Paraná:

Cidade de pedra: a lendária Vila Velha

Trata-se de um conjunto de arenitos enormes, maciços em pedra, que inspiram as mais variadas formas, sugerindo figuras de objetos, seres humanos e animais de tamanho colossal.

 

Por J. A. FONSECA*

 

Uma lenda Tupi diz que a antiga cidade se petrificou por ira de Tupã.

 

Está localizada a 30 quilômetros de Ponta Grossa, no Paraná e encanta pelas suas exuberantes e monumentais formações rochosas. Segundo a Ciência ela é produto de erosões e movimentações dos ventos, que durante muitos milhares de anos esculpiram a rocha formando as diversas figuras e a fantasmagórica aparência de uma cidade abandonada.

 

A lenda tupi dá-lhe o nome de “Itacueretaba” (a cidade extinta de pedra), mas seu nome mais antigo é “Abaretama”, a terra dos homens, que havia sido escolhida pelos primitivos habitantes da região para preservar o “itainhareru”, o precioso tesouro, sob a proteção de Tupã.

 

MONUMENTOS PÉTREOS - Em julho de 1978, em viagem turística pelo sul do Brasil, Montevidéu e Buenos Aires, fui envolvido de um primeiro grande impacto ao vislumbrar o desconhecido, quando me decidi, juntamente com minha esposa, visitar Vila Velha, no estado do Paraná.

 

Já de início, ficamos perplexos diante da exuberância destes monumentos pétreos, constituídos por dezenas de formações curiosas de igual magnitude e beleza. Trata-se de um conjunto de arenitos enormes, maciços em pedra, que inspiram as mais variadas formas, sugerindo figuras de objetos, seres humanos e animais de tamanho colossal.

 

Localiza-se no município de Ponta Grossa-PR, a 30 quilômetros da cidade e a 120 de Curitiba, à margem direita do Rio Tibagi, em imensa planície verdejante. Seu conjunto “arquitetônico” visto da estrada, mais se parece com um gigantesco castelo em ruínas, com seus paredões projetando-se sobre uma pequena elevação.

 

Este conglomerado é, de fato, um conjunto colossal e fascinante, e quando observamos suas muralhas imponentes mais de perto, vem à nossa mente uma inquirição teimosa de que a lenda que envolve aquela bela região possa ter um fundo de verdade.

 

AS FORMAÇÕES - Segundo estudiosos, os monumentos de Vila Velha são produtos de formações rochosas naturais, esculpidas por meio de erosões e movimentação dos ventos, que durante muitos anos dilapidaram a rocha, formando as diversas figuras e a fantasmagórica aparência de uma cidade abandonada.

 

O nome que lhe foi dado é decorrente de suas figuras de caráter diversificado e por seu aspecto semelhante a uma “cidade em ruínas”, mas os geólogos afirmam que tudo foi “construído” pela natureza, sob a ação de chuvas fortes e ventos da região. Conforme explica a geologia o vento é um dos mais importantes agentes de erosão, produzindo modificações no relevo e é também um dos responsáveis pelas magníficas esculturas de Vila Velha. Neste caso, as formas esculpidas na rocha sugerem rostos, animais, muralhas de castelos e outras formas curiosas, além de ruas e becos que se entrecruzam, como se fora uma velha cidade arruinada.

 

Seu conjunto megalítico encontra-se a quase mil metros de altitude e mede cerca de dois mil metros de comprimento por 600 metros de largura. Sua composição geológica é constituída de arenitos sílico-argilosos, sedimentos permocarboníferos e limonita. Explicam os geólogos, que devido a não uniformidade da composição geológica de suas rochas, as precipitações pluviométricas e os fortes ventos que assolam a região, moldaram suas formas atuais e que elas continuarão sendo remodeladas permanentemente, redefinindo novas formas.

  

Curiosas formações rochosas são vistas por toda parte.

 

LAGOA & CALDEIRÃO - Bem próximo a este conglomerado rochoso existem também dois outros locais que podem ser visitados. Um deles é a famosa Lagoa Dourada, que é rodeada por abundante vegetação e recebe suas águas do mesmo rio subterrâneo que alimenta as Furnas, um outro local interessante.

 

Todos os dias, no por do sol, suas águas tomam um aspecto dourado, o que originou o seu nome e, segundo os geólogos tal acontecimento é devido à malacacheta (mica) que existe em grande quantidade no fundo da lagoa, dando-lhe este aspecto gracioso. A lagoa tem um perímetro de 690 metros e possui muitas espécies de peixes, como traíra, tubarana e bagre, que ali se reproduzem sem qualquer tipo de agressão exterior.

 

O outro local próximo é conhecido pelo nome de Furnas ou Caldeirões do Inferno, por se tratarem de verdadeiras crateras circulares abertas na rocha. São duas estas gigantescas aberturas circulares e chegam a atingir até 100 metros de profundidade, estando, porém, com água até, mais ou menos, pela metade.

 

A ORIGEM - Os gigantescos arenitos que compõem a “cidade abandonada” de Vila Velha, segundo estudos feitos, remontam a cerca de 340 milhões de anos, a partir de quando os fenômenos geológicos passaram a depositar grandes quantidades de areia naquele lugar. A areia se acumulou com toneladas de fragmentos rochosos trazidos por massas de gelo que provocavam erosões. Após o degelo, estes materiais ali ficaram sofrendo erosões diversas, fraturas e diferenciações, produzindo o que pode ser visto como figuras gigantescas de formatos variados e paredões imensos compactados.

 

LENDA TUPI - Queremos, entretanto, entrar também no mérito da lenda que foi durante milênios resguardada pelos povos indígenas da raça tupi que habitavam aquela região e que fazem de Vila Velha um local amaldiçoado, destruído pela ira de Tupã.

 

Seu nome antigo era Abaretama, a terra dos homens, e havia sido escolhida pelos primitivos habitantes da região, com a divina proteção do deus Tupã, para preservar o itainhareru, o precioso tesouro. Este sagrado tesouro dos povos indígenas era vigiado dia e noite por um grupo de jovens, os apiabas, que se tratavam de moços rigorosamente escolhidos, pois eram selecionados dentre os rapazes de todas as tribos e treinados com a única finalidade de vigiá-lo e guardá-lo dos olhares inimigos.

 

Eles tinham, portanto, muitos privilégios, mas lhes era vedado ter qualquer contato com mulheres, tendo que dedicar-se exclusivamente ao trabalho divino. Segundo uma lenda mantida pela tradição indígena, se as mulheres passassem a conhecer o segredo do Abaretama, elas o espalhariam por toda a parte e facilitariam a tomada deste tesouro pelos inimigos de seu povo. Se o sagrado tesouro do Abaretama fosse perdido, Tupã afastaria sua mão protetora de cima deles e toda a forma de desgraças se abateria sobre sua raça, que seria amaldiçoada para sempre.

 

Paredões pétreos à semelhança de grandes fortalezas.

 

DHUI E ARACÊ - Ocorre, que certa vez, fora escolhido um jovem índio de nome Dhui, para ser o chefe dos apiabas e, para isto fora preparado, como os outros, desde muito jovem, para exercer sua função na guarda do tesouro do Abaretama. No entanto, ele não pretendia ser um celibatário, mas, ao contrário, seu coração fervilhava pelos encantos femininos.

 

Tais notícias correram soltas como os ventos das manhãs primaveris e logo, todos da aldeia já sabiam disto e, o que é muito pior, vazaram as fronteiras para longe, chegando aos ouvidos das tribos inimigas. Assim, decidiram os rivais se aproveitarem disso para tomar posse do sagrado tesouro planejando uma terrível armadilha. Escolheram dentre as suas donzelas a mais bela de todas, Aracê Poronga (Aurora Bonita) e a enviaram para conquistar o coração do jovem acabrunhado. A bela Aurora Bonita conquistou, pouco a pouco o jovem guerreiro Dhui, subjugando-o com seus encantos, até que um dia ele permitiu sua entrada no Abaretama.

 

Entretanto, a encantadora Aracê  Poronga  também se deixou levar pela beleza masculina de Dhui  e apaixonou-se por ele, traindo seu povo e esquecendo-se de sua missão. Aracê não conseguira tirar dele o segredo para transferi-lo ao seu povo e ele, apaixonado, permitira que ela penetrasse no lugar sagrado.

 

Com a quebra do compromisso, o deus Tupã fez desencadear um grande terremoto sobre a região e toda a planície foi abalada, sendo destruída a “terra dos homens” e transformada em pedra, juntamente com os dois amantes ao lado da taça, na qual ambos haviam tomado o Uirucuri, o licor de butias e se embebedaram.

 

Com a queda da raça tupi, o precioso tesouro, fundido, desapareceu e ficou representado pela lagoa que ainda se encontra entre as rochas e passou a se chamar Lagoa Dourada. Quando o sol desce, suas águas refletem uma misteriosa cor de ouro, como se fora o tesouro derretido que se escorreu para dentro dela, velando, para sempre, o segredo do Abaretama que, completamente destruída tornou-se pedra e a terra de Abaretama transformou-se em Itacueretaba, a cidade extinta de pedra.

 

Os sobreviventes desse povo antigo, após tão terrível acontecimento se mudaram para outras regiões, fundando outros impérios distantes daquelas terras amaldiçoadas por Tupã. E o tempo fez com que suas ruínas se transformassem em lenda e ali permanecessem para mostrar aos povos que viessem no transcorrer das gerações, a grandiosidade daquele passado perdido nas brumas do tempo.

   

* J.A. Fonseca é economista, aposentado, escritor, conferencista, estudioso de filosofia esotérica e pesquisador arqueológico, já tendo visitado diversas regiões do Brasil. É presidente da associação Fraternidade Teúrgica do Sol em Barra do Garças–MT, articulista do jornal eletrônico Via Fanzine (www.viafanzine.jor.br) e membro do Conselho Editorial do portal UFOVIA.

 

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