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Isaac Bigio

 

A Vitória de Maduro:

Para onde vai a Venezuela?

Com protestos em torno da validade do pleito e uma taxa de abstenção superior a 50%, Nicolás Maduro é reeleito presidente da Venezuela.

 

Por Isaac Bigio*

De Londres

Para Via Fanzine

21/05/2018

 

Nicolás Maduro foi reeleito com 2/3 dos votos válidos, em meio a um aumento nas abstenções e de movimentos da direita para anular as eleições.

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De acordo com os números oficiais das eleições venezuelanas, o presidente Nicolás Maduro venceu com 5.823.728 votos (67.68 % dos votos válidos), pelo o que, teoricamente ele poderia permanecer no poder até 2025. E assim, o chavismo poderia ultrapassar um quarto de século no poder.

 

Para os "bolivarianistas" essa percentagem eleitoral é a mais alta conseguida por qualquer um dos atuais mandatários ocidentais, no entanto, os seus opositores questionam as eleições como fraudulentas.

 

Os dois candidatos mais populares da direita (Henrique Capriles que nas passadas presidenciais esteve a poucos pontos abaixo de Maduro) e o preso Leopaldo Lopez foram incapazes de participar e chamaram seus apoiantes para boicotar as eleições.

 

Os dois candidatos da direita que competiram nestas eleições pediram para anulá-la ou repeti-las, denunciando irregularidades, o que a situação governista atribuí a “não saber reconhecer derrotas eleitorais”. Estes são Henri Verinha, que obteve 1.820.552 (21.15 %) e o pastor Javier Bertucci com 925.042 votos (10.75 %).

 

Os opositores do chavismo argumentam que dos 20.759.809 cidadãos inscritos votaram apenas 8.603.956, sendo a taxa de participação de apenas 46.01% enquanto mais da metade do eleitorado se absteve. Em relação às eleições presidenciais passadas, a taxa de participação eleitoral baixou em 33.7%, o que indica a forte pressão da direita pró-boicote e o desânimo em setores populares face à crise e à emigração.

 

Boicote a Maduro

 

Os governos dos EUA, Canadá, Brasil, Argentina, México, Colômbia, Peru e de outros países do chamado "Grupo de Lima", os quais somam 90% do território e dos habitantes das Américas e têm rejeitado estas eleições, posição também compartilhada pela maior parte da União Europeia.

 

Apoiadores de Maduro argumentam que a taxa de participação é semelhante à das últimas eleições presidenciais no Chile, Colômbia, França ou Estados Unidos e salientam que isso ocorreu, apesar de as principais potências ocidentais e países americanos terem conclamado a ignorar essas eleições. De fato, a percentagem de venezuelanos inscritos que votaram em Maduro na Venezuela é maior que a dos americanos registrados que contribuíram para eleger Donald Trump que, por sua vez foi o único presidente na história mundial nomeado depois de ser derrotado nas urnas. Nesse caso, houve quase três milhões de votos de diferença para o seu rival.

 

O grupo de Lima conseguiu que a Venezuela fosse o primeiro país cofundador das cimeiras panamericanas a ser excluído destas, como na última, ocorrida na capital peruana, em abril passado. O principal promotor do veto a Maduro foi o então presidente peruano Pedro Paulo Kuyczynki, que não conseguiu sobreviver no poder, obrigado que foi a desistir sob acusações de corrupção enquanto seu substituto Martin Vizcarra nunca teve maior popularidade.

 

Os EUA organizam uma forte campanha para procurar remover o chavismo do poder acusando-o de ser antidemocrático, embora esta seja a potência que mais golpes e intervenções militares tem apoiado na história latino-americana, incluindo as últimas três resoluções parlamentares que removeram os presidentes esquerdistas eleitos em Honduras, Paraguai e Brasil.

 

A mesma administração americana que abertamente instou os militares venezuelanos a se revoltarem contra Maduro apoiou a libertação do ex-ditador peruano Alberto Fujimori e a prisão daquele que lidera as pesquisas no gigante brasileiro: o ex-presidente Lula da Silva.

 

Esta mesma administração é a que transformou os sauditas no seu principal comprador de armas, apesar de esta monarquia teocrática não permitir nem eleições, nem igrejas, impulsionou a AL-Qaeda e vem massacrando o país árabe mais pobre, o Iémen. Outro dos países que os EUA mais arma é o Egito, regido por uma ditadura plebiscitária que persegue os seus opositores nas eleições que convocou para prosseguir no poder.

 

Perspectivas

 

A Venezuela vem sofrer uma das piores hiperinflações da história americana (para 2018 são projetados números de cinco dígitos), enquanto a produção continua a diminuir, além de haver a carestia, falta de produtos, êxodo em massa e baixa no poder de compra dos salários.

 

O governo de Maduro culpa os Estados Unidos, a oligarquia venezuelana e seus aliados internos e externos de travarem uma "Guerra Econômica". Diante a cenários semelhantes, a resposta que deram àqueles que se sentiram inspirados na evolução socialista soviética tem sido a de expropria-la. Os capitalistas desejam nacionalizar os meios de produção, impor o monopólio estatal do comércio externo e das indústrias estratégicas, ignorar o pagamento da dívida externa, implantar uma "Ditadura do Proletariado" e promover revoluções de "conselhos operários e de camponeses" por todos os lados.

 

Apesar de o governo venezuelano ser acusado de “Comunista” este nunca teve a intenção de percorrer esse caminho e continua a preservar o mercado, as empresas privadas, a abertura para muitas multinacionais e uma democracia federal que se dê bem com os seus vizinhos.

 

O chavismo representa um tipo de movimento nacionalista que procura reformar as economias monetárias para impulsionar o consumo popular e uma nova classe empresarial que reforce o mercado interno. Todos os nacionalismos latino-americanos que se iniciaram com discursos esquerdistas e "anti-imperialistas" culminaram no modelo pró-EUA.

 

O principal candidato oponente venezuelano, Verinha, representa uma ala do chavismo que se rompe procurando dolarizar a economia e iniciar um caminho como aquele que acabaram seguindo os últimos governos de Menem, Paz Estenssoro e Alan Garcia.

 

Maduro quer preservar o modelo populista e nacionalizante, mas persiste em não pagar os US$ 75 milhões dólares da dívida externa, e deixar de seguir as regras da democracia de mercado em busca de uma boa relação com os investidores russos e chineses. Embora seja acusado de querer “cubanizar” a Venezuela, o seu atual modelo, tal como o do sandinismo nicaraguense ou o boliviano, passa a rejeitar o sistema de economia estatizada e planificada, sob a égide de um partido comunista único.

 

Maduro disse que agora pensa em dialogar com todos e procurar uma reconciliação, na qual ele estaria disposto a fazer muitas concessões aos seus adversários internos e externos, desde que não se questione o governante do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela).

 

Apesar de ter retido o poder, nota-se que Maduro perdeu parte da popularidade obtida por Chávez e que tanto ele como a dividida oposição está se desgastando. A direita ficou dividida e incapaz de boicotar as eleições ou gerar marchas maciças pró-voto nulo. A crise econômica pode gerar as condições para uma possível explosão social.

 

Nestas eleições houve uma quarta candidatura, a de Reinaldo Sombrancelha, que tirou apenas 0.4 % dos votos, mas questionou Maduro na esquerda, acusando-o de renegar as bandeiras socialistas. A Imprensa mundial está constantemente focada em afirmar que toda a oposição estaria unida aos posicionamentos pró-EUA, mas é possível imaginar que se vá desenvolvendo, embora de forma minoritária, uma oposição mais radical que promova uma revolução como a soviética ou a cubana.

 

Maduro conseguiu dividir a oposição de direita e com isso, evitar que houvesse violência nas eleições presidenciais. Agora ele vai querer usar o aval de importantes figuras que estiveram nas eleições - como o ex-presidente social-democrata espanhol Zapatero ou do ex-presidente equatoriano Correa - para procurar parceiros que evitem o seu isolamento internacional.

 

De certa forma, a possibilidade de uma intervenção estrangeira sobre a Venezuela pode vir a depender dos resultados nas eleições presidenciais da Colômbia e do México, além do desgaste ou isolamento internacional da administração de Donald Trump.

 

* O professor Isaac Bigio é analista internacional em Londres e colaborador de Via Fanzine.

 

- Texto traduzido e editado por Pepe Chaves para Via Fanzine.

 

- Imagem : Divulgação.

 

- Produção: Pepe Chaves.

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