperatriz Catarina II, a Grande.
Entretanto, Catarina não gostava de gatos, mas deixou-os no palácio, dividindo-os em duas categorias: os de quintal e os da sala. Nos salões havia principalmente gatos da raça "azul russo".
Palácio de Inverno (Hermitage), construído em 1762, em São Petersburgo.
A partir do século XVIII, os gatos eram residentes permanentes das instalações do palácio, atravessando todas as épocas, tanto sob os czares no poder como após a revolução. Mas durante o terrível bloqueio de Leningrado (nome da cidade de São Petersburgo na era soviética) ocorrido entre setembro de 1941 a janeiro de 1944, quando milhões de pessoas morreram de fome, e os gatos, obviamente, não sobreviveram.
Somente após o rompimento do bloqueio, cinco mil gatos e gatas foram trazidos para a cidade, que se encontrava literalmente dominada por roedores. Isso incluia os porões do Hermitage, que foram transformados em abrigos antiaéreos durante a guerra. Várias dúzias de felinos novamente foram trazidas e imediatamente lançadas no Hermitage e a partir daí os gatos se multiplicaram rapidamente.
Alguns dos gatos palacianos russos nas dependências do Palácio Hermitage.
Um gato do Hermitage em sua cesta.
Todos os felinos são vacinados e é realizada uma supervisão veterinária regular. Cada gato tem seu próprio passaporte, cartão veterinário, sendo oficialmente listado como especialista qualificado para a limpeza de roedores nos porões do museu. Os animais são tratados com amor e respeito, há pessoas especiais que cuidam deles, alimentando-os e higienizando-os. Graças ao trabalho da Fundação Amigos dos Gatos do Hermitage são recolhidos fundos para as várias necessidades destes animais. A Fundação também organiza variados eventos e exposições sobre temas acerca dos felinos, expondo pinturas, desenhos e artesanatos.
O tema dos gatos do Hermitage é muito popular entre os artistas. Por exemplo, o artista Eldar Zakirov criou uma galeria exclusiva aos gatos do Hermitage, onde estes aparecem trajando figurinos de diferentes épocas e povos.
Os gatos do Hermitage, na interpretação do artista Eldar Zakirov.
Os gatos podem circular livremente pelo Hermitage, mas têm proibida sua entrada aos salões do museu (para a sessão de fotos mostrada aqui foi feita uma exceção). Dizem que gostavam de dormir em lugares diferentes, inclusive, no trono dos czares, ativando o sistema de alarme.
A imensa rede de porões (com seus quase vinte quilômetros de extensão), onde os gatos vivem e caçam, é chamada de "grande porão de gatos". No local foram criadas condições de vida confortáveis para os animais.
"Grande porão de gatos": os gatos no momento de trabalho.
Os porões sempre estão secos e quentes, todos os cômodos estão equipados com pequenos corredores para se movimentarem livremente. Todas as tubulações que passam pelo porão são cobertas com barras para evitar a penetração dos gatos – não se sabe como o sistema de ventilação do Hermitage é organizado, uma vez que sua planta não foi preservada.
No verão, os gatos passam muito tempo do lado de fora, nos gramados e quintais da propriedade.
Portanto, nos pátios do palácio os veículos são autorizados a andar apenas na velocidade de pedestres, e também é proibido usar sirenes que possam assustar os gatos que dormem nos gramados. Lá também existe uma placa única no mundo: "Cuidado, gatos!".
"Cuidado, gatos!".
Em maio, quando começa a temporada de noites brancas, em São Petersburgo acontece a tradicional festa "Dia do Gato do Hermitage". Neste período, você pode visitar os porões do Hermitage ou até mesmo receber a doação de um gatinho da geração jovem dos gatos palacianos, embora a seleção dos proprietários seja rigorosa. Geralmente, os moradores da cidade gostam muito de gatos.
Festa do Dia do Gato do Hermitage.
Aquiles, o gato da Copa.
Um desses respeitados gatos palacianos chama-se Aquiles e se tornou o gato “visionário” da Copa do Mundo 2018 na Rússia.
Desde o nascimento, Aquiles é privado de audição, mas em troca, a natureza o dotou de uma intuição desenvolvida. Em 2017, durante a Copa das Confederações, realizada em São Petersburgo, ele fez previsões corretas em três dos quatro casos.
Segundo a veterinária do museu, no início do ano Aquiles ganhou um peso extra de 900 gramas. Desde então, ele passou por dieta e a praticar diariamente o simulador, correndo numa roda. Agora o gato está em grande forma e já começou a ensaiar seu papel para a nossa Copa.
* Natália Dyakonova é articulista e correspondente em Moscou/Rússia para Via Fanzine e UFOVIA.
- Tradução do russo ao português: Oleg Dyakonov.
- Ilustrações: Fontes abertas da internet/divulgação.
- Produção: Pepe Chaves © Copyright 2004-2018, Pepe Arte Viva Ltda. Brasil.
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