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Ricardo Taipa

 

Memória Coletiva:

O Efeito Mandela e James Bond no Brasil

Falsas memórias coletivas ou universos paralelos em colisão? A polêmica onde os expectadores de um filme de James Bond se lembram da cena onde uma atriz usava claramente um aparelho de dentes, que na verdade nunca usou.

 

Por Ricardo J.F. Taipa*

de Lódz/Polônia

Para Via Fanzine

20/01/2019

 

Quem assistiu ao filme (inclusive este autor) garante que ela usava um aparelho nos dentes durante esta cena, onde um sorria para o outro.

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O filme é Moonraker, intitulado em português Aventura no Espaço (em Portugal) e 007 Contra o Foguete da Morte (no Brasil) apresentado nos cinemas de todo o mundo em 1979. Ficou célebre por ser um dos filmes da saga James Bond com cariz de ficção-científica. Numa conspiração maquiavélica do bilionário Hugo Drax, o vilão psicopata tencionava destruir a humanidade lançando do espaço na atmosfera terrestre as “orquídeas da morte” deixando os únicos sobreviventes, todos eles homens e mulheres esbeltos e perfeitos, numa espécie de estação especial, na qual ele se encontrava, para recolonizar o planeta depois do grande cataclismo.

 

Filmado no Brasil, no Pão de Açúcar, durante o Carnaval de 1978 durante a imensa festa que vê o Rio de Janeiro se transformar num gigantesco baile, a cena mais carismática tem lugar no teleférico do Pão de Açúcar, culminando com um dos vilões de 007 – Jaws ou Mandíbulas – interpretado por Richard Kiel – destruindo o teleférico, ficando quase soterrado e debaixo de uma enorme roda mecânica.

 

É nesta cena que, Dolly – interpretada pela atriz francesa Blanche Ravalec – aparece e ajuda o mostrengo a sair debaixo dos destroços (Assista à cena). Sacudindo o pó, Jaws vê diante de si uma jovem loira, de tranças e óculos. O mauzão sorri, mostrando os seus assustadores dentes metálicos e a jovem, nervosa, sorri de volta, mostrando o seu aparelho dentário. Jaws e Dolly parecem estar enamorados à primeira vista e fogem apenas para serem vistos mais tarde no filme, ajudando James Bond a destruir Drax e o seu projeto insano…

 

O que há de anormal aqui é o fato de Dolly nunca ter usado aparelho dentário, e na cena ela aparecer com um sorriso bonito mas sem mostrar metal nos dentes… Dolly nunca usou aparelho no filme, em momento algum (algumas fontes na Internet afirmam que a atriz o confirma), ainda que, aparentemente, quase todas, senão todas as pessoas que assistiram Moonraker garantem que ela usava um aparelho nos dentes e recordam bem da cena. Juram de pés juntos que a cena agora não faz sentido nenhum [com ela aparecendo sem o aparelho na boca]! Entre eles, este escriba, que assistiu ao filme por vezes na RTP1 (canal público da televisão portuguesa) e em VHS – recordo bem uma tarde de Verão na casa do Jorge Azevedo a vermos Moonraker no então moderníssimo “video-gravador” e lá estava, Dolly a sorrir para Jaws com o dito aparelho…

 

Este fenômeno não me tirou o sono, mas sem dúvida custou-me a adormecer no dia em que me inteirei a respeito porque, tal como milhares de pessoas em todo o mundo, incluindo fãs acirrados de James Bond e de cinema, eu me recordo vividamente de algo que nunca existiu - ou será que existiu, noutro tempo, noutro lugar?

  

O Efeito Mandela

 

Este termo, relativamente recente e controverso, denominado de pseudociência, falsa memória (pela comunidade científica) e até de teoria da conspiração, tem origem na alegada morte do líder africano Nelson Mandela, nos anos 80, no cárcere em Johanesburg – Mandela morreu em 2013 e foi Presidente da África do Sul – no entanto o número de pessoas que alegadamente recordam a sua morte, funeral e todo o luto de um país, transmitido na televisão e emitido mundialmente batizou este fenômeno de “Mandela Effect” em inglês ou Efeito Mandela.

 

Considerado cientificamente como falsas memórias, ou seja, a recordação falsa, errônea ou distorcida de algo que aconteceu, o Efeito Mandela é explicado por falhos e lapsos na memória humana, singulares ou coletivos sobre acontecimentos, detalhes e situações que aconteceram de um determinado modo, mas são recordadas de outro, totalmente distinto. Exemplos não faltam na Internet, no YouTube com vídeos a debaterem exaustivamente este assunto, alguns dos exemplos mais conhecidos e debatidos são:

 

- O Mr. Pennybags (o velho da cartola) do jogo Monopólio tinha um monóculo quando nunca teve.

 

- Os ursinhos Berenstein são os ursinhos Berenstain, com um A.

 

- O filme Interview with the Vampire é recordado como Interview with a Vampire.

 

- Sex in the City é afinal Sex and the City.

 

- O logótipo da VW não ter o V e o W separados ou o F da Ford não ser rebuscado.

 

- Um filme denominado Shazzann, com um gênio da lâmpada, descrito por muitos americanos em pormenor, mas que nunca foi filmado, o ator nega ter sido contratado para tal filme.

 

- Em Star Wars, Darth Vader diz “Luke, sou o teu pai” quando na realidade disse “não, sou o teu pai”.

 

- O robô c3po de Star Wars ter uma perna prateada – praticamente ninguém se recorda desse pormenor, mas sim de este ser totalmente dourado.

 

- A Bruxa Má no filme da Disney dizer “Mirror, mirror on the wall” (espelho, espelho na parede) quando na realidade diz “Magic mirror on the wall” (espelho mágico na parede).

 

- Tom Hanks em Forrest Gump dizer na famosa cena dos bombons “Life is like a box of chocolates” (a vida é como uma caixa de bombons) quando afinal disse “Life was like a box of chocolates” (a vida era como uma caixa de chocolates).

 

- A canção “We are the Champions” do Queen já não terminar com “of the world” etc…

 

Muito antes da polêmica do aparelho dentário, em vídeo de 2014 aparece um cientista do CERN com cartezes escrito "James Bond #1" e "Mandela". Seria uma simples coincidência?

 

Os exemplos são ainda mais vastos, sendo os mais discutidos todos aqueles da cultura popular que são transversais a todos os países e culturas.

 

Fora dos limites impostos pelo método científico, o Efeito Mandela é atribuído, entre outros, a possíveis alterações no espaço-tempo, devido a interferências sutis no passado (viagens no tempo), convertendo o futuro em algo distinto daquilo que nos recordamos. Ou mesmo algo mais rebuscado, como a possibilidade de o CERN (Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire) na Suíça ser o responsável por criar ou cruzar – porventura acidentalmente - um universo paralelo, ou uma realidade paralela, àquela em que nascemos e crescemos.

 

Intrigante é o fato de haver um vídeo feito pelos funcionários do CERN, de 2014, intitulado We are Happy at CERN (assista ao vídeo do CERN) onde os seus funcionários dançam felizes e mostram o interior do enorme laboratório quando, aos 2 minutos e 32 segundos, um dos seus famosos cientistas segura um papel com os dizeres “We are HAPPY @ CERN” e dois cartazes, um onde se pode ler “BOND #1” e outro “MANDELA” [imagem acima].

 

Isto foi considerado por muitos internautas e “YouTubers” como algo muito bizarro, ainda para mais tendo em conta que a questão do aparelho de Dolly no filme de James Bond ainda não era debatida e a discussão sobre o Efeito Mandela ainda não tinha tomado as proporções quase virais que tem nos dias que correm.

 

* Ricardo J.F. Taipa é articulista e cronista português, reside em Lódz/Polônia. É colaborador de Via Fanzine e autor do blog Um Português na Polônia.

 

- Imagens: Reprodução.

 

- Produção: Pepe Chaves
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